633: JWST capta fluxo supersónico de estrela jovem

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // JAMES WEB

Os chamados objectos de Herbig-Haro (HHs) são jactos luminosos de gás que assinalam o crescimento de estrelas infantis.

Utilizando o Telescópio Espacial James Webb (JWST) da NASA/ESA/CSA, uma equipa internacional de astrónomos, com a participação de cientistas do Instituto Max Planck de Astronomia, obteve uma imagem espectacular de HH 211, um jacto bipolar que viaja pelo espaço interestelar a velocidades supersónicas.

A cerca de 1.000 anos-luz de distância da Terra, na direcção da constelação de Perseu, o objecto é um dos fluxos proto-estelares mais jovens e mais próximos, o que o torna um alvo ideal para o JWST.

Nesta imagem obtida pelo Telescópio Espacial James Webb está Herbig-Haro 211 (HH 211), um jacto bipolar que viaja pelo espaço interestelar a velocidades supersónicas. A cerca de 1000 anos-luz de distância da Terra, na direcção da constelação de Perseu, o objecto é um dos fluxos proto-estelares mais jovens e mais próximos, o que o torna um alvo ideal para o JWST.
Crédito: ESA/Webb, NASA, CSA, T. Ray (Instituto de Estudos Avançados de Dublin)

Os objectos Herbig-Haro rodeiam estrelas recém-nascidas e formam-se quando os ventos estelares ou jactos de gás expelidos por estas estrelas recém-nascidas formam ondas de choque que colidem com gás e poeira próximos a alta velocidade.

Uma nova e excitante imagem de HH 211, pelo JWST, revela um fluxo de uma protoestrela de Classe 0, uma análoga infantil do nosso Sol quando este tinha apenas algumas dezenas de milhares de anos e uma massa de apenas 8% da actual (acabará por se tornar uma estrela como o Sol). As protoestrelas ainda não atingiram a fase de fusão nuclear.

As imagens infravermelhas são muito boas no estudo de estrelas recém-nascidas e dos seus fluxos, porque essas estrelas estão invariavelmente ainda embebidas no gás da nuvem molecular em que se formaram.

A emissão infravermelha dos fluxos da estrela penetra o gás e a poeira que a obscurecem, tornando um objecto Herbig-Haro como HH 211 ideal para observação com os sensíveis instrumentos infravermelhos do JWST.

As moléculas excitadas pelas condições turbulentas, incluindo o hidrogénio molecular, o monóxido de carbono e o monóxido de silício, emitem luz infravermelha que o JWST pode recolher para mapear a estrutura dos fluxos.

A imagem obtida com o instrumento NIRCam mostra uma série de choques, ou seja, radiação desencadeada por colisões de gás, a sudeste (em baixo à esquerda) e a noroeste (em cima à direita), bem como o jacto bipolar estreito que os alimenta, com um detalhe sem precedentes – uma resolução espacial cerca de 5 a 10 vezes superior à de quaisquer imagens anteriores de HH 211.

Esta série de eventos de choque indica uma libertação episódica de gás, que está directamente relacionada com o crescimento da protoestrela através da infiltração de poeira e gás.

O jacto interno é visto a “agitar-se” com simetria em ambos os lados da protoestrela central. Isto está de acordo com observações em escalas mais pequenas e sugere que a protoestrela pode, de facto, ser uma estrela binária não resolvida.

“Estas observações com o JWST não produzem apenas imagens espectaculares.

Também nos fornecem uma ferramenta para estudar a maturação das antecessoras directas das estrelas com um detalhe sem precedentes,” diz Thomas Henning, director do Instituto Max Planck de Astronomia em Heidelberg, Alemanha. “Assim, as observações geram informação inestimável na nossa tentativa de compreender a formação estelar”.

Observações anteriores de HH 211 com telescópios terrestres mostraram o movimento do gás ao longo do fluxo, medindo uma mudança no comprimento de onda da radiação emitida.

Agora, a equipa encontrou enormes choques com desvios para o vermelho (noroeste) e com desvios para o azul (sudeste) e estruturas semelhantes a cavidades à luz do hidrogénio e do monóxido de carbono excitados por choques, respectivamente, e um jacto de dupla face serpenteante e com nós à luz do monóxido de silício.

Com estas novas observações com os instrumentos NIRCam e NIRSpec do JWST, os investigadores descobriram que o fluxo de gás do objecto é relativamente lento em comparação com protoestrelas semelhantes, mas mais evoluídas.

A equipa mediu as velocidades das estruturas mais interiores do fluxo de gás em cerca de 80 a 100 quilómetros por segundo. No entanto, a diferença de velocidade entre estas secções do fluxo e o material com que estão a colidir – a velocidade da onda de choque – é muito menor.

Os investigadores concluíram que os fluxos das estrelas mais jovens, como a que se encontra no centro de HH 211, são maioritariamente constituídos por moléculas devido às velocidades comparativamente baixas das ondas de choque, que não são suficientemente energéticas para quebrar as moléculas em átomos e iões mais simples.

// Instituto Max Planck de Astronomia (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// ESA/Webb (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)

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19 de Setembro de 2023


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621: Webb descobre metano e dióxido de carbono na atmosfera de K2-18 b

 

⚗️ CIÊNCIA // 🔭 ASTRONOMIA // telescópio espacial jwst james webb aleatório WEBB // K2-18 b

Uma nova investigação realizada por uma equipa internacional de astrónomos, utilizando dados do Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA, sobre K2-18 b, um exoplaneta 8,6 vezes mais massivo do que a Terra, revelou a presença de moléculas de carbono, incluindo metano e dióxido de carbono.

A descoberta vem juntar-se a estudos recentes que sugerem que K2-18 b poderá ser um exoplaneta Hiceano, um exoplaneta com potencial para possuir uma atmosfera rica em hidrogénio e uma superfície coberta de oceanos de água.

Esta ilustração mostra o possível aspecto do exoplaneta K2-18 b com base em dados científicos. K2-18 b, um exoplaneta 8,6 vezes mais massivo do que a Terra, orbita a estrela anã fria K2-18 na zona habitável e situa-se a 120 anos-luz da Terra. Uma nova investigação com o Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA revelou a presença de moléculas de carbono, incluindo metano e dióxido de carbono. A abundância de metano e dióxido de carbono, e a escassez de amoníaco, apoiam a hipótese de que pode existir um oceano por baixo de uma atmosfera rica em hidrogénio.
Crédito: NASA, CSA, ESA, J. Olmstead (STScI), N. Madhusudhan (Universidade de Cambridge)

A primeira visão sobre as propriedades atmosféricas deste exoplaneta na zona habitável veio de observações com o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, o que levou a estudos adicionais que desde então mudaram a nossa compreensão do sistema.

Foram feitas novas observações com o instrumento NIRISS, com contribuição canadiana, e o instrumento NIRSpec, com contribuição europeia, a bordo do Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA.

K2-18 b orbita a estrela anã fria K2-18 na zona habitável e situa-se a 120 anos-luz da Terra, na direcção da constelação de Leão. Exoplanetas como K2-18 b, que têm tamanhos entre os da Terra e os de Neptuno, são diferentes de tudo o que existe no nosso Sistema Solar.

Esta falta de planetas análogos nas proximidades significa que estes “sub-Neptunos” são mal compreendidos e a natureza das suas atmosferas é uma questão de debate activo entre os astrónomos.

A sugestão de que o sub-Neptuno K2-18 b poderia ser um exoplaneta Hiceano é intrigante, uma vez que alguns astrónomos pensam que estes mundos são ambientes promissores para procurar evidências de vida.

“As nossas descobertas sublinham a importância de considerar ambientes habitáveis diversos na procura de vida noutros lugares”, explicou Nikku Madhusudhan, astrónomo da Universidade de Cambridge e principal autor do artigo científico que anuncia estes resultados.

“Tradicionalmente, a procura de vida em exoplanetas tem-se concentrado principalmente em planetas rochosos mais pequenos, mas os maiores mundos Hiceanos são significativamente mais propícios a observações atmosféricas.”

A abundância de metano e dióxido de carbono em K2-18 b, bem como a escassez de amoníaco, apoiam a hipótese de que pode existir um oceano por baixo de uma atmosfera rica em hidrogénio.

Estas observações iniciais do Webb também permitiram a detecção de uma molécula chamada sulfureto de dimetilo (ou dimetilsulfureto, DMS).

Na Terra, esta molécula só é produzida por vida. A maior parte do DMS na atmosfera da Terra é emitida pelo fitoplâncton em ambientes marinhos.

A inferência de DMS é menos robusta e requer validação adicional. “As próximas observações do Webb devem ser capazes de confirmar se a molécula DMS está de facto presente na atmosfera de K2-18 b em níveis significativos”, explicou Madhusudhan.

Embora K2-18 b se encontre na zona habitável e se saiba agora que alberga moléculas com carbono, isto não significa necessariamente que o planeta possa suportar vida.

A grande dimensão do planeta – com um raio 2,6 vezes superior ao da Terra – significa que o seu interior contém provavelmente um grande manto de gelo a altas pressões, como Neptuno, mas com uma atmosfera mais fina rica em hidrogénio e uma superfície oceânica.

Prevê-se que os mundos hiceanos tenham oceanos de água. No entanto, também é possível que o oceano seja demasiado quente para ser habitável ou líquido.

“Embora este tipo de planeta não exista no nosso Sistema Solar, os sub-Neptunos são o tipo de planeta mais comum conhecido até agora na Galáxia”, explicou Subhajit Sarkar, membro da equipa da Universidade de Cardiff.

“Obtivemos o espectro mais detalhado de um sub-Neptuno da zona habitável até à data, o que nos permitiu determinar as moléculas que existem na sua atmosfera.”

O espectro de K2-18 b, obtido com o NIRISS (Near-Infrared Imager and Slitless Spectrograph) e o NIRSpec (Near-Infrared Spectrograph) do Webb, mostra uma abundância de metano e dióxido de carbono na atmosfera do exoplaneta, bem como a possível detecção de uma molécula chamada sulfureto de dimetilo (DMS). A detecção de metano e dióxido de carbono, e a escassez de amoníaco, são consistentes com a presença de um oceano por baixo de uma atmosfera rica em hidrogénio. K2-18 b, 8,6 vezes mais massivo que a Terra, orbita a estrela anã fria K2-18 na zona habitável e fica a 120 anos-luz da Terra.
Crédito: NASA, CSA, ESA, J. Olmstead (STScI), N. Madhusudhan (Universidade de Cambridge)

A caracterização das atmosferas de exoplanetas como K2-18 b – ou seja, a identificação dos seus gases e condições físicas – é uma área muito activa na astronomia. No entanto, estes planetas são ofuscados – literalmente – pelo brilho das suas estrelas-mãe muito maiores, o que torna a exploração das atmosferas dos exoplanetas particularmente difícil.

A equipa contornou este desafio analisando a luz da estrela-mãe de K2-18 b à medida que esta atravessava a atmosfera do exoplaneta. K2-18 b é um exoplaneta em trânsito, o que significa que podemos detectar uma queda de brilho à medida que passa pela face da sua estrela hospedeira.

Foi assim que o exoplaneta foi descoberto pela primeira vez. Isto significa que durante os trânsitos uma pequena fracção da luz estelar passa pela atmosfera do exoplaneta antes de chegar a telescópios como o Webb.

A passagem da luz da estrela pela atmosfera exoplanetária deixa vestígios que os astrónomos podem juntar para determinar os gases da atmosfera do exoplaneta.

“Este resultado só foi possível devido à gama alargada de comprimentos de onda e à sensibilidade sem precedentes do Webb, que permitiu a detecção robusta de características espectrais com apenas dois trânsitos,” continuou Madhusudhan.

“Para comparação, uma observação de trânsito com o Webb forneceu uma precisão comparável à de oito observações com o Hubble realizadas ao longo de alguns anos e numa gama de comprimentos de onda relativamente estreita”.

“Estes resultados são o produto de apenas duas observações de K2-18 b, com muitas mais a caminho”, explicou o membro da equipa Savvas Constantinou da Universidade de Cambridge.

“Isto significa que o nosso trabalho aqui é apenas uma demonstração inicial do que o Webb pode observar em exoplanetas na zona habitável.”

A equipa tenciona agora realizar uma investigação de seguimento com o MIRI (Mid-InfraRed Instrument) do telescópio, que esperam venha a validar ainda mais as suas descobertas e a fornecer novos conhecimentos sobre as condições ambientais em K2-18 b.

“O nosso objectivo final é a identificação de vida num exoplaneta habitável, o que transformaria a nossa compreensão do nosso lugar no Universo”, concluiu Madhusudhan. “As nossas descobertas são um passo promissor para uma compreensão mais profunda dos mundos Hiceanos nesta busca”.

Os resultados da equipa foram aceites para publicação na revista The Astrophysical Journal Letters.

// ESA (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA/Webb (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)
// Universidade de Cambridge (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

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15 de Setembro de 2023


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620: Webb confirma a exactidão do ritmo de expansão do Universo medido pelo Telescópio Hubble e aprofunda o mistério da Tensão de Hubble

 

⚗️ CIÊNCIA // 🔭 ASTRONOMIA // TENSÃO DE HUBBLE

O ritmo de expansão do Universo, a que se dá o nome constante de Hubble, é um dos parâmetros fundamentais para compreender a evolução e o destino final do cosmos.

No entanto, observa-se uma diferença persistente, designada por “Tensão de Hubble”, entre o valor da constante medido com uma vasta gama de indicadores de distância independentes e o seu valor previsto a partir do brilho remanescente do Big Bang.

Observações combinadas do instrumento NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb e do WFC3 (Wide Field Camera 3) do Hubble mostram a galáxia espiral NGC 5584, que se encontra a 72 milhões de anos-luz da Terra. Entre as estrelas brilhantes de NGC 5584 encontram-se estrelas pulsantes chamadas variáveis Cefeidas e super-novas do Tipo Ia, uma classe especial de estrelas em explosão. Os astrónomos utilizam as variáveis Cefeidas e as super-novas do Tipo Ia como marcadores de distância fiáveis para medir o ritmo de expansão do Universo.
Crédito: NASA, ESA, CSA e A. Riess (STSCI)

O Telescópio Espacial James Webb da NASA fornece novas capacidades para analisar e aperfeiçoar algumas das mais fortes evidências observacionais desta tensão.

Adam Riess, da Universidade Johns Hopkins e do STScI (Space Telescope Science Institute), laureado com o Prémio Nobel, apresenta o seu trabalho recente e o dos seus colegas, utilizando observações do Webb para melhorar a precisão das medições locais da constante de Hubble.

“Alguma vez se esforçou por ver um sinal que estava no limite da sua visão? O que é que ele diz? O que é que significa? Mesmo com os telescópios mais potentes, os ‘sinais’ que os astrónomos querem ler são tão pequenos que também temos dificuldade em vê-los.

“O sinal que os cosmólogos querem ler é um sinal cósmico de limite de velocidade que nos diz a que velocidade o Universo se está a expandir – um número chamado constante de Hubble. O nosso sinal está escrito nas estrelas de galáxias distantes.

O brilho de certas estrelas nessas galáxias diz-nos a que distância estão e, portanto, durante quanto tempo esta luz viajou até chegar a nós, e os desvios para o vermelho das galáxias dizem-nos quanto o Universo se expandiu durante esse tempo, indicando-nos assim o ritmo de expansão.

Este diagrama ilustra o poder combinado dos telescópios espaciais Hubble e Webb da NASA na determinação de distâncias exactas a uma classe especial de estrelas variáveis que é utilizada na calibração do ritmo de expansão do Universo. Estas estrelas variáveis Cefeidas são observadas em campos estelares muito povoados. A contaminação da luz pelas estrelas circundantes pode tornar a medição do brilho de uma Cefeida menos precisa. A visão infravermelha mais nítida do Webb permite que um alvo Cefeida seja mais claramente isolado das estrelas circundantes, como se vê no lado direito do diagrama. Os dados do Webb confirmam a exactidão de 30 anos de observações de Cefeidas pelo Hubble, que foram fundamentais para estabelecer o degrau inferior da escada da distâncias cósmicas para medir o ritmo de expansão do Universo. À esquerda, NGC 5584 é vista numa imagem composta do instrumento NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb e do WFC3 (Wide Field Camera 3) do Hubble.
Crédito: NASA, ESA, A. Riess (STScI), W. Yuan (STScI)

“Uma classe particular de estrelas, as variáveis Cefeidas, tem-nos dado as medições de distância mais precisas desde há mais de um século, porque estas estrelas são extraordinariamente brilhantes: são estrelas super-gigantes, com uma luminosidade cem mil vezes superior à do Sol.

Além disso, elas pulsam (isto é, expandem-se e contraem-se) durante um período de semanas que indica a sua luminosidade relativa.

Quanto mais longo for o período, mais brilhantes são intrinsecamente. São a ferramenta de referência para medir as distâncias de galáxias a cem milhões de anos-luz de distância ou mais, um passo crucial para determinar a constante de Hubble.

Infelizmente, as estrelas nas galáxias estão amontoadas num pequeno espaço a partir do nosso ponto de vista distante e, por isso, muitas vezes não temos a resolução necessária para as separar das suas vizinhas na linha de visão.

“Uma das principais justificações para a construção do Telescópio Espacial Hubble foi a resolução deste problema. Antes do lançamento do Hubble em 1990 e das subsequentes medições das Cefeidas, o ritmo de expansão do Universo era tão incerto que os astrónomos nem sabiam se o Universo se estava a expandir há 10 mil milhões ou há 20 mil milhões de anos.

Isto porque um ritmo de expansão mais rápido leva a uma idade mais jovem do Universo e um ritmo de expansão mais lento a uma idade mais velha do Universo. O Hubble tem uma melhor resolução [no comprimento de onda visível] do que qualquer telescópio terrestre porque está situado acima dos efeitos de desfocagem da atmosfera da Terra.

Como resultado, pode identificar variáveis Cefeidas individuais em galáxias que estão a mais de cem milhões de anos-luz de distância e medir o intervalo de tempo durante o qual mudam de brilho.

“No entanto, também temos de observar as Cefeidas na parte do infravermelho próximo do espectro, para ver a luz que passa incólume através da poeira (a poeira absorve e dispersa a luz visível azul, fazendo com que os objectos distantes pareçam ténues e fazendo-nos crer que estão mais longe do que estão). Infelizmente, a visão da luz vermelha do Hubble não é tão nítida como a da luz azul, pelo que a luz das estrelas Cefeidas que vemos está misturada com outras estrelas no seu campo de visão.

Podemos ter em conta a quantidade média desta mistura, estatisticamente, da mesma forma que um médico calcula o peso subtraindo o peso médio das roupas à leitura da balança, mas isso acrescenta ruído às medições. As roupas de algumas pessoas são mais pesadas do que outras.

“No entanto, a visão nítida no infravermelho é um dos super-poderes do Telescópio Espacial James Webb. Com o seu grande espelho e óptica sensível, consegue separar facilmente a luz das Cefeidas das estrelas vizinhas com pouca mistura.

No primeiro ano de operações do Webb, com o nosso programa de Observadores Gerais 1685, recolhemos observações de Cefeidas encontradas pelo Hubble em dois passos ao longo do que é conhecido como a escada de distâncias cósmicas.

O primeiro passo envolve a observação de Cefeidas numa galáxia com uma distância geométrica conhecida que nos permite calibrar a verdadeira luminosidade das Cefeidas. Para o nosso programa, essa galáxia é NGC 4258.

O segundo passo é observar Cefeidas nas galáxias hospedeiras de super-novas recentes do Tipo Ia. A combinação dos dois primeiros passos transfere o conhecimento da distância às super-novas para calibrar as suas verdadeiras luminosidades.

O terceiro passo é observar essas super-novas a uma grande distância, onde a expansão do Universo é aparente e pode ser medida comparando as distâncias inferidas a partir da sua luminosidade e os desvios para o vermelho das galáxias hospedeiras das super-novas. Esta sequência de passos é conhecida como a escada de distâncias.

“Obtivemos recentemente as nossas primeiras medições Webb dos passos um e dois, o que nos permite completar a escada de distâncias e comparar com as medições anteriores do Hubble.

As medições do Webb reduziram drasticamente o ruído nas medições das Cefeidas devido à resolução do observatório nos comprimentos de onda do infravermelho próximo. Este tipo de melhoria é o sonho dos astrónomos! Observámos mais de 320 Cefeidas nas duas primeiras etapas.

Confirmámos que as anteriores medições do Telescópio Espacial Hubble eram exactas, embora mais ruidosas. Também observámos mais quatro hospedeiras de super-novas com o Webb e verificámos um resultado semelhante para toda a amostra.

Comparação das relações período-luminosidade das Cefeidas utilizadas para medir distâncias. Os pontos vermelhos são do Webb da NASA e os pontos cinzentos são do Hubble da NASA. O painel superior é para NGC 5584, a hospedeira da supernova de Tipo Ia, com a inserção a mostrar selos de imagem da mesma Cefeida vista por cada telescópio. O painel inferior é para NGC 4258, uma galáxia com uma distância geométrica conhecida, com a inserção a mostrar a diferença nos módulos de distância entre NGC 5584 e NGC 4258, medida com cada telescópio. Os dois telescópios estão em excelente concordância.
Crédito: NASA, ESA, A. Riess (STScI) e G. Anand (STScI)

“O que os resultados ainda não explicam é porque é que o Universo parece estar a expandir-se tão rapidamente! Podemos prever o ritmo de expansão do Universo observando a sua imagem de bebé, a radiação cósmica de fundo em micro-ondas e depois utilizar o nosso melhor modelo de como cresce ao longo do tempo para nos dizer a que velocidade o Universo deverá estar a expandir-se actualmente.

O facto de a medida actual do ritmo de expansão exceder significativamente a previsão é um problema que já dura há uma década, chamado “A Tensão de Hubble”. A possibilidade mais excitante é que a Tensão seja uma pista sobre algo que nos está a faltar na nossa compreensão do cosmos.

“Pode indicar a presença de energia escura exótica, matéria escura exótica, uma revisão da nossa compreensão da gravidade, ou a presença de uma partícula ou campo único.

A explicação mais mundana seria a existência de múltiplos erros de medição que conspiram na mesma direcção (os astrónomos excluíram a possibilidade de um único erro utilizando passos independentes), por isso é que é tão importante refazer as medições com maior fidelidade.

Com o Webb a confirmar as anteriores medições do Hubble, são as evidências mais fortes até agora de que os erros sistemáticos na fotometria das Cefeidas pelo Hubble não desempenham um papel significativo na actual Tensão do Hubble. Como resultado, as possibilidades mais interessantes permanecem em cima da mesa e o mistério da Tensão aprofunda-se”.

// NASA (blog)
// STScI (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

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602: Webb revela novas estruturas no interior de uma super-nova icónica

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // WEBB

O Telescópio Espacial James Webb da NASA iniciou o estudo de uma das mais famosas super-novas, SN 1987A (Super-nova 1987A).

Localizada a 168.000 anos-luz de distância na Grande Nuvem de Magalhães, SN 1987A tem sido alvo de intensas observações em comprimentos de onda que vão desde os raios gama até ao rádio durante quase 40 anos, desde a sua descoberta em Fevereiro de 1987.

Novas observações da câmara NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb fornecem uma pista crucial para a nossa compreensão de como uma super-nova se desenvolve ao longo do tempo para formar o seu remanescente.

A NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb captou esta imagem detalhada de SN 1987A (Super-nova 1987A). No centro, o material ejectado da super-nova forma um buraco de fechadura. Mesmo à sua esquerda e à sua direita estão ténues crescentes recentemente descobertos pelo Webb. Para lá destes, um anel equatorial, formado por material ejectado dezenas de milhares de anos antes da explosão da super-nova, contém pontos quentes brilhantes. No exterior, há emissão difusa e dois anéis exteriores ténues.
Crédito: NASA, ESA, CSA, M. Matsuura (Universidade de Cardiff), R. Arendt (Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e Universidade de Maryland, Baltimore), C. Frans

Esta imagem revela uma estrutura central semelhante a um buraco de fechadura. Este centro está cheio de gás e poeira ejectados pela explosão da super-nova.

A poeira é tão densa que mesmo a luz infravermelha que o Webb detecta não a consegue penetrar, dando forma ao “buraco” escuro da fechadura.

Um anel equatorial brilhante rodeia o buraco da fechadura interior, formando uma faixa à volta da cintura que liga dois braços ténues de anéis exteriores em forma de ampulheta.

O anel equatorial, formado por material ejectado dezenas de milhares de anos antes da explosão da super-nova, contém pontos quentes brilhantes, que apareceram quando a onda de choque da super-nova atingiu o anel.

Agora os pontos são encontrados mesmo no exterior do anel, com emissão difusa à sua volta. Estes são os locais onde os choques da super-nova atingiram material mais exterior.

Embora estas estruturas tenham sido observadas em diferentes graus pelos Telescópios Espaciais Hubble e Spitzer e pelo Observatório de Raios X Chandra da NASA, a sensibilidade e a resolução espacial sem paralelo do Webb revelaram uma nova característica neste remanescente de super-nova – pequenas estruturas em forma de crescente.

Pensa-se que estes crescentes fazem parte das camadas exteriores de gás disparadas pela explosão da super-nova.

O seu brilho pode ser uma indicação do aumento de brilho do limbo, um fenómeno óptico que resulta da observação do material em expansão em três dimensões. Por outras palavras, o nosso ângulo de visão faz com que pareça que há mais material nestes dois crescentes do que realmente há.

A NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb captou esta imagem detalhada de SN 1987A (Super-nova 1987A), que foi anotada para realçar as estruturas chave. No centro, o material ejectado da super-nova forma um buraco de fechadura. Mesmo à sua esquerda e à sua direita estão crescentes ténues recentemente descobertos por Webb. Para lá deles, um anel equatorial, formado por material ejectado dezenas de milhares de anos antes da explosão da super-nova, contém pontos quentes brilhantes. No exterior, há emissão difusa e dois anéis exteriores ténues. Nesta imagem, o azul representa a luz a 1,5 micrómetros (F150W), o ciano a 1,64 e 2,0 micrómetros (F164N, F200W), o amarelo a 3,23 micrómetros (F323N), o laranja a 4,05 micrómetros (F405N) e o vermelho a 4,44 micrómetros (F444W).
Crédito: NASA, ESA, CSA, M. Matsuura (Universidade de Cardiff), R. Arendt (Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e Universidade de Maryland, Baltimore), C. Fransson (Universidade de Estocolmo) e J. Larsson (Instituto Real de Tecnologia, KTH); processamento de imagem – A. Pagan

A alta resolução destas imagens também é digna de nota. Antes do Webb, o agora reformado telescópio Spitzer observou esta super-nova no infravermelho ao longo de toda a sua vida, produzindo dados importantes sobre a evolução das suas emissões com o passar do tempo. No entanto, nunca foi capaz de observar a super-nova com tanta clareza e pormenor.

Apesar das décadas de estudo desde a descoberta inicial da super-nova, há vários mistérios que permanecem, particularmente em torno da estrela de neutrões que se deveria ter formado no rescaldo da explosão da super-nova. Tal como o Spitzer, o Webb continuará a observar a super-nova ao longo do tempo.

Os seus instrumentos NIRSpec (Near-Infrared Spectrograph) e MIRI (Mid-Infrared Instrument) oferecerão aos astrónomos a capacidade de captar novos dados infravermelhos de alta fidelidade ao longo do tempo e de obter novos conhecimentos sobre as estruturas crescentes recentemente identificadas.

Além disso, o Webb continuará a colaborar com o Hubble, o Chandra e outros observatórios para fornecer novos conhecimentos sobre o passado e o futuro desta lendária super-nova.

// NASA (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)

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5 de Setembro de 2023


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584: Telescópio James Webb capta a imagem mais nítida de sempre da galáxia Whirlpool

 

CIÊNCIA // UNIVERSO // JAMES WEBB // GALÁXIA WHIRLPOOL

A Galáxia Whirlpool, também conhecida como Galáxia do Redemoinho, tecnicamente denominada Messier 51a (M51a), foi descoberta pela primeira vez em 1773 pelo astrónomo francês Charles Messier. Este é um dos objectos mais conhecidos do céu nocturno.

Desde astrónomos amadores até à NASA, há décadas que todos partilham imagens da galáxia Whirlpool. Mas nunca se viu uma imagem como a que acaba de ser captada pelo Telescópio Espacial James Webb, o mais potente do seu género.

Esta imagem hipnotizante (em destaque no topo) é uma imagem composta dos instrumentos NIRCam e MIRI do telescópio. Ambos os dispositivos foram concebidos para captar o universo distante, descodificando sinais de luz infravermelha provenientes de estrelas e galáxias distantes. O resultado final é a Galáxia Whirlpool num pormenor nunca antes visto.

As regiões vermelho-escuras mostram a poeira quente filamentosa que permeia o meio da galáxia.

As regiões vermelhas mostram a luz reprocessada de moléculas complexas que se formam nos grãos de poeira, enquanto as cores laranja e amarelo revelam as regiões de gás ionizado pelos aglomerados de estrelas recentemente formados.

A retroacção estelar tem um efeito dramático no meio da galáxia e cria uma rede complexa de nós brilhantes, bem como bolhas negras cavernosas.

Afirmou a Agência Espacial Europeia (ESA), que ajudou a construir o telescópio e o lançou para o espaço no ano passado a partir do seu porto espacial na Guiana Francesa.

A agência refere que a retroacção estelar é o termo utilizado para descrever o derrame de energia das estrelas para os ambientes que as formam e é um processo crucial para determinar as taxas de formação das estrelas.

Compreender o feedback estelar é vital para a construção de modelos universais exactos de formação de estrelas.

A imagem do James Webb faz parte de uma série de observações destinadas a esclarecer a interacção entre a retroacção estelar e a formação de estrelas em ambientes fora da nossa galáxia, a Via-Láctea.

A M51 é apelidada de Whirlpool (redemoinho) por causa da sua estrutura em redemoinho, que se assemelha à água em torno de um ralo.

Encontra-se a cerca de 30 milhões de anos-luz de distância, na constelação Canes Venatici, o que significa que a imagem que vemos mostra o aspecto da galáxia Whirlpool há 30 milhões de anos.

James Webb mostra o que nunca foi visto

A Whirlpool tem um irmão mais novo – a galáxia anã NGC 5195. Pensa-se que a influência gravitacional da companheira mais pequena da M51 é parcialmente responsável pela natureza distinta dos braços espirais proeminentes e bem desenvolvidos da galáxia.

Quando foram publicadas em 2011, as imagens do Hubble da galáxia Whirlpool deixaram o mundo estupefacto.

No entanto, numa reviravolta profética, a equipa por detrás das imagens disse que “embora o Hubble esteja a fornecer vistas incisivas da estrutura interna de galáxias como a M51, espera-se que o planeado Telescópio Espacial James Webb produza imagens ainda mais nítidas”.

Se quiser perceber como funciona a galáxia Whirlpool e porque é tão especial, veja este vídeo com Michael Merrifield, professor de astronomia na Universidade de Nottingham:

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Autor: Vítor M
30 Ago 2023


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570: Levantamento do JWST revela menos buracos negros super-massivos activos do que se pensava

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // JWST // BURACOS NEGROS

Um levantamento, pela Universidade do Kansas, de uma faixa do cosmos utilizando o Telescópio Espacial James Webb, revelou que os NGAs (núcleos galácticos activos) – buracos negros super-massivos que estão a aumentar rapidamente de tamanho – são mais raros do que muitos astrónomos supunham anteriormente.

Ilustração de um NGA (núcleo galáctico ativo).
Crédito: ESA/NASA, project AVO e Paolo Padovani

As descobertas, efectuadas com o instrumento MIRI (Mid-Infrared Instrument) do JWST, sugerem que o nosso Universo pode ser um pouco mais estável do que se pensava.

O trabalho também fornece informações sobre observações de galáxias ténues, as suas propriedades e os desafios na identificação de NGAs.

Um novo artigo detalhando a investigação do JWST, realizada sob os auspícios do programa CEERS (Cosmic Evolution Early Release Science), foi disponibilizado no site arXiv, antes da publicação formal revista por pares na revista The Astrophysical Journal.

O trabalho, liderado por Allison Kirkpatrick, professora assistente de física e astronomia na Universidade do Kansas, centrou-se numa zona do cosmos há muito estudada, designada por Faixa de Groth Estendida, situada entre as constelações de Ursa Maior e Boieiro. Mas os exames anteriores da área tiveram por base uma geração menos poderosa de telescópios espaciais.

“As nossas observações foram feitas nos passados meses de Junho e Dezembro e o nosso objectivo era caracterizar o aspecto das galáxias durante o apogeu da formação estelar no Universo”, disse Kirkpatrick. “Trata-se de uma retrospectiva de 7 a 10 mil milhões de anos no passado.

Utilizámos o MIRI do Telescópio Espacial James Webb para observar a poeira em galáxias que existiam há 10 mil milhões de anos e essa poeira pode esconder a formação estelar em curso e pode esconder buracos negros super-massivos em crescimento.

Por isso, realizei o primeiro levantamento para procurar estes buracos negros super-massivos escondidos nos centros destas galáxias”.

Embora todas as grandes galáxias tenham um buraco negro super-massivo no seu centro, os NGAs são agitações mais espectaculares que atraem activamente gases e apresentam uma luminosidade que não existe nos buracos negros típicos.

Kirkpatrick e muitos outros astrofísicos previram que o estudo de alta resolução do JWST iria localizar muitos mais NGAs do que um levantamento anterior, realizado com o Telescópio Espacial Spitzer.

No entanto, mesmo com o aumento de potência e sensibilidade do MIRI, foram encontrados poucos NGAs adicionais no novo estudo.

Observação do MIRI (painel da direita) do JWST juntamente com observações IRAC (Infrared Array Camera, meio) e MIPS (Multiband Imaging Photometer for Spitzer, esquerda) da mesma região, mas pelo Spitzer.
Crédito: Kirkpatrick, et. al.

“Os resultados eram completamente diferentes dos que eu tinha previsto, o que me levou à primeira grande surpresa”, disse Kirkpatrick. “Uma revelação importante foi a escassez de buracos negros super-massivos em rápido crescimento. Esta descoberta suscitou questões sobre o paradeiro destes objectos.

Acontece que estes buracos negros estão provavelmente a crescer a um ritmo mais lento do que se pensava anteriormente, o que é intrigante, considerando que as galáxias que examinei se assemelham à nossa Via Láctea do passado.

As observações anteriores com o Spitzer apenas nos permitiram estudar as galáxias mais brilhantes e massivas com buracos negros super-massivos de rápido crescimento, tornando-os fáceis de detectar”.

Kirkpatrick disse que um mistério importante na astronomia reside na compreensão de como os buracos negros super-massivos típicos, como os que se encontram em galáxias como a Via Láctea, crescem e influenciam a sua galáxia hospedeira.

“As descobertas do estudo sugerem que estes buracos negros não estão a crescer rapidamente, absorvendo material limitado e talvez não tenham um impacto significativo nas galáxias que os acolhem”, afirmou.

“Esta descoberta abre uma perspectiva totalmente nova sobre o crescimento dos buracos negros, uma vez que a nossa compreensão actual se baseia em grande parte nos buracos negros mais massivos das maiores galáxias, que têm efeitos significativos nas suas hospedeiras, mas os buracos negros mais pequenos destas galáxias provavelmente não têm.”

Outro resultado surpreendente foi a ausência de poeira nestas galáxias, disse a astrónoma da Universidade do Kansas.

“Usando o JWST, podemos identificar galáxias muito mais pequenas do que nunca, incluindo galáxias do tamanho da Via Láctea ou mesmo mais pequenas, o que era anteriormente impossível a estas distâncias cósmicas”, disse Kirkpatrick. “Normalmente, as galáxias mais massivas têm poeira abundante devido às suas rápidas taxas de formação estelar.

Eu tinha assumido que as galáxias de menor massa também conteriam quantidades substanciais de poeira, mas afinal não, desafiando as minhas expectativas e fornecendo outra descoberta intrigante.”

De acordo com Kirkpatrick, o trabalho muda a compreensão de como as galáxias crescem, particularmente no que diz respeito à Via Láctea.

“O nosso buraco negro parece não ter qualquer actividade”, disse. “Uma questão importante em relação à Via Láctea é saber se alguma vez esteve activa ou se passou por uma fase NGA.

Se a maioria das galáxias, como a nossa, não têm NGAs detectáveis, isso pode implicar que o nosso buraco negro nunca esteve mais activo no passado.

Em última análise, este conhecimento ajudará a limitar e a medir as massas dos buracos negros, lançando luz sobre as origens do crescimento dos buracos negros, que continuam a ser uma questão sem resposta”.

Kirkpatrick obteve recentemente novo tempo de observação com o JWST para efectuar um estudo mais alargado do campo da Faixa de Groth Estendida com o MIRI.

O seu trabalho atual incluía cerca de 400 galáxias. O seu próximo levantamento (MEGA: MIRI EGS Galaxy and AGN survey) incluirá cerca de 5000 galáxias. O trabalho está planeado para janeiro de 2024.

// Universidade do Kansas (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
25 de Agosto de 2023


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544: O Universo é (literalmente) um mistério: cientistas encontram um “?” no Espaço

 

CIÊNCIA // 🌌UNIVERSO // ❓MISTÉRIOS

“O que sou eu?” O Universo parece enviar-nos subtilmente a indirecta, no canto da nova imagem do Telescópio James Webb. E eis o cúmulo: os cientistas não sabem o que é o “?”

ESAWebb
A gigante “questão cósmica”

À primeira vista, a nova imagem do Telescópio James Webb — apesar de deslumbrante — não passa de mais uma captura do fantástico cosmos, mas se olharmos com atenção, podemos concluir que o Universo é uma grande “questão cósmica”.

O nascimento espectacular de uma estrela era o protagonista da imagem, mas acabou por ser empurrado para segundo plano quando, no fundo da fotografia, foi vista uma luz que… levanta questões, uma vez que se assemelha (e muito) a um ponto de interrogação.

Os cientistas não sabem o que é o misterioso objecto — apenas que está muito longe. Entre os vários objectos cósmicos presentes na imagem, quanto mais vermelho é o objecto, mais longe este está de nós.

No caso do “?”, nova descoberta fascinante, as duas bolhas presentes parecem ter a mesma cor, levantando a possibilidade de serem duas galáxias diferentes e longínquas a interagir entre si — um contacto que as transforma em “estruturas” alongadas e irregulares.

É, olhando racionalmente para o caso, um óptimo exemplo de pareidolia.

 Tomás Guimarães, ZAP //
13 Agosto, 2023


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536: Webb revela as cores de Earendel, a estrela mais distante alguma vez detectada

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // WEBB // EARENDEL

O Telescópio Espacial James Webb da NASA deu seguimento às observações, pelo Telescópio Espacial Hubble, da estrela mais distante alguma vez detectada no Universo muito distante, nos primeiros mil milhões de anos após o Big Bang.

O instrumento NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb revela que a estrela é uma estrela massiva do tipo B, duas vezes mais quente do que o nosso Sol e cerca de um milhão de vezes mais luminosa.

Esta imagem, pelo Telescópio Espacial James Webb da NASA, de um enorme enxame de galáxias chamado WHL0137-08, contém a galáxia mais fortemente ampliada conhecida nos primeiros mil milhões de anos do Universo: “Sunrise Arc” e, dentro dessa galáxia, a estrela mais distante alguma vez detectada. Nesta imagem, a galáxia Sunrise Arc aparece como uma risca vermelha logo abaixo do pico de difracção na posição das 5 horas.
Crédito: imagem – NASA, ESA, CSA, D. Coe (STScI/AURA para a ESA; Universidade Johns Hopkins), B. Welch (Centro de Voo Espacial Goddard da NASA; Universidade de Maryland, College Park); processamento – Z. Levay

A estrela, que a equipa de investigação apelidou de Earendel, está localizada na galáxia a que deram a alcunha de “Sunrise Arc” e só é detectável devido ao poder combinado da tecnologia humana e da natureza, através de um efeito chamado lente gravitacional.

Tanto o Hubble como o Webb foram capazes de detectar Earendel devido ao seu alinhamento fortuito por trás de uma ruga no espaço-tempo criada pelo enorme enxame de galáxias WHL0137-08.

O enxame de galáxias, localizado entre nós e Earendel, é tão massivo que deforma o tecido do próprio espaço, o que produz um efeito de ampliação, permitindo aos astrónomos olhar através do enxame como uma lupa.

Enquanto outras características da galáxia aparecem várias vezes devido à lente gravitacional, Earendel aparece apenas como um único ponto de luz, mesmo nas imagens infravermelhas de alta resolução do Webb.

Com base nisto, os astrónomos determinam que o objecto está ampliado por um factor de pelo menos 4000 e, portanto, é extremamente pequeno – a estrela mais distante alguma vez detectada, observada mil milhões de anos após o Big Bang. O anterior detentor do recorde de estrela mais distante foi detectado pelo Hubble e observado cerca de 4 mil milhões de anos após o Big Bang.

Outra equipa de investigação que também utilizou o Webb identificou recentemente uma estrela sob o efeito de lente gravitacional a que chamaram Quyllur, uma estrela gigante vermelha observada 3 mil milhões de anos após o Big Bang.

Estrelas tão massivas como Earendel têm frequentemente companheiras. Os astrónomos não esperavam que o Webb revelasse quaisquer companheiras de Earendel, uma vez que estariam tão próximas e indistinguíveis no céu.

No entanto, com base apenas nas cores de Earendel, os astrónomos pensam ver indícios de uma estrela companheira mais fria e mais vermelha.

Esta luz foi esticada pela expansão do Universo para comprimentos de onda maiores do que os instrumentos do Hubble conseguem detectar, e por isso só foi detectável com o Webb.

O instrumento NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb revela que a estrela, apelidada de Earendel, é uma estrela massiva do tipo B, duas vezes mais quente do que o nosso Sol e cerca de um milhão de vezes mais luminosa.
Crédito: imagem – NASA, ESA, CSA, D. Coe (STScI/AURA para a ESA; Universidade Johns Hopkins), B. Welch (Centro de Voo Espacial Goddard da NASA; Universidade de Maryland, College Park); processamento – Z. Levay

O instrumento NIRCam do Webb também mostra outros detalhes notáveis na galáxia “Sunrise Arc”, que é a galáxia mais ampliada já detectada nos primeiros mil milhões de anos do Universo.

As características incluem tanto regiões jovens de formação estelar como enxames estelares mais antigos, com um diâmetro de apenas 10 anos-luz.

Em ambos os lados da ruga de ampliação máxima, que atravessa Earendel, estas características são reflectidas pela distorção da lente gravitacional. A região que está a formar estrelas parece alongada e estima-se que tenha menos de 5 milhões de anos.

Os pontos mais pequenos de cada lado de Earendel são duas imagens de um enxame estelar mais antigo e estabelecido, com uma idade estimada em pelo menos 10 milhões de anos.

Os astrónomos determinaram que este enxame de estrelas está gravitacionalmente ligado e que provavelmente persistirá até aos dias de hoje. Isto mostra-nos o aspecto que os enxames globulares da nossa Via Láctea poderiam ter quando se formaram há 13 mil milhões de anos.

Os astrónomos estão actualmente a analisar os dados das observações do instrumento NIRSpec (Near-Infrared Spectrograph) do Webb da galáxia “Sunrise Arc” e da estrela Earendel, que fornecerão medições precisas da composição e da distância da galáxia.

Desde a descoberta de Earendel pelo Hubble, o Webb detectou outras estrelas muito distantes usando esta técnica, embora nenhuma tão longe como Earendel.

As descobertas abriram um novo domínio do Universo para a física estelar e um novo tema para os cientistas que estudam o Universo primitivo, onde outrora as galáxias eram os objectos cósmicos mais pequenos detectáveis.

A equipa de investigação tem esperanças cautelosas de que este possa ser um passo para a eventual detecção de uma das primeiras gerações de estrelas, compostas apenas pelos ingredientes brutos do Universo criado no Big Bang – hidrogénio e hélio.

// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)

CCVALG
11 de Agosto de 2023


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522: Telescópio Espacial Webb captura novas e impressionantes imagens da Nebulosa do Anel

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // ASTROFÍSICA // JAMES WEBB

O Telescópio Espacial James Webb (JWST, sigla inglesa para James Webb Space Telescope) registou novas e espantosas imagens da icónica Nebulosa do Anel (Messier 57 ou M57).

As imagens, divulgadas por uma equipa internacional de astrónomos, incluindo Jan Cami, Els Peeters e Nicholas Clark do Instituto para a Exploração da Terra e do Espaço da Universidade de Ontário Ocidental, mostram a beleza intrincada e etérea da nebulosa com um detalhe sem precedentes, proporcionando aos cientistas e ao público uma visão hipnotizante desta maravilha celeste.

Composição da Nebulosa do Anel pelo instrumento NIRCam do JWST. A imagem mostra claramente o anel principal, rodeado por um ténue haloe com muitas estruturas delicadas. O interior do anel está cheio de gás quente. A estrela que ejectou todo este material é visível bem no centro. A nebulosa foi ejectada apenas há cerca de 4000 anos.
Crédito: NASA, ESA, CSA, Projeto de Imagem da Nebulosa do Anel do JWST; processamento – Roger Wesson

Para muitos entusiastas do céu, a Nebulosa do Anel (localizada na direcção da constelação de Lira) é um objecto bem conhecido e visível durante todo o verão. Mesmo um pequeno telescópio amador revela a característica estrutura de gás incandescente em forma de anel que deu o nome a M57.

“A primeira vez que vi a Nebulosa do Anel foi em criança, através de um pequeno telescópio”, disse o astrofísico Jan Cami, um dos principais membros do Projecto de Imagem da Nebulosa do Anel do JWST.

“Nunca pensei que um dia faria parte da equipa que utilizaria o telescópio espacial mais potente alguma vez construído para observar este objecto”.

A Nebulosa do Anel é muito popular entre os astrónomos, jovens e velhos, e Cami aponta frequentemente para este favorito dos fãs com o telescópio refractor da sua universidade para os visitantes do Observatório Memorial Hume Cronyn durante os eventos públicos nos meses de verão.

“Cientificamente, estou muito interessado em saber como é que uma estrela transforma o seu invólucro gasoso nesta mistura de moléculas simples e complexas e grãos de poeira, e estas novas observações vão ajudar-nos a descobrir isso”, disse Cami.

Messier 57 é uma nebulosa planetária, nebulosas estas que são remanescentes de estrelas moribundas que libertam grande parte da sua massa no fim das suas vidas.

A sua estrutura distinta e cores vibrantes há muito que cativam a imaginação humana. As imagens deslumbrantes captadas pelo JWST fornecem uma oportunidade sem paralelo para estudar e compreender os processos complexos que deram forma a esta obra-prima cósmica.

“O Telescópio Espacial James Webb proporcionou-nos uma visão extraordinária da Nebulosa do Anel que nunca tínhamos visto antes. As imagens de alta resolução não só mostram os detalhes intrincados da concha em expansão da nebulosa, mas também revelam a região interior em torno da anã branca central com uma nitidez requintada,” disse Mike Barlow, professor emérito de física e astronomia do Colégio Universitário de Londres e cientista co-líder do Projecto de Imagem da Nebulosa do Anel do JWST.

“Estamos a testemunhar os capítulos finais da vida de uma estrela, uma ante-visão do futuro distante do Sol, por assim dizer, e as observações do JWST abriram uma nova janela para a compreensão destes eventos cósmicos inspiradores.

Podemos usar a Nebulosa do Anel como laboratório para estudar como as nebulosas planetárias se formam e evoluem”.

O campo de visão completo fotografado com o instrumento NIRCam do Webb, com caixas a indicar a localização dos campos. A região A mostra a estrela central; a região B realça os milhares de aglomerados densos no anel principal; a região C mostra as “listras” radiais que aparecem no halo exterior; e a região D mostra nuvens de gás ainda mais afastadas.
Crédito: NASA, ESA, CSA, Projeto de Imagem da Nebulosa do Anel do JWST; processamento – Roger Wesson

As características impressionantes de M57 são um testemunho do seu ciclo de vida estelar. A cerca de 2600 anos-luz de distância da Terra, nasceu de uma estrela moribunda que expeliu as suas camadas exteriores para o espaço.

O que torna estas nebulosas verdadeiramente deslumbrantes é a sua variedade de formas e padrões, que muitas vezes incluem anéis delicados e brilhantes, bolhas em expansão ou nuvens intrincadas e finas.

Estes padrões são a consequência da complexa interacção de processos físicos ainda não bem compreendidos. A radiação da estrela central quente ilumina agora estas camadas.

Tal como no fogo de artifício, os diferentes elementos químicos da nebulosa emitem luz de cores específicas. Isto resulta em objectos requintados e coloridos, o que permite aos astrónomos estudar em pormenor a evolução química destes objectos.

“Estas imagens são mais do que apenas atractivos estéticos; fornecem uma grande quantidade de conhecimentos científicos sobre os processos de evolução estelar.

Ao estudar a Nebulosa do Anel com o JWST, esperamos obter uma compreensão mais profunda dos ciclos de vida das estrelas e dos elementos que libertam para o cosmos”, disse Nick Cox, membro do ACRI-ST (França) e cientista co-líder do Projecto de Imagem da Nebulosa do Anel do JWST.

A equipa internacional de investigação que analisa estas imagens inclui investigadores do Reino Unido, França, Canadá, EUA, Suécia, Espanha, Brasil, Irlanda e Bélgica.

Peeters, juntamente com Cami e Clark, desempenhou um papel fundamental na investigação espectroscópica do projecto. A espectroscopia é o estudo da absorção e emissão de luz e de outras radiações pela matéria.

“A estrutura deste objecto é incrível, e pensar que tudo isto foi criado por uma única estrela moribunda”, disse Peeters, astrofísica Universidade de Ontário Ocidental e membro do Projecto de Imagem da Nebulosa do Anel do JWST.

“Para além do tesouro morfológico, há também muita informação sobre a composição química do gás e da poeira nestas observações. Até encontrámos grandes moléculas carbonáceas neste objecto e ainda não temos uma ideia clara de como foram lá parar.”

O Telescópio Espacial James Webb, uma colaboração conjunta entre a NASA, a ESA e a Agência Espacial Canadiana (CSA), provou ser um factor de mudança na astronomia.

As suas capacidades vão além do que era possível com os telescópios espaciais anteriores, permitindo aos cientistas penetrar mais profundamente no cosmos e explorar novas fronteiras do Universo.

// Universidade de Ontário Ocidental (comunicado de imprensa)
// Universidade de Manchester (comunicado de imprensa)
// Colégio Universitário de Londres (comunicado de imprensa)

CCVALG
8 de Agosto de 2023


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493: Telescópio Webb vê luas de Júpiter sob uma nova luz

 

CIÊNCIA // JAMES WEBB // LUAS // JÚPITER

Com as suas sensíveis câmaras infravermelhas e o espetrómetro de alta resolução, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) está a revelar novos segredos dos satélites galileanos de Júpiter, em particular Ganimedes, a maior lua, e Io, a mais vulcanicamente ativa.

Um mapa espetroscópico de Ganimedes (à esquerda) derivado de medições do JWST mostra a absorção de luz à volta dos pólos, característica da molécula peróxido de hidrogénio. Uma imagem infravermelha de Io (à direita) do JWST mostra erupções vulcânicas quentes em Kanehekili Fluctus (centro) e Loki Patera (à direita). Os círculos delimitam as superfícies das duas luas.
Crédito: Ganimedes – Samantha Trumbo, Cornell; Io – Imke de Pater, UC Berkeley

Em duas publicações separadas, os astrónomos que fazem parte do programa ERS (Early Release Science) do JWST relatam a primeira detecção de peróxido de hidrogénio em Ganimedes e de gases sulfurosos em Io, ambos resultado da influência dominante de Júpiter.

“Isto mostra que podemos fazer uma ciência incrível com o Telescópio Espacial James Webb em objectos do Sistema Solar, mesmo que o objecto seja realmente muito brilhante, como Júpiter, mas também quando olhamos para coisas muito ténues ao lado de Júpiter”, disse Imke de Pater, professora emérita de astronomia e ciências terrestres e planetárias na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

De Pater e Thierry Fouchet, do Observatório de Paris, são investigadores principais da equipa de observação do ERS do Sistema Solar, uma das 13 equipas a quem foi dado acesso antecipado ao telescópio.

Samantha Trumbo, pós-doutorada da Universidade de Cornell, liderou o estudo de Ganimedes, que foi publicado a 21 de julho na revista Science Advances.

Utilizando medições captadas pelo NIRSpec (Near InfraRed Spectrograph) do JWST, a equipa detectou a absorção de luz pelo peróxido de hidrogénio – H2O2 – em torno dos pólos norte e sul da lua, resultado de partículas carregadas em torno de Júpiter e de Ganimedes que impactam no gelo que cobre a lua.

“O JWST, ao revelar a presença de peróxido de hidrogénio nos pólos de Ganimedes, mostra pela primeira vez que as partículas carregadas canalizadas ao longo do campo magnético de Ganimedes estão a alterar preferencialmente a química da superfície das suas calotes polares”, disse Trumbo.

Fotografias em grande plano de Ganimedes, esta obtida pela sonda Juno, e de Io pela nave espacial Galileo da NASA em 1997, quando orbitava Júpiter.
Crédito: NASA/JPL/USGS

Os astrónomos argumentam que o peróxido é produzido por partículas carregadas que atingem a água gelada à volta dos pólos e quebram as moléculas de água em fragmentos – um processo chamado radiólise – que depois se recombinam para formar H2O2.

Suspeitaram que a radiólise ocorreria principalmente em torno dos pólos de Ganimedes porque, ao contrário de todas as outras luas do nosso Sistema Solar, tem um campo magnético que dirige as partículas carregadas para os pólos.

“Tal como o campo magnético da Terra dirige as partículas carregadas do Sol para as latitudes mais elevadas, provocando auroras, o campo magnético de Ganimedes faz o mesmo com as partículas carregadas da magnetosfera de Júpiter”, acrescentou. “Estas partículas não só provocam auroras em Ganimedes, como também têm impacto na superfície gelada”.

Trumbo e Michael Brown, professor de astronomia planetária no Caltech, onde Trumbo recebeu recentemente o seu doutoramento, tinham estudado anteriormente o peróxido de hidrogénio em Europa, outro dos quatro satélites galileanos de Júpiter.

Em Europa, no entanto, o peróxido era detectável em grande parte da superfície, talvez, parcialmente, porque não tem um campo magnético para proteger a superfície das partículas que se movem rapidamente à volta de Júpiter.

“Este é provavelmente um processo muito importante e generalizado”, disse Trumbo. “Estas observações de Ganimedes fornecem uma janela chave para compreender como a radiólise da água pode conduzir a química em corpos gelados em todo o Sistema Solar exterior, incluindo nas vizinhas Europa e Calisto (a quarta lua galileana).”

“Ajuda a efectivamente compreender como funciona a chamada radiólise e que, de facto, com base em experiências de laboratório na Terra, funciona como esperado”, disse de Pater.

O ambiente sulfuroso de Io

Num segundo artigo científico, aceite para publicação na revista Journal of Geophysical Research: Planets, de Pater e os seus colegas relatam novas observações de Io feitas pelo Webb que mostram várias erupções em curso, incluindo um brilho num complexo vulcânico chamado Loki Patera e uma erupção excepcionalmente brilhante em Kanehekili Fluctus.

Uma vez que Io é a única lua vulcanicamente activa do Sistema Solar – a interacção gravitacional de Júpiter aquece-a – estudos como este dão aos cientistas planetários uma perspectiva diferente da que pode ser obtida através do estudo dos vulcões na Terra.

Medições do JWST, obtidas em Novembro de 2022, sobrepostas num mapa da superfície de Io. As medições infravermelhas (à direita) mostram um aumento de brilho em Kanekehili Fluctus, uma área vulcânica grande e, durante o período de observação, muito activa em Io. As medições espectrais (esquerda) mostram emissões infravermelhas proibidas do monóxido de enxofre centradas na área vulcânica. A coincidência confirma a teoria de que o SO é produzido em aberturas vulcânicas e, na atmosfera muito fina de Io, permanece o tempo suficiente para emitir a linha proibida que normalmente seria suprimida por colisões com outras moléculas na atmosfera.
Crédito: Chris Moeckel e Imke de Pater, UC Berkeley; mapa de Io – cortesia do USGS

Pela primeira vez, os investigadores conseguiram ligar uma erupção vulcânica – em Kanehekili Fluctus – a uma característica específica de emissão produzida pelas chamadas transições “proibidas” do gás monóxido de enxofre (SO).

O dióxido de enxofre (SO2) é o principal componente da atmosfera de Io, proveniente da sublimação do SO2 gelado, bem como de erupções vulcânicas em curso, à semelhança da produção de SO2 pelos vulcões na Terra.

Os vulcões também produzem SO, que é muito mais difícil de detectar do que o SO2. Em particular, a linha de emissão proibida do SO é muito fraca porque o SO está em concentrações tão baixas e é produzido apenas durante um curto período de tempo após ser excitado.

Além disso, as observações só podem ser feitas quando Io está na sombra de Júpiter, quando é mais fácil ver os gases brilhantes de SO.

Quando Io está na sombra de Júpiter, o gás SO2 na atmosfera de Io congela na sua superfície, deixando apenas SO e gás SO2 vulcânico recém-emitido na atmosfera.

“Estas observações com o Webb mostram pela primeira vez que este SO excitado veio efectivamente de um vulcão”, disse de Pater.

De Pater tinha feito observações anteriores de Io com o Telescópio Keck no Hawaii e encontrou níveis baixos da emissão proibida de SO em grande parte da lua, mas não conseguiu associar os pontos quentes de SO especificamente a um vulcão activo.

Ela suspeita que grande parte deste SO, bem como o SO2 visto durante um eclipse, provém dos chamados vulcões furtivos, que fazem erupções de gás, mas não de poeira, o que os tornaria visíveis.

Há vinte anos, de Pater e a sua equipa propuseram que este estado excitado do SO só podia ser produzido em aberturas vulcânicas quentes e que a ténue atmosfera permitia que este estado se mantivesse por tempo suficiente – alguns segundos – para emitir a linha proibida.

Normalmente, os estados excitados que produzem esta emissão são rapidamente amortecidos por colisões com outras moléculas na atmosfera e nunca são vistos. Só em partes da atmosfera onde o gás é escasso é que esses estados excitados duram o tempo suficiente para emitir linhas proibidas.

Os verdes e vermelhos das auroras terrestres são produzidos por transições proibidas do oxigénio na ténue atmosfera superior.

“A ligação entre o SO e os vulcões está relacionada com uma hipótese que tínhamos em 2002 para explicar como podíamos ver a emissão de SO”, disse.

“A única forma de explicar esta emissão era se o SO fosse excitado na chaminé vulcânica a uma temperatura de cerca de 1500 K e saísse neste estado excitado, perdesse o seu fotão em poucos segundos e fosse essa a emissão que vemos.

Assim, estas observações são as primeiras que mostram que este é o mecanismo mais provável para vermos o SO”.

O Webb voltará a observar Io ainda este mês de Agosto com o NIRSpec. Tal como a futura observação será, a anterior, que teve lugar a 15 de Novembro de 2022, foi realizada quando Io estava na sombra de Júpiter, de modo a que a luz reflectida pelo planeta não se sobrepusesse à luz proveniente de Io.

De Pater notou também que o brilho de Loki Patera era consistente com o período observado de erupções do vulcão, que aumenta de brilho, em média, a cada 500 dias terrestres, com o brilho a durar alguns meses.

Ela determinou isto porque não estava brilhante quando observou a lua com o Keck em Agosto e Setembro de 2022, nem estava brilhante quando outro astrónomo a observou de Abril a Julho de 2022. Apenas o JWST captou o evento.

“As observações do Webb mostraram que as erupções tinham realmente começado e que era muito mais brilhante do que o que tínhamos visto em Setembro”, disse.

Enquanto De Pater se concentra principalmente no sistema joviano – os seus anéis, pequenas luas e as luas maiores Ganimedes e Io – ela e outros membros da equipa ERS, cerca de 80 astrónomos, estão também a utilizar o JWST para estudar os sistemas planetários de Saturno, Úrano e Neptuno.

// UC Berkeley (comunicado de imprensa)
// Universidade de Cornell (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science Advances)
// Artigo científico #2 (Journal of Geophysical Research: Planets)

CCVALG
1 de Agosto de 2023


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published in: 2 meses ago

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