622: O Sahara já foi verde. Como? (E porquê?)

 

🏜️ SAHARA // 🏔️ ERAS GLACIAIS

Um estudo recente oferece novas perspectivas sobre as cíclicas eras húmidos no Norte de África que ocorreram ao longo dos últimos 800.000 anos, lançando luz sobre períodos em que o Deserto do Sahara era luxuriante e verde.

ZAP // DALL-E-2

Pela primeira vez,  uma equipa de cientistas realizou simulações dos intervalos de “esverdeamento” do deserto do Sahara, no Norte de África, tendo encontrado evidências da forma como o momento e a intensidade destes “períodos húmidos” foram influenciados pelos glaciares do Hemisfério Norte, que se encontravam a grande distância, a altas latitudes.

De acordo com o estudo, publicado a semana passada na Nature Communications, estes períodos de “reverdecimento” na história do Sahara foram influenciados também por mudanças na órbita da Terra à volta do Sol, e foram interrompidos durante as eras glaciais.

Segundo Edward Armstrong, investigador das Universidades de Helsínquia e Bristol e autor principal do estudo, “as significativas transformações cíclicas do Sahara, de deserto para savana, são uma das mais dramáticas mudanças ambientais da Terra”.

Evidências históricas mostram que o Sahara já teve rios, lagos e animais de grande porte como hipopótamos.

De acordo com os autores do estudo, estes  períodos húmidos podem ter aberto caminho para o movimento de várias espécies, incluindo os primeiros humanos, a nível global.

Estas eras húmidas, que ocorrem aproximadamente a cada 21.000 anos, estão associadas à chamada “precessão apsidal” da Terra — a oscilação axial do nosso planeta na sua órbita à volta do Sol — afectando os contrastes sazonais e, subsequentemente, a força da Monção Africana.

Os investigadores usaram um novo modelo climático para entender melhor estes períodos húmidos — que confirmou que as fases húmidas foram influenciadas pela precessão apsidal, resultando em Verões mais quentes no Hemisfério Norte, amplificando a Monção da África Ocidental e expandindo a vegetação de savana por todo o Sahara.

No entanto, durante as eras glaciais, grandes calotes polares suprimiram estes períodos húmidos, limitando o movimento de espécies, incluindo humanos, para fora de África.

“Estamos muito excitados com estes resultados”, diz Paul Valdes, investigador da Universidade de Bristol e co-autor do estudo, citado pelo Earth.com.

“O nosso modelo demonstra eficazmente estas mudanças climáticas no passado o que nos permite prever alterações futuras com grande confiança”.

De acordo com estudos anteriores, há cerca de 5 mi a 11 mil anos – após o fim da última era do gelo – o deserto do Sahara transformou-se. Cresceu vegetação no topo das dunas arenosas, e o aumento das chuvas transformou as cavernas áridas em lagos extensos. Pode o Sahara a voltar um dia a ser um paraíso verde?

ZAP //
16 Setembro, 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 5 dias ago

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593: Um objecto com 4.500 milhões de anos enterrado no Sahara desafia teorias sobre o Sistema Solar

 

CIÊNCIA // 🏜️ SAHARA // 🌌 SISTEMA SOLAR

Um meteorito revolucionário, o Erg Chech 002, descoberto em Erg Chech, região desértica no sul da Argélia, está a desafiar as teorias existentes sobre a formação do nosso Sistema Solar.

Charles Hassen
Megacristal de piroxeno retroiluminado no Erg Chech 002

Em Maio de 2020, foram encontradas no mar de areia de Erg Chech, uma região cheia de dunas do deserto do Saara, no sul da Argélia, rochas invulgares que continham uns peculiares cristais esverdeados.

Examinadas de perto, as rochas mostraram ser provenientes do espaço exterior: fragmentos de detritos com milhares de milhões de anos de antiguidade, vestígios dos primórdios do Sistema Solar.

Segundo o El Confidencial, estas rochas eram partes de um meteorito conhecido como Erg Chech 002, a rocha vulcânica mais antiga alguma vez encontrada, tendo sido fundida há muito tempo nos fogos de algum antigo protoplaneta já desaparecido.

Um novo estudo, publicado a semana passada na Nature Communications, usou isótopos de chumbo e urânio para determinar a sua idade: estima-se que esta rocha espacial tenha 4,565 mil milhões de anos, com uma margem de erro de 120.000 anos — o que a torna um dos objectos espaciais datados com mais precisão.

O Erg Chech 002 é um “acondrito não agrupado“, um tipo de rocha espacial que não se encaixa em nenhum dos grupos conhecidos de meteoritos.

Os acondritos são rochas formadas a partir de planetesimais fundidos, que são os aglomerados sólidos na nuvem de poeira e gás que formou o Sistema Solar.

A maioria dos acondritos pertence a grupos conhecidos, frequentemente associados a corpos parentais específicos, como Vesta 4, um dos maiores asteróides do Sistema Solar.

No entanto, os corpos parentais de acondritos não agrupadas como o Erg Chech 002 permanecem desconhecidos.

Para os cientistas que estudam a formação do Sistema Solar, o Alumínio-26 é particularmente importante. Este isótopo radioactivo decai ao longo do tempo e é útil para datar eventos, especialmente nos primeiros quatro a cinco milhões de anos do Sistema Solar.

Acredita-se também que o o Alumínio-26 tenha sido a principal fonte de calor no início do Sistema Solar, afectando a fusão de rochas primitivas que mais tarde se agruparam para formar planetas.

O Alumínio-26 sozinho não pode fornecer uma idade absoluta em anos, uma vez que decai relativamente depressa. Mas quando combinado com isótopos de urânio de vida longa (Urânio-235 e Urânio-238), é possível obter uma imagem mais precisa.

Estes isótopos de urânio decaem em diferentes isótopos de chumbo (Chumbo-207 e Chumbo-206), fornecendo uma datação mais precisa.

O estudo descobriu que o Erg Chech 002 tem uma quantidade invulgarmente grande de Chumbo-206 e Chumbo-207, bem como quantidades significativas de Urânio-238 e Urânio-235 não decompostos. Estas medições ajudaram a determinar com precisão a idade da rocha.

Grupo de cristais de piroxeno nometeorito Erg Chech

Além disso, quando comparado com outros grupos de acondritas, os autores do estudo descobriram que o corpo parental do Erg Chech 002 se formou provavelmente a partir de matéria com três a quatro vezes mais Alumínio-26 do que o corpo parental de outro grupo de acondritos chamado “angritos”.

Isto sugere que o Alumínio-26 não foi distribuído uniformemente no início do Sistema Solar, desafiando assim as teorias existentes.

O nosso Sistema Solar formou-se há cerca de 4.500 milhões de anos, a partir de uma imensa nuvem de gás e poeira. Entre os muitos elementos desta nuvem encontrava-se o alumínio, que se apresentava de duas formas.

A primeira é a forma estável, o Alumínio-27. A segunda é o Alumínio-26, um isótopo radioactivo produzido principalmente pela explosão de estrelas, que com o tempo decai em Magnésio-26.

A presença do Alumínio-26 nos primórdios do Universo, sobretudo nos primeiros quatro ou cinco milhões de anos de vida do Sistema Solar, torno-o um elemento útil aos cientistas para datar eventos cósmicos.

O estudo do Erg Chech 002, que coloca em causa a ideia até agora aceite de que o Alumínio-26 se encontrava distribuído de forma uniforme no Sistema Solar, melhora o nosso conhecimento das fases iniciais de desenvolvimento dos sistemas planetários e da história geológica de planetas em formação.

ZAP //
2 Setembro, 2023


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130: Há um plano para usar bombas nucleares para criar um mar no Saara

 

🇪🇭 SAARA // DESTRUIÇÃO // NUCLEAR ☢️

Parece uma ideia tirada de um filme de ficção científica, mas é a mais pura das realidades. Há mais do que um plano para tentar criar um mar dentro do Saara.

Luca Galuzzi – www.galuzzi.it / wikimedia
Deserto do Saara na Líbia.

O engenheiro escocês Donald McKenzie foi o impulsionador desta ideia. É importante lembrar que grandes secções do maior deserto de areia do mundo estão abaixo do nível do mar. Como tal, McKenzie queria inundar a bacia de El Djouf, transformando-a no que chamou de Mar do Saara.

De acordo com a IFLScience, o escocês propôs a criação de um canal de 644 quilómetros de comprimento, que ia desde Marrocos até à bacia.

Desta forma, seria possível criar um mar interior com quase 100 mil quilómetros quadrados, quase o dobro da área de Portugal.

Se pensa que esta é uma ideia de um maníaco qualquer, engana-se. McKenzie não é o primeiro a sugerir algo semelhante.

Já na década de 1870, inspirado no canal do Suez, o capitão do exército francês François-Elie Roudaire sugeriu um canal de quase 200 quilómetros de comprimento a ligar o mar Mediterrâneo ao sul da Tunísia, numa zona do deserto do Saara conhecida como Chott el Fejej.

Este plano do militar gaulês permitiria inundar quase 5 mil quilómetros quadrados de terra. A ideia era abrir mais rotas comerciais para os navios franceses e o plano até chegou a receber o aval de um famoso diplomata francês, chamado Ferdinand de Lesseps.

No entanto, a descoberta de que a área não estava realmente abaixo do nível do mar, além dos avultados custos, fizeram com que o projecto nunca saísse do papel.

Mais tarde, os Estados Unidos também tiveram uma ideia semelhante. O Projecto Plowshare previa a detonação “pacífica” de bombas nucleares para criar canais, de forma a inundar a Depressão de Qattara, no Egipto, que fica 60 metros abaixo do nível do mar.

O Projecto Plowshare foi descontinuado em 1977 depois de o uso de detonações nucleares pacíficas ter sido proibido por vários tratados internacionais.

ZAP //
12 Abril, 2023


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published in: 5 meses ago

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