524: Uma “bolha” no Atlântico está a arrefecer enquanto o resto do oceano aquece

 

🌡️ ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS // 🌊 OCEANO ATLÂNTICO

À medida que as temperaturas do oceano aquecem, uma área significativa no Atlântico Norte parece estar a contrariar esta tendência.

NASA Scientific Visualization Studio / Wikimedia

O mapa térmico não deixa dúvidas: no meio de um planeta colorido de vermelho e laranja, uma mancha azulada na região do oceano perto do Canadá e da Gronelândia revela temperaturas mais amenas.

Essa mancha é conhecida como cold blob em inglês (“bolha fria“) e começou a ser observada há cerca de uma década.

A teoria mais consensual até hoje sobre esta anomalia persistente é que ela se deve a uma desaceleração num sistema global de circulação oceânica chamado Atlantic Meridional Overturning Circulation, mais conhecido por sua sigla em inglês, AMOC.

Este sistema transporta água quente dos trópicos para o Atlântico Norte como se fosse uma escada rolante. Em termos simples, ele leva água quente para o norte e envia água fria para o sul, por baixo da superfície.

Mudanças na atmosfera

Um novo estudo, no entanto, descobriu que as mudanças em grande escala nos padrões climáticos podem desempenhar um papel importante na formação da bolha fria.

“A mudança na circulação atmosférica é significativa o suficiente para induzir um impacto de longo prazo nos sistemas climáticos”, explica Laifang Li, professora de meteorologia e ciências atmosféricas da Universidade Estadual da Pensilvânia, e co-autora da pesquisa.

De acordo com os investigadores, a Oscilação do Atlântico Norte (NAO, na sigla em inglês) também pode ter contribuído significativamente.

O NAO é um padrão de circulação atmosférica que envolve um sistema de baixa pressão perto da Islândia e um sistema de alta pressão perto das ilhas dos Açores, influenciando a forma como os ventos de oeste sopram no oceano.

Durante uma fase do NAO, os ventos sobre o Atlântico Norte subpolar intensificam-se, explica Li. E isso causa um efeito semelhante ao de mexer um líquido quente com uma colher de chá para o arrefecer.

“Quando queremos arrefecer uma chávena de café quente, mexemos na superfície e isso promove a perda de calor. Isso é exactamente o que a intensificação dos ventos faz com a superfície do oceano: ela tem um efeito directo de arrefecimento.”

E, segundo os investigadores, esta fase do NAO tornou-se mais dominante no último século. Isto ajuda a explicar por que é que a bolha fria não é um sinal de que não existe aquecimento global — mas apenas uma manifestação local contra-intuitiva das alterações climáticas.

Impacto climático do fenómeno

Alguns estudos indicam que a bolha fria desempenha um papel na desaceleração do derretimento dos glaciares nesta região do mundo, mas Li não está convencida de que haja uma relação directa.

“Não temos certeza de como a presença da bolha fria pode influenciar o gelo marinho do Árctico, porque a ligação entre a atmosfera, o oceano e a criosfera (as áreas da Terra onde a água está em estado sólido, e que inclui o mar, gelo, lagos, rios, calotas polares e solo congelado) é um problema multifacetado que envolve processos que competem entre si”, explica a investigadora.

Por outro lado, a cientista também não acredita que a bolha fria possa ajudar a baixar a temperatura do globo, já que ela cobre apenas uma parte da superfície do oceano.

“Quando calculada a média de todo o planeta, a contribuição da temperatura local para a média geral pode não ser significativa o suficiente para compensar os efeitos do aquecimento noutros lugares”, diz.

No entanto, por se tratar de um fenómeno também afectado pelas alterações climáticas (pela forma como afecta os diferentes sistemas que integram a bolha), e também pela sua localização, os cientistas consideram importante acompanhar a sua evolução.

“Ela está localizada na região de formação de águas profundas que é crítica para o AMOC, um importante mecanismo de transporte de calor que mantém o clima habitável nas latitudes médias do Atlântico Norte”, remata Li.

ZAP // BBC
8 Agosto, 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



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330: Oceano Árctico poderá ficar sem gelo no verão a partir de 2030

 

OCEANO ÁRCTICO // ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Nova previsão aponta para que o Árctico fique sem gelo dez anos antes do previsto anteriormente.

© Arquivo

O oceano Árctico poderá ficar sem gelo no verão a partir de 2030, dez anos antes do previsto anteriormente, segundo uma investigação publicada esta terça-feira que estudou todos os cenários de emissões de dióxido de carbono, incluindo as baixas.

A investigação, hoje publicada na revista da especialidade Nature Communications, foi conduzida por cientistas da Coreia do Sul, Alemanha e do Canadá, que utilizaram dados de observação do período 1979-2019 para fazer novas simulações.

O sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU, divulgado em Março, apontava que o Árctico estaria praticamente sem gelo no mês de Setembro perto de meados do século em cenários de emissões poluentes intermédias e altas.

Setembro é o mês em que o gelo no oceano costuma atingir o seu mínimo anual.

A ausência de gelo significa, segundo os cientistas, uma área inferior a um milhão de quilómetros quadrados, já que pode haver gelo residual ao longo da costa.

O oceano Árctico totaliza uma área de aproximadamente 14 milhões de quilómetros quadrados e está coberto de gelo durante a maior parte do ano, mas a sua extensão tem diminuído acentuadamente desde 2000.

O gelo desempenha um papel fulcral no verão ao reflectir os raios solares permitindo arrefecer o oceano.

De acordo com os autores do novo estudo, o desaparecimento do gelo irá acelerar o aquecimento do Árctico, levando ao aumento de fenómenos meteorológicos extremos em latitudes médias, como as canículas e os fogos florestais.

D.N.
DN/Lusa
06 Junho 2023 — 21:44


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e Criador de Conteúdos Digitais


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