Na última semana, a missão Júpiter, lançada pela Agência Espacial Europeia, foi notícia em vários meios de comunicação portugueses.
NASA / ESA / CSA / Jupiter ERS Team
Ao seu comandos está Bruno Sousa, enquanto director das operações de voo, mas nela também esteve envolvido Luís Rolo, engenheiro de antenas.
Para além desta participação lusa, outra informação saltou aos olhos de muitos: o tempo que a nave espacial vai demorar a chegar ao destino. É expectável que esta alcance a superfície de Júpiter em 2031, após uma viagem de oito anos.
No entanto, as sondas enviadas para a recolha de imagens ou outros elementos informativos demoraram entre dois anos e 13 meses. Então, como se justifica a diferença? De acordo com o IFL Science, o tempo que se demora tem muito a ver com o objectivo da viagem.
Caso o objectivo da missão passe por entrar na órbita do planeta, pode ser preciso adoptar uma rota diferente — e, provavelmente, mais longa.
A velocidade a que se viaja parece ser também um elemento essencial, o que nos remete para fórmulas matemáticas que incluem elementos como a força necessária para o lançamento.
“Para ajudar, os engenheiros aeronáuticos podem contar com a manobra de ajuda à gravidade”, explica Ignacio Tanco, director de operações da missão.
“Esta é a única forma que encontramos de obter velocidade extra do Sistema Solar. E é de facto um método muito viável, mas implica voar de uma certa forma, muito precisa, e atingir alvos nas órbitas em torno destes planetas que têm dezenas de quilómetros de largura”.
A medida que uma nave espacial sobrevoa um planeta, a gravidade reduz a velocidade orbital do planeta, ou seja, a órbita do planeta torna-se ligeiramente maior.
A diferença é tãopequena que nem sequer são mensuráveis pelo melhor instrumento que temos, mas faz uma enorme diferença para as sondas.
No que respeita à missão Juice, passará por Vénus uma vez e pela Terra três vezes, com a última passagem a acontecer em Abril de 2029, pouco mais de dois anos antes de chegar a Júpiter.
A sonda espacial europeia Juice foi lançada com sucesso esta sexta-feira, a bordo de um foguete Ariane 5, rumo a Júpiter e às suas luas geladas, com a missão de procurar ambientes favoráveis a formas de vida extraterrestre.
A Agência Espacial Europeia ESA lançou esta sexta-feira a Juice, sonda com tecnologia ‘made in Portugal‘ e um português como director de operações de voo, que irá estudar Júpiter e três das suas maiores luas usando
O foguete partiu do centro espacial europeu em Kourou, na Guiana Francesa, às 12h14 , 24 horas depois de o seu lançamento ter sido adiado devido ao risco de tempestades.
A sonda separou-se do foguete de lançamento, conforme planeado, 27 minutos após a descolagem, a uma altitude de cerca de 1.500 quilómetros.
“A missão de Ariane 5 é um sucesso“, declarou o presidente da Arianespace, Stéphane Israël, citado pela agência AFP.
Assim começou a viagem de oito anos da Juice, acrónimo de Jupiter Icy Moons Explorer, uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA).
O lançamento, que estava previsto para quinta-feira, foi adiado devido ao risco de ocorrência de raios, poucos minutos antes do final countdown.
Ao contrário dos lançamentos clássicos, que têm uma certa margem para descolar, a janela de lançamento da sonda Juice é de apenas de um segundo, devido à órbita específica que tem que atingir.
“É a sonda mais complexa até agora enviada a Júpiter”, disse o director-geral da ESA, Josef Aschbacher, na sala de controle Júpiter no Centro Espacial da Guiana.
“É uma missão extraordinária que mostra tudo o que a Europa é capaz de fazer”, disse Philippe Baptiste, presidente do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França.
A missão, que esteve para ser lançada em 2022, tem Bruno Sousa como director de operações de voo e o satélite inclui componentes fabricados pelas empresas LusoSpace, Active Space Technologies, Deimos Engenharia e FHP – Frezite High Performance e um instrumento concebido em parte pelo LIP – Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas.
A sonda, que deve chegar ao seu destino final em 2031, irá procurar condições propícias ao aparecimento de outras formas de vida nas luas de Júpiter. Será a primeira vez que um satélite artificial orbitará uma lua de outro planeta.
Actualmente, o único satélite artificial em órbita de Júpiter é o Juno, da NASA.
A viagem anuncia-se sinuosa, já que a sonda terá que realizar complexas manobras de assistência gravitacional, que consistem em utilizar a força de atracção dos outros planetas como catapulta.
Espera-se que a missão da ESA, que custou cerca de 1,6 mil milhões de euros e teve a colaboração das agências espaciais norte-americana (NASA), japonesa (JAXA) e israelita (ISA) em termos de instrumentação e ‘hardware’, termine em Setembro de 2035.
Júpiter é 11 vezes maior do que a Terra e é composto maioritariamente por gás, como o Sol. Ganimedes é a maior das luas do Sistema Solar e tem um grande oceano sob a sua superfície.
A missão da ESA foi concebida para averiguar se haverá sítios em redor de Júpiter e no interior das luas geladas com as condições necessárias (água, energia, estabilidade e elementos biológicos) para suportar vida.
Tecnologia portuguesa a bordo
A missão Juice tem Bruno Sousa como director de operações de voo e o satélite inclui componentes fabricados pelas empresas LusoSpace, Active Space Technologies,
Deimos Engenharia e FHP – Frezite High Performance e um instrumento concebido em parte pelo LIP – Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas.
À Deimos Engenharia coube a tarefa de garantir que o satélite não atingirá “em circunstância alguma” nem o planeta Marte nem a lua Europa, que estão, segundo explicou a empresa à Lusa, na “categoria de protecção planetária máxima para corpos extraterrestres”, que podem “potencialmente albergar vida”.
Um dos vários instrumentos que o satélite transporta é um monitor de radiação desenvolvido pelo LIP e Efacec, em cooperação com a empresa norueguesa Ideas e o instituto de investigação suíço Paul Scherrer.
A investigadora Paula Gonçalves, que coordenou no LIP o projecto, esclareceu à Lusa que o instrumento “serve para medir o ambiente de radiação ionizante” a que o satélite vai estar sujeito durante a sua trajectória, “podendo enviar sinais de aviso para que se possam proteger os outros detectores e sistemas” do satélite.
Outro dos instrumentos do JUICE é um magnetómetro, um aparelho que, no caso, vai caracterizar o intenso campo magnético de Júpiter e a sua interacção com o da lua Ganimedes.
A LusoSpace desenvolveu uma bobina que, conforme sintetizou à Lusa o presidente-executivo da empresa, Ivo Yves Vieira, gera um campo magnético “que será uma referência para o instrumento de medida do campo magnético de Júpiter”.
A sonda JUICE (JUpiter ICy Moons Explorer) da ESA, após o adiamento de ontem, em princípio será lançada ainda hoje a partir de Kourou, Guiana Francesa, no topo de um foguetão Ariane 5.
Vai fazer uma viagem de oito anos até Júpiter e, quando lá chegar em Julho de 2031, terá como um dos seus focos principais a lua Ganimedes. Mas porquê, exactamente? Aqui ficam algumas razões.
Impressão de artista da nave espacial JUICE a explorar Júpiter e Ganimedes. Crédito: ESA; reconhecimento – ATG Medialab
Em primeiro lugar, pensa-se que Ganimedes tenha um oceano salgado sob a sua concha gelada. Este oceano pode ser suficientemente grande para envolver todo o planeta, embora não saibamos com certeza as suas características.
Qual é a sua composição e qual é a sua profundidade? Um dos principais objectivos da JUICE em Ganimedes é a exploração deste corpo de água, ao mesmo tempo que o comparamos com outras luas oceânicas de Júpiter para obter uma imagem mais nítida destes mundos como potenciais habitats para a vida.
Animação que mostra a estrutura interior da lua de Júpiter, Ganimedes (parte de uma animação mais longa; ver aqui o vídeo completo). Crédito: ESA; reconhecimento – ATG Medialab
Ganimedes apresenta também interacções complexas com o ambiente espacial em redor de Júpiter, uma das regiões mais intensas e dinâmicas do Sistema Solar. É também a única lua – e um de apenas três corpos sólidos – no Sistema Solar a gerar o seu próprio campo magnético intrínseco.
Como é que o faz? O que impulsiona e mantém o dínamo interno de Ganimedes e porque é que não vemos campos magnéticos noutras luas?
O campo magnético de Ganimedes forma uma pequena bolha magnética (uma magnetosfera) que existe dentro da [maior] própria magnetosfera de Júpiter; esta bolha interage constantemente com os campos electromagnéticos e com a matéria ionizada (plasma) que inunda a região e produz auroras fortes.
A JUICE irá medir os campos magnéticos e eléctricos, partículas energéticas, átomos e moléculas, processos vistos em torno de Ganimedes e revelar a forma como estes interagem com o ambiente de Júpiter, com as cinturas de radiação e com outras luas.
Isto é essencial se quisermos compreender como os satélites se formam, evoluem e existem não só no sistema de Júpiter, mas também em sistemas de gigantes gasosos à volta de outras estrelas.
Por último, mas não menos importante, Ganimedes detém uma posição única no sistema joviano em termos da sua geologia e evolução, proporcionando uma janela para a história do sistema ao longo de vários milhares de milhões de anos.
A superfície complexa da lua é muito variada em termos de idade e mostra tanto terreno antigo e craterado (como aquele visto em Calisto) como terreno menos texturado e mais recente (como aquele visto em Europa).
Através do estudo de características da superfície de Ganimedes, os cientistas podem, portanto, obter uma visão de como os impactos e os processos geológicos, como por exemplo processos tectónicos, moldaram as luas de Júpiter ao longo do tempo. Isto inclui o mapeamento da composição da superfície de Ganimedes – especialmente em regiões onde podem existir vestígios de processos passados, tais como erosão espacial, criovulcanismo e processos tectónicos – e a determinação das propriedades físicas da concha de gelo da lua, que se pensa ter uma espessura de até 130 km.
Como é que a JUICE irá fazer isto?
A JUICE é uma missão única. Será a primeira nave espacial a orbitar uma lua que não a nossa e também a primeira a mudar de uma órbita em torno de um planeta para uma órbita em torno de um satélite natural (de Júpiter para Ganimedes).
Orbitará primeiro Júpiter, realizando vários “flybys” pelas luas do planeta – incluindo 12 por Ganimedes – à medida que contorna o gigante gasoso. A JUICE “saltará” então até Ganimedes e dará início ao seu estudo aprofundado da lua.
A JUICE irá medir a forma como Ganimedes gira, a sua gravidade e geofísica, a sua forma e estrutura interior, o seu campo magnético e atmosfera, a sua composição e mineralogia, a sua crosta gelada e características de superfície, as suas emissões para o espaço e interacções com o seu ambiente e, crucialmente, o seu oceano sub-superficial.
Completará pela primeira vez uma “tomografia” de Ganimedes, observando-a de múltiplas perspectivas para reconstruir uma visão do seu interior e avaliar as bioassinaturas da lua (elementos considerados biologicamente essenciais, embora não suficientes, para a vida: exemplos incluem carbono, oxigénio, magnésio, ferro e água líquida).
A nave espacial vai estudar cada uma das camadas de Ganimedes individualmente: o seu núcleo (que se pensa ser líquido e rico em ferro), o manto (rochoso e gelado), o oceano salgado, concha de gelo, magnetosfera e atmosfera ténue (incluindo a camada mais exterior – a exosfera).
Para tal, a nave está equipa com 10 instrumentos científicos de ponta, bem como uma experiência (PRIDE) e um monitor de radiação (RADEM). Esta carga útil irá abordar os objectivos científicos da missão através de detecção remota (à distância), in situ (no local) e de observações geofísicas.
Os instrumentos científicos da JUICE. Crédito: ESA; reconhecimento – ATG Medialab
A JUICE irá…
Medir os componentes do campo magnético de Ganimedes (J-MAG);
Observar as partículas energéticas aí encontradas e revelar como interagem com a magnetosfera de Júpiter e com a superfície de Ganimedes (RPWI, PEP, RADEM);
Explorar as auroras de Ganimedes (combinação de detecção remota – UVS, MAJIS e JANUS – e instrumentos in situ);
Medir a densidade e composição química da ténue atmosfera e ionosfera de Ganimedes (PEP, 3GM, PRIDE, RIME, e todos os instrumentos de detecção remota);
Caracterizar a composição e propriedades físicas da superfície de Ganimedes (MAJIS, UVS, SWI e 3GM em modo radar bi-estático), incluindo o mapeamento de toda a sua superfície com uma resolução de 100 a 400 metros por pixel e o estudo da geologia da lua (JANUS);
Mapear regiões de interesse a alta resolução espectral e espacial (instrumentos de detecção remota, radar e GALA), medindo também a topografia e rugosidade de regiões à superfície (GALA);
Obter as primeiras medições directas da sub-superfície de Ganimedes com o seu radar penetrante (RIME);
Caracterizar o oceano sub-superficial medindo as marés à superfície (GALA), o campo de gravidade de Ganimedes (3GM) e a indução magnética da lua (J-MAG). Estão também previstas medições passivas por radar com o RIME e RPWI;
Estudar a estrutura interior de Ganimedes através da medição do seu campo de gravidade e rotação (3GM, GALA e JANUS);
Determinar com grande precisão a posição da lua no sistema de Júpiter (3GM, PRIDE, JANUS).
No geral, a JUICE vai pintar um novo e completo quadro de Ganimedes e do seu lugar no sistema joviano.
A missão espacial europeia para explorar Júpiter estava marcada para ontem, contudo, as condições meteorológicas obrigaram ao seu adiamento. A segunda tentativa acontece hoje a partir do Spaceport na Guiana Francesa.
A Missão Juice – Jupiter Icy Moons Explorer – estava marcada para o dia de ontem, contudo o estado do tempo impediu que o lançamento acontecesse como previsto.
Esta que é a primeira missão europeia rumo a Júpiter a bordo do foguete Ariane 5, devido a ventos fortes em altitude, teve que ser adiada por 24 horas.
Depois do lançamento, o Juice vai fazer uma viagem de mais de 884 milhões de km até chegar aos seus alvos.
Esta missão tem como objectivo fazer observações detalhadas sobre o gigante gasoso que é Júpiter e os seus três grandes satélites oceânicos – Calisto, Europa e Ganímedes.
A missão irá caracterizar estes satélites tanto como objectos planetários como possíveis habitats. Também será explorado em profundidade o complexo ambiente do planeta.
A nova tentativa de lançamento está marcada para hoje, dia 14 de Abril, às 13h24 (horário de Lisboa) e poderá ser acompanhado em directo através do canal do YouTube da ESA.
O Juice será lançada a partir do espaço-porto europeu em Kourou, na Guiana Francesa, no Ariane 5. O Juice vai separar-se do Ariane 5 28 minutos após o lançamento e, cinco minutos depois, a ESA começará a rastreá-lo via estações terrestres.
Entre 99 minutos e 17 dias após o lançamento, os painéis solares, antenas, sondas e boom do magnetómetro serão implantados, estando pronto para continuar a sua jornada de oito anos rumo a Júpiter.
A missão conta o engenheiro aeroespacial português Bruno Sousa como director de operações de voo e contou com o engenheiro de antenas Luís Rolo nos testes de duas antenas de dois dos dez instrumentos do satélite, uma sonda-radar e um radiotelescópio. Os dois trabalham na ESA há mais de dez anos.
Será que existe vida para além da Terra – talvez mesmo no Sistema Solar? Esta questão fundamental continua a motivar a comunidade científica de todo o mundo.
No dia 13 de Abril de 2023, uma nave espacial partirá do porto espacial europeu em Kourou, Guiana Francesa, numa longa viagem de investigação para abordar esta e muitas outras questões.
Uma viagem como nenhuma outra – a missão JUICE (JUpiter ICy Moons Explorer) da ESA vai passar oito anos a viajar até ao maior planeta do Sistema Solar, onde irá olhar de perto para as suas misteriosas luas geladas.
Impressão de artista da sonda JUICE no sistema de Júpiter. Crédito: sonda – ESA/ATG medialab; Júpiter – NASA/ESA/J. Nichols (Universidade de Leicester); Ganimedes – NASA/JPL; Io – NASA/JPL/Universidade do Arizona; Callisto e Europa – NASA/JPL/DLR
No processo, a JUICE alcançará muitos “primeiros”. Será a primeira sonda a utilizar uma passagem extremamente rasante – a apenas 750 km – da Lua e, 36 horas depois, da Terra, para obter momento, a primeira a mudar de órbita em torno de um planeta, para órbita de uma das suas luas, e a primeira a orbitar uma lua que não a da nossa Terra.
O instrumento GALA (GAnymede Laser Altimeter) é o primeiro do seu género a ser utilizado no Sistema Solar exterior, com a tarefa de analisar a superfície em três dimensões e assim determinar a topografia e a forma destas luas.
A agência espacial alemã, parte do DLR (Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt), está a apoiar a JUICE, fazendo a maior contribuição individual de qualquer estado-membro da ESA – 21%.
Estes fundos fazem parte do financiamento da nave espacial, do lançamento com o foguetão Ariane 5 e das operações da missão. Além disso, aproximadamente 100 milhões de euros vão para sete de um total de 10 instrumentos científicos na nave espacial.
“A missão JUICE é o resultado de colaborações bem-sucedidas a nível nacional e europeu. Após um voo pelo Sistema Solar, o instrumento GALA do DLR a bordo da JUICE irá criar um modelo de elevação da lua gelada de Júpiter, Ganimedes.
O altímetro laser será utilizado para medir a deformação da crosta de gelo de Ganimedes ao longo de um período de meses. A partir desta deformação, seremos capazes de determinar se existe um oceano de água líquida sob a crosta gelada e qual a espessura da crosta”, explica Anke Kaysser-Pyzalla, presidente do Conselho Executivo do DLR.
“E que seria desta missão sem uma câmara, para que nós, na Terra, possamos sentir-nos parte dela? Os componentes-chave do hardware da câmara da JUICE foram desenvolvidos e construídos no Instituto de Investigação Planetária do DLR em Berlim.
O sistema de câmaras JANUS, construído pelos nossos parceiros italianos, irá fornecer-nos imagens de alta resolução das superfícies geladas de Ganimedes, Calisto e Europa, de apenas algumas centenas de quilómetros de distância”.
“A maior missão interplanetária da ESA até à data está a partir para o maior planeta do Sistema Solar.
A JUICE irá observar e medir Júpiter e as suas três maiores luas geladas – Ganimedes, Calisto e Europa – com ‘flybys’ e a partir de órbita utilizando câmaras, espectrómetros, radar e lasers. Dois importantes instrumentos foram desenvolvidos e construídos sob liderança alemã.
Além do GALA, um segundo instrumento a bordo foi desenvolvido e construído na Alemanha – o SWI (Submillimetre Wave Instrument) do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar) em Gotinga.
Este irá estudar a atmosfera média de Júpiter, bem como as atmosferas extremamente finas e as superfícies das luas galileanas Ganimedes, Europa e Calisto.
Para o instrumento italiano JANUS (Jovis, Amorum ac Natorum Undique Scrutator), que observará principalmente as estruturas geológicas das luas geladas parcialmente a alta resolução, o Instituto de Investigação Planetária do DLR desenvolveu partes chave do sistema de câmaras.
Em adição, a Agência Espacial Alemã no DLR está a financiar contribuições para o espectrómetro de partículas PEP (Particle Environment Package), para o J-MAG (Jupiter Magnetometer), para o instrumento RIME (Radar for Icy Moons Exploration) e para o instrumento 3GM (Gravity and Geophysics of Jupiter and Galilean Moons).
A JUICE, preparando-se para o lançamento. Crédito: ESA-CNES-Arianespace/CSG/S. Martin
Um viajante como nenhum outro
Para uma viagem especial, é também necessário um “veículo” especial. A nave espacial da missão JUICE tem de cumprir tarefas complexas no seu caminho para o primeiro planeta do Sistema Solar exterior. Só a distância apresenta três desafios.
Primeiro, os dados recolhidos levam 30 a 50 minutos a viajar até à Terra e os novos comandos demoram o mesmo tempo a chegar à sonda. Em segundo lugar, o gigante gasoso fica a uma distância média de 778 milhões de quilómetros de distância do Sol.
Consequentemente, é um local frio e escuro. Mas, dado que a sonda, durante a sua viagem, também vai passar por Vénus, que fica bem mais perto do Sol, tem de suportar flutuações de temperatura de +250 a -230º C na sua viagem.
Um elaborado sistema de controlo térmico, composto por componentes activos e passivos, incluindo um novo tipo de MLI (Multi-Layer Insulation), irá manter a temperatura interna estável.
E, em terceiro lugar, a luz do Sol é extremamente fraca em Júpiter – 25 vezes mais fraca do que na Terra. Dois grupos de cinco painéis solares cada, cobrindo uma enorme área de 85 metros quadrados, fornecem aproximadamente 700 a 900 watts de energia eléctrica.
As baterias a bordo permitem que a nave espacial resista a eclipses que durem até cinco horas. Assim que a JUICE chegar a Júpiter, o campo de radiação mais forte do Sistema Solar “espreita” em frente e, sobretudo, atrás do gigante de gás.
Os instrumentos também tiveram de ser construídos para permanecerem funcionais apesar do severo ambiente de radiação.
Perto de Júpiter, as partículas como protões, electrões e iões do vento solar e das ejecções vulcânicas da lua Io são capturadas pelo campo magnético do planeta: “O campo magnético acelera estas partículas, transformando-as em pequenos projécteis carregados que vão bombardear o nosso altímetro laser GALA.
Para proteger os componentes particularmente sensíveis do instrumento contra esta radiação extremamente forte, foi desenvolvido um conceito muito especial.
Esta é a primeira vez que tal instrumento é utilizado no Sistema Solar exterior”, explica Heike Rauer, líder do Instituto de Investigação Planetária do DLR e acrescenta: “A JUICE está realmente a desbravar novos caminhos científicos e irá gerar conjuntos de dados, com as suas medições, que farão possivelmente novas afirmações científicas e que vão complementar perfeitamente os resultados de outras missões como a Europa Clipper da NASA”.
A linha temporal da viagem da JUICE até Júpiter e dentro do sistema joviano. Crédito: ESA
Um itinerário como nenhum outro
“Para chegar ao Sistema de Júpiter em segurança e dentro do prazo previsto, a nave espacial irá tomar um percurso muito especial. Como em qualquer viagem longa, a JUICE passará por vários pontos de ‘reabastecimento’ de energia cinética.
Após o seu lançamento para uma órbita em torno do Sol, a sonda realizará em primeiro lugar um ‘flyby’ pela Terra e pela Lua em Agosto de 2024 para ganhar impulso.
Este momento irá catapultar a JUICE para o vizinho da Terra, Vénus, onde novamente ganhará significativamente mais velocidade com outro ‘flyby’ planetário em Agosto de 2025. Depois, regressará à Terra mais duas vezes, em Setembro de 2026 e Janeiro de 2029.
A JUICE terá então ganho tanto impulso que alcançará finalmente Júpiter em Julho de 2031″, diz Christian Chlebek, gestor do projecto JUICE na Agência Espacial Alemã do DLR, explicando as complexas manobras de voo da missão JUICE.
Assim que chegar a Júpiter, a nave entrará em órbita do planeta e fará um total de 35 passagens rasantes das luas geladas de Julho de 2031 a Novembro de 2034.
Depois disso, as coisas voltarão a ficar excitantes em Dezembro de 2034. Pela primeira vez, uma nave espacial irá mudar de órbita de um planeta para orbitar uma das suas luas.
Quando a JUICE chegar à lua Ganimedes, será também a primeira nave espacial a orbitar uma lua que não o satélite natural da Terra.
Na parte final desta viagem, o instrumento GALA do DLR irá principalmente sondar a concha de gelo desta lua em busca de evidências de um oceano subterrâneo, antes da sonda colidir com a superfície da lua no final da missão.
Júpiter e as suas luas geladas
Júpiter foi formado após o nascimento do Sol, há cerca de 4,5 mil milhões de anos. A gravidade juntou gás e poeira para criar este gigante gasoso, cujo diâmetro de 138.000 quilómetros é mais de 10 vezes superior ao da Terra.
Júpiter absorveu a maior parte da massa remanescente da formação do Sol e acabou com mais do dobro do material que todos os outros corpos do Sistema Solar juntos. De facto, Júpiter tem os mesmos componentes que uma estrela, mas não se tornou suficientemente massivo para se transformar numa.
Suspeita-se que as luas Ganimedes, Calisto e Europa, também referidas como as “luas galileanas” em honra ao seu descobridor, abriguem oceanos de água sob as suas superfícies geladas.
Este é o elemento que torna a Terra tão única e é considerado um pré-requisito fundamental para a vida.
Júpiter e as suas luas geladas não são apenas uma parte significativa do Sistema Solar, como podem também ajudar os cientistas a aprender mais sobre o ambiente em torno de outras estrelas. Já foram descobertos milhares de exoplanetas.
Muitos destes mundos distantes são gigantes de gás como Júpiter. Estão demasiado longe para o envio e estudo por naves espaciais, mas, ao estudar Júpiter, podem ser tiradas conclusões sobre características destes mundos.