O Ingenuity partilhou até uma nova fotografia da superfície do ‘Planeta Vermelho’.
A NASA anunciou que o helicóptero Ingenuity estabeleceu um novo recorde de voo em Marte, atingindo uma altitude de voo de 20 metros.
Esta altitude, que foi atingida durante o 59.º voo do Ingenuity, é largamente superior ao recorde anterior do helicóptero que era ‘apenas’ de 6 metros. A NASA comunicou ainda que o Ingenuity se manteve no ar durante 142,59 segundos.
Ao contrário de outros voos que o Ingenuity tem feito para servir de apoio ao rover Perseverance, este 59.º parece ter sido concretizado somente para tentar puxar o helicóptero a novos limites. O helicóptero pousou em segurança no mesmo local.
A par deste feito, a NASA aproveitou para partilhar uma nova fotografia da superfície de Marte.
Quando os primeiros astronautas aterrarem em Marte, poderão ter de agradecer aos descendentes de um aparelho do tamanho de um micro-ondas pelo ar que respiram e pelo combustível do foguetão que os levará para casa.
Esse aparelho, chamado MOXIE (Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment), gerou oxigénio pela 16.ª e última vez a bordo do rover Perseverance da NASA.
Depois do instrumento se ter revelado muito mais bem-sucedido do que os seus criadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology) esperavam, as suas operações estão a terminar.
A experiência MOXIE (Mars Oxygen In-situ Resource Utilization Experiment) é colocada no chassis do rover Perseverance da NASA em 2019. Durante a missão, o instrumento MOXIE extraiu oxigénio da atmosfera marciana 16 vezes, testando uma forma de os futuros astronautas poderem fabricar o combustível do foguetão que os lançaria de volta à Terra. Crédito: NASA/JPL-Caltech
“O desempenho impressionante do MOXIE mostra que é possível extrair oxigénio da atmosfera de Marte – oxigénio que poderia ajudar a fornecer ar respirável ou combustível para foguetões aos futuros astronautas”, disse a administradora adjunta da NASA, Pam Melroy.
“O desenvolvimento de tecnologias que nos permitam utilizar recursos na Lua e em Marte é fundamental para construir uma presença lunar a longo prazo, criar uma economia lunar robusta e permitir-nos apoiar uma primeira campanha de exploração humana a Marte.”
Desde que o Perseverance aterrou em Marte em 2021, o MOXIE gerou um total de 122 gramas de oxigénio – aproximadamente o que um cão pequeno respira em 10 horas.
No seu estado mais eficiente, o MOXIE foi capaz de produzir 12 gramas de oxigénio por hora – o dobro dos objectivos originais da NASA para o instrumento – com 98% de pureza ou mais. Na sua 16.ª experiência, a 7 de Agosto, o instrumento produziu 9,8 gramas de oxigénio.
O MOXIE cumpriu com sucesso todos os seus requisitos técnicos e funcionou numa variedade de condições durante um ano completo em Marte, permitindo aos criadores do instrumento aprender muito sobre a tecnologia.
“Estamos orgulhosos por termos apoiado uma tecnologia inovadora como o MOXIE, que pode transformar recursos locais em produtos úteis para futuras missões de exploração”, disse Trudy Kortes, directora de demonstrações tecnológicas do STMD (Space Technology Mission Directorate) na sede da NASA em Washington, que financia a demonstração do MOXIE.
“Ao provar esta tecnologia em condições reais, aproximamo-nos de um futuro em que os astronautas ‘viverão da terra’ no Planeta Vermelho.”
O MOXIE produz oxigénio molecular através de um processo electroquímico que separa um átomo de oxigénio de cada molécula de dióxido de carbono bombeado da fina atmosfera de Marte. À medida que estes gases passam pelo sistema, são analisados para verificar a pureza e a quantidade do oxigénio produzido.
O primeiro do género
Ao passo que muitas das experiências do Perseverance abordam os objectivos científicos primários da missão, o instrumento MOXIE centrou-se na futura exploração humana.
O MOXIE serviu como a primeira demonstração de sempre de tecnologia que os humanos poderiam utilizar para sobreviver no Planeta Vermelho e para sair dele.
Um sistema de produção de oxigénio poderia ajudar as futuras missões de várias formas, mas a mais importante seria como fonte de propulsor de foguetões, que seria necessário em quantidades industriais para lançar foguetões com astronautas para a sua viagem de regresso a casa.
Em vez de levarem grandes quantidades de oxigénio para Marte, os futuros astronautas poderiam viver da terra, utilizando materiais que encontrassem na superfície do planeta para sobreviver. Este conceito – denominado ISRU (in-situ resource utilization) – evoluiu para uma área de investigação em crescimento.
“O MOXIE serviu claramente de inspiração para a comunidade ISRU”, disse o investigador principal do instrumento, Michael Hecht do MIT. “Mostrou que a NASA está disposta a investir neste tipo de tecnologias futuras. E tem sido um porta-estandarte que tem influenciado a excitante indústria dos recursos espaciais.”
Foco no futuro
O próximo passo não será a construção do MOXIE 2.0 – embora Hecht e a sua equipa tenham aprendido muito sobre como conceber uma versão mais eficiente do instrumento. Em vez disso, seria criar um sistema à escala real que incluísse um gerador de oxigénio como o MOXIE e uma forma de liquefazer e armazenar esse oxigénio.
Mas, acima de tudo, Hecht gostaria que outras tecnologias tivessem a sua vez em Marte. “Temos de tomar decisões sobre as coisas que precisam de ser validadas em Marte”, disse Hecht. “Penso que há muitas tecnologias nessa lista; estou muito satisfeito por o MOXIE ter sido o primeiro.”
Não nos chega a Terra e, por isso, há empresários e agências a pensar em formas de levar seres humanos para Marte. Segundo um novo estudo, não só há um número de pessoas apontado como sustentável para a criação de uma colónia, como há outros elementos a ter em consideração, no momento da sua selecção.
Um novo estudo realizado por uma equipa de investigadores dos Estados Unidos da América concluiu que para sustentar uma colónia durante o tempo suficiente para estabelecer uma presença sustentável em Marte seriam precisas apenas 22 pessoas.
A equipa utilizou modelos e simulações para determinar a dimensão mínima da população inicial para uma colónia de Marte bem sucedida e próspera. Caso a colónia seja menor do que a apontada como ideal, a colonização do planeta vermelho poderá ser um fracasso.
Além do número de pessoas, os investigadores descobriram que a colónia humana em Marte tem de contar com a mistura correta de tipos de personalidade. Isto, para garantir que os seleccionados conseguem trabalhar em conjunto durante muito tempo, num ambiente muito isolado. Caso contrário, a colonização poderá não correr bem.
Para além dos desafios técnicos e de engenharia, os colonizadores também enfrentarão desafios psicológicos e de comportamento humano.
O nosso objectivo é compreender melhor as interacções comportamentais e psicológicas dos seleccionados através de uma abordagem de modelação baseada em agentes (simulação ABM).
Esta modelação baseada em agentes é uma técnica utilizada na investigação económica ou da saúde. De forma simples, são simulações informáticas concebidas para estudar as interacções de “agentes” autónomos com poder de decisão num sistema. Embora normalmente se concentrem em pessoas, o sistema pode também incluir objectos, localização e a passagem do tempo.
A equipa incluiu, na sua modelação, quatro tipos de personalidade:
Agradáveis, com baixa competitividade, baixa agressividade e baixa fixação na rotina;
Sociais, moderadamente competitivos, competitivos nas interacções sociais e requerem interacção social, mas também têm baixa fixação na rotina;
Reactivos, moderadamente competitivos, competitivos na interacção social e fixados na rotina;
Neuróticos, altamente competitivos, agressivos socialmente, altamente fixados na rotina e têm problemas com o tédio.
A cada agente foram também atribuídas competências de duas categorias: gestão e engenharia. Outros factores, como a disponibilidade de recursos, as relações interpessoais e o alinhamento de tarefas, também foram tidos em consideração.
Como perceberam que são precisas 22 pessoas para colonizar Marte?
A equipa estudou as incursões humanas em ambientes isolados sob elevado stress, como a Antárctida, submarinos e a Estação Espacial Internacional, por forma a compreender melhor os desafios e os factores de stress.
Depois, realizou cinco execuções do seu modelo durante um período de 28 anos, variando a dimensão da população de 10 para 170 em aumentos de 10 indivíduos, testando posteriormente populações iniciais ainda mais pequenas.
Uma vez que existem tarefas críticas que têm de ser constantemente realizadas – como a produção de ar, água e alimentos, a remoção de resíduos e a recuperação de acidentes -, foi definido um tamanho de população de 10 como o mínimo absoluto para uma colónia estável. De ressalvar que foram incluídos números iguais de cada tipo de personalidade em cada conjunto inicial.
Após 28 anos, a população inicial mínima capaz de sustentar uma população superior a 10 indivíduos era de 22 pessoas. Contudo, o tipo de personalidade desempenhou um papel significativo. Afinal, “o tipo de personalidade Agradável foi o único a sobreviver durante toda a duração das execuções do modelo”.
Estas descobertas, que ainda não foram revistas por pares, foram apresentadas em pormenor, num artigo publicado arXiv.
Por cá, estamos muito interessados em explorar a superfície de Marte e, especialmente, em encontrar vida por lá. Apesar de ser uma vontade que cresceu, nos últimos anos, aparentemente, há quem teorize que já a encontrámos, em Marte, mas destruímo-la sem querer…
Estamos sedentos de encontrar vida em Marte – seja ela na forma que for. Para aqueles que anseiam a sua descoberta, estas serão notícias interessantes. Depois de muitos anos de exploração, há uma nova teoria sobre a razão pela qual ainda não fomos capazes de descobrir vida no planeta vermelho.
A hipótese aponta que podemos ter tido a vida marciana debaixo dos nossos olhos, mas que a matámos, sem querer e sem nos apercebermos. Segundo a teoria, isto terá acontecido nas missões enviadas, pela NASA, há quase 50 anos.
As sondas Viking foram enviadas pela agência espacial americana e carregam o título de terem sido as primeiras a aterrar no planeta vermelho com sucesso.
O programa previa o envio de sondas não tripuladas e, por isso, a bordo encontravam-se instrumentos destinados à exploração e investigação. Estes procuravam encontrar vida, em Marte.
De acordo com a hipótese, as experiências terão, de facto, encontrado sinais de vida no planeta vermelho. Contudo, a falta de conhecimento do ambiente marciano, na altura, terá levado a nave espacial a matar todas as amostras recolhidas antes de a poder analisar.
A sustentar esta hipótese estão os compostos orgânicos que, como vamos vendo, são moléculas comuns, em Marte. No entanto, na altura, os resultados da sua análise foram considerados negativos ou inconclusivos.
Há investigadores que acreditam que há vida em Marte
Segundo Dirk Schulze-Makuch, professor da Universidade Técnica de Berlim (TU) e um dos principais defensores da hipótese levantada, quando foram encontrados compostos orgânicos clorados, os responsáveis da NASA atribuíram-nos à contaminação terrestre. A partir daí, assumindo que não foram encontrados compostos orgânicos nativos, deduziram que a vida, em Marte, não era possível.
Para o professor, as sondas Viking, enviadas há cerca de 50 anos, pela NASA, terão recolhido amostras de vida, mas tê-la-ão matado, durante os testes.
Isto, porque as sondas adicionaram água às amostras – por ser um composto básico, na Terra, poderia ajudar a que a vida hipotética prosperasse e ficasse mais fácil de detectar -, pelo que há especialistas que acreditam que essa decisão afogou as amostras.
Dirk Schulze-Makuch, professor da Universidade Técnica de Berlim (TU) e um dos principais defensores da hipótese levantada
Além dos compostos orgânicos, também o peróxido de hidrogénio (ou a água oxigenada, como é conhecida comercialmente) constitui importância para a teoria de que a matámos a vida que encontrámos, em Marte, há cerca de 50 anos.
Abundante em algumas áreas do planeta vermelho, o peróxido de hidrogénio é higroscópico, ou seja, ajuda a absorver a humidade do ar. Embora por cá consideremos que é incompatível com a vida, Dirk Schulze-Makuch exemplifica que há organismos que convivem com a água oxigenada.
Isto significa que, em vez de afogarem as suas amostras, as sondas Viking poderão tê-las aquecido. A teoria explica que o calor poderá ter matado as amostras hipotéticas e feito o peróxido reagir com possíveis moléculas orgânicas.
Gilbert Levin, engenheiro de referência que trabalhou nas missões Viking
O professor não é o único teórico que crê nesta teoria. Além dele, também Gilbert Levin, engenheiro de referência que trabalhou nas missões Viking, defende que é possível que tenhamos encontrado vida, em Marte, e que a tenhamos matado, por não sabermos lidar com ela.
A corroborar esta hipótese de existência de vida está a experiência conhecida como Labeled Release (LR). Os resultados desta foram consistentes e os estudos posteriores levados a cabo por Levin e pela colega Patrícia Ann Straat, ditam que é a explicação mais provável.
O rover Curiosity da NASA encontrou um intrigante padrão hexagonal em depósitos de sal em Marte — que parecem estranhamente semelhantes a bacias terrestres que secam sazonalmente, oferecendo uma nova e fascinante pista sobre a antiga história do Planeta Vermelho.
NASA / JPL-Caltech / MSSS / IRAP
A existência de padrões hexagonais na superfície de Marte sugere a ocorrência de ciclos de estações secas e húmidas, potencialmente favoráveis ao aparecimento de vida no Planeta Vermelho.
A marcante descoberta, detalhada num artigo publicado a semana passada na revista Nature, é a primeira evidência fóssil de um clima marciano sustentado, cíclico e regular com estações secas e húmidas.
Em vez de actividade hidrológica esporádica induzida por impactos ou vulcões, nossas descobertas apontam para um clima sustentado, cíclico, possivelmente sazonal, no início da formação de Marte, explicam os autores do artigo numa nota de imprensa.
“Nunca estivemos tão perto de confirmar de uma vez por todas que o Planeta Vermelho passou por períodos de estações ricas em água e condições muito mais secas — algo que pode nos aproximar da resposta à questão de se Marte já foi repleto de vida, tal como a Terra é agora“, dizem os investigadores.
O rover Curiosity, que está há mais de uma década a percorrer as desoladas paisagens marcianas, avistou as fissuras na lama em 2021, enquanto subia o Monte Sharp, uma imensa montanha que se eleva a quase 5 mil metros a partir do solo da cratera Gale.
À medida que a lama marciana da área seca, esta encolhe e forma fissuras, com junções em forma de T — algo que o Curiosity já tinha descoberto.
Mas os cientistas dizem agora que foi a exposição prolongada — e mais importante, recorrente — à água que provavelmente causou a transformação destas fissuras em junções em forma de Y, formando estes padrões hexagonais.
NASA / JPL-Caltech / MSSS / IRAP A existência de padrões hexagonais na superfície de Marte sugere a ocorrência de ciclos de estações secas e húmidas, potencialmente favoráveis ao aparecimento de vida
“Esta é a primeira evidência tangível que vimos de que o antigo clima de Marte teve ciclos húmidos-secos tão regulares, semelhantes aos da Terra”, explica o autor principal do estudo, William Rapin do Institut de Recherche en Astrophysique et Planétologie da França, num comunicado da NASA.
“Mas ainda mais importante é que os ciclos de humidade e secura são úteis — talvez até necessários — para a evolução molecular que poderia levar à vida“, acrescentou Rapin.
Um dia em Marte dura cerca de 37 minutos a mais do que um dia na Terra. Mas, parece que ambos os planetas estão a trabalhar para corrigir esta lacuna. Novos dados da sonda InSight da NASA revelam que os dias marcianos estão a ficar cada vez mais curtos e os cientistas não sabem explicar o porquê.
NASA A sonda InSight explorou o subsolo de Mart
A missão espacial InSight (Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport) enviou uma sonda para Marte em 2018, com o objectivo de realizar experiências científicas no terreno.
O principal objectivo desta missão espacial estava em estudar o interior do Planeta Vermelho, bem como instalar antenas de rádio que poderiam ser úteis na medição da rotação de Marte.
No entanto, os seus painéis solares acumularam demasiado pó e a sonda ficou sem energia em Dezembro de 2022.
Ainda assim, foi recolhida uma massiva quantidade de dados, que estão ainda hoje a ser interpretados pelos cientistas.
As antenas colocadas em Marte comunicam directamente com a Deep Space Network da NASA, um sistema instalado aqui, na Terra.
Os sinais emitidos por estas antenas foram recebidos ao longo de vários dias e anos, até que os cientistas tivessem uma grande quantidade de dados para analisar.
Através destes dados, foi possível medir o alongamento e encurtamento de ondas de rádio, à medida que o planeta vermelho em rotação se aproximava e se afastava da Terra, na sua órbita.
O efeito que explica este fenómeno designa-se por Efeito Doppler. E é fácil de entender quando se utiliza o clássico exemplo da ambulância com uma sirene – o som da ambulância parece-nos cada vez mais agudo quando se aproxima de nós, e vai-se tornando mais grave à medida que se distancia.
A equipa de investigação analisou os dados recolhidos durante os primeiros 900 dias marcianos desde que a sonda da InSight aterrou em Marte e corrigiu determinados factores como o vento solar e a humidade na atmosfera terrestre.
Após esta correcção, os cientistas puderam então interpretar os dados e tirar conclusões sobre alterações na velocidade de rotação de Marte.
“Estamos essencialmente à procura de pequenas variações, de algumas dezenas de centímetros, ao longo de um ano marciano”, afirma Sebastien Le Maistre, autor principal do estudo. “Demora muito tempo a acumular uma grande quantidade de dados, até que seja possível ver alguma variação”, explica.
No entanto, após a análise de resultados, os investigadores conseguiram descobrir que a rotação de Marte está a acelerar, embora numa escala muito reduzida – cerca de 4 miliarco-segundos por ano.
Por outras palavras, isto significa que um dia em Marte fica mais curto a cada ano, numa pequena fracção de milissegundos.
Até agora, as razões da aceleração do planeta permanecem uma incógnita. Sabe-se que a lua desempenha um papel importante na velocidade de rotação da Terra e, na verdade, esta está a tornar os nossos dias ligeiramente mais longos.
Porém, as duas luas de Marte são muito mais pequenas e por isso presume-se que o seu impacto não seja significativo.
Ao invés, os cientistas sugerem que tal pode dever-se a mudanças na massa de gelo acumulado nos calotes polares, ou ainda por massas de terra que emergiram do seu descongelamento.
Os dados recolhidos, publicados na revista Nature, permitiram também calcular o balanço de Marte enquanto este gira, provocado essencialmente pelo líquido existente no seu núcleo.
Através destes dados, conseguiram estimar o raio do seu núcleo, que deverá estar entre os 1.790 e os 1.850 quilómetros.
Embora a sonda da missão InSight já não esteja a operar, os cientistas continuam a debruçar-se sobre os dados que esta recolheu durante o seu tempo de vida no misterioso Planeta Vermelho. E muitas mais conclusões poderão ainda surgir.
Os cientistas efectuaram as medições mais precisas de sempre da rotação de Marte, detectando, pela primeira vez, a forma como o planeta oscila devido ao movimento do seu núcleo de metal fundido.
As descobertas, detalhadas num artigo recente da revista Nature, baseiam-se em dados do módulo de aterragem InSight da NASA, que operou durante quatro anos antes de ficar sem energia na sua missão prolongada em Dezembro de 2022.
Um “selfie” final obtido pelo “lander” InSight da NASA a 24 de Abril de 2022, o 1211º dia marciano, ou sol, da missão. O “lander” está coberto de muito mais pó do que estava no seu primeiro “selfie”, tirado em Dezembro de 2018, pouco tempo depois da aterragem. Dado que os painéis solares empoeirados do InSight estavam já a produzir menos energia, a equipa colocou o braço robótico do “lander” na sua posição de descanso (chamada “pose de reforma”) em maio de 2022. Apesar da missão ter terminado em Dezembro desse ano, os instrumentos do InSight ainda estão a levar a novas descobertas científicas. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Para rastrear a rotação do planeta, os autores do estudo contaram com um dos instrumentos do InSight: um transponder de rádio e antenas colectivamente chamado de RISE (Rotation and Interior Structure Experiment).
Descobriram que a rotação do planeta está a acelerar cerca de 4 milésimos de segundo por ano – o que corresponde a uma diminuição da duração do dia marciano por uma fracção de milésimo de segundo por ano.
É uma aceleração subtil e os cientistas não têm a certeza absoluta da causa. Mas têm algumas ideias, incluindo a acumulação de gelo nas calotes polares ou o ressurgimento pós-glacial, em que as massas de terra sobem depois de terem sido enterradas pelo gelo.
A mudança na massa de um planeta pode fazer com que este acelere um pouco como um patinador no gelo a girar com os braços esticados e depois a puxar os braços para dentro.
“É muito interessante poder obter esta última medição – e com tanta precisão”, disse o investigador principal do InSight, Bruce Banerdt, do JPL da NASA, no sul da Califórnia.
“Há muito tempo que estou envolvido nos esforços para colocar uma estação geofísica como o InSight em Marte, e resultados como este fazem com que todas estas décadas de trabalho valham a pena.”
Este conceito artístico anotado do módulo de aterragem InSight da NASA em Marte destaca as antenas no convés do “lander”. Juntamente com um transponder de rádio, estas antenas constituem um instrumento chamado RISE (Rotation and Interior Structure Experiment). Crédito: NASA/JPL-Caltech
Como funciona o RISE
O RISE faz parte de uma longa tradição de “landers” marcianos que utilizam ondas de rádio para fins científicos, incluindo as sondas gémeas Viking na década de 1970 e a Pathfinder no final da década de 1990.
Mas nenhuma dessas missões tinha a vantagem da tecnologia de rádio avançada do InSight e das actualizações das antenas da DSN (Deep Space Network) da NASA na Terra.
Em conjunto, estas melhorias forneceram dados cerca de cinco vezes mais precisos do que os que estavam disponíveis para os módulos Viking.
No caso do InSight, os cientistas enviavam um sinal de rádio para o módulo de aterragem utilizando a DSN. O RISE reflectia então o sinal de volta.
Quando os cientistas recebiam o sinal reflectido, procuravam pequenas alterações na frequência causadas pelo efeito Doppler (o mesmo efeito que faz com que a sirene de uma ambulância mude de tom à medida que se aproxima e depois se afasta). A medição do desvio permitiu aos investigadores determinar a velocidade de rotação do planeta.
“O que procuramos são variações que correspondem a apenas algumas dezenas de centímetros ao longo de um ano marciano”, disse o autor principal do artigo e investigador principal do RISE, Sebastien Le Maistre do Observatório Real da Bélgica. “É preciso muito tempo e acumular uma grande quantidade de dados antes de podermos ver estas variações”.
O artigo examinou os dados dos primeiros 900 dias do InSight em Marte – tempo suficiente para procurar essas variações.
Os cientistas tiveram muito trabalho para eliminar as fontes de ruído: a água torna os sinais de rádio mais lentos, pelo que a humidade na atmosfera terrestre pode distorcer o sinal que chega de Marte. O mesmo acontece com o vento solar, os electrões e protões lançados do Sol para o espaço profundo.
“É uma experiência histórica”, disse Le Maistre. “Gastámos muito tempo e energia a preparar a experiência e a antecipar estas descobertas. Mas, apesar disso, ainda fomos surpreendidos ao longo do caminho – e ainda não acabou, uma vez que o RISE ainda tem muito a revelar sobre Marte.”
Medições do núcleo marciano
Os dados do RISE foram também utilizados pelos autores do estudo para medir a oscilação de Marte – a chamada nutação – devido ao movimento do seu núcleo líquido.
A medição permite aos cientistas determinar o tamanho do núcleo: com base nos dados do RISE, o núcleo tem um raio de cerca de 1835 quilómetros.
Os autores compararam então esse valor com duas medições anteriores do núcleo, obtidas a partir do sismómetro do mesmo módulo de aterragem. Especificamente, analisaram a forma como as ondas sísmicas viajavam pelo interior do planeta – se se reflectiam no núcleo ou se o atravessavam sem impedimentos.
Tendo em conta as três medições, estimam que o raio do núcleo tenha um tamanho entre 1.790 e 1.850 quilómetros. Marte como um todo tem um raio de 3390 quilómetros – cerca de metade do tamanho da Terra.
A medição da oscilação de Marte também forneceu pormenores sobre a forma do núcleo.
“Os dados do RISE indicam que a forma do núcleo não pode ser explicada apenas pela sua rotação”, disse o segundo autor do artigo, Attilio Rivoldini do Observatório Real da Bélgica. “Essa forma requer regiões de densidade ligeiramente superior ou inferior enterradas nas profundezas do manto”.
Embora os cientistas continuem a explorar os dados do InSight durante anos, este estudo marca o capítulo final do papel de Banerdt como investigador principal da missão. Após 46 anos no JPL, reformou-se no dia 1 de Agosto.
Um dia na Terra dura cerca de 24 horas. A palavra “cerca” nesta frase poderá suscitar dúvidas aos mais desatentos, mas a realidade é que a taxa de rotação da Terra está sempre a mudar.
Ok, muda pouco, apenas fracções de milissegundos, mas isso significa que o nosso dia comum de 24 horas só se aplica realmente à escala humana. Já Marte está a surpreender, a sua rotação é cada vez mais acelerada. Os cientistas da NASA estão intrigados!
Duvida que o dia na Terra tem cerca de 24 horas?
Há várias coisas que podem alterar a rotação da Terra. A força gravitacional da Lua e as marés estão a abrandar gradualmente a Terra ao longo de milhões de anos.
O derretimento do gelo nas regiões polares, o deslocamento tectónico da crosta terrestre durante os terramotos e até a drenagem da água do aquífero.
A Terra é um mundo geológica e biologicamente activo, pelo que é natural que a taxa de rotação da Terra também seja dinâmica. Mas um estudo recente mostra que a rotação de Marte também está a mudar, o que é um pouco surpreendente.
Os astrónomos podem medir alterações na rotação da Terra na ordem dos nano-segundos e podem mesmo medir mudanças tectónicas na ordem dos milímetros.
Para o efeito, utilizam a interferometria de linha de base muito longa, em que vários radiotelescópios observam um quasar distante. Uma vez que os quasares estão a milhares de milhões de anos-luz de distância, são efectivamente pontos fixos no céu.
Certo, mas se não temos radiotelescópios em Marte, como podemos medir pequenas alterações na sua rotação?
A equipa fez isso com recurso a dados do módulo de aterragem InSight da NASA. Durante a sua missão de quatro anos, o InSight realizou uma experiência conhecida como Rotation and Interior Structure Experiment, ou RISE.
Basicamente, os radiotelescópios na Terra enviavam um sinal para o RISE, que devolvia o sinal. O sinal do RISE sofria um desvio Doppler devido aos movimentos orbitais relativos da Terra e de Marte e às suas rotações.
Uma vez que conhecemos muito bem a rotação da Terra e as órbitas da Terra e de Marte, a longa recolha de dados permitiu à equipa medir a rotação de Marte e a forma como esta se alterava ao longo do tempo.
Como resultado, os investigadores descobriram que a rotação marciana está a aumentar 4 milésimos de segundo por ano ao quadrado. Isto significa que o dia marciano está a encurtar uma fracção de um milissegundo por ano.
Mas Marte não tem uma lua grande e não é geologicamente activo. Então porque é que está a acelerar?
Uma forte possibilidade é que o interior de Marte esteja a mexer-se. Os dados do RISE não mediram apenas a taxa de rotação de Marte, mediram também um efeito conhecido como nutação.
Trata-se de uma oscilação do eixo de um planeta ao longo do tempo e depende em parte da distribuição da massa do planeta. A partir dos dados do RISE, a equipa estima que o núcleo de Marte tem um raio de cerca de 1.800 quilómetros, o que é cerca de metade do raio de 3.390 quilómetros do próprio Marte.
Os dados também sugerem que o núcleo não tem uma densidade uniforme, mas sim camadas de densidade variável.
As camadas de fluido no interior do núcleo podem rodar a um ritmo diferente do da camada exterior sólida, e uma transferência de momento rotacional entre elas pode estar a provocar a aceleração de Marte.
Serão necessárias mais observações para compreender totalmente este processo. Mas sabemos agora que, quando os humanos se instalarem em Marte, terão de ajustar os seus relógios de tempos a tempos, tal como nós fazemos na Terra.
O planeta vermelho, cujo clima actual é extremamente árido, teve há milhares de milhões de anos abundantes rios e lagos, já evaporados.
Marte já teve, em algum momento da sua história, um clima com estações cíclicas, propício ao desenvolvimento da vida, segundo deduzem especialistas a partir de indícios encontrados na superfície do planeta vermelho pelo robot explorador Curiosity.
O planeta, cujo clima actual é extremamente árido, teve há milhares de milhões de anos abundantes rios e lagos, já evaporados.
Diferente relativamente à da Terra, a superfície de Marte não se renova pelos movimentos tectónicos de placas, e os depósitos desses solos antigos conservaram-se perfeitamente.
O robot Curiosity da NASA estava a explorar um desses locais desde 2012: a enorme cratera Gale e a sua montanha de 6 mil metros de altura, feita de camadas de sedimentos.
“Compreendemos rapidamente que estávamos a trabalhar em depósitos de lagos e rios, mas não sabíamos a que tipo de clima vinculá-los”, contou à AFP William Rapin, investigador do CNRS e principal autor de um estudo publicado na revista Nature.
Marte pode ter sido um planeta gelado onde uma erupção vulcânica aqueceu repentinamente a atmosfera e provocou a formação de água líquida, acrescenta este investigador da Universidade de Toulouse III, de França.
Rapin realizou a investigação em conjunto com o laboratório de geologia de Lyon e de investigadores norte-americanos e canadianos.
À medida que subia lentamente a montanha, o Curiosity encontrou depósitos de sal de formas hexagonais, num solo que datava de 3,8 a 3,6 mil milhões de anos.
A análise das rochas mostrou que se tratava de rachaduras de lama seca. “Quando um lago seca, a lama racha, e quando é re-hidratada, o rachamento ‘cura-se'”, explica William Rapin.
Se esse processo se repetir com regularidade, as rachaduras organizam-se de tal maneira que formam hexágonos, de forma similar aos padrões observados nas antigas bacias terrestres que secam sazonalmente.
O modelado de lama terrestre submetido a ciclos secos e húmidos demonstraram ainda mais “matematicamente” essa formação hexagonal específica.
Trata-se da “primeira prova tangível de que Marte tinha um clima cíclico”, segundo o investigador. Assim como na Terra, as estações seca e húmida sucediam-se em intervalos regulares, há mais de três mil milhões de anos, e durante um período suficientemente longo, vários milhões de anos, para que a vida aparecesse.
Um clima desse tipo é uma das condições para que a matéria orgânica passe de inerte a viva.
“O Curiosity já havia detectado a presença de moléculas orgânicas simples que podem ser formadas por processos geológicos e biológicos”, detalha o centro de investigações científicas francês CNRS em nota à imprensa.
Os aminoácidos, por exemplo, que, às vezes, se combinam para formar moléculas mais complexas e constitutivas dos organismos vivos, como o RNA e o DNA.
Tal processo, no entanto, necessita de ciclos para se formar, como demonstraram experiências independentes no laboratório.
“Num mundo muito seco, essas moléculas nunca têm a oportunidade de se formar; num mundo muito húmido também não”, acrescenta o investigador.
Portanto, o planeta vermelho possuía o equilíbrio necessário para o desenvolvimento das formas de vida. De que tipo? Os cientistas pensam em micro-organismos primitivos unicelulares como os do reino archaea e bactérias, que são os nossos antepassados mais antigos.
Mas como esses micro-organismos apareceram na Terra continua a constituir um mistério, já que a tectónica de placas apagou o rastro dos restos mais antigos.
“O que desconhecemos na Terra é a odisseia das origens da vida a nível molecular”, comenta William Rapin.
Marte, no entanto, manteve um registo, o que poderia permitir compreender em pequena escala o que aconteceu na Terra nos seus primeiros anos de existência. Embora, neste momento, não se saiba se algum tipo de vida chegou realmente a florescer no planeta vermelho, ou se morreu a tentar.
Antecipa-se que Phobos irá colidir com Marte ou desintegrar-se num sistema de anéis daqui a 50 milhões de anos — mas podemos respirar de alívio, porque o mesmo não deve acontecer entre a Terra e a Lua.
toptechwriter / Flickr Marte e Phobos, uma das suas duas luas
Phobos tem um destino sinistro à sua espera. A lua marciana irá chocar com o planeta vermelho ou então desintegrar-se num sistema de anéis daqui a cerca de 50 milhões de anos.
De acordo com a NASA, Phobos aproxima-se cerca de 1,8 metros da superfície marciana a cada 100 anos, estando presa numa lenta mas inevitável espiral de morte.
Enquanto Phobos sucumbe à atracção gravitacional do seu planeta, uma situação inversa está a acontecer no nosso próprio sistema entre a Terra e a Lua.
A Lua está a afastar-se gradualmente da Terra a uma taxa de cerca de 3,78 centímetros por ano. Este afastamento contínuo significa que os eclipses solares totais acabarão por desaparecer, explica o IFLScience.
Richard Vondrak, um cientista lunar no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, alertou em 2017 que a Terra testemunhará o seu último eclipse solar total daqui a aproximadamente 600 milhões de anos.
Actualmente, o Sol e a Lua parecem ter o mesmo tamanho na nossa perspectiva, resultando em eclipses em que a Lua tapa completamente o Sol. Isto deve-se a uma feliz coincidência — apesar de ser 400 vezes maior em diâmetro, o Sol também está cerca de 400 vezes mais longe da Terra do que a Lua.
Há cerca de quatro milhões de anos, antes de a Lua começar a “fugir” de nós, teria um tamanho cerca de três vezes maior do que o que aparenta ter agora no nosso céu.
No entanto, a separação prevista da Lua pode ser um ponto discutível, dado que se projecta que o Sol irá engolir a Terra muito antes de a Lua se afastar totalmente.
O nosso planeta será totalmente destruído, mas pelo menos terá a companhia do seu fiel satélite na sua hora mais negra.