408: Há tanto lixo espacial na órbita da Terra que um dia deixamos de poder sair do planeta

 

TERRA // LIXO ESPACIAL

Apesar da frase parecer um pouco exagerada, a verdade é que o lixo na órbita da Terra não para de crescer.

Estes detritos são uma ameaça actualmente, não só aos satélites operacionais como mesmo ao próprio planeta. Segundo um estudo recente, existem actualmente mais de 131 000 000 objectos inúteis de lixo espacial.

Lixo espacial está descontrolado?

A quantidade de detritos espaciais não para de aumentar desde o lançamento do primeiro satélite em 1957. A Agência Espacial Europeia (ESA) estima que existem actualmente mais de 131.000.000 objectos a gravitar o planeta, lixo, muito lixo.

Estes objectos podem ter de 1 milímetro a 10 centímetros, e gravitam a Terra à velocidade média de 36.000 quilómetros por hora.

A sua proveniência é de diferentes fontes, como as últimas fases de foguetões, satélites que já não estão operacionais e até ferramentas perdidas no espaço pelos astronautas.

“Qualquer peça com mais de 1 centímetro é potencialmente letal em caso de colisão”, afirma o professor da Universidade de Málaga (UMA) José Luis Torres, que, juntamente com a professora Anelí Bongers, coordenou um projecto sobre Economia Espacial que estabelece, de um ponto de vista quantitativo, um modelo teórico que determina a taxa de lançamentos de satélites óptima para maximizar os benefícios em função da quantidade de lixo espacial.

O número mais correto possível destes detritos é essencial para podermos controlar não só as saídas e entradas na órbita terrestre como a segurança dos satélites que estão activos. Além, claro, das várias estações espaciais actualmente no espaço.

Assim, utilizando dados da NASA e da ESA, o modelo desenvolvido para este cálculo baseia-se em simulações computacionais que analisam os efeitos dos testes anti-satélite sobre a quantidade de lixo espacial e a probabilidade de colisão com satélites operacionais – existem actualmente cerca de 6.000 satélites em órbita.

Desta forma, o modelo proposto por estes investigadores da UMA, publicado na revista científica Defence and Peace Economics, determina dinamicamente a quantidade de lixo espacial com base no comportamento óptimo das empresas que operam no espaço ao estabelecerem a taxa de lançamentos e o número de satélites.

Segundo estes peritos, o número de lançamentos e de satélites é afectado negativamente pela quantidade de lixo espacial.

Os cálculos também mostram que os testes anti-satélite geram mais de 102.000 novos pedaços destes resíduos com mais de 1 centímetro e que os seus efeitos negativos demoram 1.000 anos a desaparecer devido à elevada altitude a que os testes são efectuados.

Asseguram os especialistas da Universidade de Málaga.

Falha do mercado

Os investigadores da UMA estudaram o espaço do ponto de vista económico, uma vez que, como dizem, é um bem comum mundial que, tal como o alto mar, “acabará por ser sobre-explorado”.

Além disso, como não existe uma regulamentação expressa, excepto um Tratado Internacional não vinculativo das Nações Unidas, é um exemplo de “falha de mercado”, porque devido à ausência de direitos de propriedade, há uma tendência para a má utilização deste recurso e, portanto, gerar “externalidades negativas”.

Da mesma forma, alertam que, como estamos cada vez mais dependentes das empresas que operam no espaço, especialmente das empresas de tecnologia, o volume de detritos espaciais continuará a aumentar e a probabilidade de colisão também.

Estamos perante um enorme mercado não regulamentado, cujos problemas ainda agora começaram.

Referem os investigadores da UMA.

Guerra das Estrelas: uma guerra no espaço

Por último, o estudo quantifica os efeitos de uma hipotética guerra no espaço que simula a destruição de 250 satélites. Utilizando este modelo proposto pela UMA, estima-se que o lixo espacial aumentaria em 25.500.000 fragmentos com mais de 1 centímetro, aumentando assim a probabilidade de colisão e o número de satélites destruídos.

O objectivo é alertar para os efeitos do lixo espacial na economia global e para os potenciais problemas físicos que pode causar na Terra, bem como para a utilização humana do espaço, que, como alertam com base nesta simulação, desaparecerá tanto para as actividades comerciais como para as científicas se o ritmo actual de geração de lixo espacial continuar.

Se não conseguirmos tratar este lixo, serão tantos os detritos que ficaremos presos no planeta.

Pplware
Autor: Vítor M
01 Jul 2023



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published in: 3 meses ago

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247: GPS português no espaço. Empresa de Coimbra usa IA para proteger satélites do lixo espacial

 

🇵🇹 PORTUGAL // LIXO ESPACIAL // LIMPEZA // IA

A empresa portuguesa Neuraspace nasceu em plena pandemia, em 2020, e está a dar cartas no espaço, na “corrida” para organizar o trânsito de satélites. Com tecnologia de Inteligência Artificial (IA), é uma espécie de GPS para evitar acidentes com o “lixo espacial”.

johan63 / Canva

milhões de objectos à deriva no espaço que são um problema para os satélites, pois, por mais pequenos que sejam, podem causar danos irreparáveis, com os consequentes custos que isso implica. Vários desses satélites são essenciais para os serviços de Internet e telecomunicações, entre outros.

Deste modo, a Neuraspace usa tecnologias de Inteligência Artificial (IA) para organizar o trânsito de satélites, com o objectivo de evitar o choque com o “lixo espacial”.

“Estamos a falar de pedaços abandonados de foguetões ou satélites, que estão no espaço e tem uma particularidade muito específica: não estão parados” e podem viajar “a 25 mil quilómetros por hora”, como explica à Rádio Renascença (RR) o director de desenvolvimento de negócios da Neuraspace, Carlos Cerqueira.

Assim, podem ocorrer “grandes acidentes provocados por pequenas peças”, pois “não é preciso ser uma peça enorme para destruir um satélite”, como analisa Carlos Cerqueira. “Uma peça de um centímetro pode destruir qualquer satélite” e “há mais de um milhão de peças dessas à solta no espaço”, nota.

É no meio deste “drama” que a Neuraspace actua, alertando os operadores de satélites para onde estão estas peças. Funciona, deste modo, como uma espécie de GPS espacial.

Um mapa do espaço

“O operador de satélite, em princípio, sabe onde está o seu satélite. O que nós temos que fazer é avisar onde estão os restantes objectos, sejam eles pedaços de lixo ou satélites activos”, refere Carlos Cerqueira à RR, notando que é preciso “avisá-los da sua localização e prever o que é que vai acontecer”, dando essa informação “da forma mais precisa possível”.

“É aí que entra a nossa vantagem competitiva com recurso à IA e ao “machine learning””, continua o responsável da Neuraspace.

O processo funciona com um “mapa do espaço”, ou um “catálogo com a posição conhecida dos objectos”, explica ainda.

Já há várias empresas a actuarem neste sector, mas Carlos Cerqueira acredita que a Neuraspace é “uma das mais inovadora de todas, se não a mais inovadora“, devido ao “uso único” que faz da IA.

Abrir escritório em Pampilhosa da Serra

A empresa tem financiamento privado, mas também tem recebido apoios públicos através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Em Abril de 2022, o PRR aprovou um financiamento de cerca de 25 milhões de euros para “um projecto em consórcio com universidades portuguesas: o Técnico, a Universidade de Coimbra, Universidade Nova”, entre outras entidades, que vai permitir à Neuraspace “adquirir infra-estruturas para ter acesso a melhor informação, a melhores dados”, e também ter acesso a conhecimento académico “mais actualizado”, revela Carlos Cerqueira.

Os planos da empresa passam, agora, por abrir um espaço na Pampilhosa da Serra, já depois de uma parceria com a Câmara Municipal local deste município do distrito de Coimbra. Além de Coimbra, a Neuraspace também tem escritório em Lisboa.

ZAP //
11 Maio, 2023


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published in: 4 meses ago

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