561: Gotas da água do mar podem conter vestígios de um mundo antigo

 

CIÊNCIA // OCEANOS // GEOLOGIA

O sal é um recurso natural que esconde pequenas gotas de água do mar. E estas gotas minúsculas parecem preservar a história geológica do mundo. 

atlascompany / Freepik

Um novo estudo examinou a formação de sal marinho, também conhecido como halita, em bacias sedimentares dos Estados Unidos, Europa, Ásia e África nos últimos 150 milhões de anos.

No interior das amostras de sal encontraram pequenos bolsões de água do mar antiga que podem revelar a história geológica do mundo.

“O oceano é como uma sopa gigante de diferentes elementos. O sódio e o cloro são os mais comuns”, afirma Tim K. Lowenstein, professor na Universidade de Binghamton e pós-doutorado pela Universidade de Princeton, citado pelo Tech Explorist.

“No entanto, existem dezenas de outros elementos dissolvidos na água do mar em quantidades vestigiais, como o lítio”, acrescenta Lowenstein, co-autor do estudo publicado recentemente na Science Advances.

Nas últimas décadas, os cientistas têm tentado descobrir as causas por detrás da modificação da composição da água salgada.

Nesta investigação, os cientistas conseguiram reconstruir as alterações químicas que aconteceram na água do mar durante os últimos 150 milhões de anos, através de equipamento altamente especializado.

E perceberam que a quantidade de lítio presente na água salgada tem vindo a diminuir consideravelmente.

Segundo os investigadores, a diminuição da formação da crosta oceânica e a actividade hidrotermal do fundo do mar, controlada pelo movimento de placas tectónicas, são as principais causas para a diminuição da concentração de lítio na água salgada.

Nos últimos 150 milhões de anos, a movimentação de placas tectónicas diminuiu e, como tal, menos lítio foi projectado para o oceano e menos CO2 foi libertado para a atmosfera — o que causou a diminuição da temperatura na Terra.

Há 150 milhões de anos havia mais lítio na água, mais dióxido de carbono na atmosfera e o mundo era mais quente.

Para chegarem a estas conclusões, os cientistas perfuraram cristais de sal com um laser, para conseguir aceder às pequenas gotas de água do mar que residiam no seu interior. De seguida, utilizaram um espectrofotómetro de massa para analisar a presença de oligoelementos.

Os resultados revelam que o lítio sofreu um declínio de sete vezes nos últimos 150 milhões de anos, acompanhado de um aumento, nas mesmas proporções, de cálcio e magnésio.

“Existe uma estreita ligação entre a química dos oceanos e a química atmosférica. Qualquer mudança que aconteça no oceano, reflecte o que está a acontecer na atmosfera”, explica Mebrahtu F. Weldeghebriel, primeiro autor do estudo.

Esta investigação revela importantes avanços na compreensão da química dos oceanos antigos da Terra e explica de que forma é que o movimento de placas tectónicas alterou a composição da hidrosfera e da atmosfera do nosso planeta.

Os efeitos destas mudanças podem também ser vistos na biologia, através de conchas de carbonato de cálcio de alguns animais marinhos.

“Os oceanos e a atmosfera estão conectados um com outro. A forma como um muda está relacionada com a forma como o outra também muda. Tudo está conectado”, termina, assim o investigador.

 Patrícia Carvalho, ZAP //
18 Agosto, 2023


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547: As grutas das Selvagens podem ter vista para Marte

 

CIÊNCIA // 🇵🇹 ILHAS SELVAGENS // 🌌MARTE

Projecto Microceno, liderado pela investigadora Ana Zélia Miller, estudou pela primeira vez a biosfera subterrânea das Ilhas Selvagens. Com características geológicas semelhantes às de Marte, as ilhas e as suas grutas “podem ser consideradas como potenciais análogos de Marte”.

Robbie Shone / ESA
A microbióloga Ana Zelia Miller, investigadora da U.Évora, e o astronauta Matthias Mauer, da ESA

Chegar às Ilhas Selvagens não é fácil; visitá-las, menos ainda. Para lá ir é preciso uma autorização prévia, seja por lazer ou por razões científicas.

Talvez por isso se encontrem “muito bem preservadas da influência humana”, tanto pelo seu isolamento como pela sua localização, como diz Ana Zélia Miller. E talvez por isso, também, as suas grutas contem a história da vida na Terra, dando dicas sobre Marte.

A microbióloga e investigadora da Universidade de Évora liderou, em Julho de 2021, o projecto Microceno, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que teve como objectivo estudar, pela primeira vez, a microbiologia e mineralogia das grutas vulcânicas terrestres e marinhas daquelas ilhas.

Meio século antes, em 1971, as Selvagens passaram a estar sob a administração territorial da Região Autónoma da Madeira. No mesmo ano, tornaram-se na primeira Reserva a nível nacional, estando o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM, responsável pela sua gestão e protecção.

Desbravando as grutas das Selvagens, que tão inalcançáveis parecem ser, reúnem-se informações que poderão ser úteis para abrir caminho para outras paragens para lá da órbita terrestre. É que as ilhas “podem ser consideradas como potenciais análogos de Marte”.

Não é que o planeta vermelho caiba inteiro nas rochosas ilhas do arquipélago da Madeira, “mas a exploração de grutas formadas em cenários vulcânicos na Terra” pode dar pistas sobre “grutas planetárias desenvolvidas em terrenos semelhantes”, como o de Marte ou até da Lua.

A “descoberta de tubos de lava” nos dois locais suscitou o interesse da comunidade científica nas grutas vulcânicas do nosso planeta.

Estes ambientes subterrâneos “podem albergar microrganismos” com características únicas, “com um papel importante nos ciclos biogeoquímicos e em processos de biomineralização” — que, por sua vez, “podem ter aplicações importantes para a astrobiologia e a explicação da origem e evolução da vida na Terra”, explica Ana Zélia Miller.

Além do factor grutas vulcânicas, há outros motivos para se olhar para as Ilhas Selvagens como local de experiências análogas.

A “geologia e localização numa zona de movimento lento de placas tectónicas” assemelham-se “aos processos geológicos que ocorrem no planeta vermelho, onde não há deriva continental”.

Contribuem para esta comparação “o tipo de vulcanismo, as taxas de efusão e a geoquímica” das ilhas, características que se encontram ainda na Madeira e nas Canárias, acrescenta Miller.

Descobertas subterrâneas

Para melhor estudar os microrganismos que crescem nestas grutas, foi constituída uma equipa internacional e multidisciplinar.

“O projecto Microceno perpassa diversas áreas do conhecimento, nomeadamente a geomicrobiologia, a biogeoquímica, a astrobiologia, a exploração planetária, alterações climáticas e biotecnologia”, lista a investigadora.

Não é de estranhar que 17 investigadores e especialistas de sete países (Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, Rússia, Holanda e Canadá) se tenham empenhado nesta expedição pelas Selvagens, que constituem um “laboratório natural excepcional”. A aventura despertou, inclusive, a atenção da National Geographic.

Coube-lhes estudar “pela primeira vez a biosfera subterrânea destas ilhas, ainda desconhecida para a ciência e para a sociedade”.

A investigadora destaca a participação dos geólogos italianos Francesco Sauro e Matteo Massironi, “implicados no estudo da génese destas cavidades”, de Samuel Payler, astrobiólogo da Agência Espacial Europeia (ESA), e Sergei Kud-Sverchkov, cosmonauta da Agência Espacial Russa (Roscomos).

A equipa acampou na ilha e lá ergueu um laboratório. Os resultados preliminares “foram bastante promissores”: “Foi descoberta uma nova gruta, localizada a Norte da Ilha Selvagem Grande, à qual se deu o nome de Sopro do Dragão”, conta a líder do projecto Microceno.

Além disso, “observações ao microscópio electrónico de varrimento” e “análises de ADN in situ” permitiram identificar, em menos de 24 horas, “uma grande variedade de microrganismos capazes de interagir com os minerais”.

Um desses exemplos são as “bactérias quimiolitoautotróficas”, que poderão vir a “ser utilizadas como modelos para a procura de vida microbiana passada que poderá ter existido nas grutas vulcânicas de Marte”.

Replicando uma futura missão ao planeta vermelho, a equipa muniu-se de “tecnologia de ponta portátil que poderia ser utilizada em futuras missões tripuladas a Marte para a exploração de grutas vulcânicas e a detecção de vida microbiana”.

O acesso às Selvagens não é fácil, mas para lá seguiram drones, um scanner laser portátil “para o mapeamento tridimensional” das grutas, técnicas de extracção e análise de ADN in situ, incluindo um sequenciador portátil, um equipamento de fluorescência de raios-x para a caracterização elementar das rochas e minerais”.

Houve ainda espaço para um microscópio electrónico de varrimento portátil, tendo sido esta “a primeira vez que se instalou um equipamento deste tipo num local remoto”.

Dando pistas para Marte, estas grutas não se encerram em si mesmas. Aquele que é “um dos últimos ecossistemas vulcânicos intactos do Atlântico Norte” pode permitir que se saiba mais sobre a adaptação e evolução da vida microbiana, tão importante para “quase todos os processos biológicos” do nosso planeta.

Além disso, e uma vez que não se pode separar a origem da vida dos ambientes vulcânicos, estudar estas regiões “pode ter significado para a astrobiologia e para futuras explorações planetárias”.

A Agência Espacial Portuguesa vai publicar um catálogo de Locais e Infra-estruturas Espaciais Análogos em Portugal.

O interesse em torno de sítios espaciais análogos no país é um tema que tem reunido bastante interesse e, por isso, iniciou-se um exercício aprofundado para harmonizar e categorizar de forma consistente locais e instalações potenciais e existentes em todo o país.

ZAP // Portugal Space
15 Agosto, 2023


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357: O mistério da caverna dos 100 mil soldados é um fenómeno geológico único no mundo

 

CIÊNCIA // GEOLOGIA // 🇫🇷 CAVERNA DOS 100 MIL SOLDADOS

O chão da caverna Trabuc parece ter pequenos soldados de pé e os geólogos continuam sem entender a causa deste fenómeno.

David Pagis / Wikimedia

A caverna Trabuc, no sul de França, guarda um dos maiores segredos geológicos de todo o mundo. Situada em Mialet, esta caverna integra a maior rede de passagens subterrâneas da região de Cevenas.

Foi investigada pela primeira vez em 1823 e desde então que já foram explorados quase 10 quilómetros da rede de cavernas. Mesmo assim, os espeleólogos – cientistas que estudam cavernas – acreditem a rede pode ser duas ou três vezes maior do que o que conhecemos até agora.

Quando a exploração mais aprofundada começou em 1945, os espeleólogos descobriram aquilo que pareciam ser pequenos soldados de pé, um tipo de espeleotema que os geólogos continuam sem entender.

Estes “soldados” medem apenas alguns centímetros e estão espalhados pelo chão da caverna. Nenhum fenómeno semelhante foi detectado noutra parte do mundo.

Estas massas minerais misteriosas formam-se debaixo de água e são compostas de 95% de calcite e 5% de argila. Cada uma parece formar discos sobrepostos, talvez devido à variação dos níveis de água.

Para além disto, pouco se sabe sobre a sua formação. Outras formações de cavernas mais conhecidas, as estalagmites e as estalactites, formam-se aos pares, no solo e no tecto, respectivamente.

À medida que a água passa sobre o calcário e escorre, estes depósitos em forma de pingentes de gelo ganharam corpo.

Os 100.000 soldados, no entanto, formam-se sem um parceiro pendurado no tecto , o que descarta esta hipótese sobre a sua formação.

Várias hipóteses já foram postuladas ao longo dos anos, desde de bactérias a forças electrostáticas, mas nenhuma foi capaz de explicar totalmente este estranho fenómeno.

ZAP //
14 Junho, 2023

 


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356: Durante mil milhões de anos os dias na Terra tiveram só 19 horas. Foi um período aborrecido

 

CIÊNCIA // TERRA // GEOFÍSICA // GEOLOGIA

É complicado conseguir fazer tudo o que queremos num dia que só tem 24 horas. Mas se vivêssemos há alguns milhares de milhões de anos, seria muito pior: o dia na Terra tinha menos 5 horas.

Envato Elements

Num novo estudo, cientistas desafiaram a noção convencional de que a duração do dia na Terra tem vindo a diminuir consistentemente ao longo da história devido à influência gravitacional da lua.

De acordo com o novo estudo,  a duração do dia na Terra pode ter permanecido constante em cerca de 19 horas durante mil milhões de anos, período frequentemente referido como “the boring billion” — em que basicamente nada aconteceu no nosso planeta.

O estudo, conduzido por Ross Mitchell, geofísico do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências, e Uwe Kirscher, investigador da Universidade Curtin, na Austrália, foi publicado esta segunda-feira na Nature Geoscience.

Tradicionalmente, recorda o Phys.org, os geólogos estimam a duração dos dias no passado longínquo da Terra contando as camadas sedimentares criadas pelas flutuações das marés em planícies de lama.

No entanto, devido à escassez e à natureza contestada desses registos, os autores do estudo recorreram a um método diferente, conhecido como cicloestratigrafia, que identifica os ciclos “Milankovitch” — as mudanças climáticas impulsionadas pelas oscilações orbitais e de rotação da Terra.

Mitchell e Kirscher aproveitaram registos recentes de ciclos Milankovitch, e reavaliaram as teorias correntes sobre a paleorotação da Terra.

Uma dessas teorias sugere que a duração do dia na Terra pode ter permanecido constante devido a um equilíbrio entre as marés atmosféricas solares e as marés oceânicas lunares.

Estas forças ter-se-iam se oposto, com a atracção lunar a desacelerar a rotação da Terra e a maré solar a acelerá-la.

Os dados obtidos pelos investigadores no decorrer do estudo apoiam esta teoria, que aponta para um período de mil milhões de anos durante o qual a duração do dia parece ter parado de aumentar e se manteve constante em cerca de 19 horas.

Curiosamente, este período de “rotação estagnada” ocorre entre as duas maiores subidas dos níveis de oxigénio na Terra, sugerindo uma potencial ligação entre a rotação da Terra e o desenvolvimento da atmosfera.

Timothy Lyons, investigador da Universidade da Califórnia, que não esteve envolvido no estudo, comentou as implicações desta descoberta. “É fascinante pensar que a evolução da rotação da Terra pode ter afectado a evolução da composição da atmosfera”.

O novo estudo acrescenta peso à ideia de que o aparecimento de vida complexa na Terra, que requeria mais tempo para as bactérias foto-sintéticas produzirem mais oxigénio, teve que esperar por… dias mais longos.

ZAP //
14 Junho, 2023

 


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345: Pela primeira vez, cientistas perfuram a Terra até ao seu manto rochoso

 

CIÊNCIA // GEOLOGIA // 🌎 TERRA

Numa proeza histórica no campo da Geologia, cientistas abriram uma janela para o manto da Terra — e extraíram um quilómetro de rocha do seu interior.

Mitch Battros / Earth Changes Media

Cientistas alcançaram um feito recorde ao perfurar quase uma milha abaixo do fundo oceânico para chegar ao manto da Terra.

A operação foi conduzida pela equipa do JOIDES Resolution, um navio de perfuração oceânica, no Atlântico Norte, numa “janela tectónica” onde as rochas do manto foram empurradas para perto da superfície.

A expedição obteve mais de um quilómetro de amostras de rochas, recolhidas a uma profundidade de 1200 metros abaixo do fundo do mar, marcando um significativo avanço científico.

Andrew McCaig, director científico da expedição, expressou ao The Washington Post o entusiasmo da equipa com a perfuração bem-sucedida. “Conseguimos um objectivo a comunidade científica persegue há muitas décadas“.

Espera-se que as amostras ofereçam informações valiosas sobre a estrutura e composição do manto da Terra. Em terra, os cientistas estão ansiosos para analisar as amostras extraídas.

Investigadores a bordo do JOIDES Resolution serram a meio as amostras recolhidas

Relatórios iniciais sugerem o núcleo rochoso da Terra é dominado por peridotito, rocha ígnea mantélica de elevada densidade e de coloração escura, comum no manto superior.

No entanto, as amostras foram alteradas devido à exposição à água do mar, levantando questões sobre a interpretação dos resultados.

Uma questão-chave gira em torno da natureza da fronteira entre a crosta terrestre e o manto: se é uma fronteira nítida ou uma transição gradual.

Andrew Fisher, hidrogeólogo da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz que está a monitorizar remotamente a expedição, sugere que os resultados indicam que há uma “mistura” de rocha da crosta inferior e do manto superior.

A equipa espera que futuras perfurações produzam amostras de rochas “mais frescas”, menos alteradas e mais representativas da verdadeira composição do manto.

O projecto de perfuração representa um avanço significativo na ciência da Terra, aproximando os investigadores de um maior entendimento da Terra como um todo.

Quanto mais fundo chegarmos, mais perto estaremos de saber como essas rochas são, e mais perto se saber qual o aspecto real do manto”, concluiu Warren.

ZAP //
11 Junho, 2023

 


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344: O super-vulcão mais perigoso da Europa pode estar a preparar uma erupção

 

🇮🇹 ITÁLIA // GEOLOGIA // 🌋 VULCÕES

Campi Flegrei, o há longo tempo adormecido ‘super-vulcão’ localizado perto de Nápoles, em Itália, está a mostrar sinais de que poderá estar a aproximar-se de uma erupção.

Web Gallery of Art / Wikimedia
Os Campos Flégreos, na região de Nápoles, pintura de Michael Wutky, 1780

Um estudo recente sugere que a crosta do super-vulcão Campi Flegrei, ou Campos Flégreos, está a tornar-se mais frágil e propensa a rupturas, o que poderia aumentar a possibilidade de uma erupção.

Esta é a primeira vez que tais condições são notadas desde a última erupção do vulcão, em 1538. O Campi Flegrei está activo há 60 mil anos, tendo a caldeira sido formada durante duas grandes erupções explosivas.

“O nosso estudo confirma que o Campi Flegri está a aproximar-se da ruptura”, diz Christopher Kilburn, investigador da University College London e autor principal do estudo, publicado esta sexta-feira na Communications / Earth & Environment.

Com uma caldeira com a pouco habitual forma de uma suave depressão que se estende por 15 km, na qual vive meio milhão de pessoas, o vulcão Campi Flegrei é considerado um dos mais perigosos da Europa, realça o EurekAlert.

A sua maior erupção, há 39.000 anos, formou a actual caldeira. Se uma tal erupção voltasse a acontecer, poderia ter consequências globais devastadoras, incluindo tsunamis massivos, disseminação de enxofre e cinza tóxica, e um possível inverno global prolongado que resultaria em falhas de colheitas e extinções em massa.

Apesar destas conclusões, os cientistas, incluindo o autor principal do estudo, Christopher Kilburn, alertam que não é certo que aconteça uma erupção.

Embora o enfraquecimento da crosta aumente a possibilidade de ruptura, a localização precisa do magma em ascensão também desempenha um papel crucial na determinação de se ocorrerá uma erupção.

Campi Flegrei, que significa “campos ardentes” ou “campos de fogo”, consiste numa vasta rede de 24 crateras e edifícios.

Apesar de muitas vezes ser rotulado como um super-vulcão, ainda não foi definitivamente categorizado como tal.

Um super-vulcão é capaz de causar erupções da maior magnitude no Índice de Explosividade de Vulcões, emitindo mais de 1.000 km3 de material.

O vulcão tem mostrado sinais de actividade desde meados do século XX, com aumentos de actividade nas décadas de 1950, 1970 e 1980.

Nos últimos anos, o terreno sob a cidade de Pozzuoli, situada no topo do vulcão, tem subido cerca de 10 centímetros anualmente. A área também tem vivenciado um aumento em sismos menores.

Os cientistas ligaram esta actividade subterrânea ao gás vulcânico que se infiltra na crosta abaixo de Campi Flegrei, fazendo com que a crosta se estique e escorregue. Se gás suficiente entrar na crosta, o calor e a pressão resultantes podem empurrar as rochas para além dos seus limites, potencialmente levando a rupturas e erupções.

No entanto, a probabilidade de uma erupção permanece incerta.

ZAP //
10 Junho, 2023

 


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239: O que há no interior da Lua? Ferro (e mais ferro)

 

CIÊNCIA // 🌕 LUA // GEOLOGIA

Cientistas confirmam o que já suspeitavam: o núcleo da Lua é muito idêntico ao da Terra. A descoberta pode levar a uma compreensão mais precisa da história do Satélite Natural.

CNSA / CLEP

Num momento em que se sabe que, mais de 50 anos depois, o homem vai voltar à Lua, os cientistas confirmaram que o Satélite Natural do nosso planeta tem um núcleo de ferro sólido, semelhante ao da Terra.

A descoberta foi feita graças aos modelos sismológicos das missões Apollo, que forneceram os primeiros registos da estrutura interna da Lua.

Uma equipa de pesquisadores da Universidade Côte d’Azur, em França, e do Instituto de Mecânica Celestial e Cálculos de Efemérides (IMCCE) detalhou as descobertas feitas, num estudo publicado, na Nature, na semana passada.

Além dos dados geológicos do programa Apollo, na pesquisa, foram utilizadas duas sondas da missão GRAIL, da NASA, com o intuito de monitorizar o campo gravitacional da Lua, durante mais de um ano.

Foi descoberto que o núcleo interno tem cerca 500 km de diâmetro – apenas 15% da largura da Lua -, o que, segundo os pesquisadores, pode ajudar a explicar a dificuldade que, até aqui, tinha sido detectá-lo.

O estudo revelou também que o material mais denso da Lua vai em direcção ao centro. Em sentido inverso, o material mais fluído sobe em direcção à superfície – outro ponto em que se assemelha ao interior da Terra.

Além disso, através de amostras de rochas lunares, conseguiu saber-se que a Lua já teve um poderoso campo magnético.

“Os resultados questionam a evolução do campo magnético da Lua, graças à demonstração da existência do núcleo interno, e apoiam uma reviravolta global do manto.

Há informações substanciais sobre a linha do tempo do bombardeamento lunar, nos primeiros mil milhões de anos do Sistema Solar”, escreve a equipa liderada pelo astrónomo Arthur Briaud.

Conhecer de forma profunda o funcionamento interno da Lua é fundamental, para ajudar a comunidade científica a perceber fenómenos geológicos.

Em 2011, uma pesquisa da NASA já tinha sugerido que o núcleo externo da lua era composto por ferro líquido, e que poderia haver um núcleo interno igualmente à base de ferro.

Os dados recolhidos sugeriam que o satélite natural era composto por material mais denso no centro – com um núcleo interno mais sólido – e por material menos denso próximo da superfície – com um núcleo externo mais fluído -, como se veio agora a comprovar.

São avanços muito importantes, num momento em que a Lua está novamente prestes a ser pisada pelo homem, 52 anos depois.

ZAP //
10 Maio, 2023


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229: Como é que se formaram os continentes? Novo estudo desafia a teoria principal

 

CIÊNCIA // GEOLOGIA // TERRA // CONTINENTES

A pesquisa refuta a hipótese de que a cristalização da granada do magma por baixo dos vulcões do arco continental removeu o ferro da crosta da Terra, permitindo que os continentes flutuassem.

NASA

Um novo estudo publicado na Science põe em causa a principal teoria científica que procura explicar a origem dos continentes na Terra.

Ainda pouco se sabe sobre como surgiram os continentes que tornam a Terra especial e permitiram o surgimento da vida.

Durante anos, os cientistas apontaram que a hipótese mais provável é que tenha sido a cristalização da granada do magma por baixo dos vulcões a remover o ferro da crosta da Terra, permitindo que esta boiasse por cima dos oceanos e dando aso aos continentes.

A crosta terrestre divide-se em duas categorias, uma camada continental mais antiga e espessa e uma camada oceânica mais jovem e mais densa. A nova crosta continental é formada quando os seus blocos de construção passam para a superfície da Terra a partir dos vulcões do arco continental. Aquilo que distingue a crosta continental seca da crosta oceânica é sua a falta de ferro.

Até agora, os cientistas apontavam que a cristalização da granada do magma por baixo destes vulcões do arco continental teria removido o ferro não-oxidado das placas terrestres, ao mesmo tempo que esgotava o ferro do magma fundido, deixando-o mais oxidado à medida que forma a crosta continental.

A nova pesquisa está a desafiar esta ideia. “Precisamos de pressões altas para estabilizar a granada e encontramos este magma com pouco ferro em locais onde a crosta não é muito espessa e a pressão não é muito alta“, explica a geóloga Elizabeth Cottrell, autora principal do estudo, num comunicado.

Para testar esta hipótese, a equipa recriou a pressão e o calor maciços encontrados debaixo dos vulcões do arco continental usando prensas de pistão-cilindro localizadas no Laboratório de Alta Pressão do Museu Smithsonian e na Universidade de Cornell.

Esses pistões podem induzir pressões massivas em pequenas amostras de rocha enquanto são simultaneamente aquecidas por um forno cilíndrico circundante.

As pressões induzidas eram equivalentes a entre 15 000 e 30 000 vezes as criadas pela atmosfera da Terra e as temperaturas geradas estavam entre cerca de 950 e 1230 graus Celsius, quentes o suficiente para derreter a rocha, relata o Space.

Numa série de 13 testes de laboratório diferentes, foram cultivadas amostras de granada de rocha fundida sob pressões e temperaturas que imitavam as condições dentro das câmaras de magma nas profundezas da crosta terrestre.

A composição destas granadas foi analisada tendo como base como eles absorvem os raios-X. Os resultados foram comparados com granadas com concentrações conhecidas de ferro oxidado e não oxidado.

Os resultados mostraram que as granadas cultivadas a partir de rochas em condições semelhantes ao interior da Terra não absorveram ferro não oxidado suficiente para explicar os níveis de esgotamento e oxidação de ferro observados nos magmas que formam a crosta continental.

O estudo não oferece possíveis teorias alternativas sobre a formação dos continentes, mas descarta a hipótese principal até agora, o que já é um começo.

ZAP //
7 Maio, 2023


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96: O Evento Pluviano Carniano: quando choveu durante dois milhões de anos na Terra

 

CIÊNCIA // GEOLOGIA // EVENTO PLUVIANO CARNIANO

O período terá levado à extinção se imensas espécies animais, mas impulsionou a maior diversidade dos dinossauros.

Christopher Scotese / Ian Webster / Paleomap / University Of Sydney

Nas décadas de 1970 e 1980, os geólogos descobriram camadas estranhas em rochas antigas, com entre quatro e 232 milhões de anos. As descobertas sugerem que há cerca de 232 milhões de anos, um período de enorme seca na Terra chegou ao fim e finalmente começou a chover.

Os depósitos de arenito e siliclástico indicam que, logo no início da era dos dinossauros, houve um período anormalmente húmido que durou entre um e dois milhões de anos, relata o IFLScience.

Este período, conhecido como o Evento Pluviano Carniano, deixou vestígios pelas rochas de todo o mundo. A mudança climática terá sido causada por um grande aumento na humidade, possivelmente devido a uma enorme erupção vulcânica na Grande Província Ígnea de Wrangellia.

Na altura, a Pangeia — o super-continente da Terra — já tinha um clima propenso a monções, que ocorrem quando o ar húmido do mar é empurrado pelos ventos para a terra, onde arrefece rapidamente e gera grandes chuvadas repentinas.

A erupção vulcânica terá emitido uma enorme quantidade de gases com efeitos de estufa e as águas do mar terão sido tão quentes como sopa. Todo este calor terá gerado mais vapor de água e deixado o ar mais húmido, o que levou a que as monções fossem ainda mais intensas do que o normal.

Toda esta humidade não era boa para a vida, tendo várias espécies sido extinguidas devido às chuvas ácidas misturadas com os gases emitidos pelo vulcão, que eliminaram a vegetação e a fonte de alimento para os animais.

No entanto, nem todos os animais foram prejudicados. De acordo com um estudo de 2018 publicado na Journal of Geological Society, os dinossauros beneficiaram imenso com esta mudança climática.

“Na sequência de amplas extinções de plantas e herbívoros importantes em terra, os dinossauros foram aparentemente os principais beneficiários no momento da recuperação, expandindo-se rapidamente em diversidade, impacto ecológico (abundância relativa) e distribuição regional, inicialmente da América do Sul, para todos os continentes”, escrevem os autores.

“Pode ter sido um dos mais importantes [eventos rápidos] na história da vida devido ao seu papel em permitir não apenas a ‘era dos dinossauros’, mas também as origens da maioria dos principais clados que formam a fauna moderna de tetrápodes terrestres”, rematam.

ZAP //
4 Abril, 2023


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38: O risco de asteróides gigantes atingirem a Terra pode ser maior do que se esperava

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // GEOLOGIA // ASTERÓIDES // RISCOS

O nosso planeta esconde bem as suas cicatrizes. É uma pena, na verdade, uma vez que provas de ataques de asteróides anteriores poderiam ajudar-nos a planear melhor o próximo impacto catastrófico.

CC0 Public Domain

James Garvin, cientista chefe do Centro de Voo Espacial Goddard, da NASA, acredita que podemos ter percebido de forma incorrecta os vestígios de alguns dos ataques de asteróides que ocorreram nos últimos milhões de anos.

Se estiver certo, as probabilidades de sermos atingidos podem ser maiores do que as estimativas actuais.

Como lembrou o Science Alert, o mais famoso de todos os impactos de meteoritos – o golpe que matou os dinossauros e que fez um buraco na crosta do que é hoje a península de Yucatan, há cerca de 66 milhões de anos – destaca-se na sua devastação da vida na Terra.

Contudo, impactos menores podem lançar um manto sobre o planeta e causar anos de fome. Segundo algumas estimativas, os asteróides com quilómetros de largura atingem a Terra numa explosão de calor e poeira, em média, a cada 600.000 anos.

Não há um calendário para este tipo de eventos, claro, e as estimativas são sempre tão boas como os dados que utilizamos para fazer as previsões.

Embora possamos sondar os céus em busca de rochas grandes, o registo geológico é como uma fita adesiva de ataques reais de meteoritos que se estendem no tempo.

Este registo torna-se mais difícil de ler quanto mais para trás olhamos. Acontecimentos mais recentes podem ser difíceis de interpretar.

Garvin e a sua equipa utilizaram um novo catálogo de imagens de satélite de alta resolução para analisar os restos meteorológicos de algumas das maiores crateras de impacto formadas nos últimos milhões de anos, num esforço para avaliar o seu verdadeiro tamanho.

Com base na sua análise, algumas destas crateras apresentam anéis ténues para além do que tipicamente têm sido consideradas as suas partes exteriores, tornando-as efectivamente maiores do que anteriormente se presumia.

Por exemplo, pensa-se que uma depressão de cerca de 12 a 14 quilómetros de largura no Cazaquistão, chamada Zhaminshin, foi criada por um meteorito com um diâmetro de 200 a 400 metros que atingiu a Terra há cerca de 90.000 anos.

No entanto, com base na nova análise, este evento pode ter sido ainda mais catastrófico, deixando uma cratera que na realidade está mais próxima dos 30 quilómetros de largura.

Os diâmetros das jantes de três outras grandes crateras também foram recalculados, todas multiplicando ou triplicando de tamanho. As implicações são profundas, sugerindo que objectos enormes atingem a Terra de dez em dez mil anos.

Estes anéis recentemente descobertos podem não ser necessariamente ondulações do impacto. É possível que sejam detritos causados pelo impacto. Ou podem ser nada de significativo – um mero fantasma nos dados.

Garvin não está convencido de que os campos de detritos ainda estariam limpos após tantos anos de intempéries e erosão. No entanto, a ciência não se move atrás de uma única observação. É uma hipótese digna de debate.

Esta investigação foi apresentada na Conferência de Ciência Lunar e Planetária de 2023, realizada na Woodlands, a norte de Houston, no Texas, Estados Unidos.

ZAP //
23 Março, 2023


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