607: A detecção mais distante do campo magnético de uma galáxia

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // GALÁXIAS

Com o auxílio do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), os astrónomos detectaram o campo magnético de uma galáxia tão distante que a sua luz demorou mais de 11 mil milhões de anos a chegar até nós: estamos a observá-la quando o Universo tinha apenas 2,5 mil milhões de anos de idade.

Este resultado forneceu aos astrónomos pistas cruciais sobre como é que se formaram os campos magnéticos de galáxias tais como a nossa Via Láctea.

Esta imagem mostra a orientação do campo magnético da galáxia distante 9io9, observada quando o Universo tinha apenas 20% da sua idade actual — a detecção mais distante do campo magnético de uma galáxia. As observações foram obtidas pelo ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), do qual o ESO é um parceiro. Os grãos de poeira no seio de 9io9 estão mais ou menos alinhados com o campo magnético da galáxia e, por isso, emitem luz polarizada, o que significa que as ondas de luz oscilam segundo uma direcção privilegiada, em vez de aleatória. O ALMA detectou esta polarização, a partir da qual os astrónomos puderam determinar a orientação do campo magnético, que aqui mostramos como linhas curvas sobrepostas à imagem ALMA.
A luz polarizada emitida pela poeira magneticamente alinhada de 9io9 era extremamente fraca, representando apenas 1% do brilho total da galáxia, no entanto os astrónomos usaram um “truque” da natureza para obter este resultado: uma lente gravitacional. Apesar de 9io9 estar muito longe de nós, a sua luz aparece-nos distorcida e muito mais brilhante, uma vez que se curva por efeito da gravidade de um objecto muito maior que se encontra entre ela e a Terra.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/J. Geach et al.

Há imensos objectos no Universo que apresentam campos magnéticos, sejam eles planetas, estrelas ou galáxias.

“As pessoas podem não se aperceber, mas na nossa Galáxia e noutras galáxias entrelaçam-se campos magnéticos com dimensões da ordem das dezenas de milhares de anos-luz,” diz James Geach, professor de astrofísica na Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e autor principal deste estudo publicado na revista Nature.

“Na realidade, sabemos muito pouco relativamente à formação destes campos magnéticos, apesar de serem fundamentais para compreendermos a evolução galáctica,” acrescenta Enrique Lopez Rodriguez, investigador na Universidade de Stanford, EUA, que também participou no estudo.

Não é claro quão cedo na vida do Universo, e quão rápido, é que os campos magnéticos se formaram nas galáxias, isto porque, até agora, os astrónomos apenas tinham mapeado campos magnéticos em galáxias próximas.

Agora, e com o auxílio do ALMA, do qual o ESO é um parceiro, Geach e a sua equipa descobriram um campo magnético completamente formado numa galáxia distante, semelhante em estrutura àqueles observados em galáxias próximas.

O campo é cerca de mil vezes mais fraco do que o campo magnético da Terra, mas estende-se ao longo de mais de 16.000 anos-luz.

“Esta descoberta dá-nos novas pistas sobre como é que os campos magnéticos se formam à escala galáctica,” explica Geach.

A observação de um campo magnético completamente desenvolvido tão cedo na história do Universo indica que os campos magnéticos que englobam galáxias inteiras podem formar-se rapidamente na altura em que as galáxias jovens ainda se estão a desenvolver.

Esta imagem infravermelha mostra a galáxia distante 9io9, que aqui vemos como um arco avermelhado que se curva em torno de uma galáxia brilhante próxima de nós. Esta galáxia próxima actua como uma lente gravitacional: a sua massa curva o espaço-tempo à sua volta, curvando assim os raios de luz que nos chegam de 9io9, que está ao fundo e, por isso, nos aparece com esta forma distorcida.
Esta imagem colorida resulta da combinação de imagens infravermelhas obtidas com o telescópio VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) do ESO, no Chile, e com o CFHT (Canada-France-Hawaii Telescope), nos EUA.
Crédito: ESO/J. Geach et al.

A equipa pensa que a formação estelar intensa no Universo primordial poderá acelerar o desenvolvimento de campos magnéticos. Adicionalmente, estes campos podem, por sua vez, influenciar o modo como se formam as gerações seguintes de estrelas.

Rob Ivison, co-autor do trabalho e astrónomo do ESO, afirma que esta descoberta abre “uma nova janela para o funcionamento interno das galáxias, uma vez que os campos magnéticos estão ligados ao material que está a formar novas estrelas.”

Para fazer esta detecção, a equipa observou a radiação emitida por grãos de poeira de uma galáxia distante, 9io9.

As galáxias estão repletas de grãos de poeira e quando um campo magnético se encontra presente, estes grãos tendem a alinhar-se, fazendo com que a radiação que emitem seja polarizada. Isto significa que as ondas de luz oscilam segundo uma direcção privilegiada, em vez de aleatória.

Quando o ALMA detectou e mapeou um sinal polarizado emitido pela galáxia 9io9, confirmou-se pela primeira vez a presença de um campo magnético numa galáxia muito distante.

“Nenhum outro telescópio teria conseguido fazer esta observação,” diz Geach. A esperança é que com esta e outras observações futuras de campos magnéticos distantes, começaremos a desvendar o mistério da formação destas estruturas galácticas fundamentais.

// ESO (comunicado de imprensa)
// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
8 de setembro de 2023


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352: Apesar dos melhores esforços dos campos magnéticos, a formação estelar continua em 30 Doradus

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // CAMPOS MAGNÉTICOS

Uma nova investigação do SOFIA (Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy) mostrou que os campos magnéticos em 30 Doradus – uma região de hidrogénio ionizado no coração da Grande Nuvem de Magalhães – podem ser a chave para o seu comportamento surpreendente.

30 Doradus, também conhecida como a Nebulosa da Tarântula, é uma região na Grande Nuvem de Magalhães. As linhas de fluxo mostram a morfologia do campo magnético a partir dos mapas de polarização obtidos pelo HAWC+ do SOFIA. Estes são sobrepostos numa imagem composta captada pelo VLT (Very Large Telescope) do ESO e pelo VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy).
Crédito: fundo – ESO, M.-R. Cioni/Levantamento VMC; agradecimento – CASU (Cambridge Astronomical Survey Unit); Linhas de fluxo – NASA/SOFIA

A maior parte da energia em 30 Doradus, também chamada Nebulosa da Tarântula, provém do gigantesco enxame estelar perto do seu centro, R136, que é responsável por múltiplas e gigantescas conchas de matéria em expansão. Mas nesta região perto do núcleo da nebulosa, a cerca de 25 parsecs de R136, as coisas são um pouco estranhas.

A pressão do gás, aqui, é mais baixa do que deveria ser, perto da intensa radiação estelar de R136, e a massa da área é inferior ao esperado para que o sistema se mantenha estável.

Utilizando o instrumento HAWC+ (High-resolution Airborne Wideband Camera Plus), os astrónomos estudaram a interacção entre os campos magnéticos e a gravidade em 30 Doradus. Os campos magnéticos são, afinal, o ingrediente secreto da região.

O estudo recente, publicado na revista The Astrophysical Journal, descobriu que os campos magnéticos nesta região são simultaneamente complexos e organizados, com grandes variações de geometria relacionadas com as estruturas de grande escala, em expansão, que estão em jogo.

Mas como é que estes campos complexos, mas organizados, ajudam 30 Doradus a sobreviver?

Na maior parte da área, os campos magnéticos são incrivelmente fortes. São fortes o suficiente para resistir à turbulência, para poderem continuar a regular o movimento do gás e a manter intacta a estrutura da nuvem.

São também suficientemente fortes para evitar que a gravidade assuma o controlo e faça a nuvem colapsar para formar mais estrelas.

No entanto, o campo é mais fraco em alguns pontos, permitindo que o gás escape e infle as conchas gigantes. À medida que a massa nestas conchas cresce, as estrelas podem continuar a formar-se apesar dos fortes campos magnéticos.

Observar a região com outros instrumentos pode ajudar os astrónomos a compreender melhor o papel dos campos magnéticos na evolução de 30 Doradus e de outras nebulosas semelhantes.

O SOFIA foi um projecto conjunto da NASA e da DLR (Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt e.V., a Agência Espacial Alemã). A DLR forneceu o telescópio, a manutenção programada da aeronave e outros apoios para a missão.

O Centro de Pesquisa Ames da NASA em Silicon Valley, na Califórnia, geriu o programa SOFIA, a ciência e as operações da missão em cooperação com a USRA (Universities Space Research Association), com sede em Columbia, no estado norte-americano de Maryland, e com o Instituto SOFIA na Universidade de Estugarda, Alemanha.

O SOFIA atingiu a capacidade operacional total em 2014 e concluiu o seu último voo científico a 29 de Setembro de 2022.

// NASA (blog)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG – Centro Ciência Viva do Algarve
13 de Junho de 2023

 


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52: NASA monitoriza enorme anomalia no campo magnético da Terra

 

CIÊNCIA // TERRA // NASA // ANOMALIAS

A NASA está a monitorizar activamente uma estranha anomalia no campo magnético da Terra. Trata-se de uma região gigante de menor intensidade magnética que se estende entre a América do Sul e o Sudoeste de África.

Denominado de Anomalia do Atlântico Sul, este fenómeno em desenvolvimento tem intrigado e preocupado os cientistas ao longo dos anos, principalmente os investigadores da NASA.

Segundo o Science Alert, os satélites e naves espaciais da agência espacial são particularmente vulneráveis à força enfraquecida do campo magnético dentro da anomalia e à consequente exposição a partículas carregadas do Sol.

A Anomalia do Atlântico Sul é comparada pela NASA a uma “mossa” no campo magnético da Terra ou a um espécie de “buraco no Espaço”.

Por norma, não afecta a vida na Terra, mas o mesmo não se pode dizer da nave espacial orbital — incluindo a Estação Espacial Internacional — que passa directamente através da anomalia, à medida que circulam pelo planeta a baixas altitudes da órbita terrestre.

Durante este encontros, a força reduzida do campo magnético dentro da anomalia significa que os sistemas tecnológicos a bordos dos satélites podem entrar em curto-circuito e funcionar mal se forem atingidos por protões de alta energia que emanam do Sol.

Estes ataques aleatórios podem produzir apenas falhas de baixo nível, mas acarretam o risco de causar uma perda significativa de dados ou mesmo danos permanentes em componentes-chave.

NASA Goddard

Estas são ameaças que obrigam os operadores de satélites a desligar periodicamente os sistemas de naves espaciais, antes de estas entrarem na zona da anomalia.

A NASA está a seguir a Anomalia do Atlântico Sul para evitar danos maiores no Espaço e porque o mistério deste fenómeno representa uma grande oportunidade para investigar um acontecimento complexo e difícil de compreender.

Os amplos recursos da NASA são os mais indicados para estudar esta ocorrência.

Em 2020, Terry Sabaka, geofísico do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, explicou que “o campo magnético é na realidade uma sobreposição de campos de muitas fontes actuais”.

A fonte primária é considerada como um oceano giratório de ferro fundido dentro do núcleo exterior da Terra, a milhares de quilómetros abaixo do solo.

O movimento dessa massa gera correntes eléctricas que criam o campo magnético da Terra, mas não necessariamente de forma uniforme.

Um enorme reservatório de rocha densa chamado “Província Africana de Grande Velocidade de Cisalhamento Baixa”, localizado a cerca de 2.900 quilómetros abaixo do continente africano, perturba a geração do campo, resultando no dramático efeito de enfraquecimento, auxiliado pela inclinação do eixo magnético do planeta.

Weijia Kuang, geofísico da NASA Goddard, disse, também em 2020, que “a Anomalia do Atlântico Sul observada também pode ser interpretada como consequência do enfraquecimento do domínio do campo dipolo na região”.

“Mais especificamente, um campo localizado com polaridade invertida cresce fortemente na região da Anomalia do Atlântico Sul, tornando, assim, a intensidade do campo muito fraca — mais fraca do que a das regiões circundantes”, explicou.

O que significa para o futuro da Anomalia do Atlântico Sul ainda é desconhecido, mas, de qualquer forma, há provas que sugerem que a anomalia não é algo novo.

Um estudo publicado em Julho de 2020 sugeriu que o fenómeno não é um acontecimento estranho de tempos recentes, mas um acontecimento magnético recorrente que pode ter afectado a Terra desde há 11 milhões de anos.

Se assim for, isso poderá indicar que a Anomalia do Atlântico Sul não é um gatilho ou um percurso de toda a inversão do campo magnético do planeta, que é algo que realmente acontece, talvez durante centenas de milhares de anos de cada vez.

“Embora a Anomalia do Atlântico Sul esteja a avançar lentamente, está a passar por alguma mudança na morfologia, por isso é também importante que continuemos a observá-la, tendo missões contínuas”, disse Sabaka. “Porque é isso que nos ajuda a fazer modelos e previsões”.

Teresa Campos, ZAP //
26 Março, 2023


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