586: Índia encontra oxigénio na Lua

 

CIÊNCIA // 🇮🇳 ÍNDIA // 🌕LUA

No passado dia 23 de Agosto, a missão espacial da Índia, Chandrayaan-3, concluiu com sucesso o pouso no Polo Sul da Lua. Não tardou para que os resultados aparecessem. A sonda encontrou oxigénio, cálcio, enxofre e outras substâncias no nosso satélite natural.

Índia torna-se no primeiro país a alunar no seu Polo Sul da Lua

Estes componentes não são desconhecidos das muitas missões que anteriormente orbitaram e alunaram no satélite. Contudo, agora foi a vez do veículo lunar indiano detectar a presença de oxigénio.

Com isso iniciou a procura de hidrogénio no âmbito da missão Chandrayaan-3, segundo a agência espacial do país.

Conforme correu mundo, a Índia tornou-se o quarto país a conseguir uma aterragem suave na Lua e o primeiro a atingir o seu Polo Sul, depois de ter aterrado na semana passada.

A missão visa descobrir quais os minerais presentes na superfície lunar, para além de procurar água.

De acordo com a Organização Espacial e de Investigação Indiana (ISRO), a tecnologia a bordo do rover efectuou as primeiras medições in situ sobre a composição elementar da superfície lunar perto do Polo Sul.

Para além de confirmar a presença de enxofre na região – algo que não era possível com os instrumentos a bordo das sondas – o instrumento de espectroscopia de ruptura induzida por laser (LIBS) detectou oxigénio e uma série de outros minerais.

A LIBS é uma técnica científica que analisa a composição dos materiais expondo-os a impulsos laser intensos. Um pulso de laser de alta energia é focado na superfície de um material, como uma rocha ou um solo.

O impulso de laser gera um plasma extremamente quente e localizado. A luz do plasma recolhida é resolvida espectralmente e detectada por detectores como os dispositivos de carga acoplada. Uma vez que cada elemento emite um conjunto característico de comprimentos de onda de luz quando se encontra num estado de plasma, a composição elementar do material é determinada.”

Explicou a agência num comunicado.

O solo lunar é muito rico

As análises iniciais revelaram também a presença de alumínio (Al), cálcio (Ca), ferro (Fe), crómio (Cr), titânio (Ti), manganés (Mn) e silício (Si).

O rover de 26 kg, chamado Pragyan (“Sabedoria” em sânscrito), percorrerá a superfície lunar a uma velocidade de cerca de 1 cm por segundo, enquanto envia dados para o módulo de aterragem, que serão depois transmitidos para o Chandrayaan-2 em órbita.

Ao atingir o território lunar desconhecido do Polo Sul da Lua, a Índia conseguiu um feito que nenhum outro país conseguiu igualar.

O módulo de aterragem russo Luna-25 tentou aterrar poucos dias antes, mas uma manobra orbital falhada resultou num acidente que pôs fim à missão.

Depois de ter revelado o seu objectivo de lançar uma missão tripulada de três dias na órbita da Terra, a ISRO também elaborou planos para trabalhar com os EUA naquela que seria a primeira missão da Índia à Estação Espacial Internacional no próximo ano.

Alimentar a descoberta

A procura de água congelada pelo rover poderá conduzir a uma fonte de água potável para os futuros astronautas e poderá mesmo desempenhar um papel fundamental, na prática da Utilização de Recursos In Situ (ISRU) – a utilização de materiais locais para apoiar a exploração humana.

A ISRU há muito que é considerada como uma forma possível de reduzir a dimensão da carga útil que tem de ser lançada da Terra para explorar um corpo planetário.

De acordo com o Universe Today, custa cerca de 10 mil euros colocar apenas 1 kg no espaço. Ao aproveitar a ISRU, estes custos poderiam ser significativamente reduzidos.

A Iniciativa de Inovação da Superfície Lunar (LSII) da NASA foi lançada para desenvolver capacidades transformadoras para a exploração da superfície lunar.

Ao centrar-se na utilização de recursos espaciais para a exploração do espaço profundo, a agência prevê a criação de uma “economia espacial vibrante” com utilidades e produtos de apoio.

Isto inclui o mapeamento da superfície da Lua à escala do metro para exploração mineira comercial.

O regolito criado durante o processo de extracção poderia ser utilizado como matéria-prima derivada in situ para projectos de construção, enquanto os elementos e materiais têm potencial para serem aproveitados para a produção e armazenamento de energia de vários megawatts.

A água encontrada na Lua também pode ser utilizada para cultivar alimentos, produzir oxigénio ou uma série de outros processos industriais. Ao processar o gelo de água detectado nos pólos, foi também sugerida a produção de propulsores para foguetões. Isto implicaria a electrólise da água no local para produzir hidrogénio e oxigénio antes de ser colocada em armazenamento criogénico como líquidos.

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Autor: Vítor M

– Seria positivo informar nas imagens acima, que são montagens fotográficas.


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585: Um mundo invertido no tecido da realidade: cientistas vêem “Anéis de Alice” pela primeira vez

 

CIÊNCIA // FÍSICA // ANÉIS DE ALICE

“O mundo assume uma forma diferente ao espreitar através do centro do anel”. Emocionante observação abre portas à descoberta dos componentes mais profundos do Universo e pode ajudar-nos a entender a verdadeira realidade.

Heikka Valja/Aalto University
A ilustração artística de um “Anel de Alice”, observado agora pela primeira vez na natureza

Manipulando átomos “gelados” para formar uma estrutura anelar, físicos conseguiram ver os átomos mais além: quando objectos passam (ou são observados) através deste objecto agora criado — denominado “Anel de Alice” — as propriedades de objectos quânticos mudam e o mundo… vira-se ao contrário (literalmente).

A formação de estranhos loops no tecido da realidade foi assim observada pela primeira vez e registada num estudo publicado esta terça-feira na Nature.

Os “Anéis de Alice” — assim denominados em homenagem a Alice no País das Maravilhas por terem a mesma propriedade do famoso espelho de Alice — foram vistos a formar-se no gás extremamente frio, de acordo com o Science Alert, numa distorção nos campos quânticos conhecida como monopolos (ou defeitos) topológicos.

Apesar de serem muito difíceis de criar, em 2015, apenas um ano após provar a existência de um monopolo topológico, o físico e membro da Colaboração Monopolo da Universidade de Aalto na Finlândia, Mikko Möttönen e os seus colegas conseguiram observar um isolado pela primeira vez num estado ultra-frio de átomos de rubídio chamado condensado de Bose-Einstein (BEC).

“O mundo é diferente” no centro do Anel

Nesta última investigação, os investigadores observaram novamente um monopolo topológico, mas desta vez o resultado final, pode-se dizer que era como uma pequena porta para o País das Maravilhas: estruturas denominadas cordas de Alice. Após alguns milissegundos, cada monopolo que a equipa criou expandiu-se num destes anéis com uma propriedade peculiar.

“De longe, o anel de Alice parece apenas um monopolo, mas o mundo assume uma forma diferente ao espreitar através do centro do anel”, diz David Hall, um físico da Universidade de Amherst, nos EUA.

Tal como o próprio espelho de Alice, passar pelo estranho loop magnético num campo quântico de BEC pode virar tudo de cabeça para baixo.

“Há uma peculiaridade neste anel Alice. Dependendo de se olhar para algum monopolo próximo através do anel, ou do lado do anel, a sua carga parece diferente. Portanto, o anel está a inverter a carga dos objectos que se olha”, explica Möttönen.

Simulações de computador mostraram ainda que a carga de um monopolo inverteria completamente — de positiva para negativa, por exemplo — se passasse pelo anel Alice.

Outros monopolos que passam por esta “força anelar” tornam-se invertidos nas suas versões espelhadas, virando o anel para o seu oposto à medida que deslizam.

É um progresso que a equipa entende como emocionante: quanto mais aprendermos sobre a natureza instável dos campos quânticos, melhor poderemos mapeá-la e entender as verdades mais profundas da realidade.

“A descoberta ilumina e inspira a procura dos componentes mais profundos do Universo, da matéria e da informação.”, diz Möttönen.

 Tomás Guimarães, ZAP //
30 Agosto, 2023


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584: Telescópio James Webb capta a imagem mais nítida de sempre da galáxia Whirlpool

 

CIÊNCIA // UNIVERSO // JAMES WEBB // GALÁXIA WHIRLPOOL

A Galáxia Whirlpool, também conhecida como Galáxia do Redemoinho, tecnicamente denominada Messier 51a (M51a), foi descoberta pela primeira vez em 1773 pelo astrónomo francês Charles Messier. Este é um dos objectos mais conhecidos do céu nocturno.

Desde astrónomos amadores até à NASA, há décadas que todos partilham imagens da galáxia Whirlpool. Mas nunca se viu uma imagem como a que acaba de ser captada pelo Telescópio Espacial James Webb, o mais potente do seu género.

Esta imagem hipnotizante (em destaque no topo) é uma imagem composta dos instrumentos NIRCam e MIRI do telescópio. Ambos os dispositivos foram concebidos para captar o universo distante, descodificando sinais de luz infravermelha provenientes de estrelas e galáxias distantes. O resultado final é a Galáxia Whirlpool num pormenor nunca antes visto.

As regiões vermelho-escuras mostram a poeira quente filamentosa que permeia o meio da galáxia.

As regiões vermelhas mostram a luz reprocessada de moléculas complexas que se formam nos grãos de poeira, enquanto as cores laranja e amarelo revelam as regiões de gás ionizado pelos aglomerados de estrelas recentemente formados.

A retroacção estelar tem um efeito dramático no meio da galáxia e cria uma rede complexa de nós brilhantes, bem como bolhas negras cavernosas.

Afirmou a Agência Espacial Europeia (ESA), que ajudou a construir o telescópio e o lançou para o espaço no ano passado a partir do seu porto espacial na Guiana Francesa.

A agência refere que a retroacção estelar é o termo utilizado para descrever o derrame de energia das estrelas para os ambientes que as formam e é um processo crucial para determinar as taxas de formação das estrelas.

Compreender o feedback estelar é vital para a construção de modelos universais exactos de formação de estrelas.

A imagem do James Webb faz parte de uma série de observações destinadas a esclarecer a interacção entre a retroacção estelar e a formação de estrelas em ambientes fora da nossa galáxia, a Via-Láctea.

A M51 é apelidada de Whirlpool (redemoinho) por causa da sua estrutura em redemoinho, que se assemelha à água em torno de um ralo.

Encontra-se a cerca de 30 milhões de anos-luz de distância, na constelação Canes Venatici, o que significa que a imagem que vemos mostra o aspecto da galáxia Whirlpool há 30 milhões de anos.

James Webb mostra o que nunca foi visto

A Whirlpool tem um irmão mais novo – a galáxia anã NGC 5195. Pensa-se que a influência gravitacional da companheira mais pequena da M51 é parcialmente responsável pela natureza distinta dos braços espirais proeminentes e bem desenvolvidos da galáxia.

Quando foram publicadas em 2011, as imagens do Hubble da galáxia Whirlpool deixaram o mundo estupefacto.

No entanto, numa reviravolta profética, a equipa por detrás das imagens disse que “embora o Hubble esteja a fornecer vistas incisivas da estrutura interna de galáxias como a M51, espera-se que o planeado Telescópio Espacial James Webb produza imagens ainda mais nítidas”.

Se quiser perceber como funciona a galáxia Whirlpool e porque é tão especial, veja este vídeo com Michael Merrifield, professor de astronomia na Universidade de Nottingham:

Pplware
Autor: Vítor M
30 Ago 2023


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583: Super-lua azul de 30.08.2023

 

ASTRONOMIA // SUPER-LUA AZUL

Bandeira de PortugalLisboa, Portugal — Nascer, pôr da lua e fases da lua, Agosto de 2023

Lua: 99.9%

Lua cheia

Hora atual: 31 de Ago de 2023, 1:09:04
Direção da Lua: 170,47° S
Altitude da Lua: 37,24°
Distância da Lua: 357.297 km
Próxima Lua Cheia: 31 de Ago de 2023, 2:35
Próxima Lua Nova: 15 de Set de 2023, 2:39
Próximo pôr da lua: Hoje, 7h16

Um pequeno esclarecimento a quem não se encontra devidamente esclarecido na área astronómica: ontem, dia 30.08.2023 foi noite de super-lua azul.

– Super-lua porque a sua distância em relação à Terra é mais curta e por isso parece maior quando não é.

– Azul também não é, continua a ser cinzenta quase esbranquiçada dado que sendo uma fase de lua cheia, a luz solar reflecte-se nela em plenitude, sendo esta a fase menos propícia para obter imagens lunares dado que os relevos das crateras quase não se distinguem.

– Vermelha, como alguns dizem, muito menos. Quase que derem à Lua um contorno de arco-íris o que é falso.

As imagens que obtive ontem, 30.08.2023 às 23:47 no sítio de observação do meu backyard, foram as que publico a seguir. E para colorir artificialmente esta super-lua, nada como utilizar os filtros da Nikon calibrada a uma DF de 900mm.

Cor da Lua normal.
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Lua vermelha filtrada.
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Lua azul filtrada,
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Em 2016 teremos outra lua azul que continuará a ser cinzenta.

Stellarium

30.082023


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582: Telescópios do ESO ajudam a desvendar puzzle dos pulsares

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // ESO // PULSARES

Por meio de uma campanha de observação que envolveu 12 telescópios no solo e no espaço, incluindo três infra-estruturas do Observatório Europeu do Sul (ESO), os astrónomos investigaram o estranho comportamento de um pulsar, uma estrela morta com rotação extremamente rápida.

Este objecto misterioso é conhecido por alternar entre dois modos de brilho quase constantemente, algo que até à data tem sido um enigma. Os astrónomos descobriram agora que as súbitas ejecções de matéria, lançadas pelo pulsar em períodos muito curtos, são responsáveis por estas mudanças peculiares.

Acabámos de observar eventos cósmicos extraordinários, onde enormes quantidades de matéria, semelhantes a balas de canhão cósmicas, são lançadas para o espaço num espaço de tempo muito curto (da ordem das dezenas de segundos), por um objecto celeste pequeno e denso que gira a velocidades extremamente elevadas“, afirma Maria Cristina Baglio, investigadora da Universidade New York de Abu Dhabi, afiliada ao Instituto Nacional de Astrofísica Italiano (INAF), e co-autora principal do artigo científico que descreve este resultado, publicado hoje na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.

Um pulsar, ou estrela de neutrões, trata-se de uma estrela morta, magnética e de rotação rápida, que emite um feixe de radiação electromagnética para o espaço.

À medida que roda, este feixe varre o cosmos — tal como um farol que varre o seu espaço circundante — e é detectado pelos astrónomos quando intercepta a linha de visão da Terra. Este efeito faz com que a estrela pareça pulsar em brilho quando observada a partir do nosso planeta.

PSR J1023+0038 (ou J1023 para abreviar) é um tipo especial de pulsar que apresenta um comportamento estranho. Localizado a cerca de 4500 anos-luz de distância da Terra, na constelação do Sextante, orbita próximo de outra estrela.

Durante a última década, o pulsar tem estado activamente a retirar matéria dessa companheira, matéria esta que se acumula num disco à volta do pulsar e vai caindo lentamente na sua direcção.

Desde que este processo de acumulação de matéria começou, o feixe de varrimento praticamente que desapareceu e o pulsar começou a alternar incessantemente entre dois modos.

No modo “alto”, o pulsar emite raios X brilhantes, ultravioleta e luz visível, enquanto no modo “baixo” se torna mais fraco para estas frequências mas emite mais nas ondas rádio.

O pulsar pode permanecer em cada modo durante vários segundos ou minutos, mudando depois para o outro modo em apenas alguns segundos. Até agora, esta mudança tem intrigado os astrónomos.

A nossa campanha de observação sem precedentes concebida para compreender o comportamento deste pulsar, envolveu uma dúzia de telescópios terrestres e espaciais de vanguarda“, diz Francesco Coti Zelati, investigador do Instituto de Ciências do Espaço, em Barcelona, Espanha, e co-autor principal do artigo científico.

A campanha incluiu o Very Large Telescope (VLT) e o New Technology Telescope (NTT), ambos do ESO, que detectaram radiação visível e infravermelha próxima, bem como o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), do qual o ESO é um parceiro.

Durante duas noites em Junho de 2021, os astrónomos observaram o sistema a efectuar mais de 280 mudanças entre os seus modos alto e baixo.

Descobrimos que a mudança de modo resulta de uma intrincada interacção entre o vento do pulsar — um fluxo de partículas de alta energia que se afasta do pulsar — e a matéria que flui em direcção ao pulsar“, diz Coti Zelati, afiliado também ao INAF.

No modo baixo, a matéria que flui em direcção ao pulsar é expelida num jacto estreito perpendicular ao disco. Gradualmente, esta matéria acumula-se cada vez mais perto do pulsar e começa a ser atingida pelo vento que sopra da estrela pulsante, o que dá origem ao aquecimento da matéria.

O sistema fica então no modo alto, brilhando intensamente em raios-X, ultravioleta e luz visível. Eventualmente, bolhas desta matéria quente são removidas pelo pulsar através do jacto. Com menos matéria quente no disco, o sistema brilha menos, mudando de novo para o modo baixo.

Apesar desta descoberta ter desvendado o mistério do estranho comportamento de J1023, os astrónomos ainda têm muito a aprender com o estudo deste sistema único e os telescópios do ESO continuarão a auxiliar os astrónomos na observação deste pulsar bastante peculiar.

Em particular, o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, actualmente em construção no Chile, oferecerá uma visão sem precedentes dos mecanismos de comutação do J1023.

O ELT permitir-nos-á obter informações essenciais sobre a forma como a abundância, a distribuição, a dinâmica e a energia da matéria que flui em torno do pulsar são afectadas pela comutação de modos“, conclui Sergio Campana, Director de Investigação do Observatório de Brera, INAF, e co-autor do estudo.

Informações adicionais

Este trabalho de investigação foi descrito num artigo científico publicado na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics (doi:10.1051/0004-6361/202346418).

eso2315pt — Nota de Imprensa Científica
30 de Agosto de 2023


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581: Asteróide mais valioso do universo vai ser estudado pela NASA

 

CIÊNCIA // 🔭 ASTRONOMIA // ☄️ ASTERÓIDES

Com 210 quilómetros de largura, o asteróide Psyche, situado entre Marte e Saturno, vale cerca de 10 mil quatriliões de dólares. É o corpo celeste com a maior reserva de metais preciosos do mundo.

Ilustração do asteróide Psyche © SIC Notícias

A agência espacial americana NASA prepara-se para lançar um satélite, em Outubro, para estudar o corpo celeste com a maior reserva de metais preciosos do mundo.

O asteróide Psyche, situado entre Marte e Saturno, com 210 quilómetros de largura, vale cerca de 10 mil quatriliões de dólares.

A NASA disponibilizou cerca de mil milhões de dólares para esta missão, estando o lançamento do satélite agendado para dia 5 de Outubro.

O satélite fará a longa viagem através de propulsão solar-eléctrica, um mecanismo que usa a energia recolhida por painéis solares ou um reactor nuclear para gerar impulso.

A sonda irá mapear e estudar Psyche usando um gerador de imagens multi-espectral, um espectrómetro de raios gama e neutrões, um magnetómetro e um instrumento de rádio.

A composição do asteróide

Estudando o espectro electromagnético do asteróide, concluiu-se que é composto quase exclusivamente por ferro e níquel.

Para além disso, a partir de uma análise da densidade conclui-se que a superfície é particularmente porosa, o que também sugere um processo eruptivo de lava metálica.

O seu tamanho volumoso, a composição metálica e a disponibilidade de materiais preciosos na superfície levaram a uma curiosidade continuada pelo estudo deste corpo celeste.

Descoberta do asteróide

O corpo celeste foi identificado pela primeira vez a 17 de Março de 1852 por Annibale de Gasparis, um astrólogo italiano e director do Observatório Astronómico Capodimonte, em Nápoles (Itália).

O astrólogo nomeou a sua descoberta em homenagem à ninfa Psique, uma figura da mitologia grega.

O asteróide, localizado a cerca de 370 milhões de quilómetros de distância do nosso planeta, encontra-se entre Marte e Júpiter, dentro do chamado “cinturão principal de asteróides”.

MSN Notícias

Imagem do Perfil SIC Notícias
30.08.2023


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580: A rara “super-lua azul” é a maior e mais brilhante de 2023. Pode apreciá-la esta quarta

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // SUPER-LUA AZUL

Preenche os céus esta quarta-feira a maior lua cheia do ano, conhecida como a “super-lua azul”. Se perder o fenómeno no nascer da lua, só terá outra oportunidade em 2026.

Wikimedia Commons
A super-lua azul, a mais próxima e mais brilhante do ano, estará visível ao nascer da lua desta quarta-feira

É já no próximo dia 30 (hoje), esta quarta-feira, que a maior e mais brilhante lua do ano invade os céus nocturnos. A “super-lua azul” — que por acaso não é azul — resulta de um “ménage à trois” de fenómenos lunares a acontecer em simultâneo.

As luas azuis ocorrem sensivelmente a cada dois ou três anos — a próxima está prevista para 31 de maio de 2026, segundo o timeanddate.

Pode assistir ao fenómeno esta quarta-feira, por volta das 20h15. Se quiser ser mais preciso, pode consultar aqui a hora exacta do nascer da lua na sua região.

A que se deve o nome “super-lua azul”?

Apresentando-se na verdade como cor de laranja, o seu primeiro nome deve-se não à sua cor, mas sim ao facto de ser a segunda lua cheia do mês de Agosto. Uma nova lua cheia chega a cada 29.5 dias. Uma vez que a Lua do Esturjão apareceu no primeiro dia de Agosto, esta terá o nome “azulado”.

Já o seu segundo nome deve-se à proximidade do satélite natural. Estamos perante uma super-lua quando a lua cheia está próxima do ponto mais próximo da Terra na sua órbita — todos os meses, atinge um ponto mais próximo (perigeu) e um mais longínquo (apogeu). As luas que se aproximam a 90%, ganham a alcunha de “super-luas”.

A próxima super-lua será a última de 2023. A Harvest Moon (traduzindo, Lua da Colheita) estará visível a 29 de Setembro.

ZAP //
29 Agosto, 2023

A minha Lua “azul” em 31/10/2020 – © Copyright inforgom.pt # Powered by F Gomes # 2020-2023 # All Rights Reserved


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579: Solar Orbiter descobre pequenos jactos que podem alimentar o vento solar

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // SOLAR ORBITER

A sonda espacial Solar Orbiter da ESA/NASA descobriu uma multiplicidade de pequenos jactos de material que escapam da atmosfera exterior do Sol. Cada jacto dura entre 20 e 100 segundos e expele plasma a cerca de 100 km/s. Estes jactos poderão ser a fonte, há muito procurada, do vento solar.

Este mosaico de imagens mostra uma multiplicidade de pequenos jactos de material que escapam da atmosfera exterior do Sol. As imagens são da nave espacial Solar Orbiter da ESA/NASA. Neste mosaico, aparecem como riscas escuras sobre a superfície solar. As imagens são “negativas”, o que significa que embora os jactos sejam apresentados como escuros, são flashes brilhantes contra a superfície solar. Cada jacto dura entre 20 e 100 segundos e expele partículas carregadas, conhecidas como plasma, a cerca de 100 km/s. Estes fenómenos podem ser a fonte, há muito procurada, do “vento solar”, o fluxo constante de partículas carregadas que vem do Sol e atravessa o Sistema Solar. Nesta colecção de imagens, o pólo sul do Sol está à esquerda.
Crédito: ESA e NASA/Solar Orbiter/Equipa EUI; reconhecimento – Lakshmi Pradeep Chitta, Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar

O vento solar é constituído por partículas carregadas, conhecidas como plasma, que escapam continuamente do Sol. Propaga-se para o exterior através do espaço interplanetário, colidindo com tudo o que se encontra no seu caminho. Quando o vento solar colide com o campo magnético da Terra, produz as auroras.

Embora o vento solar seja uma característica fundamental do Sol, a compreensão de como e onde é gerado perto do Sol tem-se revelado ilusória e tem sido um foco chave de estudo durante décadas. Agora, graças à sua instrumentação superior, a Solar Orbiter deu um importante passo em frente.

Os dados provêm do instrumento EUI (Extreme Ultraviolet Imager) da Solar Orbiter. As imagens do pólo sul do Sol, obtidas pelo EUI no dia 30 de Março de 2022, revelam uma população de características ténues e de curta duração que estão associadas a pequenos jactos de plasma ejectados da atmosfera do Sol.

“Só foi possível detectar estes pequenos jactos graças às imagens de alta resolução e alta cadência sem precedentes produzidas pelo EUI”, afirma Lakshmi Pradeep Chitta, do Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar, Alemanha, e principal autor do artigo que descreve este trabalho.

Em particular, as imagens foram obtidas no canal ultravioleta extremo do gerador de imagens de alta resolução do EUI, que observa plasma solar com milhões de graus a um comprimento de onda de 17,4 nanómetros.

De particular importância é o facto de a análise mostrar que estas características são provocadas pela expulsão de plasma da atmosfera solar.

Há décadas que os investigadores sabem que uma fracção significativa do vento solar está associada a estruturas magnéticas chamadas buracos coronais – regiões onde o campo magnético do Sol não se volta para o Sol. Em vez disso, o campo magnético estende-se até às profundezas do Sistema Solar.

O plasma pode fluir ao longo destas linhas “abertas” do campo magnético, dirigindo-se para o Sistema Solar, criando o vento solar. Mas a questão era: como é que o plasma é lançado?

O pressuposto tradicional era que, devido ao facto da coroa solar ser quente, se expandiria naturalmente e uma parte dela escaparia ao longo das linhas de campo.

Mas estes novos resultados analisam o buraco coronal situado no pólo sul do Sol e os jactos individuais revelados desafiam o pressuposto de que o vento solar é produzido apenas num fluxo contínuo e constante.

“Um dos resultados aqui é que, em grande medida, este fluxo não é realmente uniforme, a ubiquidade dos jactos sugere que o vento solar dos buracos coronais pode ter origem num fluxo altamente intermitente”, diz Andrei Zhukov, do Observatório Real da Bélgica, um colaborador do trabalho que liderou a campanha de observação da Solar Orbiter.

A energia associada a cada jacto individual é pequena. No extremo superior dos fenómenos coronais estão as erupções solares de classe X e no extremo inferior estão as chamadas nanoerupções. Há mil milhões de vezes mais energia numa erupção de classe X do que numa nanoerupção.

Os minúsculos jactos descobertos pela Solar Orbiter são ainda menos energéticos do que isso, manifestando cerca de mil vezes menos energia do que uma nanoerupção e canalizando a maior parte dessa energia para a expulsão do plasma.

A ubiquidade destes jactos, que as novas observações denotam, sugere que estão a expulsar uma fracção substancial do material que vemos no vento solar. E podem haver eventos ainda mais pequenos e mais frequentes que forneçam ainda mais.

“Penso que é um passo significativo para encontrar algo no disco que está certamente a contribuir para o vento solar”, diz David Berghmans, do Observatório Real da Bélgica e investigador principal do instrumento EUI.

Actualmente, a Solar Orbiter ainda está a orbitar o Sol perto do seu equador. Por isso, nestas observações, o EUI está a olhar para o pólo sul num ângulo rasante.

Impressão de artista da Solar Orbiter numa órbita interior à de Mercúrio.
Crédito: ESA/ATG medialab

“É mais difícil medir algumas das propriedades destes jactos minúsculos quando os vemos de lado, mas dentro de alguns anos vamos vê-los de uma perspectiva diferente da de qualquer outro telescópio ou observatório, o que, em conjunto, deverá ajudar muito”, diz Daniel Müller, cientista do projecto Solar Orbiter na ESA.

Isto porque, à medida que a missão prossegue, a nave espacial irá inclinar gradualmente a sua órbita em direcção às regiões polares.

Ao mesmo tempo, a actividade do Sol irá progredir ao longo do ciclo solar e os buracos coronais começarão a aparecer em muitas latitudes diferentes, fornecendo uma nova perspectiva única.

Todos os envolvidos estarão ansiosos por ver que novos conhecimentos podem recolher, porque este trabalho vai para além do nosso próprio Sistema Solar.

O Sol é a única estrela cuja atmosfera podemos observar com tanto pormenor, mas é provável que o mesmo processo funcione também noutras estrelas. Este facto transforma estas observações na descoberta de um processo astrofísico fundamental.

// ESA (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
29 de Agosto de 2023


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578: Misteriosa mancha escura de Neptuno detectada pela primeira vez a partir da Terra

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // NEPTUNO

Com o auxílio do VLT (Very Large Telescope) do ESO, os astrónomos observaram uma enorme mancha escura na atmosfera de Neptuno com um inesperado ponto brilhante adjacente mais pequeno.

Trata-se da primeira vez que uma mancha escura neste planeta é observada com um telescópio a partir da Terra. Estas estruturas ocasionais no fundo azul da atmosfera de Neptuno são um mistério para os astrónomos e estes novos resultados dão-nos pistas adicionais sobre a sua natureza e origem.

Esta imagem mostra Neptuno observado com o instrumento MUSE, montado no VLT (Very Large Telescope) do ESO. Para cada pixel de Neptuno, o MUSE separa a luz nas suas cores, ou comprimentos de onda, constituintes. Este processo é semelhante a obter imagens de milhares de comprimentos de onda todos ao mesmo tempo, o que fornece aos astrónomos uma enorme quantidade de informação preciosa.
A imagem da direita combina todas as cores capturadas pelo MUSE numa vista “normal” de Neptuno, onde podemos ver a mancha escura em cima à direita. Seguidamente vemos imagens para comprimentos de onda específicos: 551 nanómetros (azul), 831 nm (verde) e 848 nm (vermelho); note que as cores são indicativas, apenas para efeitos de apresentação.
A mancha escura torna-se mais proeminente para comprimentos de onda mais pequenos (mais azuis). Mesmo ao lado desta mancha escura, o MUSE capturou também uma pequena mancha brilhante, que podemos ver apenas na imagem do meio de 831 nm e que se situa em profundidade na atmosfera. Este tipo de nuvem brilhante profunda nunca tinha sido identificada no planeta anteriormente. As imagens mostram também, nos maiores comprimentos de onda, várias manchas brilhantes menos profundas, em direcção à periferia de Neptuno, em baixo à esquerda.
A obtenção de imagens da mancha escura de Neptuno a partir do solo, foi apenas possível graças à Infrastrutura de óptica adaptativa do VLT, a qual corrige a turbulência na atmosfera terrestre e permite ao MUSE obter imagens muito nítidas. Para destacar melhor as ténues estruturas escuras e brilhantes do planeta, os astrónomos trataram cuidadosamente os dados MUSE, obtendo o que aqui vemos.
Crédito: ESO/P. Irwin et al.

As manchas grandes são estruturas comuns nas atmosferas dos planetas gigantes, sendo a mais famosa a Grande Mancha Vermelha de Júpiter. Em 1989, a sonda Voyager 2 da NASA descobriu pela primeira vez uma mancha escura em Neptuno, a qual desapareceu alguns anos mais tarde.

“Desde a primeira descoberta de uma mancha escura que tive curiosidade em saber o que seriam estas estruturas escuras elusivas de curta duração,” diz Patrick Irwin, professor na Universidade de Oxford e investigador principal do estudo publicado na revista Nature Astronomy.

Irwin e a sua equipa utilizaram dados do VLT do ESO para excluir a possibilidade das manchas escuras serem causadas por uma “abertura” nas nuvens.

Em vez disso, as novas observações indicam que as manchas escuras são provavelmente devidas ao escurecimento de partículas de ar numa camada abaixo da camada principal de neblina visível, à medida que os gelos e as neblinas se misturam na atmosfera de Neptuno.

Chegar a esta conclusão não foi tarefa fácil, já que as manchas escuras não são estruturas permanentes da atmosfera de Neptuno e os astrónomos nunca tinham conseguido estudá-las com detalhe suficiente.

A oportunidade surgiu depois do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA ter descoberto várias manchas escuras na atmosfera de Neptuno, incluindo uma no hemisfério norte do planeta, observada pela primeira vez em 2018.

Irwin e a sua equipa aproveitaram esta oportunidade para a estudar a partir do solo, fazendo uso de um instrumento ideal para estas difíceis observações.

Esta imagem mostra Neptuno observado pelo instrumento MUSE montado no VLT do ESO. Para cada pixel de Neptuno, o MUSE separa a luz nas suas cores, ou comprimentos de onda, constituintes. Este processo é semelhante a obter imagens de milhares de comprimentos de onda todos ao mesmo tempo, o que fornece aos astrónomos uma enorme quantidade de informação preciosa. Esta imagem combina todas as cores capturadas pelo MUSE numa vista “normal” de Neptuno, onde podemos ver a mancha escura em cima à direita.
Crédito: ESO/P. Irwin et al.

Com o auxílio do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) montado no VLT, os investigadores conseguiram separar a luz solar reflectida por Neptuno e pela sua mancha nas cores, ou comprimentos de onda, que a compõem, e obter assim um espectro tridimensional, o que significa que conseguiram estudar a mancha com mais pormenor do que o que era possível até à data.

“Estou bastante contente por termos sido capazes de obter não só a primeira detecção de uma mancha escura a partir do solo, mas também de registar pela primeira vez o espectro de reflexão de uma tal estrutura”, diz Irwin.

Uma vez que diferentes comprimentos de onda sondam diferentes profundidades na atmosfera de Neptuno, a obtenção de um espectro permitiu aos astrónomos determinar melhor a altitude a que se encontra a mancha escura na atmosfera do planeta.

O espectro forneceu também informações sobre a composição química das diferentes camadas da atmosfera, o que deu à equipa pistas sobre a razão pela qual a mancha nos aparece escura.

Estas observações levaram também a um resultado surpreendente. “Neste processo, descobrimos um tipo raro de nuvem brilhante e profunda que nunca tinha sido identificado anteriormente, mesmo a partir do espaço,” diz o co-autor do estudo, Michael Wong, investigador na Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA.

Este tipo raro de nuvem mostrou-se-nos como uma mancha brilhante mesmo ao lado da mancha escura principal. Os dados do VLT mostram que a nova “nuvem brilhante profunda” se encontra na atmosfera ao mesmo nível que a mancha escura principal.

Isto significa que se trata de um tipo de estrutura completamente nova sem relação com as pequenas nuvens “companheiras” de gelo de metano observadas anteriormente a grande altitude.

Com a ajuda do VLT do ESO, os astrónomos podem agora estudar estruturas como estas manchas a partir da Terra. “Este é um aumento espantoso da capacidade da humanidade para observar o cosmos.

No início, só conseguíamos detectar estas manchas com o auxílio de sondas espaciais enviadas para o local, como a Voyager.

Depois, conseguimos distingui-las à distância com o Telescópio Espacial Hubble. Agora, a tecnologia avançou para permitir fazer o mesmo a partir do solo”, conclui Wong, antes de acrescentar, na brincadeira: “Como observador Hubble, isto pode levar-me ao desemprego!”

// ESO (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
29 de Agosto de 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 3 semanas ago

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577: Discos de acreção: quão grandes são, realmente?

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // DISCOS DE ACREÇÃO

Recorrendo ao telescópio Gemini North, uma metade do Observatório Internacional Gemini, operado pelo NOIRLab da NSF, os astrónomos detectaram pela primeira vez evidências da presença de um disco de acreção no núcleo galáctico activo da galáxia III Zw 002.

Utilizando duas linhas de emissão raras e peculiares no infravermelho próximo, estas observações colocam limites firmes na dimensão do disco de acreção da galáxia e lançam nova luz sobre a sua geometria e comportamento.

Os buracos negros super-massivos encontram-se no centro das galáxias, devorando o gás e a poeira que são puxados para o seu forte campo gravitacional. Estão rodeados por um disco de acreção de material quente e rodopiante.
Crédito: NOIRLab/AURA/NSF/P. Marenfeld

Nada evoca uma perspectiva espiral existencial como olhar para a imagem de uma galáxia. À primeira vista, estas estruturas sublimes podem parecer bastante serenas.

Mas, na verdade, o centro de muitas galáxias é um ambiente turbulento que contém um buraco negro super-massivo que se alimenta activamente.

A orbitar estes objectos incompreensivelmente densos estão discos de acreção rodopiantes de gás e poeira, que alimentam o buraco negro e emitem quantidades imensas de energia ao longo de todo o espectro electromagnético – desde raios gama e raios X altamente energéticos, passando pela luz visível, até às ondas infravermelhas e de rádio.

O estudo dos discos de acreção pode melhorar a compreensão dos astrónomos sobre os buracos negros e a evolução das galáxias que os hospedam.

A maior parte dos discos de acreção, no entanto, são impossíveis de observar directamente devido às suas distâncias extremas e tamanhos relativamente pequenos.

Em vez disso, os astrónomos utilizam os espectros da luz emitida no interior do disco para caracterizar o seu tamanho e comportamento. Usando esta abordagem, os astrónomos que usam o telescópio Gemini North, uma metade do Observatório Internacional Gemini, operado pelo NOIRLab da NSF, fizeram a primeira detecção de sempre de duas linhas de emissão, no infravermelho próximo, no disco de acreção da galáxia III Zw 002, colocando um novo limite no tamanho destas magníficas estruturas.

Para compreender estas observações, comecemos por discutir o que são linhas de emissão e o que nos dizem sobre as regiões em torno de buracos negros super-massivos.

As linhas de emissão resultam quando um átomo num estado excitado cai para um nível de energia mais baixo, libertando luz no processo. Uma vez que cada átomo tem um conjunto único de níveis de energia, a luz emitida tem um comprimento de onda discreto que actua como uma impressão digital que identifica a sua origem. As linhas de emissão aparecem normalmente nos espectros como picos finos e nítidos.

Mas no vórtice rodopiante de um disco de acreção, onde o gás excitado está sob a influência gravitacional do buraco negro super-massivo e se move a velocidades de milhares de quilómetros por segundo, as linhas de emissão alargam-se em picos mais rasos. A região do disco de acreção onde estas linhas têm origem é designada por região de linhas largas.

Como já foi referido, é extremamente difícil obter imagens diretas dos discos de acreção, tendo apenas sido obtidas imagens de duas fontes graças à capacidade de alta resolução angular do EHT (Event Horizon Telescope).

Assim, se não houver acesso a uma rede global de radiotelescópios, como é que os astrónomos sabem quando um buraco negro super-massivo tem um disco à sua volta? Acontece que a evidência de um disco de acreção pode ser encontrada num padrão específico de linhas de emissão largas chamado perfil de pico duplo.

Dado que o disco está a girar, o gás de um lado está a afastar-se do observador, enquanto o gás do outro lado está a mover-se na direcção do observador.

Estes movimentos relativos esticam e comprimem as linhas de emissão para comprimentos de onda mais longos e mais curtos, respectivamente. O resultado é uma linha alargada com dois picos distintos, cada um originário de cada lado do disco em rápida rotação.

Uma impressão artística de um buraco negro super-massivo com um disco de acreção em órbita. As anotações mostram um perfil hipotético de pico duplo com setas indicando onde, na região de linhas largas, cada pico tem origem.
Crédito: NOIRLab/NSF/AURA/P. Marenfeld

Estes perfis de pico duplo são um fenómeno raro, uma vez que a sua ocorrência está limitada a fontes que podem ser observadas quase de face.

Nas poucas fontes em que foi observado, o pico duplo foi encontrado nas linhas H-alfa e H-beta – duas linhas de emissão de átomos de hidrogénio que aparecem na gama de comprimentos de onda do visível.

Com origem na zona interior da região de linhas largas perto do buraco negro super-massivo, estas linhas não fornecem qualquer evidência sobre a dimensão do disco de acreção na sua totalidade. Mas observações recentes no infravermelho próximo revelaram uma zona da região exterior de linhas largas que nunca tinha sido vista antes.

Denimara Dias dos Santos, aluna de doutoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais no Brasil e autora principal do artigo, em colaboração com Alberto Rodriguez-Ardila, Swayamtrupta Panda e Murilo Marinello, investigadores do Laboratório Nacional de Astrofísica no Brasil, fez a primeira detecção inequívoca de dois perfis duplos no infravermelho próximo na região de linhas largas de III Zw 002.

A linha Paschen-alfa (hidrogénio) tem origem na zona interior da região de linhas largas e a linha O I (oxigénio neutro) tem origem na periferia da região de linhas largas, uma região que nunca tinha sido observada antes.

Estes são os primeiros perfis de duplo pico a serem encontrados no infravermelho próximo e surgiram inesperadamente durante as observações com o GNIRS (Gemini Near-Infrared Spectrograph).

Observações de 2003 de III Zw 002, no visível, revelaram evidências de um disco de acreção e um estudo de 2012 encontrou resultados semelhantes.

Em 2021, Rodriguez-Ardila e a sua equipa propuseram-se complementar estas descobertas com observações no infravermelho próximo utilizando o GNIRS, que é capaz de observar todo o espectro do infravermelho próximo (800-2500 nanómetros) de uma só vez.

Outros instrumentos exigem que o utilizador alterne entre vários filtros para cobrir a mesma gama, o que pode ser moroso e pode introduzir incertezas, uma vez que as condições atmosféricas e as calibrações mudam entre as observações.

Tendo em conta que o GNIRS é capaz de fazer observações simultâneas em várias bandas de luz, a equipa conseguiu captar um único espectro limpo e consistentemente calibrado, no qual foram revelados vários perfis de pico duplo.

“Não sabíamos anteriormente que III Zw 002 tinha este perfil de pico duplo, mas quando reduzimos os dados vimos o pico duplo muito claramente,” disse Rodriguez-Ardila. “De facto, reduzimos os dados muitas vezes pensando que podia ser um erro, mas de todas as vezes vimos o mesmo resultado excitante.”

Linhas de emissão de Paschen-alfa e O I com os perfis de pico duplo claramente visíveis. Note-se a diferença de forma, em que a Paschen-alfa tem um pico central acentuado e O I não. Esta diferença resulta do facto de as linhas terem origem em raios diferentes dentro da região de linhas largas.
Crédito: Dias Dos Santos et al.

Estas observações não só confirmam a presença teorizada de um disco de acreção, como também fazem avançar a compreensão dos astrónomos sobre a região de linhas largas.

“Pela primeira vez, a detecção de tais perfis de picos duplos coloca restrições firmes sobre a geometria de uma região que de outra forma não é possível resolver,” disse Rodriguez-Ardila. “E agora temos evidências claras do processo de alimentação e da estrutura interna de uma galáxia activa.”

Comparando estas observações com os modelos existentes de disco, a equipa conseguiu extrair parâmetros que fornecem uma imagem mais clara do buraco negro super-massivo de III Zw 002 e da região de linhas largas.

O modelo indica que a linha Paschen-alfa tem origem num raio de 16,77 dias-luz (a distância que a luz percorre num dia terrestre, medida a partir do buraco negro super-massivo), e a linha O I tem origem num raio de 18,86 dias-luz. Também prevê que o raio exterior da região de linhas largas é de 52,43 dias-luz.

O modelo também indica que a região de linhas largas de III Zw 002 tem um ângulo de inclinação de 18 graus em relação aos observadores na Terra e que o buraco negro super-massivo no seu centro tem 400-900 milhões de vezes a massa do nosso Sol.

“Esta descoberta dá-nos informações valiosas sobre a estrutura e o comportamento da região de linhas largas nesta galáxia em particular, lançando luz sobre os fenómenos fascinantes que ocorrem em torno de buracos negros super-massivos em galáxias activas,” disse Rodriguez-Ardila.

Na sequência desta descoberta, Dias dos Santos, Rodriguez-Ardila, Panda e Marinello estão agora a monitorizar III Zw 002, uma vez que se espera que o seu disco de acreção siga um padrão de precessão em torno do buraco negro super-massivo.

Querem ver como os perfis das linhas mudam com o tempo, uma vez que a precessão causa diferentes intensidades nos picos azul e vermelho.

Até agora, o modelo mantém-se consistente com as observações. Estes resultados também abrem a possibilidade de usar a detecção no infravermelho próximo para estudar outros NGAs.

// NOIRLab Stories (blog)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
29 de Agosto de 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 3 semanas ago

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