🇳🇮 卐 NICARÁGUA // 🇷🇺☠️卐 MOSCÓVIA // DITADURAS
Num encontro em Madrid organizado pela Friedrich Naumann Foundation, o DN falou com o opositor que garantiu: Daniel Ortega “não é um problema só dos nicaraguenses”.

Madariaga sente-se privilegiado por se ter reencontrado com a mulher e a filha, que tinham saído antes do país.
© ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP
Depois de 611 dias na prisão, Félix Madariaga quer fazer ouvir a sua voz. E tem muitas coisas para dizer do seu país, a Nicarágua, e sobre a situação que nele se vive por causa da ditadura de Daniel Ortega e da sua mulher, Rosário Murillo.
Félix é uma das suas vítimas. O politólogo, político e ex-candidato presidencial foi detido antes das eleições de 2021 e ficou encarcerado em El Chipote, uma das piores prisões do mundo.
“O regime de Ortega desenvolveu métodos sofisticados de tortura que não deixam cicatrizes físicas”, começa por explicar Madariaga num encontro privado em Madrid organizado pela Friedrich Naumann Foundation para o qual o DN foi convidado. “Na cela não há barras, estás totalmente fechado entre paredes. Não é permitido falar.
Também não te dão água, só podes beber se a tua família te levar a dose diária permitida. Uma das pessoas saiu da prisão sem se lembrar do nome dos filhos”, lamenta. Desde 2018 foram presos mais de 2000 opositores de Ortega e ainda estão na cadeia 64.
“Estamos a ver um radicalismo do regime, entre os presos estão quatro sacerdotes e o bispo Rolando Álvarez foi condenado a 26 anos”, lembra Madariaga. No passado 9 de Fevereiro ele e outros 221 presos foram desterrados e despojados da nacionalidade nicaraguense.
Madariaga aproveitou a passada cimeira UE-CELAC para pôr na agenda dos políticos o tema da Nicarágua. E lança uma mensagem muito clara ao mundo: “Aceitaram-se coisas na Nicarágua inaceitáveis noutros países. Ortega faz e diz coisas e não há consequências. Toleraram-lhe coisas que a outros ditadores não”.
E deixa uma advertência: “Daniel Ortega não é só um problema da Nicarágua. Falou com a Rússia para pôr uma base militar, quer ter armas nucleares”, sublinha. “A Nicarágua actua como uma colónia da Rússia, há uma alienação extrema, está a ser um apêndice de Putin”, acrescenta.
O que pode fazer a comunidade internacional para travar Ortega? “Que existam menos canais de financiamento e mais sanções.
Pedimos que os países sejam mais disciplinados para confirmar que os fundos internacionais que enviam para a Nicarágua para situações de emergência são usados para esse fim e não para o financiamento interno”.
“Aceitaram-se coisas na Nicarágua inaceitáveis noutros países”. Lembra que Daniel Ortega criou uma dinastia, deu aos seus filhos cargos de ministros e a mulher, além de vice-presidente, está à frente do aparelho político.
Então, como acabar com esta dinastia? “Confio que Daniel Ortega seja vítima dos seus próprios erros. Um deles é ir agora contra a comunidade católica porque a Nicarágua é um país maioritariamente católico. Também começou a ir contra a igreja evangélica”, explica o opositor.
“O próximo erro é querer impor ao exército e à polícia a autoridade dos seus filhos”, sublinha, sem esquecer que “também não há uma boa aceitação da sua mulher”. Na sua opinião, o presidente nicaraguense “sonha ser levado a sério pelo mundo e ser o grande líder anti-americano”.
Félix Madariaga faz parte do grupo Monteverde, o processo que nasceu em 2021 para juntar as posições antagónicas da oposição à procura da unidade que permita derrotar a ditadura Ortega-Murillo.
“Estamos a fazer oposição desde fora do nosso país e não é fácil. Não é uma oposição perfeita nem iluminada, mas quando dizes a um nicaraguense sem esperança que não há oposição, estás a dar mais força a Ortega”, explica o politólogo.
Durante muito tempo a oposição na Nicarágua esteve muito dividida e agora esta plataforma conta com um plano de acção que “tem como um dos seus pilares a pressão internacional”. Madariaga sente que a estratégia europeia perante a situação do seu país é “ser o polícia bom”.
Reconhece que no mundo da diplomacia “é necessário este jogo embora não possa ser indefinido”. Se a Nicarágua ficar isolada do ponto de vista internacional “nós na oposição teríamos mais capacidade de acção”.
Madariaga sente-se um privilegiado pelo facto de se ter reencontrado com a mulher e a filha, que tinham saído antes do país. Mas muitos dos seus compatriotas não tiveram a mesma sorte e não podem tirar os seus filhos menores dali uma vez que lhes retiraram a nacionalidade e desta forma não podem autorizar a sua saída.
DN
Belén Rodrigo, Madrid
29 Julho 2023 — 00:09
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published in: 2 meses ago