F-16 portugueses na Lituânia. “Não estamos aqui com objectivos ofensivos”

 

🇵🇹✈️FORÇA AÉREA PORTUGUESA // 🇺🇳 NATO // BÁLTICO // 🇱🇹 LITUÂNIA

Caças portugueses estão empenhados desde Abril em missões de vigilância no Báltico, no quadro da NATO. O DN esteve na base de Šiauliai, a poucas dezenas de quilómetros do enclave russo de Kaliningrado, e conversou com o comandante da força nacional.

Portugal tem quatro F-16 empenhados nesta missão de vigilância no Báltico.
© NATO

Com o início da guerra na Ucrânia, em Fevereiro de 2022, praticamente duplicou número de intercepções de aviões russos junto ao espaço aéreo dos países da NATO.

Desde Abril deste ano, os caças F-16 Força Aérea Portuguesa já foram accionados em 15 missões reais, na Lituânia, interceptando 46 aeronaves russas durante as missões de vigilância no Báltico no quadro da Aliança Atlântica.

“Tudo o que fazemos aqui não deixa de ser muito semelhante àquilo que fazemos em Portugal, 24 horas por dia, todos os dias do ano”, relata o Comandante da força nacional destacada no Báltico, Major piloto-aviador da Força Aérea Portuguesa que prefere usar nesta conversa o nome de código Viriato.

O encontro com o DN acontece na base lituana de Šiauliai, situada a poucas dezenas de quilómetros do enclave russo de Kaliningrado. É deste território que sai “um grande movimento de aeronaves”, para o território da Rússia.

“Muitas dessas aeronaves não cumprem os critérios bem definidos pela NATO e são interceptadas”, relata o comandante, dando exemplos de situações que “podem chegar a pôr em causa a aviação civil”.

O Major piloto-aviador da Força Aérea Portuguesa que comanda o destacamento nacional prefere usar o nome de código ‘Viriato’.

Neste caso, tratam-se de “aeronaves que não vêm identificadas, que não estabelecem comunicação com o controlo civil ou que não têm um plano de voo”. Ou seja, “o seu destino não é conhecido”, conta o comandante, especificando que várias vezes essas aeronaves russas cumprem mesmo objectivos militares.

“Estamos a falar de missões de recolha de intelligence, de aeronaves com sistemas electrónicos para recolha de informações militares ou de aviões de combate”, detalhou.

O comandante faz questão de dizer que a missão a partir da base na Lituânia decorre exactamente “nos mesmos moldes” de outras realizadas a partir da “base aérea n.º 5 de Monte Real”, no concelho de Leiria, onde se encontra “a Força de Reacção – Quick Reaction Alert -, com dois aviões e uma equipa de manutenção, 24 horas por dia, a garantir a prontidão dos aviões, para a defesa do espaço aéreo português”.

“O número de intercepções [de aviões], que praticamente duplicou desde a invasão russa da Ucrânia”

“Aqui, na Lituânia, fazemos este serviço para os aliados da NATO”, afirma, procurando fazer um paralelismo com o que fazem “em casa”, em Portugal, com “profissionalismo máximo, de acordo com as regras, com o maior rigor, para evitar qualquer má interpretação das outras forças”.

A verdade é que os dados estatísticos são claros, relativamente ao número de intercepções, que praticamente duplicou desde a invasão russa da Ucrânia.

O comandante do Centro Combinado de Operações Aéreas (em Uedem, Alemanha), Harold Van Pee, encarregado de coordenar a vigilância da metade norte da Europa, afirma que as intercepções de aviões militares russos estão na ordem das “três, quatro, cinco por semana”.

“Há semanas que são mais ocupadas do que outras. Por vezes, raramente temos um scramble alfa [alerta real]. Outras vezes, temos uns dez ou 15 na mesma semana”, quantifica este Major General da Força Aérea Belga, numa conversa com o DN, a bordo de um avião Airbus A330 versão militar da NATO, transformado para o abastecimento de combustível, em pleno voo ao lado dos aviões dos aliados responsáveis pelo policiamento aéreo na Europa.

“A missão de policiamento aéreo, em tempo de paz, não é a mais complicada que se pode fazer com um jacto de combate”, admite o comandante do Centro Combinado de Operações Aéreas, afirmando tratar-se de uma intervenção “bastante padronizada, que permite usar activos de um país sobre [o espaço aéreo de] outros países, para fazer o policiamento da NATO”.

“Tentamos fazer o melhor uso possível de todas as forças aéreas nacionais. Se tivermos um tráfego aéreo não identificado ou não autorizado a voar para a Europa, por vezes demora uns dez minutos até chegar ao país seguinte e, em geral, nunca mais de 30 a 45 minutos até terminar num novo país”, detalha Harold Van Pee, convicto de que a coordenação centralizada através dos meios da NATO garante “patrulhas mais eficientes”.

Após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, a NATO reforçou o policiamento aéreo nas fronteiras orientais.

“Os jactos de combate que estão sob controlo da NATO têm autorização para cruzar as fronteiras aéreas dos vários países aliados, sem qualquer problema.

Não seria sensato ter cada um deles a fazer o policiamento, por conta própria, apenas sobre o seu território, pois teriam constantemente de estar a transferir a responsabilidade da missão”, explica.

Após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, a NATO reforçou o policiamento aéreo nas fronteiras orientais e mantém uma missão de policiamento no Mar Adriático.

Desde 2006, após o fim da missão americana, a Islândia conta com destacamentos periódicos dos Aliados para a protecção do seu espaço aéreo. Os países do Benelux (Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos), desde 2017, defendem conjuntamente o seu espaço aéreo numa base rotativa.

Assegurar que todas as aeronaves estão “ao serviço 24 horas por dia, 365 dias por ano”, exige por vezes abastecimentos aéreos, assegurando pelo A330 fornecido por um consórcio multinacional que integra Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega e República Checa.

“As missões de treino de reabastecimento ar-ar são as mais frequentes. Quase todos os dias, os aviões das nossas unidades fazem missões de treino de reabastecimento ar-ar pela Europa, especialmente Alemanha, Holanda, Bélgica, mais ou menos as áreas em que estamos a voar hoje”, afirma, ao DN, o Comandante da Frota Multinacional de Transporte e Reabastecimento, Patrick Mollet, Brigadeiro-General do Comando Europeu de Transporte Aéreo, durante o voo até Šiauliai.

Apesar do reforço de meios, nos últimos sete anos “a missão de policiamento aéreo é exactamente a mesma de há décadas”, descreve Harold Van Pee, admitindo que “por muito que surpreenda as missões são planeadas como em tempo de paz”, até porque, sublinha, “a NATO não está em guerra”.

Na base de Šiauliai, o Comandante da força portuguesa destacada no Báltico afirma que os pilotos portugueses “estão empenhados na defesa colectiva”, segundo “procedimentos padronizados, de acordo com standards muito homogéneos”, que fazem com que a NATO “consiga estar pronta a reagir a qualquer solicitação”.

“Não estamos aqui com objectivos ofensivos, estamos a fazer uma missão de defesa aérea, protecção do espaço aéreo nacional de forças aliadas que não têm essa capacidade”, como é o caso dos países do Báltico.

“Quando há uma intersecção, por norma, tentamos tirar elementos identificativos das aeronaves que estamos a identificar. Os números de cauda, armamento a bordo, [e] o número de pessoas.

E, lá está, algum comportamento menos normal”, afirma o comandante português, embora admita que, geralmente, “há grande cordialidade no ar” entre pilotos, mesmo nos casos em que há contacto visual.

“Por norma, não verificamos nenhum comportamento diferente”, apesar de serem “aeronaves diferentes e de a formação dos pilotos ser diferente”, mas [quando] “há contactos visuais dizemos um pequeno olá, não passa muito disso”, afirma o Major Viriato ao DN, admitindo “estar consciente” do momento delicado em relação à Rússia.

Mais dados

– O destacamento militar é composto por quatro caças F-16 e 82 militares. Assumiram o comando da missão em abri. Serão rendidos em Julho por militares Italianos.

– Nas seis missões no Báltico, desde 2007, é a quinta vez que a Força Aérea Portuguesa assume o papel de liderança das forças destacadas. Além das quatro aeronaves portuguesas, na base lituana de Šiauliai estão outros quatro caças F-16 da Força Aérea Romena.

– O Policiamento Aéreo da NATO foi instituído em 1961, durante a Guerra Fria, como uma parte do Sistema Integrado de Defesa Aérea e Antimíssil.

Trata-se de um serviço estruturado com as aeronaves dos países Aliados, sob coordenação directa do Supremo Comando da Aliança Atlântica. Actualmente desempenha cinco missões regionais de policiamento aéreo.

dnot@dn.pt

DN
João Francisco Guerreiro, em Šiauliai
10 Julho 2023 — 00:12



Web-designer, Investigator, Astronomer
and Digital Content Creator


published in: 2 meses ago