🇫🇷 FRANÇA // MACRON // MOTINS
Centenas estiveram no funeral de Nahel, o condutor de 17 anos morto pela polícia durante um controlo de trânsito. Na noite de sexta para sábado foram detidas mais 1300 pessoas. No sábado à noite havia confusão em Marselha e em Paris.

Um camião queimado num bairro nos arredores de Marselha. Segurança ia ser reforçada ontem nesta cidade e em Lyon.
Foto CLEMENT MAHOUDEAU / AFP

Polícias numa manifestação contra a polícia em Marselha.
Foto CLEMENT MAHOUDEAU / AFP)
Os familiares e amigos de Nahel, o jovem de 17 anos morto pela polícia num controlo de trânsito, assistiram este sábado ao funeral privado em Nanterre, mas centenas de pessoas prestaram a sua homenagem e pediram “justiça” junto à mesquita onde decorreram as cerimónias fúnebres.
Os funcionários advertiram os presentes – incluindo os jornalistas – contra a captura de imagens. Após a quarta noite de motins, apesar dos 45 mil polícias nas ruas, o presidente francês, Emmanuel Macron, adiou a visita de Estado que tinha previsto fazer a partir deste domingo à Alemanha.
“Tendo em conta a situação interna, o presidente da República disse que desejava continuar em França nos próximos dias”, indicou o Palácio do Eliseu, confirmando o adiar da visita de Estado de Macron à Alemanha. A visita devia prolongar-se até terça-feira, não tendo sido ainda estabelecida uma nova data.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, com quem Macron falou este sábado ao telefone, disse lamentar o cancelamento da viagem, mas compreender perfeitamente a situação.
Segundo um comunicado de Berlim, Steinmeier “segue com grande atenção” o caso e “espera que a violência nas ruas acabe rapidamente e que a paz social possa ser restabelecida”.
Não é a primeira vez que a tensão social nas ruas obriga o Eliseu a alterar os planos de reforço das relações com países aliados.
No final de Março, os protestos desencadeados pela alteração à lei das reformas em França levaram o rei Carlos III do Reino Unido a cancelar aquela que seria a sua primeira viagem ao estrangeiro enquanto monarca, ainda antes da coroação.
O rei acabou por ir só à Alemanha, que inicialmente seria o seu segundo destino. A visita a França estará a ser planeada para Setembro.
Na quarta noite de motins, após a morte de Nahel na terça-feira, 1311 pessoas foram detidas – o ministério do Interior diz que 30% dos detidos são menores, os mais novos com 13 anos – e 79 polícias ficaram feridos.
Houve ainda 1.350 veículos incendiados ou danificados, tal como 234 edifícios, e registo de 2.560 incêndios na via pública. Para a noite de sábado foram destacados mais 45 mil polícias, com reforço da segurança em Marselha e Lyon.
Em Marselha confirmava-se no sábado à noite novas cenas de violência, com incidentes contidos, tal como em Paris, onde a polícia tentava afastar os manifestantes da zona dos Campos Elísios.
O ministro da Economia, Bruno Le Maire, diz que é cedo para estimar o valor dos danos, salientando apenas que são “elevados”.
O ministro apelou às seguradoras para que processem rapidamente as indemnizações, anunciando que estão a ser planeadas outras medidas de apoio às empresas afectadas.
Angariados 250 mil euros
Nahel, de 17 anos, foi atingido a tiro por um polícia de 38, identificado apenas como Florian M., depois de alegadamente ter recusado parar num controlo de trânsito.
O agente alegou que a sua vida estava em risco, um cenário que o vídeo do momento parece contradizer. De tal forma que os procuradores franceses decidiram acusá-lo de homicídio voluntário, mantendo-o em prisão preventiva.
Nahel seguia no carro com dois amigos, tendo um deles (que estava no lugar do passageiro) fugido. Deu o seu testemunho ao jornal Le Parisien, tendo previsto falar com as autoridades na segunda-feira.
Segundo o seu relato, Nahel baixou a janela quando os polícias pediram, tendo sido atingido por duas coronhadas no rosto sem justificação. Ele terá ficado abalado.
O agente disse para ele desligar o motor ou disparava, tendo Nahel procurado defender-se para não ser atingido com nova coronhada e levantado o pé do travão.
Segundo esta testemunha, o carro era automático e avançou, com o polícia junto à janela a dizer ao colega para disparar. O pé de Nahel terá então ficado preso no acelerador, com o carro a embater mais à frente sem que ele tivesse reagido.
O passageiro diz que fugiu por ter medo que pudessem disparar contra ele também e, segundo a mãe, estará ainda em choque.
Os sindicatos da polícia criticam que o julgamento do agente esteja a ser feito na praça pública, denunciando interferência do governo.
Uma angariação de fundos no site Go Fund Me de “apoio à família do polícia de Nanterre (…) que fez o seu trabalho e paga actualmente um preço elevado” reuniu, em menos de dois dias, 250 mil euros.
A recolha de fundos foi lançada por Jean Messiha, antigo apoiante de Éric Zemmour (líder do Reconquista, partido de extrema-direita).
susana.f.salvador@dn.pt
D.N.
Susana Salvador
01 Julho 2023 — 20:51


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published in: 3 meses ago