– O grande problema é que o Ocidente tem cagunfa (medo) dos russonazis e do seu czar psicopata nazi nacional-imperialista e dos seus fantoches amestrados…
🇺🇦🔱UCRÂNIA // ANÁLISE // 🇨🇦 MICHAEL BOCIURKIW
O analista de política internacional Michael Bociurkiw adverte que a população da Ucrânia está cansada de palavras de condenação do Ocidente e pede mais apoio dos aliados para enfrentar a invasão russa.

© Getty Images
O comentador de assuntos internacionais em vários órgãos como a CNN ou a BBC, e parceiro do Eurasia Centre do Atlantic Council, está há vários meses estabelecido em Odessa, no sul da Ucrânia, onde testemunhou os bombardeamentos intensivos da Rússia às cidades portuárias desde que Moscovo abandonou o acordo de exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, atingindo alvos civis como silos de alimentos, comércio, residências ou edifícios classificados nesta cidade Património da Humanidade.
“Os ucranianos estão cansados das palavras ocidentais de condenação, seja da UNESCO ou da UNICEF, da NATO ou da OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa], não faz diferença nem tem impacto no Kremlin.
O que é preciso é acção”, declarou em entrevista à Lusa, ao fim de quase um ano e meio desde a invasão russa da Ucrânia, iniciada e 24 de Fevereiro de 2022.
Odessa, uma icónica cidade portuária no sudoeste da Ucrânia, era um dos objectivos russos desde aquela madrugada do ano passado, mas as tropas de Moscovo foram travadas a cerca de cem quilómetros a leste, nas imediações de Mykolaiv, e depois repelidas na direcção de Kherson, que caiu em Dezembro e é actualmente um dos pontos de partida da contra-ofensiva ucraniana em curso.
A cidade tem vivido alguma normalidade ao longo da guerra, interrompida apenas pelo toque de sirenes de alarmes da antiaérea ou ataques ocasionais a partir da frota russa do Mar Negro, mas tudo mudou com o abandono do acordo da Iniciativa dos Cereais, em Julho, contabilizando, segundo o Presidente ucraniano, pelo menos sete bombardeamentos em massa desde então, com pesados danos provocados pelos mísseis e ‘drones’ russos, muitos dos quais interceptados mas outros que escaparam aos sistemas de defesa.
E é por elas que clamam os ucranianos, no testemunho de Michael Bociurkiw, canadiano de ascendência ucraniana que tem dificuldade em entender as demoras no fornecimento de ajuda militar dos aliados, com impacto na velocidade da contra-ofensiva, mas também da segurança da população.
“O que é necessário são sistemas de defesa para fechar os céus ucranianos face aos mísseis e ‘drones’ russos e dar capacidade [às forças de Kiev] de atacar os seus alvos dentro da Rússia e fornecer liberdade de navegação através do Mar Negro, o que colocará a Rússia no seu canto, e, claro, mais sanções ocidentais, que não acertaram ainda tanto quanto deveriam”, sustentou.
Após ciclos de “noites assustadoras”, Bociurkiw observou uma mudança no humor e comportamento das pessoas”, não como derrotadas, seguindo as suas vidas e limpando as ruas após os ataques e enchendo as praias, mas sentindo que a guerra está “muito mais próxima – e não apenas pela presença de cerca de 200 mil deslocados que fugiram das zonas de frente para Odessa -, como uma reminiscência dos confinamentos da pandemia de covid-19, “que parecia não ter fim à vista”, tal como este conflito.
O próprio silêncio da actividade portuária é perturbante e triste para uma população que se habituou a viver com ela e que agora se encontra paralisada devido ao bloqueio russo do Mar Negro e sob mira das suas forças, apesar da primeira viagem bem sucedida de um cargueiro, na quinta-feira, através de um novo corredor alternativo ao fim do acordo dos cereais.
Mas o analista vai mais longe e defende que os aliados de Kiev devem fornecer “escoltas armadas imediatamente para os navios que vão e voltam de portos ucranianos sobre o Mar Negro, a fim de permitir que os alimentos sejam exportados e o mundo não fique refém da Rússia”, nem das suas pressões armadas para influenciar o acordo dos cereais à sua medida, ou aproveitar-se desta suspensão para vender os seus produtos, ao mesmo tempo que destrói as infra-estruturas da Ucrânia e usa os ataques como uma acção psicológica para tentar expulsar os seus habitantes, “numa forma de genocídio para tentar quebrar o espírito e a nação”.
No entanto essa parece, aos olhos do especialista, uma tarefa difícil para o Kremlin, ao fim de um ano e meio de guerra e elevados custos humanos e materiais, quando “nem [o Presidente ucraniano, Volodymyr] Zelensky nem qualquer presidente ucraniano que se siga sobreviveria” à sugestão da cedência do Donbass, no leste, ou da Crimeia numas eventuais negociações de paz: “Isso provocaria um enorme descontentamento público, seja nas urnas, seja em termos de protestos ou o que for”.
A insatisfação com Moscovo ultrapassa os limites da Ucrânia, onde os seus vizinhos também sentem o impacto do bloqueio de cereais no negócio dos seus produtos, enquanto assistem a longas filas de camiões nos postos fronteiriços da Moldova ou da Roménia, que também se sentem ameaçadas com a proximidade dos bombardeamentos russos nas instalações portuárias no Danúbio.
E, mais longe, no modo como atinge a segurança alimentar nos países mais vulneráveis, apesar das promessas do Kremlin de fornecimento de cereais na recente cimeira com África, que, para Bociurkiw, “foram uma brincadeira” porque se trata apenas de uma pequena parte do que é necessário.
“Se eu fosse um líder africano ou apenas um africano comum, perguntaria por que o Sr. Putin está a tornar as nossas vidas mais lamentáveis”, comentou, do mesmo modo que lhe interessa observar ‘in loco’ a mensagem que sairá para Moscovo da cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia Índia, China e África do Sul) esta semana em Joanesburgo, e quando vários países emergentes já não escondem incómodo pelo arrastamento desta guerra, embora a perspectiva de negociações permaneça afastada.
“Não creio. O porta-voz de Putin já disse que discordava dos termos ucranianos após o encontro de Jidá [que reuniu várias representações internacionais, com ausência da Rússia, no início do mês na Arábia Saudita para discutir a situação ucraniana]”, recordou: “Portanto aí está”.
Notícias ao Minuto
21/08/23 09:21
por Lusa
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 1 mês ago