– … “Isto nunca tinha acontecido!” Realmente é um caso hilariante, um chefe de Estado entrar numa trincheira, em zona de guerra de fato e gravata… 🙂
🇺🇦🔱UCRÂNIA // VISITA // 🇵🇹 PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Marcelo chegou esta quarta-feira à Ucrânia e amanhã encontra-se com Zelensky. O PR esteve em Bucha a homenagear as vítimas da guerra e recordou que “foi muito chocante, desumano e inumano” o que ali aconteceu. Na aldeia de Moshchun, Presidente da República esteve numa trincheira.

O momento em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entra numa trincheira em Moshchun, nos arredores de Kiev
Prestou homenagem às vítimas no memorial de Bucha, surpreendeu ao ser o primeiro presidente a entrar numa trincheira em Moshchun, ouviu o relato de uma habitante em Horenka e visitou a ponte Romanivskiv, em Irpin.
Tudo nos arredores de Kiev. Estes foram os primeiros momentos chave da agenda do Presidente da República que chegou esta quarta-feira à capital da Ucrânia, pelas 07:30 locais (05:30 em Lisboa), para uma visita de dois dias, que coincide com a comemoração do 32.º aniversário da independência do país.
Marcelo Rebelo de Sousa está em Kiev para dar continuidade à presença e solidariedade portuguesas para com a Ucrânia, e para participar nas celebrações do Dia da Independência, na quinta-feira, dia em que vai encontrar-se com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“O objectivo é múltiplo. Em primeiro lugar, é dar continuidade à presença portuguesa. Esteve aqui o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, várias vezes o ministro dos Negócios Estrangeiros, agora veio o Presidente da República. É Portugal presente a mostrar a sua solidariedade em todos os domínios”, sustentou Marcelo Rebelo de Sousa logo após desembarcar na estação ferroviária de Kyiv-Pasazhyrskyi.
O chefe de Estado acrescentou que “tudo o que seja fundamental – e tudo é fundamental neste momento – na vida da Ucrânia, é fundamental na vida de Portugal”.
Em resposta a uma pergunta de uma jornalista ucraniana, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: “As vossas fronteiras são as nossas fronteiras e a vossa luta é a nossa luta”.
Depois de chegar a Kiev, o chefe de Estado deslocou-se a Bucha, localidade nos arredores da capital que nos primeiros dias da invasão foi ocupada pelas Forças Armadas russas. Um mês depois dessa ocupação, as Forças Armadas ucranianas reconquistaram Bucha e destaparam os horrores que ocupação russa deixou.
“Portugal tem sido incansável, o Governo e a ministra da Justiça, garantindo que naquilo que depender de nós, estaremos sempre na primeira linha não só no apuramento não só da verdade, mas também no criar condições no que vier a ser o apuramento final seja uma lição para o presente e futuro”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em Bucha.
Bucha: “Foi muito chocante, muito desumano e inumano”
O Presidente da República depositou um ramo de flores no memorial das vítimas em Bucha, ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
“O que me impressionou aqui [Bucha] é que, passado algum tempo, nós que retivemos pela TV ou pelo que foi escrito, pelas imagens, aquele choque inicial, concluirmos que não perdeu força esse choque inicial”, disse.
“Podia ter perdido [força aquele choque inicial], porque aquele memorial é mais abstracto, menos forte do que ver os corpos, a vala comum, mas o que é facto o que aconteceu é que, primeiro, aconteceu, existiu – há quem negue -, e em segundo lugar que seja ainda tão impressionante quando decorreu algum tempo e quando o memorial fica para o futuro”, afirmou.
“Não é a imagem daqueles primeiros dias, mas [memorial] quer dizer que foi muito forte aquilo que aconteceu, foi muito chocante, muito desumano, inumano e, por isso mesmo, é que andamos à procura dos meios adequados para o julgamento e a punição”, considerou Marcelo.
Em Bucha, o Presidente da República alertou que “uma justiça tardia não é justiça” e prometeu o apoio de Portugal nas investigações do crime de agressão.

© ANTONIO PEDRO SANTOS/LUSA
Marcelo Rebelo de Sousa visitou ainda a Igreja de Santo André. Recorde-se que no adro desta igreja foi encontrada uma vala comum com 190 corpos.
“Justiça tardia não é justiça”, advogou Marcelo Rebelo de Sousa, que prometeu o apoio de Portugal nas investigações do crime de agressão, depois de uma cerimónia para homenagear as vítimas e de uma visita à exposição no interior da igreja que documentou a descoberta dos corpos, acompanhado pelo procurador-geral da Ucrânia, Andriy Kostin.
A Ucrânia está a equacionar a criação de um tribunal para julgar o crime de agressão. O processo vai “envolver muitos países e Portugal tem estado envolvido”, acrescentou o chefe de Estado português.
“Não há precedentes com sucesso rápido”, considerou o Presidente da República, opinando que Portugal pode ajudar a fazer com que seja realidade.
“Podemos fazer isso, podemos apoiar nas investigações”, respondeu o ministro dos Negócios Estrangeiros perante o apelo do procurador-geral ucraniano.
Marcelo visita trincheira em Moschun. “Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto”
Depois de Bucha, Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Moshchun, uma aldeia nos arredores de Kiev, onde decorreram intensos combates no primeiro mês da invasão russa. Na aldeia que foi ocupada pelas forças de Moscovo, o Presidente da República homenageou as vítimas com um minuto de silêncio, tendo também depositado flores.
Nesta aldeia, Marcelo entrou na trincheira construída pelos ucranianos para fazer face à ofensiva russa.
“Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto”, comentou, admirada, Lesya Arkadievna, a vice-governadora para a região de Kiev, ao ver Marcelo Rebelo de Sousa entrar para uma trincheira.
Moshchun, uma localidade nos arredores da capital ucraniana, foi dizimada durante a ocupação russa e, ao contrário de, por exemplo, Bucha, a recuperação pouco avançou. Quase nada ficou de pé enquanto as tropas russas ali estiveram.
Marcelo Rebelo de Sousa não foi o primeiro líder a visitar o local, mas foi o primeiro a estar onde a população e militares estiveram a combater os ocupantes.
O Presidente não hesitou, ainda escorregou na areia, e acabou por entrar na trincheira, por onde teve de caminhar quase agachado.
“Já vim cá com vários presidentes e ministros e nenhum fez isto”, referiu Lesya Arkadievna.
Populares e elementos da administração regional observaram com alguma surpresa o momento.
“Faz lembrar as trincheiras Grande Guerra”, disse Marcelo à saída da trincheira em Moshchun, ainda com terra no casaco.
Uma curta conversa com populares deu uma certeza ao chefe de Estado português: [se voltasse a acontecer até as] “crianças já estão preparadas e sabem como se defender.”
Contudo, lamentou que as crianças tenham de viver com esse conhecimento e a memória da devastação.
Afirmou que é “sempre diferente ver as imagens” e estar no terreno a ver uma realidade que o fez lembrar “o que era fazer guerra há mais de 100 anos”. “O que mostra bem como é, de facto, possível, nos dias de hoje, haver uma desproporção de meios à partida e, no entanto, uma capacidade de defesa e resistência anímica, com sucesso”, declarou.
Marcelo deslocou-se depois a Horenka, também nos arredores de Kiev, onde conversou com uma habitante da povoação, que relatou na primeira pessoa as consequências dos ataques russos que testemunhou. O Presidente da República esteve, depois, num prédio destruído de Horenka pelos mísseis russos, onde viu obras de Banksy.
Visita ponte simbólica em Irpin. “Os grandes heróis são os ucranianos”
Em Irpin, o Presidente da República visitou a ponte Romanivskiv, que foi destruída pelas forças armadas ucranianas logo nos primeiros dias de guerra para travar o avanço das tropas de Moscovo.
As imagens de civis, recorde-se, a passarem pela ponte, quando fugiam da ofensiva das forças russas, correram mundo.
Marcelo recebeu do autarca de Irpin moedas simbólicas, referindo: “destruída a ponte, mas não conquistada”.
O chefe de Estado português sublinhou que Irpin tem uma ligação a Portugal, através do município de Cascais, que ajudou a reconstruir um jardim infantil.
Questionado sobre o que o mais impressionou na visita às localidades nos arredores da capital ucraniana, o Presidente não hesitou: “Acho que impressionou tudo”. Logo a seguir sintetizou ao destacar a “ideia de resistência do povo ucraniano“
Recorreu a uma imagem de Bansky que viu num edifício destruído – imagem de uma pessoa dentro de uma banheira a “tomar banho na sua vida normal” – para dizer que o povo ucraniano “reagiu de forma espontânea” à invasão russa. “Isso impressiona muito”, acrescentou.
“A sensação que deixa é que se o sentimento de orgulho nacional ucraniano já era forte, pois a invasão tornou-o muitíssimo mais forte”, sublinhou.
Marcelo destacou ainda a “confiança” que viu nas pessoas com quem se cruzou. “90% da população de Irpin regressou e, além disso, vieram mais pessoas fora desta localidade. Quer dizer que está normalizar-se a vida, significa que há uma esperança e uma confiança no futuro”, analisou.
Além da “coragem do povo ucraniano”, não se pode esquecer a coragem das forças armadas ucranianas”, disse. “Os grandes heróis são os ucranianos”, resumiu.
Na capital ucraniana, o Presidente da República colocou uma coroa de flores, com fitas com as cores da bandeira de Portugal, no mural de homenagem aos soldados ucranianos mortos em combate, tal como fizeram outros chefes de Estado.

Em Kiev, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve no mural de homenagem aos soldados ucranianos mortos em combate
© ANTONIO PEDRO SANTOS/LUSA
Ao início da tarde, Marcelo Rebelo de Sousa esteve no Museu da História da Ucrânia da Segunda Guerra Mundial e visitou a exposição temporária “Ucrânia Crucificada”.
Encontro com Zelensky na quinta-feira
Ladeado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, o Presidente da República anunciou que vai participar, na quinta-feira, nas comemorações do 32.º aniversário da independência da Ucrânia, considerando que “este ano é ainda mais especial”, por causa da associação de representantes de outros países às celebrações e porque está em curso a contra-ofensiva ucraniana, uma “afirmação da sua soberania”.
O Presidente da República vai encontrar-se com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na quinta-feira, e com o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmygal, além de participar na cimeira sobre a Crimeia.
“Amanhã [quinta-feira] será o dia de participar activamente na celebração do Dia da Independência, ter encontros com o presidente Zelensky, [e] com o primeiro-ministro”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, minutos depois de desembarcar na estação ferroviária de Kyiv-Pasazhyrskyi, na capital ucraniana, para uma visita de dois dias.
Ainda hoje, o chefe de Estado português vai participar na cimeira organizada pela Ucrânia sobre a recuperação da Crimeia e tem prevista “uma ida a uma instituição que se dedica ao problema gravíssimo das crianças ucranianas” separadas das famílias pela guerra ou que são órfãs.
Marcelo Rebelo de Sousa viajou com o Presidente da Lituânia, Gitanas Nausèda, que também vai participar na cimeira e nas comemorações do Dia da Independência.
A cimeira sobre a Crimeia começa pelas 15:00 locais (13:00 em Lisboa) e deverá terminar pelas 17:00 locais (15:00 em Lisboa).
“Nós nunca admitimos que a Crimeia deixasse de ser parte do território ucraniano. É uma posição da política externa portuguesa e isso fica claro uma vez mais. Haverá muitos que participarão por via digital, mas entendeu-se que Portugal devia participar por via presencial”, referiu o Presidente da República.
Sobre a possibilidade de a Marinha Portuguesa auxiliar a Ucrânia na desminagem do Mar Negro e do Mar de Azov, admitida na terça-feira pelo ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, em entrevista à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Porque não? Estamos a fazer já tanta coisa, no treino da Força Aérea, na preparação de novos meios aéreos que possam ser cedidos […], no equipamento, no treino dos Leopard. Porque não também a Marinha?”
O chefe de Estado português desembarcou na estação ferroviária de Kyiv-Pasazhyrskyi, em Kiev, acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, pelo chefe da Casa Civil da Presidência, Fernando Frutuoso de Melo, pelos embaixadores Maria Amélia Paiva e Jorge Silva Lopes, o antigo dirigente do PS João Soares, o historiador José Pacheco Pereira e o empresário Luís Delgado.
O chefe de Estado é a terceira alta individualidade do Estado Português a deslocar-se à Ucrânia, depois da visita do primeiro-ministro, António Costa, no dia 21 de maio de 2022, e do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, no início há cerca de três meses e meio.
O Presidente da República solicitou na terça-feira a autorização ao parlamento para se deslocar à Ucrânia durante esta semana.
A deslocação do Presidente da República surgiu na sequência de um convite feito pelo homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, aquando da visita de António Costa a KIev.
“Sou portador de um convite que o Presidente Zelensky fez a sua excelência o Presidente da República para visitar a Ucrânia em data oportuna. E esse é o convite que transmitirei”, anunciou na altura o primeiro-ministro português depois de um encontro com o Presidente da Ucrânia.
Marcelo pretende condecorar Zelensky com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade
No próprio dia em que se soube do convite, Marcelo Rebelo de Sousa disse que teria “muito prazer” em fazer a viagem até à capital ucraniana para demonstrar que há “convergência no apoio” ao país que há mais de um ano e meio está a tentar repelir uma invasão da Rússia.
No dia 22 de fevereiro deste ano o chefe de Estado português anunciou a intenção de condecorar Zelensky presencialmente, em Kiev, com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade: “Tenciono entregar [a condecoração] pessoalmente quando for à Ucrânia. É o que tenho feito com os chefes de Estado e com outros condecorados com essa ordem e outras ordens.”
O Presidente da República vai encontrar uma cidade transfigurada em em comparação com aquela que António Costa atravessou apenas dois meses depois do início da invasão russa.
As ruas repletas de pessoas, restaurantes e esplanadas cheias, e uma aparente sensação de normalidade no dia-a-dia substituíram a cidade quase deserta e o receio latente em cada habitante de um bombardeamento a qualquer instante nos primeiros meses.
Por uma questão de segurança, a Presidência da República não revelou pormenores sobre um possível encontro entre Marcelo e o homólogo ucraniano e o que vai fazer parte do roteiro na capital do país.
A visita do Presidente da República coincide com a comemoração do 32.º aniversário da independência da Ucrânia. Está prevista a participação de representantes de outros países que apoiam os ucranianos desde o primeiro dia contra a “operação militar especial”, como é designada pelo Kremlin.
DN/Lusa
23 Agosto 2023 — 12:11


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published in: 4 semanas ago