177: OMS alerta para surto de botulismo em França que pode atingir turistas

 

⚕️ SAÚDE PÚBLICA // 🇫🇷 FRANÇA // BOTULISMO

A agência de saúde das Nações Unidas indicou que a origem da infecção são sardinhas consumidas num restaurante de Bordéus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou esta quarta-feira para um recente surto de botulismo em França, já com uma morte, realçando que podem ser diagnosticadas mais infecções, incluindo entre turistas, devido à afluência com o Mundial de râguebi.

“Dado o período de incubação de oito dias e que o restaurante [onde foi identificada a fonte das primeiras infecções] atraiu visitantes de outros países durante o Mundial de râguebi, há potencial para casos adicionais em França ou fora do país, quando os viajantes voltarem para casa”, frisou a OMS em comunicado.

A agência de saúde das Nações Unidas indicou que a origem da infecção são sardinhas consumidas num restaurante de Bordéus, segundo as autoridades de saúde francesas o Tchin Tchin Wine Bar, durante a semana de 04 a 10 de Setembro.

Um total de 15 clientes daquele restaurante foram identificados como “casos suspeitos de botulismo”, incluindo uma vítima mortal, segundo o relatório das autoridades de saúde francesas divulgado na sexta-feira.

Em 14 dos 15 casos, os clientes são cidadãos estrangeiros, de nacionalidade norte-americana, canadiana, irlandesa, grega, britânica e alemã, segundo a OMS.

A investigação francesa determinou, através de recibos de cartão de crédito, que aproximadamente 25 pessoas “foram expostas”, ou seja, provavelmente consumiram o alimento suspeito.

O botulismo é uma doença grave, com uma taxa de mortalidade entre 5 e 10 por cento.

Os sintomas incluem dor abdominal, náuseas, vómitos e diarreia, problemas de visão, boca seca acompanhada de dificuldade em engolir ou mesmo falar, e sintomas neurológicos como falta de equilíbrio ou paralisia muscular.

É causada por uma toxina gerada pela bactéria Clostridium botulinum, que se desenvolve especialmente em alimentos mal conservados e não suficientemente esterilizados, como carnes salgadas, charcutaria ou conservas de origem familiar ou artesanal.

DN/Lusa
21 Setembro 2023 — 09:06


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 19 horas ago

176: Rússia ataca Ucrânia com pás (literalmente). Relato impressionante de soldado russo

 

– Enviem os fantoches valentões da merda engravatados do kremlin para a frente de batalha com uma kalashnikov nas mãos! A “heroicidade” dessa escumalha russonazi apenas está na ponta da língua! E já agora, alistem-se todos os pró-russonazis e mostrem a vossa “valentia” com uma arma nas mãos e a pegar a morte pelos cornos!

🇷🇺 MOSCÓVIA // 🇷🇺 RUSSONAZIS // 🇺🇦 UCRÂNIA

Momento emocionante captado em família. “A morte está à tua espera?” – o soldado responde: “Falo asperamente: sim”.

Kateryna Klochko / EPA

Denis Ivanov, nome fictício, foi chamado para a guerra há quase um ano, em Outubro de 2022.

O jovem russo vivia em Saratov e ele – e a sua família – foram o foco de uma reportagem impressionante da Rádio Liberdade.

A sua esposa, Vera (também nome fictício) admitiu que não estava à espera da convocatória. No início, o russo não apareceu mas, após a segunda chamada e após ameaças no emprego de Vera, onde avisaram que a família teria problemas caso recusasse combater, o marido aceitou.

Comprou equipamento com o seu próprio dinheiro. Ele e muitos outros russos de Saratov. Nos exercícios, o equipamento estava bom para o lixo.

Estiveram em Saratov nos primeiros tempos, depois rumaram à Bielorrússia. Em Maio deste ano teria as suas primeiras férias – mas não houve férias para ninguém.

Denis foi para a guerra na Ucrânia. Nos primeiros tempos, sempre que falavam ao telefone, o soldado respondia “está tudo bem”.

Mas, na semana passada, Vera entrou em pânico: “Ele ligou na quinta-feira e disse que as Forças Armadas ucranianas estavam a controlar Andreevka e a avançar para Bakhmut. E eles são colocados em Andreevka praticamente sem armas”.

Denis contou a Vera que os russos, no geral, estão a atacar “com pás e sem apoio de artilharia”. E não dá para recuar porque, se recuarem, serão assassinados.

Eram 1.000, passaram a ser 400 soldados. Naquela zona de combate, em dois dias morreram 600 russos, segundo Denis – embora os relatórios oficiais indiquem que morreram três soldados russos.

A mãe do soldado queria divulgar esta informação, sobretudo a escassez de armas. Mas foi logo atacada por mães e esposas de outros soldados: “O mundo não precisa de saber disso”.

As esposas preocupam-se mais com os seus salários do que com os seus maridos. Estão preocupadas com a possibilidade de que, se os nomes dos rebeldes vierem à luz, eles simplesmente sejam considerados “desaparecidos em combate” e não recebam quaisquer pagamentos”, explica Vera.

Até que, a meio da entrevista…

…Denis telefona.

“A Ucrânia estes a controlar Andreevka, basicamente somos carne para canhão. As pessoas morrem por nada. As pessoas vão para um lado e não voltam”, ouve-se do outro lado da linha.

Quando os soldados avisam os superiores que, se entrarem em Andreevka nunca mais vão sair de lá vivos, os superiores respondem: “E daí?”.

Denis tem noção de que “dificilmente” vai conseguir sair daquela zona.

À pergunta “Qual o sentido de recapturar a aldeia?”, Denis responde: “Também fazemos essa pergunta ao comando. Não temos resposta”.

Denis quer voltar para casa: “Não tenho nada para fazer aqui”. E acha que o significado da guerra, no geral, depende da pessoa: “Uns vêm para aqui para melhorar a sua situação financeira. Outros são mesmo patriotas”.

“Mas eu não estou na minha terra agora. E se me perguntarem: “Porque estás a lutar?”, então não darei resposta. Eu não tenho uma resposta para dar”.

“Não sei por que estou aqui”.

E depois, a emoção: “Não sei se algo vai mudar na nossa situação aqui, após a publicação desta reportagem na rádio, mas sei que amanhã partiremos para o ataque. E posso nunca mais ligar para casa”.

A sua esposa tira o altifalante do telemóvel, corre para a varanda a chorar e continua a falar com o marido: “Volta, por favor”, ouve-se.

A morte

Antes do telefonema de Denis, o filho do soldado, que ainda nem tem 2 anos, estava sentado ao colo da mãe e começou a tocar com o dedo no telemóvel, onde está uma fotografia do soldado.

“Pai!”, diz a criança.

“Sim, é o pai”, diz Vera para o filho. A seguir comenta com o repórter da rádio: “Não quero que o meu filho conheça o pai apenas por fotografias”.

Depois, a meio do telefonema, a pergunta dura: “A morte está à tua espera? Se não for de um lado, será do outro?”.

A resposta de Denis não é menos dura: “Falo asperamente: sim”.

ZAP //
20 Setembro, 2023

 


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 2 dias ago

Loading

175: Putin anuncia visita à China em Outubro a convite de Xi Jinping

 

– “… No que diz respeito ao conflito na Ucrânia, a China está a tentar posicionar-se como um país neutro, apesar de um apoio aberto ao Kremlin.

Como é que se pode ser “neutro” por um lado e pelo outro apoiar o regime do psicopata terrorista russonazi do kremlin da Moscóvia nas áreas económica, financeira e militar? O Xi, grande amigo do russonazi do kremlin, estão bem um para o outro: dois regimes de ditadura repressiva e sanguinária que eliminam todos os opositores aos seus regimes, na mesma luta anti-Ocidente “satânico”! Tudo o resto é folclore e conversa da treta!

🇨🇳☭ CHINA // 🇷🇺 MOSCÓVIA // 🇷🇺 RUSSONAZIS // AMIZADES

A data para a visita não foi revelada. O encontro insere-se na estratégia russa de estreitar os laços económicos, militares e energéticos com Pequim, na sequência do bloqueio do Ocidente por causa da invasão à Ucrânia.

Wang Yi, chefe de gabinete do MNE da China, visitou Putin em Fevereiro.

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou esta quarta-feira que irá visitar a China em Outubro a convite do homólogo chinês, Xi Jinping, a primeira viagem ao país desde o início do conflito na Ucrânia, em Fevereiro de 2022.

Putin disse estar “encantado” por aceitar o convite feito durante um encontro na Rússia com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, indicou a televisão estatal russa, sem que se tenha adiantado uma data concreta para a visita.

O Kremlin já tinha anunciado a “intenção” de o Presidente russo se deslocar à China para participar no Fórum “Belt and Road”, que reúne líderes internacionais.

A Rússia, que foi sancionada pelo Ocidente pela invasão da Ucrânia, tem estado a procurar estreitar os laços económicos, militares e energéticos com Pequim.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, tinha indicado que Putin iria receber Wang Yi e dar-lhe as boas-vindas no “Palácio Constantino em São Petersburgo”, no noroeste do país.

Depois de chegar segunda-feira à Rússia, o chefe da diplomacia chinesa manteve conversações com o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, tendo ambos elogiado as posições “semelhantes” partilhadas com Pequim sobre os Estados Unidos e sobre o conflito na Ucrânia.

Desde a visita de Xi Jinping ao Kremlin, em Março, e perante o crescente isolamento da Rússia, atingida por uma onda de sanções internacionais em retaliação à ofensiva na Ucrânia, Moscovo e Pequim têm vindo a defender uma cooperação económica e militar mais estreita, no âmbito de uma amizade oficialmente descrita como “sem limites”.

A China e a Rússia, que partilham o desejo comum de contrariar o que consideram ser a hegemonia dos Estados Unidos, realizaram em Agosto passado manobras navais conjuntas no Pacífico.

No que diz respeito ao conflito na Ucrânia, a China está a tentar posicionar-se como um país neutro, apesar de um apoio aberto ao Kremlin.

DN/LUSA
20 Setembro 2023 — 13:36


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 2 dias ago

174: Rússia atacou instalações médicas após perder Kherson

 

– Acções dignas de um regime psicopata terrorista russonazi. Todos os que apoiam directa ou indirectamente este regime terrorista russonazi, situam-se no mesmo patamar político e são tão criminosos quanto ele.

🇺🇦 UCRÂNIA // 🇷🇺 RUSSONAZIS // 🇺🇦 KHERSON // TERRORISMO 💀

Pelo menos sete instalações médicas em Kherson foram alvo de pelo menos 14 ataques executados por artilharia russa entre Novembro de 2022 e maio deste ano.

© Alexei Sandakov / AFP

Uma investigação do Centro para a Resiliência da Informação (CIR) concluiu que a Rússia atacou deliberadamente infra-estruturas médicas em Kherson, na Ucrânia, depois de perder o controlo da cidade em Novembro.

Pelo menos sete instalações médicas em Kherson foram alvo de pelo menos 14 ataques executados por artilharia russa entre Novembro de 2022 e maio deste ano, de acordo com um relatório do CIR a que a agência de notícias EFE teve acesso.

“O bombardeamento contínuo de hospitais, maternidades e centros de reabilitação pode colocar em risco a sustentabilidade e a operacionalidade do sector da saúde na cidade”, sublinham os autores do estudo, alertando para o risco de a Rússia repetir este padrão de agressão contra outras localidades ucranianas.

Segundo os peritos desta organização não-governamental (ONG), dedicada a revelar violações dos direitos humanos e crimes de guerra através da análise de imagens de satélite e das redes sociais, a Rússia intensificou os ataques às infra-estruturas civis em Kherson após a libertação da cidade a 11 de Novembro.

Até então, sob o domínio russo, apenas tinha sido registado um incidente contra uma instalação médica.

No entanto, após a libertação de Kherson, as maternidades, os centros de cardiologia, os centros de reabilitação e os hospitais pediátricos foram atingidos por fogo de artilharia.

O primeiro destes bombardeamentos teve lugar apenas seis semanas após a expulsão das tropas russas. A maternidade do Hospital Clínico da Cidade de Kherson foi alvo de fogo de artilharia russa em 27 de Dezembro de 2022, mas não foram registadas vítimas.

O mês com o maior número de ataques foi Janeiro último, com cinco, enquanto em Dezembro e Fevereiro registaram-se três, dois em Março e um em Abril.

Entre Maio e Julho deste ano, registou-se uma diminuição do bombardeamento de instalações médicas, embora os trabalhadores médicos que retiravam civis após o colapso da barragem de Kakhovka tenham sido atacados em Junho e, em Agosto se tenham verificado danos no mesmo hospital clínico.

A ONG salienta que as acções de Moscovo fazem lembrar as tácticas russas nas zonas de Idleb e Alepo, na Síria, controladas pelos rebeldes.

DN/Lusa
20 Setembro 2023 — 08:04


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 2 dias ago

Loading

173: Ucrânia. Caritas denuncia ataque russo a armazém de ajuda humanitária

 

– Como é possível e admissível um Estado terrorista, com regime nazi, fazer parte da ONU e do Conselho de Segurança, com direito a VETO? Estão todos loucos?

CARITAS // 🇺🇦 UCRÂNIA // 🇷🇺 RUSSONAZIS // DESTRUIÇÃO 💥🔥

A Caritas-Spes, organização fundada pela Igreja Católica na Ucrânia, denunciou hoje um ataque russo contra um armazém em Lviv, no oeste do país, que não provocou vítimas mas destruiu cerca de 300 toneladas de ajuda humanitária.

© Shutterstock

“Na madrugada de 19 de Setembro, as tropas russas atacaram uma zona industrial em Lviv, onde estava localizado o armazém de ajuda humanitária da Caritas-Spes Ucrânia.

Todos os colaboradores da equipa da Cáritas saíram ilesos, mas o armazém, com todo o seu interior, foi totalmente queimado”, descreveu a instituição em comunicado enviado à Lusa pela congénere portuguesa.

Segundo a Cáritas-Spes, os danos ainda estão a ser calculados em detalhe, mas foi confirmada a destruição de 33 paletes de embalagens de alimentos, dez de ‘kits’ de higiene e alimentos enlatados, dez de roupas e diversos geradores e outros equipamentos.

No total, as perdas são estimadas em cerca de 300 toneladas de bens de ajuda humanitária recolhida através de doações e que estavam destinados a 660 famílias.

A cidade de Lviv, situada a cerca de 500 quilómetros a oeste da capital ucraniana, Kiev, mantém-se desde o primeiro dia da invasão russa, em 24 de Fevereiro do ano passado, longe das frentes de combate, mas acolhe mais de 250 mil deslocados e é alvo ocasionalmente de ataques aéreos russos.

A Caritas-Spes, segundo a informação disponível na sua página ‘online’, foi fundada pelos bispos católicos ucranianos em 1995, sendo a primeira organização de assistência humanitária desde a independência do país após a separação da União Soviética em 1991.

Notícias ao MinutoNotícias ao Minuto
19/09/23 16:28
por Lusa


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 3 dias ago

172: Governo chinês considera absurdo chamar ditador a Xi Jinping

 

– É impressionante como estes fanáticos fantoches ditadores comunas não possuem um pingo de dignidade ao não reconhecerem que são puros ditadores de um regime tipo nazi, prendendo, enviando opositores para campos de “reeducação”, assassinando quem lhes faz frente, ignorando o que representa Liberdade e Democracia! E vão fazer com Taiwan o mesmo que os russonazis da Moscóvia estão a fazer na Ucrânia! Dois regimes de ditadura nazi. Um trio de nazis nesta região da Ásia: Coreia do Norte, China e Moscóvia. Estes psicopatas são autênticas anedotas! FDS!

🇨🇳 ☭ CHINA // DITADURA // ☠️ TERRORISMO

China considerou “extremamente absurdas” as recentes declarações da ministra dos Negócios Estrangeiros alemã.

© LEAH MILLIS / POOL / AFP

A China considerou esta segunda-feira “extremamente absurdas” as recentes declarações da ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, nas quais descreveu o Presidente chinês, Xi Jinping, como um ditador.

Baerbock questionou este fim de semana, numa entrevista à cadeia televisiva norte-americana Fox News, o que uma vitória do líder russo, Vladimir Putin, na guerra na Ucrânia, significaria para “outros ditadores como o Presidente chinês, Xi Jinping”.

A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, manifestou a “profunda insatisfação” de Pequim com as palavras da chefe da diplomacia alemã e garantiu que o seu país já apresentou um protesto formal à nação europeia através dos canais diplomáticos.

Em Junho passado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também chamou o líder chinês de “ditador”, palavras que o ministério dos Negócios Estrangeiros do país asiático descreveu na altura como “extremamente irresponsáveis” e “uma provocação política”.

DN/Lusa
18 Setembro 2023 — 10:23


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 4 dias ago

“Provámos nos últimos 30 anos que a Moldávia pode aderir à UE porque somos uma democracia”

 

🇲🇩 MOLDÁVIA // 🇪🇺 UNIÃO EUROPEIA

Vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros e da Integração Europeia moldavo esteve em Lisboa para pedir a Portugal apoio no processo de adesão à UE. Nicu Popescu conversou com o DN sobre a evolução do país e o impacto da guerra na vizinha Ucrânia.

© Leonardo Negrão / Global Imagens

Tendo em vista as ambições de integração europeia da Moldávia, esta guerra na Ucrânia torna essas ambições mais possíveis de concretizar ou, de certo modo, torna-as mais difíceis? Como é que a guerra afeta as vossas perspectivas europeias?
É claro que a guerra é um acontecimento enormemente negativo, trágico e traumático para todo o continente, pois é a maior guerra desde a Segunda Guerra Mundial, com as maiores operações militares e com o maior número de vítimas em solo europeu desde 1945. É um acontecimento verdadeiramente dramático. Ao mesmo tempo, penso que se olharmos para a História da Europa e a sua integração vemos que a própria integração europeia apareceu como uma reacção contra a guerra, contra a animosidade franco-alemã e que foi criada como uma forma de ultrapassar os efeitos da Segunda Guerra Mundial. Com os alargamentos subsequentes da União Europeia esta tornou-se uma ferramenta espantosa para consolidar países na modernização das suas democracias e penso que Portugal e Espanha são grandes exemplos disso. Portanto, até certo ponto, se olharmos para a História do continente europeu, a integração europeia veio como uma resposta à guerra e, consequentemente, ao autoritarismo e às ditaduras. Sabe melhor do que eu o que a União Europeia e a integração fez a Portugal e isso é uma inspiração para nós, na Moldávia, mas também sabemos que é um tempo diferente. Desde a Revolução dos Cravos, em 1974, até ao momento em que Portugal aderiu à UE só passaram 12 anos. Nós somos uma democracia desde 1991. Temos um registo sólido como país democrático, mas também queremos entrar na UE para consolidar a nossa democracia, tal como fizeram Portugal e Espanha.

A guerra nas vizinhanças dá-vos, de certa maneira, mais visibilidade entre os países europeus, deixa-vos mais próximos da desejada adesão?
A guerra obriga que toda a gente na Europa olhe para o alargamento de maneira diferente, não só para o que a Moldávia ou a Macedónia do Norte fazem em relação às pescas, às normas sobre os plásticos ou sobre os fertilizantes. A guerra obriga toda a gente, na Europa, a pensar como é que queremos que seja este continente, se queremos que seja pacífico. Se quisermos ajudar a consolidação democrática em países como a Moldávia, a Ucrânia, os Balcãs, então é preciso alargar a União Europeia. Neste sentido, não é que a guerra tenha tornado as coisas mais fáceis, pois a guerra complicou tudo, mas também obrigou toda a gente na Europa a um novo grau de responsabilidade na forma como se deve olhar para o alargamento. Esse alargamento deve ser sobre pescas, qualidade dos plásticos e qualidade do ar, mas é, em primeiro lugar, sobre democracia, sobre políticas, sobre segurança. Neste sentido sim, a guerra reformulou a discussão na Europa e, como parte dessa reformulação, nós tornámo-nos um país-candidato, que já era uma coisa que nós queríamos antes. Mas deixe-me dizer que, mesmo antes de a guerra começar, a Moldávia já merecia ser um país-candidato pelo que conseguiu fazer em 30 anos de democracia. É verdade que todos os ministros dos Negócios Estrangeiros elogiam os seus países, por isso vou dar alguns exemplos concretos e mostrar o que algumas respeitadas instituições internacionais dizem sobre o estado da democracia na Moldávia. Se virmos, no índice de democracia, somos o 56.º país do mundo no que respeita às normas democráticas; no índice de liberdade de imprensa dos Repórteres sem Fronteiras, estamos em 28.º lugar, saltámos mais de 60 posições nos últimos dois anos no capítulo da liberdade de imprensa; no índice da igualdade de género, somos 16.º país do mundo. Já fizemos muito na Moldávia para consolidar a democracia e ainda precisamos de fazer mais, mas merecemos ser um país-candidato, pois já provámos ao longo dos últimos 30 anos que somos um país da Europa Central que pode aderir à UE porque somos uma democracia. Claro que temos de a aperfeiçoar e termos normas melhores.

“Se virmos no índice de democracia somos o 56.º país do mundo no que respeita às normas democráticas; no índice de liberdade de imprensa dos Repórteres sem Fronteiras estamos em 28.º lugar; no índice da igualdade de género somos o 16.º país do mundo.”

Na discussão para a adesão de novos membros estão sempre presentes a qualidade da democracia, a luta contra a corrupção e a defesa do Estado de Direito. Há melhorias na Moldávia nestes capítulos?
Sim. Estamos a levar a cabo uma grande reforma da Justiça com as recomendações mais importantes da Comissão Europeia. Conseguimos alcançar grandes progressos no último ano e meio na luta anti-corrupção e fizemos muitas reformas, dezenas delas. Claro que há um grande caminho a percorrer, ainda temos muito trabalho a fazer para diminuir a corrupção. No índice internacional de transparência, a posição da Moldávia na percepção de corrupção no que toca a medidas anti-corrupção subiu 24 lugares. Como já disse, temos muito trabalho para fazer, mas já provámos que estamos a fazer progressos sérios e sistemáticos no sector da Justiça em relação à independência e anti-corrupção.

Como é o sentimento europeu na Moldávia em termos da opinião pública? A maioria dos partidos partilham essa ambição europeia?
Há uma maioria forte na opinião pública a favor da União Europeia e, mais importante, essa maioria existe há muito tempo. Quando as forças políticas tentam perder tempo em relação à integração europeia ou dizem que não querem a adesão, mas na verdade existe corrupção e roubo de dinheiro nos seus governos – e tivemos alguns desses na última década -, que querem aproximar o país da Rússia, os eleitores moldavos votam sempre a favor das forças europeias. Portanto, se falarmos de apoio à UE, é importante não olharmos apenas para o que está a acontecer hoje, mas percebermos que esta maioria tem estado presente há mais de 20 anos, com ligeiras variações e níveis de apoio. A sociedade moldava tem apoiado a democracia e a integração na União Europeia.

Como é que o separatismo da Transnístria tem afectado esta posição pró-europeia? Tem havido alguma espécie de diálogo?
Sim. Claro que termos esta região separatista no nosso país é um grande problema para nós. É um problema para a segurança da Moldávia, para a nossa economia e para a nossa tentativa de consolidação da estabilidade no nosso país e, particularmente, com a guerra na Ucrânia, claro. Ao mesmo tempo, nos últimos 30 anos, depois do acordo de 1992, a situação em redor da região da Transnístria tem estado estável em termos de segurança. Não temos tido tiroteios, não temos vítimas provocadas por tensões na segurança. Ambos os lados estão muito determinados em manter o diálogo aberto e a região pacífica e calma. Ambos os lados estão muito empenhados em negociar uma solução. Não foi fácil manter a estabilidade depois do brutal ataque da Rússia à Ucrânia que, claro, teve repercussões negativas na Transnístria, mas mantivemos o diálogo. Temos mandado ajuda para a região, vacinas quando estas foram necessárias devido à covid e temos tentado juntos manter a estabilidade e a calma. O nosso plano é aproveitarmos os anos que temos antes da adesão à UE para fazermos tudo o que for possível para integrarmos pacificamente o país com a região da Transnístria. Na verdade, este processo de integração já começou porque a Moldávia e a UE têm uma área alargada de comércio livre que está operacional desde 2014, há quase uma década portanto. Todas as empresas da Transnístria estão registadas como entidades legais moldavas e, assim, as exportações para o mercado europeu fazem com que a região da Transnístria esteja muito ligada à economia europeia através da Moldávia. Há vários exemplos sobre como os passos da Moldávia em direcção à UE também nos estão a ajudar a ligar a região da Transnístria e a Moldávia através da economia europeia.

“Há tropas russas na Transnístria, o que é um grande problema para nós, para a Ucrânia e para todos no continente europeu, mas estamos seriamente determinados a resolver o conflito na Transnístria e chegarmos a uma situação em que a Rússia retire as suas tropas ilegais da Moldávia de forma pacífica.”

É possível manter esta ambição europeia e, ao mesmo tempo, manter boas relações com Moscovo?
Bom, tal como já disse, estamos a testemunhar a maior guerra em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Uma guerra iniciada pela Rússia, sem qualquer motivo, completamente ilegal, com total desrespeito pelo Direito Internacional, pelas promessas russas à Ucrânia de respeito pela integridade territorial ucraniana. À luz deste total desrespeito pelo Direito Internacional, à luz de uma agressão imensa contra a Ucrânia, mas também à luz da política hostil da Rússia em relação à Moldávia nos últimos 30 anos ao apoiar o separatismo, ao manter ilegalmente tropas russas no território, ao embargar produtos moldavos como o vinho, alimentos, vegetais, à luz das hostilidades diplomáticas e de muitas, muitas outras medidas instituídas por Moscovo, não podemos falar de boas relações com Moscovo. Além de que a Rússia foi o único grande país a invadir outro desde a Segunda Guerra. Também há tropas russas na Transnístria, o que é um grande problema para nós, para a Ucrânia e para todos no continente europeu, mas estamos seriamente determinados a resolver o conflito na Transnístria e chegarmos a uma situação em que a Rússia retire as suas tropas ilegais da Moldávia de forma pacífica, através da diplomacia, do diálogo, da negociação. É por isso que eu digo que as nossas relações com Moscovo não são boas, porque a Rússia tem desrespeitado a Moldávia desde há mais de 30 anos. Tem tentado desestabilizar o país, o que não conseguiu, mas olhando para o futuro queremos chegar à situação em que a Rússia retire da região da Transnístria através de negociações pacíficas.

A Moldávia partilha laços profundos com a Roménia em termos de língua, cultura e história. Vê o sucesso da Roménia na adesão à Europa como um exemplo para a Moldávia, é essa a percepção dos moldavos?
Sim, absolutamente. A língua da Moldávia é o romeno e isso significa muito para a nossa identidade e para a nossa cultura. Nós partilhamos História, cultura e língua com a Roménia, na verdade estamos na mesma plataforma cultural, mas isso deveria acontecer dentro da União Europeia. Nós somos o único país candidato que já tem toda a legislação comunitária na sua própria língua, sem necessidade de tradução.

Mas este sucesso da Roménia é importante também…
Claro. Tal como Portugal se transformou, também a Roménia se transformou. Para nós a Roménia é aquela âncora histórico-cultural, mas é também o sucesso visível de melhores normas democráticas, melhor Governo, melhores infra-estruturas, salários, melhor qualidade de vida, tudo. Portanto, nós que vivemos na Moldávia vimos a transformação da Roménia e como a Europa ajudou. Claro que é algo que nós queremos replicar no nosso país, e temo-lo feito.

O que pensa do apoio português à Moldávia neste processo europeu?
Nós temos uma relação política fantástica com Portugal. Temos uma diáspora moldava muito forte em Portugal, que está muito bem integrada, que é respeitada e bem-vista. Nós sentimos o apoio português às nossas aspirações europeias e sentimos também a simpatia e a compreensão em Portugal pelo que estamos a tentar fazer na Moldávia a nível da consolidação da democracia e da modernização, para podermos fazer parte da família europeia de nações. Uma das principais componentes da minha visita é também impulsionar e fortalecer os laços económicos. Temos alguns bons exemplos de interacção económica, mas precisamos de muitos mais, portanto, vamos tentar impulsionar os investimentos comerciais. Já falei com alguns empresários portugueses e vamos ter uma grande delegação que virá à cimeira digital. Nós não temos unicórnios, mas somos bastante fortes em IT e digitalização. Portanto, serão essas a áreas de crescimento da nossa relação. Este outono é um momento muito importante para nós e estamos a trabalhar na premissa de que a Moldávia vai começar o processo de adesão à UE. Em Outubro a Comissão irá publicar um relatório sobre se a Moldávia pode começar as negociações de adesão e aí todos os Estados-membros terão de apoiar o início das conversações para a integração. A nossa esperança e o meu objectivo para esta visita é também assegurar que temos o apoio português, não apenas nos objectivos gerais, mas também nos específicos que dizem respeito aos investimentos comerciais. Nós não queremos atalhos na adesão à União Europeia, queremos fazer reformas sistémicas profundas e fazê-las conjuntamente com os nossos parceiros europeus e é disso que temos tratado na nossa relação com Portugal.

Para terminar, e voltando ao tema da guerra na vossa vizinha Ucrânia, qual tem sido o impacto no dia à dia dos moldavos?
Nós somos um pequeno país próximo da maior guerra em solo europeu e temos sido gravemente afectados. Tem havido disrupção económica, a situação de segurança deteriorou-se e tivemos uma enorme vaga de refugiados para um país com menos de três milhões de pessoas. No ano passado, quase um milhão de cidadãos e refugiados ucranianos passaram pela Moldávia. Neste momento, cerca de 3% da nossa população são refugiados vindos da Ucrânia. Tivemos também um impacto económico dramático com a guerra, o nosso PIB baixou 6% no ano passado e sofremos uma inflação de 32%. Devido ao bombardeamento russo das infra-estruturas de energia na Ucrânia, o nosso fornecimento de energia foi afectado e tivemos apagões. Os russos também reduziram drasticamente os fornecimentos de gás no ano passado. Portanto, a Moldávia foi gravemente atingida pela agressão russa à Ucrânia, mas ao mesmo tempo provámos que conseguimos encontrar soluções para estes problemas. Por exemplo, há um ano 100% do gás consumido na Moldávia vinha da Rússia, mas em Dezembro chegámos a uma situação em que todo o gás usado para aquecimento no país veio de outras fontes, usámos algum gás russo apenas para gerar electricidade. Assim, provámos também que apesar das ameaças, apesar do impacto sofrido, conseguimos manter o dinamismo das reformas e o processo de adesão à União Europeia tal como antes. Conseguimos construir a resiliência energética, através das ligações eléctricas à Roménia, descobrir fontes alternativas para o gás, etc. No que toca aos efeitos da guerra é esta a situação e sabemos que neste momento perigoso e trágico na História da Europa não estamos sós. Tivemos o apoio forte da UE e de todos os Estados-membros, dos Estados Unidos, do Japão, do Canadá e de muitos outros países que se mobilizaram para ajudar a Moldávia a enfrentar estes choques, e temo-lo feito com sucesso. Portanto, estamos optimistas em relação à capacidade da Moldávia para concretizar aqueles que definimos como sendo os nosso objectivos e aderir à União Europeia num futuro previsível.

leonidio.ferreira@dn.pt

DN
Leonídio Paulo Ferreira
18 Setembro 2023 — 00:10


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 4 dias ago

Loading

170: Ninguém se lembra, mas há semelhanças entre a invasão da Ucrânia e o desastre soviético na Polónia

 

– Se a cartilha russonazi continua a ser a mesma dos tempos leninistas/estalinistas, não existe nenhuma diferença entre o actual regime nazi do kremlin da Moscóvia com o da antiga URSS. Costuma dizer-se na gíria popular: mudam as moscas mas a merda é a mesma.

🇷🇺 MOSCÓVIA // 🇷🇺 RUSSONAZIS // 🇺🇦 UCRÂNIA // POLÓNIA 🇵🇱

Putin vs. Lenine: a comparação subestimada entre o contexto actual e a invasão da Polónia pelo Exército Vermelho – que acabou mal para os russos.

mjsmulligan / FLickr
Estátua de Lenine e bandeira da Ucrânia

A Rússia invadiu a Ucrânia, numa guerra que se prolonga desde o dia 24 de Fevereiro de 2022.

O Governo russo alega que a Ucrânia é comandada por um regime nazi e que precisa de defender a Rússia de um país, alega, que é uma “marioneta” da NATO e, sobretudo, dos Estados Unidos da América.

A decisão anunciada por Vladimir Putin pode ser comparada a uma decisão de Vladimir… Ulianov. Mais conhecido como Lenine.

A decisão de Lenine é a invasão da Polónia em 1920. É uma comparação que tem sido subestimada, avisa o portal The Conversation.

O então Exército Vermelho invadiu a Polónia no Verão de 1920, numa região que ainda sentia os efeitos da muito recente I Guerra Mundial. O plano era conquistar Varsóvia e instalar um governo soviético na Polónia.

Lenine e os seus aliados consideravam que o Reino Unido e a França estavam a comandar a Polónia. O capitalismo ocidental queria chegar à Rússia (então República Socialista Federativa Soviética da Rússia) e reverter a revolução que tinha começado em 1917.

Os bolcheviques diziam que os outros dois países da Tríplice Entente (Reino Unido e França) estavam a incentivar a Polónia a iniciar uma guerra com a futura URSS. A Polónia era uma “marioneta” dos capitalistas do Reino Unido e da França.

Lenine acreditava nisto e apresentava esta ideia publicamente. Chegou a dizer a Leon Trotsky que britânicos e franceses estavam a aplicar uma “hipnose extraordinariamente forte” sobre os países que tinham fronteira com o território soviético.

Foi sobretudo isto que originou a “decisão desastrosa” de invadir a Polónia.

Estaline não queria mas Lenine avançou. Apesar da fragilidade do exército soviético, da força polaca, do risco que representava esta decisão militar, Lenine acreditava que uma revolução dos operários iria avançar na Polónia.

E, como recebeu a indicação – dos bolcheviques polacos – que os trabalhadores polacos iriam ajudar o Exército Vermelho, a operação militar começou.

A guerra não durou muito. A Polónia venceu os vizinhos em duas semanas, em Agosto de 1920, perto de Varsóvia. Foi na Batalha de Varsóvia, ou no “Milagre no Vístula”, decisiva na guerra entre polacos e soviéticos.

Uma humilhação para os russos/soviéticos, há mais de 100 anos. Que começou numa “conspiração complexa anti-soviética”.

ZAP //
17 Setembro, 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 5 dias ago

Loading

169: Corrupção, repressão, nepotismo – é assim o regime de Ilham Aliyev, um parceiro “fiável” da União Europeia

 

🇦🇿 AZERBAIJÃO // 🇪🇺 UNIÃO EUROPEIA

É um dos chefes de Estado mais ricos do mundo e também um dos maiores tiranos da actualidade. Os 20 anos da presidência de Ilham Aliyev foram marcados por um grande crescimento económico do Azerbaijão, mas também por repressão, nepotismo, corrupção e whitewashing.

Ursula von der Leyen e Ilham Aliyev (Getty Images) © CNN Portugal

Actualmente, Aliyev e o seu regime estão no centro de outro escândalo internacional, ao serem responsáveis por um bloqueio total à auto-proclamada República de Artsakh, deixando a morrer à fome cerca de 120 mil pessoas, entre as quais 30 mil crianças.

A crueldade desta tomada de posição não é uma novidade na sua vida, como veremos mais à frente. Ao ter nascido no seio de uma família de elite, Aliyev sempre esteve destinado a assumir o poder.

O seu pai, Heydar, liderou a República Socialista Soviética do Azerbaijão entre 1969 e 1982, tendo depois chegado a número dois do governo da URSS.

Sendo filho de um dos mais importantes membros do Partido Comunista da União Soviética, Ilham Aliyev teve muitos privilégios enquanto jovem, como frequentar o prestigiado Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo, onde tirou o seu doutoramento em História e deu aulas durante cinco anos, de 1985 a 1990.

O colapso da União Soviética pouco alterou a ordem política doméstica do Azerbaijão. Heydar Aliyev governou o país com mão de ferro de 1993 até 2003, ano da sua morte.

Após eleições presidenciais fraudulentas, nas quais obteve mais de 75% dos votos, Ilham, que desde 1994 ocupava o lugar de vice-presidente da petrolífera estatal SOCAR, subiu ao trono que fora do seu pai e por lá se mantém até à actualidade.

Sob a sua batuta, o autoritarismo manteve-se. Não há imprensa livre, liberdade de expressão ou de reunião e o nepotismo é indelével – a sua mulher, Meriban Aliyeva, é também a vice-presidente do país. A oposição política é fortemente controlada e as eleições não são livres nem justas.

Um caso paradigmático é o das eleições presidenciais de 2013. Antes de os eleitores serem chamados às urnas, a Comissão Central de Eleições do Azerbaijão lançou uma aplicação para telemóveis onde os azeris iriam poder acompanhar, em tempo real, todos os acontecimentos.

Na véspera das eleições, no entanto, foram divulgados os resultados da mesma, com Ilham Aliyev a obter cerca de 72,76%.

Citado pela CNBC, o criador da aplicação, Vusal Isayev, argumentou na altura que os resultados divulgados eram os das eleições anteriores, algo impossível dado que o principal candidato da oposição, Jamil Hasanly, nunca tinha concorrido à presidência.

Os 20 anos de presidência de Aliyev têm sido marcados também por um forte crescimento económico do Azerbaijão.

Beneficiando das vastas reservas de petróleo e gás natural, a economia azeri cresceu a uma média de 14% ao ano nos primeiros dez anos da sua presidência, tendo sido mesmo a economia que registou a maior taxa de crescimento anual entre 2005 e 2007, segundo dados do Banco Mundial.

Baku (AP) © Fornecido por CNN Portugal

Corrupção, nepotismo e whitewashing

A riqueza, contudo, não chega a boa parte das famílias azeris e é acumulada sobretudo por uma: os próprios Aliyev.

Do sector bancário às telecomunicações, os Aliyev controlam uma parte significativa da economia local, quase sempre através de esquemas obscuros com empresas offshore.

Um exemplo das artimanhas é a Azerfon, uma das maiores empresas de telecomunicações do país. De acordo com uma investigação da Radio Free Europe em 2011, a Azerfon era detida na altura por três empresas panamianas, uma empresa com sede no paraíso fiscal de Nevis, nas Caraíbas, e pela operadora estatal Aztelecom.

As três empresas panamianas – Gladwin Management, Inc; Grinnell Management, Inc; e Hughson Management, Inc – detinham, cada uma, 24% das acções da Azerfon.

No caso das duas primeiras, a presidente era Leyla Aliyeva, a filha mais velha de Ilham Aliyev, e a tesoureira era Arzu Aliyeva, a mais nova. No caso da Hughson, os papéis invertem-se.

Arzu Aliyeva, à esquerda, e Leyla Aliyeva, à direita (Getty Images) © Fornecido por CNN Portugal

Os milhares de milhões que os Aliyev acumularam ao longo dos anos também foram aplicados na compra de luxuosas propriedades pelo mundo fora. Em 2010, o Washington Post revelou que os três filhos do presidente azeri detinham propriedades no Dubai no valor de 70 milhões de euros.

O caso do filho de Ilham Aliyev, Heydar (tem o mesmo nome do avô), fez levantar algumas sobrancelhas: com apenas 11 anos já era proprietário de nove mansões no Palm Jumeirah, um dos mais reconhecíveis empreendimentos de luxo no mundo.

É em Londres, porém, que os Aliyev aparentam ter a maior parte do seu portefólio imobiliário. Em 2021, o Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) analisou documentos disponibilizados durante o escândalo dos Panama Papers e concluiu que o valor total das dezenas de propriedades que os Aliyev detinham na capital britânica era de 653 milhões de euros.

“A propriedade deste império imobiliário tem sido sistematicamente escondida durante anos atrás de empresas offshore com nomes genéricos como Sheldrake Six e Fliptag Investments”, escreveu o OCCRP no relatório, que descobriu 84 offshores com sede nas Ilhas Virgens Britânicas associadas aos Aliyev.

A fortuna do regime azeri é igualmente usada para branquear a imagem do país no estrangeiro. A estratégia do país é conhecida como “diplomacia caviar”, termo usado pela primeira vez num relatório do think tank European Stability Initiative (ESI) em 2012.

No documento, o ESI alega ter ouvido de fontes azeris que Baku envia meio quilo de caviar quatro vezes por ano a “amigos” na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE, na sigla em inglês) que, em troca, elogiam o regime de Aliyev ou tentam abafar as críticas a ele feitas.

“O caviar, pelo menos, é oferecido em todas as sessões. Mas durante as visitas a Baku também são dadas muitas outras coisas. Muitos deputados são regularmente convidados a visitar o Azerbaijão e são generosamente pagos.

Num ano normal, pelo menos 30 a 40 são convidados, alguns deles repetidamente. As pessoas são convidadas para conferências, eventos e, por vezes, para as férias de verão. São verdadeiras férias e os presentes são muito caros.

Os presentes são sobretudo tapetes de seda caros, objectos de ouro e prata, bebidas, caviar e dinheiro. Em Baku, uma prenda comum é 2 quilos de caviar”, pode ler-se no relatório.

O maior escândalo, a “Lavandaria Azeri”, foi revelado pelo OCCRP em 2017. Entre 2012 e 2014, cerca de 2,7 mil milhões de dólares foram canalizados para centenas de indivíduos e empresas europeias.

Entre os responsáveis políticos que foram pagos para fazer lobbying a favor do Azerbaijão estão Luca Volontè, líder do grupo parlamentar do Partido Popular Europeu (PPE) na PACE entre 2010 e 2013, e Karin Strentz, ex-deputada no parlamento alemão pelo partido de Angela Merkel, a CDU.

Strenz morreu em 2021 antes de ser acusada de qualquer crime, enquanto Volontè foi condenado em Janeiro de 2021 a quatro anos de prisão por lavagem de dinheiro e recebimento de suborno – no total, o político italiano recebeu 2,39 milhões de euros do regime azeri.

Dentro da legalidade, o dinheiro azeri também chegou aos bolsos de artistas como Mariah Carey, Christina Aguilera e Lady Gaga.

De acordo com o canal Eurosport, esta última recebeu cerca de 1,8 milhões de euros para actuar dez minutos na cerimónia de abertura dos primeiros Jogos Europeus, realizados em 2015 em Baku.

Também importante para promover a imagem do país junto do Ocidente tem sido o Grande Prémio de Fórmula 1 realizado todos os anos desde 2016 na capital azeri.

É um privilégio caro: segundo o portal RacingNews365, o Azerbaijão paga mais de 50 milhões de euros todos os anos para acolher um fim de semana de Fórmula 1, valor apenas igualado pela Arábia Saudita e pelo Catar.

Ilham Aliyev no pódio do primeiro Grande Prémio de Fórmula 1 realizado em Baku, em 2016, acompanhado da mulher, Meriban Aliyeva (Getty Images) © Fornecido por CNN Portugal

O “ouro negro” que atrai a Europa

Contudo, é bem longe dos holofotes, no sector energético, que o governo de Aliyev agarra o Ocidente.

Pouco depois do colapso da União Soviética, em 1995, formou-se a Azerbaijan International Operating Company (AIOC), um consórcio de empresas do sector energético liderado pela britânica BP para explorar o complexo de poços de petróleo de Azeri-Chirag-Gunashli (ACG), no Mar Cáspio.

Para além da BP, que detém mais de 30% das acções do consórcio, e de outras empresas turcas e japonesas, também as petrolíferas americanas Chevron e ExxonMobil e a norueguesa Equinor, detida pelo Estado norueguês, têm participações no projecto.

Este contrato foi apelidado de “Contrato do Século” no Azerbaijão. Até Junho de 2023, de acordo com a BP, os parceiros do consórcio investiram mais de 39 mil milhões de euros no ACG, origem de mais de 90% das exportações de petróleo do país.

O mais recente projecto do complexo ACG foi apresentado em 2019 e denomina-se Azeri Central East (ACE). Segundo a BP, o investimento de 5,5 mil milhões de euros vai aumentar a capacidade de produção do complexo em 100 mil barris por dia. A produção no ACE deve começar no início de 2024.

A assinatura do “Contrato do Século” na residência oficial do primeiro-ministro britânico, em Londres. Em cima, à esquerda, Heydar Aliyev, anterior presidente do Azerbaijão, e à direita Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido. Em baixo, à esquerda, Johan Nic Vold, da petrolífera estatal norueguesa Statoil (actual Equinor), John Browne, da BP, ao centro, e Natik Aliyev, da SOCAR, à direita (Getty Images) © Fornecido por CNN Portugal

O principal cliente das exportações azeris é, naturalmente, a União Europeia, que tem activamente promovido e financiado projectos na área energética.

Um exemplo é o Gasoduto Trans-Adriático, que liga o campo de exploração de gás de Shah Deniz, também no Mar Cáspio, a Itália, passando pela Turquia, Grécia e Albânia.

Este gasoduto, financiado em 700 milhões de euros pelo Banco Europeu de Investimento, cimentou a posição de Itália como maior importador do Azerbaijão: em 2022, 47% das exportações azeris, ou 16,5 mil milhões de euros, tiveram como destino a península italiana.

Os restantes lugares do top 3 são ocupados pela Turquia e por Israel, para onde foram canalizadas 9,3% e 4,4% das exportações do Azerbaijão, respectivamente.

Portugal aparece na 11.ª posição desta lista, tendo importado quase 700 milhões de euros do país do Cáucaso, cerca de 2% das vendas do Azerbaijão para o exterior.

Após a invasão russa da Ucrânia, em Julho de 2022, a União Europeia deu mais um passo para incrementar a compra de gás azeri com a assinatura de um memorando, que prevê duplicar as importações de gás deste país até 2027.

“A UE está a virar-se para fornecedores fiáveis de energia. O Azerbaijão é um deles. Com o acordo de hoje, comprometemo-nos a expandir o Corredor Meridional de Gás, a fim de duplicar o fornecimento de gás do Azerbaijão à UE”, escreveu na altura a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no Twitter.

Ursula von der Leyen e Ilham Aliyev assinam acordo para aumento das importações de gás azeri por parte da União Europeia, Baku, 18 de julho de 2022 (Getty Images) © Fornecido por CNN Portugal

O sentimento anti-arménio

Não obstante todos os problemas acima mencionados, a faceta mais preocupante do regime de Ilham Aliyev é o sentimento anti-arménio. Nas últimas décadas, o ódio aos arménios e à Arménia, despoletado pela disputa da região do Nagorno-Karabakh, tornou-se quase numa ideologia de Estado, capaz de unir todos os azeris, mesmo os críticos do regime.

“O nosso principal inimigo é o lobby arménio… A Arménia como país não tem valor. É, na verdade, uma colónia, um posto avançado gerido a partir do estrangeiro, um território criado artificialmente em antigas terras do Azerbaijão”, disse Aliyev em 2012.

Nos últimos meses, a situação entre os dois países tem-se tornado cada vez mais insustentável. O bloqueio azeri do corredor de Lachin, e consequente isolamento da auto-proclamada República de Artsakh, deixou 120 mil arménios sem acesso a bens essenciais desde Dezembro de 2022.

A preocupação do lado arménio tem aumentado significativamente nos últimos dias. Nas redes sociais, são vários os vídeos que mostram uma aparente movimentação de tropas azeris ao longo das fronteiras com a Arménia e com Artsakh, operação em tudo semelhante à realizada pela Rússia nas semanas que antecederam a invasão da Ucrânia.

“Nos últimos dias, o Azerbaijão tem concentrado forças ao longo da linha de contacto com o Nagorno-Karabakh e na fronteira com a Arménia”, denunciou o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, no dia 7 de Setembro, alertando que Baku está a preparar-se para uma “nova provocação militar” contra o Nagorno-Karabakh e a Arménia.

O Azerbaijão negou as palavras de Pashinyan, classificando-as de “manipulação política”.

Outro indicador de que o governo de Aliyev pode estar a preparar uma ofensiva é o aumento dos voos militares entre Israel e o Azerbaijão nas últimas semanas. Os israelitas são dos maiores fornecedores de armas às tropas azeris.

De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute, quase 27% do armamento importado pelo Azerbaijão entre 2011 e 2020 veio de Israel – apenas superado pela Rússia -, número que sobe para 69% se isolado o período entre 2016 e 2020.

Moralizado pela vitória na Segunda Guerra do Nagorno-Karabakh há três anos, Ilham Aliyev pode estar prestes a desencadear um novo conflito armado no Cáucaso.

MSN Notícias
Pedro Falardo
16.09.2023

CNN Portugal CNN Portugal


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 5 dias ago

168: ONG denuncia envio ilegal pela Rússia de observadores a eleições

 

🇷🇺 RUSSONAZIS // 🇷🇺 MOSCÓVIA //
🇷🇺 KREMLIN // 🇷🇺 ELEIÇÕES ILEGAIS

O Centro para a Integridade Democrática informou que identificou 34 estrangeiros não-russos que foram envolvidos pelo Kremlin na observação das eleições naquelas zonas ocupadas.

© EPA/MAXIM SHIPENKOV

Uma organização não-governamental (ONG) denunciou esta sexta-feira o envio por parte da Rússia de “observadores internacionais” para monitorizar as recentes eleições nas regiões ucranianas ocupadas de Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporijia, afirmando tratar-se de uma violação das leis da Ucrânia.

O Centro para a Integridade Democrática (CID) — uma ONG que analisa tentativas de regimes autoritários para influenciar politicamente as sociedades — informou que identificou 34 estrangeiros não-russos que foram envolvidos pelo Kremlin (Presidência russa) na observação das eleições naquelas zonas ocupadas, que decorreram em 10 de Setembro.

“Ao entrar ilegalmente nos territórios ucranianos, todos os ‘observadores internacionais’ violaram leis ucranianas, e apelamos às autoridades nacionais relevantes para que informem os seus cidadãos sobre as consequências que podem enfrentar pela sua participação nos esforços da propaganda russa”, disse o CID, num comunicado.

O CID reconhece que não é possível determinar o número exacto de “observadores internacionais” envolvidos no processo, mas estima que o Kremlin tenha organizado quatro grupos de até 10 elementos nas zonas ocupadas de Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporijia, indicando, porém, que pelo menos 34 elementos foram identificados.

No passado domingo, dia 10 de Setembro, a Rússia realizou eleições regionais e municipais, numa votação alargada às regiões que anexou à Ucrânia, apesar da condenação de Kiev e da generalidade da comunidade internacional.

A votação, que foi iniciada no dia 8 de Setembro em algumas zonas, englobou a península da Crimeia, anexada em 2014, e as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, anexadas já depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, em 24 Fevereiro de 2022.

Kiev e os seus aliados, nomeadamente a União Europeia (UE) e os Estados Unidos, consideraram que as eleições nos territórios ucranianos ocupados foram ilegais e não terão quaisquer consequências jurídicas.

Na altura, a UE considerou que as eleições foram “uma tentativa fútil da Rússia de legitimar ou normalizar o seu controlo militar ilegal (…) de partes dos territórios ucranianos”, concluindo que não iria reconhecer essas mesmas consultas eleitorais ou os seus resultados.

Por seu lado, os Estados Unidos referiram-se às “eleições falsas nas áreas ocupadas da Ucrânia” como um “mero exercício de propaganda”, e afirmaram que “nunca reconhecerão as reivindicações da Federação Russa sobre qualquer território soberano da Ucrânia”.

DN/Lusa
15 Setembro 2023 — 16:35


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 7 dias ago