103: O maior telescópio do mundo é Extremamente Grande. O que vamos conseguir ver com ele?

 

CIÊNCIA // UNIVERSO // TELESCÓPIOS

Vai destronar o Webb ao captar mais luz do que todos os telescópios existentes combinados e visitar as primeiras galáxias do Universo para tentar responder à pergunta eterna: “estamos sozinhos?”

Wikimedia Commons
Impressão de artista do futuro Telescópio Extremamente Grande (ELT), que ficará no Deserto do Atacama, no Chile.

Vai chegar em breve, ao Chile, o Telescópio Extremamente Grande (ELT), cujo nome não mente — e é até ingénuo.

A verdade é que o gigante óptico se prepara para conquistar o título de maior telescópio do mundo e provar que o céu não é o limite ao estabelecer um novo horizonte no mundo da Astronomia.

Com um espelho primário de 39 metros, o ELT vai superar a capacidade de captação de luz combinada de todos os grandes telescópios existentes ao criar a superfície reflectora mais extensa e precisa alguma vez conhecida.

Esta capacidade notável permitirá ao novo “brinquedo” detectar objectos milhões de vezes mais ténues do que aqueles visíveis ao olho humano.

Um dos principais objectivos do ELT é observar algumas das primeiras galáxias formadas, com luz que viajou 13 mil milhões de anos para nos alcançar — mas as suas intenções vão além disso.

A questão mais profunda que o ELT procura responder é uma das maiores e mais velhas incógnitas do nosso mundo: “estamos sozinhos no Universo?”

A busca pela vida alienígena com dois instrumentos

Sendo que o ELT vai ser o primeiro telescópio a encontrar exoplanetas semelhantes à Terra na “zona Goldilocks” das suas estrelas, onde as condições são propícias para a vida, a busca pela vida alienígena pode vir a sofrer uma evolução monumental.

A câmara do ELT, com resolução seis vezes maior do que a do infame Telescópio Espacial James Webb, vai captar as imagens mais nítidas destes exoplanetas que alguma vez vimos.

No entanto, há que ressalvar que imagens por si só não serão suficientes para determinar o potencial de vida nestes exoplanetas, explica o Real Clear Science.

Os astrónomos vão empregar a espectroscopia para analisar o espectro de luz em busca de sinais de água, oxigénio e outros gases indicadores de vida recorrendo aos quatro espectrógrafos do ELT, construídos precisamente para este fim.

O instrumento Harmoni vai analisar a luz das atmosferas dos exoplanetas gigantes para detectar sinais de vida; o instrumento Andes, mais especializado e desenhado especificamente para detectar exoplanetas menores e semelhantes à Terra, vai identificar mudanças mínimas no comprimento de onda da luz causadas pelos efeitos gravitacionais destes planetas nas suas estrelas hospedeiras.

Gigante vai ver os primeiros momentos do Universo

O Extremamente Grande vai introduzir um novo método de detecção de exoplanetas.

Ao contrário do método de trânsito tradicionalmente usado para descobrir estes astros gigantes, o Andes focar-se-á na detecção do subtil balanço numa estrela causado pela atracção gravitacional do planeta em órbita — um método que requer a detecção de alterações incrivelmente ligeiras na cor da luz, uma tarefa para a qual o Andes estará singularmente equipado.

Fruto de um investimento “astronómico” de 1,45 mil milhões de euros, o ELT propõe-se a detalhar o nosso lugar específico no Universo, procurar sinais de vida “lá fora” e, em suma, redefinir toda a nossa compreensão do cosmos.

Vai espreitar, por nós, os primeiros momentos do Universo e dizer-nos o que há muito além do nosso sistema solar. Tudo deve começar em 2028, ano previsto para a conclusão do projecto.

 Tomás Guimarães, ZAP //
11 Novembro, 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 3 semanas ago

 

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68: Dinossauros estão a ajudar na procura de vida extraterrestre

 

⚗️ CIÊNCIA // PALEONTOLOGIA // 🦖DINOSSAUROS // 👽 VIDA EXTRATERRESTRE

Uma equipa de investigadores está a contar com uma ajuda improvável na procura por vida extraterrestre: os dinossauros.

Choo Yut Shing / Flickr

Durante a era dos dinossauros, a atmosfera da Terra continha níveis significativamente mais elevados de oxigénio, tornando as assinaturas químicas da vida mais discerníveis. Esta revelação poderá revolucionar a forma como procuramos vida em exoplanetas distantes.

O Éon Fanerozoico, que abrange os últimos 540 milhões de anos da história da Terra, coincidiu com o reinado dos dinossauros. Durante este período, os níveis de oxigénio atmosférico variavam entre 10% e 35%, um forte contraste com os actuais 21%. Este ambiente único criou bioassinaturas mais fortes e mais detectáveis, especificamente os pares de oxigénio e metano, bem como ozono e metano.

Os espectros de transmissão são formados quando a atmosfera de um planeta absorve cores específicas da luz das estrelas, permitindo a passagem de outras. Estes espectros são ferramentas valiosas para os cientistas decifrarem a composição de uma atmosfera à distância.

A nova investigação de uma equipa de cientistas da Universidade de Cornell sugere que os espectros de transmissão da Terra durante a era dos dinossauros teriam sido mais distintos, tornando teoricamente mais fácil para uma civilização extraterrestre detectar vida na Terra durante o período Jurássico do que nos tempos modernos.

Este estudo, escreve o Earth.com, sugere a possibilidade de que os planetas com atmosferas semelhantes às condições pré-históricas da Terra possam não só albergar formas de vida simples, mas também organismos mais complexos.

Rebecca Payne, que lidera a investigação, explora mudanças significativas na biosfera da Terra, medidas através de alterações na composição dos gases atmosféricos. Estas descobertas colmatam uma lacuna crucial na nossa compreensão do que procurar ao estudar exoplanetas que possam albergar vida extraterrestre.

O seu estudo destaca um período crucial em que o oxigénio atmosférico oscilou dentro do que é conhecido como a “janela de fogo” do carvão vegetal.

A “janela de fogo” do carvão vegetal ocorre quando os níveis de oxigénio são propícios tanto à prevenção como à manutenção de incêndios. Este equilíbrio pode ter impulsionado a evolução dos dinossauros e de outras criaturas de grande porte, especialmente quando os níveis de oxigénio atingiram um pico de cerca de 30%, há aproximadamente 300 milhões de anos.

Com cerca de 40 exoplanetas rochosos já identificados em zonas habitáveis, o Telescópio Espacial James Webb pode potencialmente analisar as suas atmosferas.

Embora os modelos actuais sejam teóricos, levantam a perspectiva de que alguns exoplanetas podem apresentar condições que permitiram o aparecimento de formas de vida diversas e complexas, semelhantes ao passado pré-histórico da Terra.

A descoberta de um exoplaneta com uma atmosfera contendo 30% de oxigénio pode ter implicações significativas, aumentando as hipóteses de encontrar vida microbiana e sugerindo a existência de criaturas tão grandes e variadas como as do passado da Terra.

O novo estudo foi recentemente publicado na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters.

ZAP //
7 Novembro, 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 4 semanas ago

 

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