177: Temos de sair do berço. Mas vamos para onde, Marte? Porque não Vénus?

 

CIÊNCIA // HUMANIDADE // UNIVERSO

Há anos que andamos obcecados com a ideia de chegar a Marte. Para alguns especialistas, é o planeta errado. Isto porque Vénus está mais perto, a viagem seria mais curta e deixaria uma valiosa experiência de aprendizagem. Claro, nem todos concordam. Então, será que estamos a traçar um caminho espacial errado?

“Precisamos de perceber como podemos sair do berço.”

A frase é do Dr. Noam Izenberg, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, e para sermos precisos e contextualizarmos as coisas: não, ele não está a falar de bebés que saltam da cama para explorar o quarto.

O que Izenberg se questiona é: como planear a nossa exploração do universo, além da Terra e da Lua, para a qual decidimos começar a tarefa há algumas décadas?

A pergunta parece um pouco extemporânea, especialmente se tivermos em conta que a NASA estabeleceu o objectivo de levar uma missão tripulada a Marte no final da década de 2030 ou no início da década de 2040 e que Elon Musk prevê que aterraremos no planeta vermelho dentro de dez anos.

Para Izenberg, no entanto, não tem de ser este o caso e a questão é pertinente. De facto, Izenberg argumenta que talvez seja mais sensato olhar para outro dos nossos vizinhos do Sistema Solar, Vénus, antes de tentar explorar Marte de forma tripulada.

O paradigma actual da NASA é ir da Lua a Marte. Estamos a tentar defender Vénus como um alvo adicional neste caminho.

Disse Izenberg. Esta sua opinião é partilhada por outros astrónomos. Mas então, quais são os argumentos que sustentam esta mudança de objectivo?

O investigador refere que, em primeiro lugar, está a proximidade. A distância varia de acordo com as órbitas, mas a NASA estima que Vénus se situa entre 38,2 e 261 milhões de quilómetros. No caso de Marte, a agência espacial americana fala de 54,6 a 401,4 milhões de quilómetros.

A distância média entre a Terra e Marte é de aproximadamente 225 milhões de quilómetros. No entanto, esta distância pode variar significativamente devido às órbitas elípticas.

A distância mínima entre a Terra e Marte, chamada de oposição, ocorre quando os dois planetas estão alinhados do lado oposto do Sol. Nesse momento, a distância pode diminuir para cerca de 54,6 milhões de quilómetros. A oposição ocorre aproximadamente a cada 26 meses.

Já a distância máxima, chamada de conjunção superior, ocorre quando Marte está do lado oposto do Sol em relação à Terra. Nesse ponto, a distância pode ser de até 401,4 milhões de quilómetros.

Vénus, com as suas nuvens de ácido sulfúrico e temperaturas superficiais infernais, é frequentemente ignorado como uma morada potencial para a vida. Mas alguns cientistas planetários sugeriram que micróbios que vivem na atmosfera poderiam sobreviver nas camadas inferiores de nuvens, possivelmente explicando os misteriosos fenómenos atmosféricos de Vénus.

Vamos antes a Vénus e um dia pensamos em Marte

Os defensores da inclusão de Vénus no calendário espacial afirmam, como relata o The Guardian, que poderíamos realizar uma viagem tripulada a Vénus em menos tempo: em vez dos três anos que seriam necessários para completar uma viagem de ida e volta a Marte, uma missão a Vénus demoraria cerca de um ano.

A experiência permitir-nos-ia conhecer melhor o planeta, mas também forneceria uma primeira lição valiosa sobre missões tripuladas e explorações prolongadas.

Outra vantagem de incluir Vénus no planeamento é que o que pareceria ser um desvio para Vénus encurtaria a viagem e pouparia combustível para o planeta vermelho, tirando partido da sua gravidade.

Em todo o caso, o objectivo da missão venusiana pode ser definido quer numa missão autónoma, quer numa missão que tenha Marte como destino final.

Aprenderíamos a trabalhar no espaço profundo, sem nos comprometermos com uma missão completa a Marte.

Concluiu Izenberg.

As reflexões do especialista sobre a atractividade de uma missão a Vénus são apresentadas no relatório “Meeting with the Goddess”, editado com o economista da NASA, Alexander Macdonald.

Pplware
Autor: Vítor M
17 Nov 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 2 semanas ago

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100: Cientistas detectam oxigénio no lado diurno de Vénus

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // VÉNUS

Maioritariamente composta por nuvens de dióxido de carbono, a atmosfera do “gémeo” da Terra também conta com oxigénio — um oxigénio diferente do nosso que nos permite entender as diferenças entre Vénus e Terra.

Venus, captado pela sonda Magellan da NASA

Astrónomos detectaram pela primeira vez directamente sinais claros da presença de oxigénio na luz do dia de Vénus, acima das nuvens tóxicas do planeta.

No lado diurno do planeta, o “gémeo” da Terra conta com oxigénio atómico, verificou agora um estudo liderado pelo físico Heinz-Wilhelm Hübers do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e publicado na Nature Communications.

O oxigénio atómico encontrado no planeta vizinho é diferente do oxigénio molecular que respiramos (O2). Por sua vez, o oxigénio de Vénus consiste em átomos individuais altamente reactivos e transitórios, lembra o Science Alert.

Um processo semelhante de produção de oxigénio ocorre em Vénus: enquanto na Terra é produzido em grandes altitudes através da foto-decomposição — onde fotões solares separam o oxigénio molecular —, em Vénus a luz solar “divide” o dióxido de carbono em oxigénio atómico e monóxido de carbono.

O estudo recorreu ao Observatório Estratosférico para Astronomia Infravermelha (SOFIA) para recolher dados na gama de comprimento de onda terahertz.

As observações abrangeram 17 localizações de Vénus diferentes e confirmaram a presença de oxigénio atómico, assinalando a sua concentração máxima a cerca de 100 quilómetros acima da superfície, numa região que fica entre os dois padrões atmosféricos principais.

A descoberta fornece novas perspectivas sobre a dinâmica da atmosfera e os padrões de circulação de Vénus, que apresenta um contraste acentuado com as suas condições extremas, tais como temperaturas médias de superfície em torno de 464 graus Celsius e nuvens espessas compostas principalmente de dióxido de carbono.

Entender por que Vénus evoluiu de forma tão diferente da Terra é ainda uma questão chave para os cientistas.

“Juntamente com medições de oxigénio atómico nas atmosferas da Terra e de Marte, estes dados podem ajudar a melhorar a nossa compreensão de como e por que as atmosferas de Vénus e da Terra são tão diferentes”, escrevem os investigadores.

A descoberta de oxigénio atómico não é apenas uma conquista no estudo de Vénus, mas também proporciona um novo método para examinar a zona de transição da atmosfera do planeta.

“Observações futuras, especialmente perto dos pontos anti-solar e sub-solar mas também em todos os ângulos de zénite solar, fornecerão uma imagem mais detalhada desta região peculiar e apoiarão futuras missões espaciais a Vénus,” escrevem os investigadores.

ZAP //
11 Novembro, 2023


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 3 semanas ago

 

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