– … E porque não levar o carro para dentro do prédio??? O mesmo se aplica a todos os labregos que estacionam diariamente em cima dos passeios, das passadeiras, das paragens dos transportes públicos, bloqueiam portas de prédios e a polícia passa, vê e assobia para o lado nada fazendo em termos de efectivar contra-ordenações às infracções ao Código da Estrada! Só não entram nos prédios onde residem porque a porta não tem largura suficiente e o hall de entrada do prédio é pequeno para estacionar a lata! Vivemos numa sociedade podre, abjecta, sem carácter, sem absolutamente nada de positivo.
🇵🇹 OPINIÃO
Todos os dias, pelo menos duas vezes, assistimos à romaria de pais que tentam a todo o custo entrar com os carros pelos portões das escolas dos seus filhos. Não chega levar as crianças à escola de carro, é necessário deixá-las a não mais do que meio metro do portão.
Estes carros amontoam-se nas imediações das escolas, estacionam em segunda e terceira fila, param à vez na frente da escola, esperam que a criança saia, se despeça, feche a porta, aperte o casaco e entre no edifício. Só depois arrancam, para outro carro, logo atrás, repetir a proeza.
Falamos hoje da dificuldade que muitos pais sentem em potenciar a autonomia dos seus filhos, persistindo em práticas educativas que os infantilizam e impedem de crescer de uma forma saudável.
Pais que protegem de uma forma excessiva e que acabam por reforçar a imaturidade e os comportamentos de dependência nas crianças.
Será que estes padrões parentais facilitam um processo de crescimento saudável? A resposta é “não”.
[É] tão importante que, desde cedo, os pais e outros cuidadores promovam a autonomia e a independência das crianças, incentivando comportamentos de descoberta, aventura e ousadia. Queremos crianças protegidas mas não em demasia, arrojadas e que ousem arriscar e tentar ir mais longe
Para crescerem de uma forma ajustada, as crianças precisam sentir segurança nos laços afectivos que estabeleceram com as suas figuras cuidadoras.
E é esta mesma segurança que lhes permite depois, de forma gradual, explorar o mundo à sua volta. Significa isto que a criança deve ser incentivada a descobrir o meio que a rodeia, confrontando-se com novas situações que a desafiem.
Porque é este desafio que as ajuda a pensar de uma forma divergente e a encontrar novas formas de resolver problemas, aprendendo também com os erros e as dificuldades.
Olhamos à nossa volta e vemos crianças que crescem numa redoma de vidro.
Não podem subir a uma árvore porque podem cair e magoar-se.
Não podem atravessar a estrada porque podem ser atropeladas.
Não podem ir a pé para a escola porque está frio e chuva.
Não podem fazer tarefas domésticas porque podem cansar-se.
Não podem fazer compras simples porque podem ser roubadas.
Não podem brincar na rua porque podem ser raptadas.
– São frágeis flores de estufa…
Mas podem passar dias e noites fechadas no quarto agarradas a um écran, que mais não é do que uma sensação de (falsa) segurança para os pais.
As crianças que crescem desta forma experienciam frequentemente medo e ansiedade perante situações novas e desafiantes, sentem maior medo de errar (e por isso nem tentam) e podem interiorizar a ideia de que não têm recursos internos para lidar com um mundo que acreditam ser perigoso.
Desconstruir estas crenças não é fácil e é, por isso, tão importante que, desde cedo, os pais e outros cuidadores promovam a autonomia e a independência das crianças, incentivando comportamentos de descoberta, aventura e ousadia.
Queremos crianças protegidas mas não em demasia, arrojadas e que ousem arriscar e tentar ir mais longe.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal
DN
Rute Agulhas
02 Novembro 2023 — 00:22
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 1 mês ago