339: Natal à vista, stresse instalado

 

– “… E o que dizer dos lugares vazios à mesa? São lugares vazios cheios de memórias que carregam consigo as saudades e o desalento de tempos idos que não voltam mais.👪👍

🇵🇹 OPINIÃO

A menos de um mês do Natal já se sente o stresse e a ansiedade tão típicos desta altura do ano. Por mais que seja uma época desejada e globalmente associada a aspectos positivos, não deixa de comportar também um conjunto de preocupações, habitualmente relacionados com a gestão das expectativas associadas às dinâmicas familiares.

Porque se, para muitas famílias, o Natal representa, efectivamente, harmonia e bem-estar, para outras tantas é sinónimo de conflitos, tensões e muitas dores de cabeça.

Estes conflitos são mais significativos quando existem pais separados ou divorciados, que disputam (por vezes, com recurso a um cronómetro) o tempo com os filhos. Pais estes que se esquecem de que a magia do (verdadeiro) Natal envolve tolerância, aceitação e flexibilidade.

Mas muita ansiedade surge também associada à antecipação do reencontro com familiares mais distantes, adivinhando-se eventuais divergências e desacordos. Para muitos, o Natal mais não é do que uma altura de muito fingimento e hipocrisia, em que se faz-de-conta que está tudo bem.

E o que dizer dos lugares vazios à mesa? São lugares vazios cheios de memórias que carregam consigo as saudades e o desalento de tempos idos que não voltam mais.

A ideia cor-de-rosa e romantizada do Natal nem sempre corresponde à realidade e é fundamental ajustar as expectativas, minimizando sentimentos de frustração e angústia. Este ajustamento prévio permite ainda antecipar eventuais dificuldades, bem como possíveis soluções para as mesmas.

Pensemos ainda nas pessoas mais sós que vivem esta quadra como vivem o resto do ano – sozinhas. Para estas, a tristeza e a sensação de vazio instala-se e demora a ir embora, mais ainda quando se confrontam com as aparentes “famílias felizes” que a televisão e as redes sociais teimam em divulgar.

A ideia cor-de-rosa e romantizada do Natal nem sempre corresponde à realidade e é fundamental ajustar as expectativas, minimizando sentimentos de frustração e angústia. Este ajustamento prévio permite ainda antecipar eventuais dificuldades, bem como possíveis soluções para as mesmas.

Sabendo que atravessamos uma época que pode ser muito desafiante, sublinhamos a importância em cuidar da saúde mental, adoptando alguns comportamentos de auto-cuidado.

Cuidar do sono e da alimentação, fazer algum exercício físico e procurar interagir com pessoas com quem podemos desabafar e partilhar aquilo que pensamos e sentimos.

Mudar as lentes dos óculos com que olhamos a realidade à nossa volta e focarmo-nos naquilo que é verdadeiramente essencial, reaprendendo a dar valor às mais pequenas coisas. Porque aquilo que é realmente importante não está debaixo da Árvore de Natal embrulhado em papel colorido. Está dentro de nós e das pessoas de quem mais gostamos.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

DN
Rute Agulhas
30 Novembro 2023 — 00:27


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 6 dias ago

Loading

228: Uma crítica pode derrubar ou construir

 

– “… Diria que uma crítica pode ser como uma moeda com duas faces — por um lado, uma análise ou julgamento a respeito de algo, criando uma oportunidade de mudança e de crescimento; e, por outro, algo que pode arrasar e destruir, com um claro impacto negativo em quem recebe essa crítica.

Sem dúvida alguma! E quando se fazem juízos de valor sem primeiro tentar conhecer a origem da situação, a destruição ainda é maior. Destruição essa que pode causar o fim de uma amizade de infância, consubstanciada num elo familiar de proximidade. Criticar sim, mas com conhecimento de causa e pré-avaliação da situação. Basta um mínimo de bom senso.

🇵🇹 OPINIÃO

Vivemos numa sociedade mais habituada a criticar do que a elogiar. Aliás, quando recebemos um elogio ficamos, muitas vezes, sem jeito e mesmo desconfiados sobre as verdadeiras (e ocultas) motivações de quem tece esse elogio.

Se um elogio (sincero e verdadeiro) pode mudar de forma muito positiva o dia de alguém, também as críticas podem assumir esse poder. Desde que sejam críticas para construir, e não para deitar abaixo.

Diria que uma crítica pode ser como uma moeda com duas faces — por um lado, uma análise ou julgamento a respeito de algo, criando uma oportunidade de mudança e de crescimento; e, por outro, algo que pode arrasar e destruir, com um claro impacto negativo em quem recebe essa crítica.

A título de exemplo, podemos dizer a alguém que “o teu trabalho poderia melhorar neste aspecto, talvez se tentares isto…” ou, pelo contrário, “o teu trabalho está péssimo, já devia imaginar que seria assim, és sempre a mesma coisa”.

Uma crítica construtiva pretende ajudar e, por isso mesmo, deve ter em conta os interesses e as necessidades de quem é criticado. Deve ainda apresentar algumas soluções alternativas.

Já uma crítica destrutiva está frequentemente centrada (unicamente) no ponto de vista de quem critica, sem ter em consideração a outra pessoa, o que sente e quais as suas potencialidades de mudança.

Sabemos que criticar de uma forma construtiva não é fácil, e por isso aqui ficam algumas sugestões:

1. Pense antes de criticar. Será que este comentário é pertinente e vai de alguma forma ajudar a outra pessoa?

2. Escolha um momento adequado para criticar. As críticas devem ser feitas num ambiente privado e reservado, tendo também em conta a forma como as diversas pessoas se sentem.

3. Seja concreto e descreva a situação ou comportamento que está a criticar.

4. Não generalize. É importante não confundir a situação ou comportamento criticado com a pessoa que está a criticar. “Fazer” e “ser” são duas dimensões muito distintas.

5. Esteja atento àquilo que diz (verbalmente) e à forma como o diz (não verbalmente).

6. Apresente algumas soluções ou caminhos alternativos e disponibilize-se para pensar em conjunto.

Agora que conhecemos a “receita” para bem criticar, é hora de meter mãos à obra! Pense numa crítica que gostaria de fazer a alguém e tente formulá-la seguindo estes passos. Já está?

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

DN
Rute Agulhas
23 Novembro 2023 — 00:35


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 2 semanas ago

Loading

“Os meus pais dão-me muito trabalho”

 

🇵🇹 OPINIÃO

Pais mais centrados em si mesmos ou nos conflitos parentais do que nos interesses dos filhos são pais que dão muito trabalho… ao sistema profissional mas, sobretudo, aos filhos!

Falamos hoje da inversão de papéis familiares e em como as crianças parentificadas sofrem ao ter de assumir um papel que não é o seu e que, em rigor, cabe aos adultos.

No contexto de processos de separação/divórcio com elevado conflito parental, a parentificação das crianças é muito frequente e pode assumir diversas formas. Pensamos, por exemplo, na “Maria”, de 7 anos, que ouve as confidências da mãe, procurando confortá-la.

No “André”, de 13 anos, que evita sair com os amigos para fazer companhia ao pai. Ou no “Francisco”, de 15 anos, que sente que tem de proteger os irmãos da ira da mãe e recusa-se, por isso, a ir à escola.

Estes são apenas alguns exemplos de pais que, fruto da sua fragilidade, imaturidade ou auto-centração acabam por estar mais focados nas suas próprias necessidades do que nas dos filhos. Estes, por sua vez, acabam por ser obrigados a desempenhar um papel que não lhes devia caber. E que lhes rouba a infância e o direito a ser crianças.

No contexto de processos de separação/divórcio com elevado conflito parental, a parentificação das crianças é muito frequente e pode assumir diversas formas. Pensamos, por exemplo, na “Maria”, de 7 anos, que ouve as confidências da mãe, procurando confortá-la. No “André”, de 13 anos, que evita sair com os amigos para fazer companhia ao pai. Ou no “Francisco”, de 15 anos, que sente que tem de proteger os irmãos da ira da mãe e recusa-se, por isso, a ir à escola.”

Quando recentemente ouvi uma criança muito nova a dizer que os pais lhe davam muito trabalho, parei, estarrecida. É uma forma diferente de colocar esta questão e que, de uma forma muito clara, traduz aquilo que estas crianças sentem.

As crianças parentificadas sentem o peso de ter de proteger e cuidar dos pais. E cuidar de adultos não é tarefa fácil, menos ainda para uma criança!

Se queremos que uma criança cresça a sentir-se criança, com a liberdade, a ingenuidade e a inocência que lhes são devidas, pois temos de pensar sobre isto.

Uma criança que mede as palavras que diz, que tenta portar-se sempre bem ou estar sempre presente e disponível para os pais, não é uma criança. Parece uma criança por fora mas, se olharmos com muita atenção, vemos uns olhos tristes e um coração apertado.

Vemos uma pseudo-criança, a quem se exige um crescimento rápido e acelerado e que poderá tornar-se, mais tarde, num pseudo-adulto, amargurado e esvaziado por dentro.

São as crianças que devem (e ainda bem) dar trabalho aos pais, e não o contrário.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

DN
Rute Agulhas
16 Novembro 2023 — 00:51


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 3 semanas ago

Loading