🇵🇹 OPINIÃO
Nesta sexta-feira que se prevê de troca de reféns israelitas por presos palestinianos, preferimos continuar a acompanhar o Mali, que na passada terça-feira assinalámos através da crónica TSF “As FAMA/Wagner conquistaram Kidal sem disparar um tiro!”.
Na continuação deste exclusivo nacional (mais ninguém noticiou este importante facto maliano), estamos em condições de confirmar que a investida foi “dos Wagner/FAMA” e não “das FAMA/Wagner”, como consta no título TSF, embora Bamako continue a negar a presença russa no seu território, com propósitos operacionais, referindo-se sempre a estes enquanto “conselheiros militares”.
Neste particular, serviram de “músculo pneumático”, que iria esmagar qualquer resistência que se esperava de “rugido de leão”, mas os “kidalís em armas” anteciparam-se e fizeram uma retirada que parece tática!
Da importância de Kidal, já que se trata de um bastião independentista dos Ifoghas, o vértice da confederação tuaregue no norte, mais a norte do Mali, enquanto tribo dominante.
Azawad é o “pedaço de França” que os tuaregues no norte querem ver separado da capital Bamako, tal é o tamanho deste “triângulo de deserto”, com base no eixo Tombuktu/Gao e vértice precisamente em Kidal. O que é que está em jogo?
As FAMA, as Forças Armadas do Mali, anunciaram a conquista da cidade a 14 deste mês, sem resistência. Este facto é triplamente significativo, já que (1) Kidal é território dos ifoghas, a tribo tuaregue mais aguerrida e bem armada de Azawad (norte do Mali).
Por outro lado (2), toda a região tem sido também um ponto de refúgio do JNIM (Jama”at Nusrat al-Islam wal-Muslimin), o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, afiliado da Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI).
Por último (3), esta é a primeira vitória verdadeiramente significativa e simbólica da Junta Militar do Coronel Assimi Goita, que em Agosto de 2020 depôs o Presidente do Mali, Ibrahim Bubakar Keita.
A festa em Bamako, capital do Mali, estende-se até Ouagadougou, capital do Burkina Faso, com quem Mali e Níger têm a Aliança de Defesa no Sahel, o “G3 dos golpistas”! Do ponto de vista propagandístico, este é o melhor momento de Assimi Goita, o “Coronel-Mor” da Junta Militar do Mali.
O avanço foi terrestre e aéreo (aviões e drones), não encontrando resistência à vista. Porquê? Porque para toda a “inteligência” (falo de informações), existe sempre a “contra-inteligência”.
Vai daí quem poderia fazer frente à “fanfarra” que veio de Bamako e muito provavelmente denunciou a investida, “pegou na trouxa e pôs-se ao fresco”!
Ou seja, todos os membros do Quadro Estratégico Permanente, a federação tuaregue norte (em armas) e o JNIM, saíram da cidade dois/três dias antes da entrada dos Wagner/FAMA, para campos de refugiados junto à fronteira sul da Argélia.
Outro detalhe importante é perceber que os quartéis de apoio às FAMA, mais próximos são Anéfis, a cerca de 100 km de Kidal e Tessalit, mais próximo da fronteira com a Argélia que da cidade agora conquistada!
Porque é que isto é importante?
Porque muito provavelmente os “fugitivos de Kidal” vão regressar e apanhar os “conquistadores” entretidos com o sonho numa “cidade-deserto” isolada do resto do Mundo.
A festa que continua em Bamako e no vizinho Burkina Faso, em apoio a esta conquista, talvez para a próxima semana, mereça aqui nota de novo exclusiva sobre o pranto popular nos funerais, mais toda a disrupção nacional e regional que tal potencial humilhação a um exército nacional poderá provocar, sobretudo após a soberba da vitória fácil!
Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt (em reparação)
Escreve de acordo com a antiga ortografia
DN
Raúl M. Braga Pires
24 Novembro 2023 — 00:25
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 6 dias ago