244: Mali: Grupo Wagner na vanguarda da conquista de Kidal!

 

🇵🇹 OPINIÃO

Nesta sexta-feira que se prevê de troca de reféns israelitas por presos palestinianos, preferimos continuar a acompanhar o Mali, que na passada terça-feira assinalámos através da crónica TSF “As FAMA/Wagner conquistaram Kidal sem disparar um tiro!”.

Na continuação deste exclusivo nacional (mais ninguém noticiou este importante facto maliano), estamos em condições de confirmar que a investida foi “dos Wagner/FAMA” e não “das FAMA/Wagner”, como consta no título TSF, embora Bamako continue a negar a presença russa no seu território, com propósitos operacionais, referindo-se sempre a estes enquanto “conselheiros militares”.

Neste particular, serviram de “músculo pneumático”, que iria esmagar qualquer resistência que se esperava de “rugido de leão”, mas os “kidalís em armas” anteciparam-se e fizeram uma retirada que parece tática!

Da importância de Kidal, já que se trata de um bastião independentista dos Ifoghas, o vértice da confederação tuaregue no norte, mais a norte do Mali, enquanto tribo dominante.

Azawad é o “pedaço de França” que os tuaregues no norte querem ver separado da capital Bamako, tal é o tamanho deste “triângulo de deserto”, com base no eixo Tombuktu/Gao e vértice precisamente em Kidal. O que é que está em jogo?

As FAMA, as Forças Armadas do Mali, anunciaram a conquista da cidade a 14 deste mês, sem resistência. Este facto é triplamente significativo, já que (1) Kidal é território dos ifoghas, a tribo tuaregue mais aguerrida e bem armada de Azawad (norte do Mali).

Por outro lado (2), toda a região tem sido também um ponto de refúgio do JNIM (Jama”at Nusrat al-Islam wal-Muslimin), o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, afiliado da Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI).

Por último (3), esta é a primeira vitória verdadeiramente significativa e simbólica da Junta Militar do Coronel Assimi Goita, que em Agosto de 2020 depôs o Presidente do Mali, Ibrahim Bubakar Keita.

A festa em Bamako, capital do Mali, estende-se até Ouagadougou, capital do Burkina Faso, com quem Mali e Níger têm a Aliança de Defesa no Sahel, o “G3 dos golpistas”! Do ponto de vista propagandístico, este é o melhor momento de Assimi Goita, o “Coronel-Mor” da Junta Militar do Mali.

O avanço foi terrestre e aéreo (aviões e drones), não encontrando resistência à vista. Porquê? Porque para toda a “inteligência” (falo de informações), existe sempre a “contra-inteligência”.

Vai daí quem poderia fazer frente à “fanfarra” que veio de Bamako e muito provavelmente denunciou a investida, “pegou na trouxa e pôs-se ao fresco”!

Ou seja, todos os membros do Quadro Estratégico Permanente, a federação tuaregue norte (em armas) e o JNIM, saíram da cidade dois/três dias antes da entrada dos Wagner/FAMA, para campos de refugiados junto à fronteira sul da Argélia.

Outro detalhe importante é perceber que os quartéis de apoio às FAMA, mais próximos são Anéfis, a cerca de 100 km de Kidal e Tessalit, mais próximo da fronteira com a Argélia que da cidade agora conquistada!

Porque é que isto é importante?

Porque muito provavelmente os “fugitivos de Kidal” vão regressar e apanhar os “conquistadores” entretidos com o sonho numa “cidade-deserto” isolada do resto do Mundo.

A festa que continua em Bamako e no vizinho Burkina Faso, em apoio a esta conquista, talvez para a próxima semana, mereça aqui nota de novo exclusiva sobre o pranto popular nos funerais, mais toda a disrupção nacional e regional que tal potencial humilhação a um exército nacional poderá provocar, sobretudo após a soberba da vitória fácil!

Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt (em reparação)

Escreve de acordo com a antiga ortografia

DN
Raúl M. Braga Pires
24 Novembro 2023 — 00:25


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 6 dias ago

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Abraão “está vivo, aos pontapés e passou o fim-de-semana em Ríade”!

 

🇵🇹 OPINIÃO

A Arábia Saudita tem dado provas claras de não querer perder o comboio do pós-guerra, sabendo que é parte envolvida na actual guerra por Gaza. Por isso mesmo tem pautado as suas acções sem escalar a linguagem e as atitudes, optando por diplomacia e acções de voluntarismo discreto, como o abate de um míssil disparado do Iémen, com alvo em Israel, no último dia de Outubro.

Esta postura tem permitido à Arábia Saudita assumir-se como um parceiro credível para uma resolução futura, para a Questão Palestiniana, que inevitavelmente já está à mesa das negociações. De momento, ambas as partes projectam o que querem/devem negociar.

Importante é este período, este contexto, não criar párias que se tornem mobilizadores dos “órfãos políticos do Islão”, os radicais, os fundamentalistas, aqueles que os moderados rejeitam sempre dizendo, “isto não é Islão, não é nada”!

Por isso mesmo a Arábia Saudita tomou a iniciativa de organizar uma conferência do “arco islâmico” (da Mauritânia à Indonésia), com o apoio e mobilização da Organização para a Cooperação Islâmica e a Liga Árabe. Chefes-de-Estado e Chefes-de-Governo do “arco” reuniram-se em Riade no passado fim-de-semana, para exigirem o possível de momento, em vez de engrossarem as vozes com ameaças, que no contexto actual e, conhecendo estes “muçulmanos com poder de ginjeira”, rapidamente se poderia cair numa competição interna sobre quem fazia a ameaça mais criativa, sobre quem colocaria mais os dentes de fora!

E, exigir o possível, é “exigir” o fim dos bombardeamentos a Gaza e a organização de uma Conferência Internacional pela Paz, que resolva politicamente esta querela com mais de meio-século.

Esta Iniciativa Árabe (e islâmica) para a Paz, apresenta também uma “escadinha com degraus políticos, legais e humanitários” bem definidos e a cumprir.

A saber, terminar o cerco a Gaza com garantia de entrada de comboios humanitários árabes, islâmicos e internacionais, com a ajuda necessária a cada momento específico. Apoio directo ao esforço e à pressão egípcia para se tornar no principal e permanente fornecedor de ajuda à população do “mini-rectângulo”.

Também se apela às organizações internacionais que participem neste processo e ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que adopte uma Resolução que condene a destruição, deslocalização das populações e a falta de protecção a serviços e necessidades básicas das mesmas.

Garantido isto, estarão reunidas as condições para o cessar-fogo e para a tal Conferência Internacional, que finalmente discuta a condição palestiniana e as intransigências israelitas e como, a partir deste “nariz com nariz” se poderá chegar a um consenso que permita um sono mais tranquilo a ambas as partes.

Esta iniciativa demonstrou ser diferente das anteriores, já que também apresentou soluções como a activação da Rede Financeira de Segurança Árabe e Islâmica, que prestará apoio económico, financeiro e humanitário ao futuro Governo da Palestina, ainda por definir.

A conclusão a tirar desta reunião do passado fim-de-semana, é o facto da Arábia Saudita dar provas de ver um futuro colaborante com Israel, enquanto mal menor para a estabilização regional. Por outro lado, esta postura poderá trazer ganhos para os palestinianos, aquando das futuras negociações.

Os Acordos de Abraão não estão perdidos, havendo sinais de que a sua continuidade será uma solução possível, com as potências do Médio Oriente, à excepção do Irão (melhor forma de o isolar a este nível) aliadas com Israel contra “terrorismos menores” que não podem inquinar um objectivo maior, o direito à vida de palestinianos e israelitas e o direito ao sono tranquilo do Suez ao Eufrates!

Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt

DN
Raúl M. Braga Pires
17 Novembro 2023 — 00:28


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 2 semanas ago

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