– “… Os idosos a quem a pensão não chega ao fim do mês. A classe média que sente que a vida está mais difícil.“
🇵🇹 OPINIÃO
Contrariando as sondagens, um partido de extrema-direita populista ganhou as eleições nos Países Baixos. Ao que parece, terá sido favorecido pela “normalização” resultante de o principal partido de centro-direita ter também adoptado uma agenda anti-imigração e admitido fazer uma coligação pós-eleitoral com a extrema-direita.
Lição importante para o PSD, que fez o acordo com o Chega para o Governo dos Açores. Ao fim de um ano de indefinição, Luís Montenegro bem pode dizer que não o repetirá a nível nacional, que agora já ninguém acredita. E não ajuda ter metade do partido a defender que o faça.
Há certamente uma parte de eleitores dos partidos extremistas que com eles se identificam ideologicamente, nomeadamente com a agenda nativista. Em Portugal, por exemplo, assistimos algumas vezes a simpatizantes do Chega a fazer a saudação nazi. Mas esses estão longe de representar um grande número.
A maioria do seu eleitorado é composto por pessoas que não se colocam ideologicamente nesse quadrante, mas que encontram nesses partidos forma de expressar a sua frustração com a sua situação e com a forma como vêem o país.
Os jovens, que não conseguem empregos compatíveis com o que consideram merecer. Os pais, que têm de apoiar financeiramente os filhos ou que os vêem emigrar para encontrar melhores oportunidades. Os idosos a quem a pensão não chega ao fim do mês. A classe média que sente que a vida está mais difícil.
São histórias de vida pautadas por um denominador comum: uma sensação de que, independentemente do desempenho económico do país, o mundo já funcionou melhor para o cidadão comum. Pode não ser exactamente verdade, mas essa é a memória que guardamos do passado.
É neste contexto que o populismo prospera e prolifera. Ainda assim, porque votam agora quando antes se abstinham?
Por um lado, o estilo inflamado e indignado da sua retórica gera alguma sintonia com os sentimentos de frustração. Os populistas podem não oferecer respostas nenhumas, mas gritam bem alto contra algumas injustiças do mundo de hoje.
Por outro, empregam uma narrativa simplista e divisiva sobre a sociedade, o “nós” contra “eles” que elege um bode expiatório para explorar os impulsos emocionais mais elementares do ser humano. Muitas vezes contra os imigrantes, outras contra os políticos. É mais fácil arranjar culpados do que arranjar soluções.
Em todas as circunstâncias, há algo que sobressai: estes partidos não estão interessados em ser credíveis ou construir respostas. O seu objectivo é ter alcance mediático, criar polémicas, gerar indignação e raiva.
Como escrevi nestas páginas na semana passada, é profundamente errado considerar que o Chega “é um partido como os outros que estão presentes na Assembleia da República”, como defende o dr. Pedro Passos Coelho.
O seu programa político é a indignação e a exclusão do outro. E excluir de modo xenófobo os que são diferentes de nós não é próprio de partidos democráticos.
Ao centro e à esquerda, urge recuperar a iniciativa política, interrompida em Portugal por esta crise. Não ficar refém da agenda mediática dos populistas, nem se coibir de construir uma resposta moderada, humanista e democrática para esses temas.
Mas, sobretudo, combater a retórica saudosista e reaccionária com uma governação para as classes médias e trabalhadoras, com uma visão da sociedade onde ninguém fica para trás e que não empenhe o futuro dos nossos filhos.
8 valores
Luís Montenegro
As promessas aos pensionistas geraram algum entusiasmo, mas o estado de graça não durou 24 horas. No dia seguinte o líder parlamentar e porta-voz para a economia deixou transparecer que não passava de uma ilusão. Afinal, só incluía uma pequena minoria dos pensionistas. E nem sequer tinham feito as contas.
Eurodeputado
DN
Pedro Marques
30 Novembro 2023 — 00:23
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 6 dias ago