340: O mercado da indignação

 

– “… Os idosos a quem a pensão não chega ao fim do mês. A classe média que sente que a vida está mais difícil.

🇵🇹 OPINIÃO

Contrariando as sondagens, um partido de extrema-direita populista ganhou as eleições nos Países Baixos. Ao que parece, terá sido favorecido pela “normalização” resultante de o principal partido de centro-direita ter também adoptado uma agenda anti-imigração e admitido fazer uma coligação pós-eleitoral com a extrema-direita.

Lição importante para o PSD, que fez o acordo com o Chega para o Governo dos Açores. Ao fim de um ano de indefinição, Luís Montenegro bem pode dizer que não o repetirá a nível nacional, que agora já ninguém acredita. E não ajuda ter metade do partido a defender que o faça.

Há certamente uma parte de eleitores dos partidos extremistas que com eles se identificam ideologicamente, nomeadamente com a agenda nativista. Em Portugal, por exemplo, assistimos algumas vezes a simpatizantes do Chega a fazer a saudação nazi. Mas esses estão longe de representar um grande número.

A maioria do seu eleitorado é composto por pessoas que não se colocam ideologicamente nesse quadrante, mas que encontram nesses partidos forma de expressar a sua frustração com a sua situação e com a forma como vêem o país.

Os jovens, que não conseguem empregos compatíveis com o que consideram merecer. Os pais, que têm de apoiar financeiramente os filhos ou que os vêem emigrar para encontrar melhores oportunidades. Os idosos a quem a pensão não chega ao fim do mês. A classe média que sente que a vida está mais difícil.

São histórias de vida pautadas por um denominador comum: uma sensação de que, independentemente do desempenho económico do país, o mundo já funcionou melhor para o cidadão comum. Pode não ser exactamente verdade, mas essa é a memória que guardamos do passado.

É neste contexto que o populismo prospera e prolifera. Ainda assim, porque votam agora quando antes se abstinham?

Por um lado, o estilo inflamado e indignado da sua retórica gera alguma sintonia com os sentimentos de frustração. Os populistas podem não oferecer respostas nenhumas, mas gritam bem alto contra algumas injustiças do mundo de hoje.

Por outro, empregam uma narrativa simplista e divisiva sobre a sociedade, o “nós” contra “eles” que elege um bode expiatório para explorar os impulsos emocionais mais elementares do ser humano. Muitas vezes contra os imigrantes, outras contra os políticos. É mais fácil arranjar culpados do que arranjar soluções.

Em todas as circunstâncias, há algo que sobressai: estes partidos não estão interessados em ser credíveis ou construir respostas. O seu objectivo é ter alcance mediático, criar polémicas, gerar indignação e raiva.

Como escrevi nestas páginas na semana passada, é profundamente errado considerar que o Chega “é um partido como os outros que estão presentes na Assembleia da República”, como defende o dr. Pedro Passos Coelho.

O seu programa político é a indignação e a exclusão do outro. E excluir de modo xenófobo os que são diferentes de nós não é próprio de partidos democráticos.

Ao centro e à esquerda, urge recuperar a iniciativa política, interrompida em Portugal por esta crise. Não ficar refém da agenda mediática dos populistas, nem se coibir de construir uma resposta moderada, humanista e democrática para esses temas.

Mas, sobretudo, combater a retórica saudosista e reaccionária com uma governação para as classes médias e trabalhadoras, com uma visão da sociedade onde ninguém fica para trás e que não empenhe o futuro dos nossos filhos.

8 valores
Luís Montenegro

As promessas aos pensionistas geraram algum entusiasmo, mas o estado de graça não durou 24 horas. No dia seguinte o líder parlamentar e porta-voz para a economia deixou transparecer que não passava de uma ilusão. Afinal, só incluía uma pequena minoria dos pensionistas. E nem sequer tinham feito as contas.

Eurodeputado

DN
Pedro Marques
30 Novembro 2023 — 00:23


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 6 dias ago

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227: Carta aberta a Pedro Passos Coelho

 

– Subscrevo integralmente esta Carta Aberta.

🇵🇹 OPINIÃO

Dr. Pedro Passos Coelho,

Ao ler na comunicação social as suas recentes declarações relativamente ao Chega, não posso dizer que tenha ficado surpreendido, pois compreendo que o seu posicionamento político e ideológico afasta o PSD do seu passado social-democrata, tornando-o permeável aos populismos de direita.

Fiquei, contudo, profundamente desapontado pela forma como o fez. Numa escola secundária, perante uma plateia de adolescentes, numa sessão dedicada à democracia e à liberdade.

Se entendemos que a missão da escola não é apenas “ensinar as matérias”, mas também contribuir para a formação cívica dos jovens, no quadro dos valores fundamentais da dignidade humana, então o Dr. Pedro Passos Coelho prestou um péssimo serviço à escola, aos jovens e à democracia.

Ao dizer que o Chega “é um partido como os outros que estão presentes na Assembleia da República”, transmitiu aos jovens que o ex-primeiro-ministro do nosso país considera o comportamento do Chega aceitável.

Não, Dr. Pedro Passos Coelho, não é aceitável, nem pode ser normal que um partido na Assembleia da República tenha como prática os insultos, as tiradas racistas e o bullying.

Não é aceitável, nem pode ser normal que uma bancada parlamentar tenha um comportamento que a qualquer aluno do ensino secundário garantiria a expulsão da sala de aula e um processo disciplinar.

Se ao Dr. Pedro Passos Coelho não preocupa o desprezo pelas instituições democráticas e a degradação da vida política nacional, pelo menos preocupam a adolescente que o interpelou sobre a ameaça à democracia que trazem partidos como o Chega.

Aliás, a sua resposta de que “o Chega não é um partido antidemocrático” revela uma visão muito curta do que é a democracia.

Esta não se resume à participação em actos eleitorais, requer também o respeito pelas instituições (que o Chega despreza) e valores democráticos, incluindo os direitos humanos.

Assim como também não é atestado democrático a mera inscrição de um partido no Tribunal Constitucional, como defende de forma muito infeliz o vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz. Se assim fosse, também o Ergue-te (ex-PNR) seria democrático.

Certamente o Dr. Pedro Passos Coelho não andou distraído nos últimos anos e viu, como todos vimos, numerosas declarações racistas de André Ventura e muitos dirigentes do seu partido, ou a sua inacreditável proposta de confinamento específico da comunidade cigana durante a pandemia.

Estou certo que não ignora a condenação em tribunal de André Ventura e do Chega (sim, o próprio partido foi também condenado), com a sentença confirmada na Relação e no Supremo a sublinhar “a vertente discriminatória em função da cor da pele e da situação sócio-económica” das ofensas.

Ou a promessa de André Ventura de “um bilhete só de ida”, em resposta à “vaga islâmica”, “no dia em que a bandeira do CHEGA estiver hasteada em São Bento”. Ou o “Viva Salazar!” do líder parlamentar nas suas redes sociais.

Não, Dr. Pedro Passos Coelho, o Chega não é um partido normal nem democrático.

Que a verdade não lhe convenha, eu compreendo. Afinal, só apoiado nele o PSD pode aspirar a voltar a ser governo. Mas valerá tudo para alcançar o poder?

Respeitosos cumprimentos,

Pedro Marques

Sara Tavares

18 Valores

Partiu cedo demais, muito nova e com muito para dar. Sara Tavares teve um percurso singular na cultura, afastando-se do mainstream que conquistou muito nova, construindo um percurso de compreensão e aproximação de Portugal com toda a música lusófona, em particular a cabo-verdiana.

Eurodeputado

DN
Pedro Marques
23 Novembro 2023 — 00:30


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

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140: O desafio que temos pela frente

 

– “… a notável redução na taxa de risco de pobreza, com menos 734 mil pessoas a viver em risco de pobreza e exclusão social face a 2015.

Não descortino onde esteja a “notável” redução na taxa de risco de pobreza, quando existem seres humanos, pessoas que precisam de (sobre)viver, desempregados de longa duração, sem qualquer ajuda social, sem qualquer subsídio, sem qualquer apoio, sendo-lhes negado, por incrível que pareça, as ajudas sociais para estes casos! Não fossem familiares – os que os têm e podem ajudar – a ajudarem nesta sobrevivência, já estavam caídos na sarjeta!

🇵🇹 OPINIÃO

O Governo caiu com um caso sobre o qual ainda se aguardam esclarecimentos da Justiça. A perplexidade geral agravou-se com a decisão do juiz de instrução, que decretou liberdade para todos os detidos e excluiu a existência de indícios de corrupção.

Não obstante as dúvidas suscitadas relativamente à sustentação deste processo, o que é certo é que este foi o motivo da queda do Governo.

Isto significa que o Governo não caiu por a sua linha política ter sido derrotada. Nem no país, que recentemente lhe concedeu maioria absoluta, nem no próprio Partido Socialista.

O caminho trilhado desde 2015, primeiro com o apoio parlamentar de parceiros à esquerda, depois com maioria absoluta, tem resultados concretos para os portugueses.

Na economia, a aproximação sustentada aos parceiros europeus. Todas as projecções colocam Portugal a crescer acima da Zona Euro até 2025. Será o concretizar de uma década de convergência.

Na melhoria de rendimentos, com o aumento de 50% do salário mínimo e mais de 30% do salário médio – sem contar ainda com os aumentos previstos no Orçamento do Estado para 2024.

No combate às desigualdades, em particular a notável redução na taxa de risco de pobreza, com menos 734 mil pessoas a viver em risco de pobreza e exclusão social face a 2015.

Na transição climática, Portugal diminuiu em 35% as emissões poluentes desde 2005, a maior em toda a UE. De acordo com a Comissão Europeia, o nosso país tem “um dos sistemas energéticos mais descarbonizados”.

Tudo isto, mais as contas certas. No próximo ano, pela primeira vez desde 2009, tudo indica que Portugal terá uma dívida pública abaixo dos 100%. Uma redução de 25 pontos percentuais (!) em apenas três anos.

Este é o legado de António Costa. Feito ao mesmo tempo que o país enfrentou uma pandemia, a guerra na Ucrânia, um choque inflaccionário e respectivas consequências.

Agora, sem ele, o Partido Socialista segue para uma campanha e eleições num ambiente particularmente adverso, que favorece a extrema-direita populista. O caso judicial será arma de arremesso.

O processo interno do PS para escolher o seu próximo líder e candidato a primeiro-ministro já começou. Apresentaram-se dois candidatos, com percursos diferentes, dentro e fora do partido, mas ambos membros dos Governos de António Costa e participantes activos do seu projecto político.

A agenda progressista e europeísta, priorizando o combate às desigualdades, o equilíbrio das contas públicas e sem qualquer ambiguidade perante o extremismo do Chega representa um contraste claro com a alternativa política da direita, liderada pelo PSD.

Desde 2015, sempre que lhe foi dada palavra, o povo foi claro sobre qual o projecto político que prefere. É também por isso que a reafirmação do trabalho, do legado e dos resultados que o PS tem para apresentar ao país são uma mais-valia para o desafio que temos pela frente. É esta, evidentemente, a continuidade que eu defendo.

2 valores
Situação nos hospitais de Gaza

As notícias acerca de recém-nascidos prematuros a morrer em hospitais de Gaza devido à falta de energia são extremamente perturbadoras. As consequências das guerras são sempre estas: são os mais frágeis e indefesos que mais sofrem. Devastador.

Eurodeputado

DN
Pedro Marques
16 Novembro 2023 — 00:50


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published in: 3 semanas ago

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75: António Costa

 

🇵🇹 OPINIÃO

Esta semana, sem saber ainda o que dirá o Presidente da República sobre esta crise política que se abriu, cabe elogiar o homem que nos conduziu pelas tormentas dos últimos oito anos.

António Costa, que no início começou a governar por entre desconfianças dos portugueses e dos europeus, construiu muito rapidamente a herança pela qual ficará para a História: afinal havia uma alternativa! Uma alternativa à política de austeridade da direita europeia e da troika.

A Europa viu, primeiro desconfiada e depois espantada, que tal resultava. E, assim, depois se construiu uma resposta à crise covid com muito menos sofrimento na sociedade. O que teria sido desta Europa se à pandemia se tivesse respondido com a mesma receita da crise financeira, com o cada um por si?

Este é, para mim, o legado maior de António Costa.

Mas será lembrado como primeiro-ministro por muito mais. Pela gestão da crise sanitária em Portugal, protegendo os portugueses o máximo possível da devastação do vírus.

Pelo recuperar da convergência económica e social de Portugal com a Europa. A década de convergência com que sonhou só foi interrompida por esta crise política, mas há-de cumprir-se já na sua ausência.

Há-de ser lembrado como o primeiro-ministro que escolheu como primeira reforma estrutural a redução das desigualdades sociais, e que, mesmo assim, bateu todos os recordes de investimento externo.

O primeiro-ministro que acabou (em definitivo, espera-se) com a ideia do Portugal poucochinho e pobrezinho.

António Costa cai às mãos de uma decisão do sistema de justiça cuja independência decidiu proteger sempre. Uma obsessão que mantém mesmo quando é esta que o leva a deixar o lugar em que prestou o serviço maior a Portugal. Protege a democracia, escolhe o caminho da dignidade.

Portugal perde. Perde um primeiro-ministro corajoso, um timoneiro nas borrascas mais duras, uma governação que oferecia vários anos de estabilidade para enfrentar esta crise de custo de vida que faz sofrer os portugueses.

Esta não é uma situação sem riscos. As instituições democráticas têm de retirar ilações desta situação, pois ela terá sérias consequências para o funcionamento da democracia.

Para que a nossa Democracia se mantenha minimamente saudável, é essencial que este processo-crime a um primeiro-ministro não tenha sido iniciado apenas com base, por exemplo, numa qualquer escuta em que o seu nome foi referido por terceiros.

A Justiça goza correctamente de total independência, essa é uma regra básica do Estado de Direito, mas deve ser possível escrutinar as suas decisões. Todas as instituições democráticas devem zelar pelo bom funcionamento de todos os pilares do regime, a começar por elas próprias.

Eu, por mim, estarei na linha da frente dos que jamais deixarão de lutar para que Portugal tenha uma democracia sólida, europeia e plural.

Gostaria de dizer que tenho a convicção de que este processo será esclarecido rapidamente. Não consigo.

Mas posso garantir que António Costa tem futuro. Deixa um legado demasiado importante para que não o aproveitemos.

E o PS tem futuro. O legado destes oito anos perdurará na memória dos portugueses, será recordado cada vez mais, à medida que este processo for sendo esclarecido.

A seguir ao tempo, tempo virá.

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Primeiros socorros na Escola
De acordo com a Estratégia Nacional de Protecção Civil Preventiva, todos os jovens no 10.º ano de escolaridade vão ser instruídos para suporte básico de vida. O Município de Mangualde será o primeiro a avançar com esta iniciativa, que mais tarde se deverá estender a todo o país.

Eurodeputado

DN
Pedro Marques
09 Novembro 2023 — 00:51


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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published in: 4 semanas ago

 

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