🇵🇹 OPINIÃO
Casal da Mira, sábado, dia 25 de Novembro, às 20 horas, na avenida principal, a Marechal Costa Gomes, uma noite como muitas outras. A polícia entra no bairro como exército de ocupação. Em poucos minutos, as pessoas são despejadas dos cafés, encostadas à parede para serem revistadas. Velhos e jovens esperam, afirmam, mais de uma hora assim.
Uma mulher de mais de 60 anos, doente oncológica, queixa-se de ter sido repetidamente insultada e ter levado um pontapé, e ameaçada de levar pancada, por uma agente, se abrisse a boca.
No Casal da Mira, com cerca de 2400 habitantes vindos maioritariamente da Azinhaga dos Besouros, como em muitos bairros dos subúrbios da Área Metropolitana, as pessoas são culpadas mesmo que haja provas em contrário.
É mais que uma suposta questão de segurança, a polícia humilha de forma activa, todos os dias, as populações dos bairros pobres, trabalhadores, com muitos filhos de imigrantes, para lhes mostrar de uma forma persistente que não são cidadãos iguais aos outros.
– vídeo não compatível para inserir neste espaço.
A lei é supostamente igual para todos, mas está demasiado distante: aqui na terra há a repressão e a discriminação. Não se trata de segurança, trata-se de criminalização da pobreza.
Que o digam os moradores da antiga Curraleira, quando a polícia executa um mandado de busca para um suspeito, destrói a porta da rua, as caixas de correio, o elevador e os equipamentos sociais de todo o prédio. Actua com uma violência que não seria tolerada na Avenida de Roma, a poucas centenas de metros.
– vídeo não compatível para inserir neste espaço.
Nos territórios da Área Metropolitana de Lisboa denominados de “bairros sociais”, independentemente da localização geográfica, foram sendo construídas, por discursos oficiais e não oficiais, a criminalização e a estigmatização social e territorial.
Os territórios onde vivem os trabalhadores mais pobres são vistos como “zonas urbanas sensíveis”, em que a presença do Estado social é pouca e a da repressão policial é muita.
Há muito que as cidades gravaram pedra e no urbanismo as desigualdades sociais, mas a situação tem vindo a agudizar-se.
É como uma pedra que embate num lago. Vão expandindo-se, na superfície das águas, as ondas de choque em círculos. A gentrificação da capital vai expulsando pessoas para os subúrbios, com impacto nos bairros populares.
Hoje, um T1 já é arrendado por quase mil euros na Damaia e já há reformados franceses que compram casas na Arrentela. Não tarda muito para que os trabalhadores que aí vivem sejam também corridos.
Os bairros mais pobres são estruturalmente conduzidos para uma não participação política. Os trabalhadores não votam porque são expulsos da justa representatividade.
Exemplo disso são os poucos parlamentares pertencentes à classe trabalhadora, e a maioria da população fica com a ideia de que, independentemente de em quem votem, a política do Estado será sempre a mesma e contra ela.
Talvez por isso nos bairros mais ricos, como Estrela e Avenidas Novas, haja 67,53% e 70,48% de votação nas eleições legislativas de 2022, respectivamente, e uma participação muito mais reduzida, como Marvila e Carnide, em que pouco ultrapassa os 50% de eleitores.
Editor-chefe do Diário de Notícias
DN
Nuno Ramos de Almeida
03 Dezembro 2023 — 00:28
– Só se publica este artigo de opinião pelo motivo da sua divulgação pública. Os vídeos desta crónica e outros vídeos inseridos no Diário de Notícias, deveriam ter um link que permitisse a sua publicação, o que não acontece. Já basta escreverem em brasuquês e ter de corrigir ortograficamente todos os textos para português de Portugal.
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer, Investigator, Astronomer and Digital Content Creator, desinfluenciador
published in: 3 dias ago