– As pessoas são tratadas como lixo! É assim que os laranjinhas do PPD tratam as pessoas! A Câmara “sugere”… A Câmara não tem de sugerir nada, tem é de realojar as pessoas que são seres humanos e estão a ser tratadas como animais selvagens! Vão na conversa deles como no tempo do rapazola e depois não se queixem!
🇵🇹 LISBOA // 🏠OBRAS // 🚇 METRO // 🏠DESALOJADOS
Um edifício habitacional irá abaixo devido às obras de alargamento do metro até Alcântara. Há inquilinos municipais que já têm alojamento garantido. Os outros podem ficar sem tecto daqui a um mês.

Foto Paulo Spranger / Global Imagens
A ansiedade é forte entre as seis famílias que já têm data marcada para abandonarem as suas casas: 31 de Dezembro. São inquilinos da Casa de Goa, pagam rendas abaixo do valor de mercado e em consonância com os seus rendimentos, mas o prédio onde vivem, em conjunto com outras seis famílias que são arrendatárias da Câmara Municipal de Lisboa, será demolido. Por ali irá passar parte da Linha Vermelha do Metro de Lisboa (ML), cujas obras de alargamento até Alcântara já estão em andamento.
Foto Paulo Spranger / Global Imagens
O prédio, bem como o edifício onde se localiza a Casa de Goa e o seu restaurante, eram propriedade do município, que cedeu parte do conjunto – à excepção de seis habitações – à Casa de Goa.
Entretanto, no dia 1 de Setembro, o ML iniciou o processo de expropriações e tomou conta daquele local. Os inquilinos que arrendam as habitações directamente à CML já têm resposta do município e o seu direito à habitação garantido. Os outros, se nada for feito a tempo, vão para a rua no último dia do ano.
Foto Paulo Spranger / Global Imagens
“Moro aqui há quatro anos. Há cerca de um ano tomámos conhecimento da obra do metro e da possibilidade de demolição do prédio”, começa por explicar Franz Bur, 35 anos, professor universitário e um dos arrendatários da Casa de Goa.
“Os inquilinos municipais já tiveram a sua resposta. Quanto a nós, recebemos há poucos dias a primeira comunicação por parte da Casa de Goa, dizendo que tentaram de várias maneiras que o edifício não fosse abaixo, mas sem resultados. Temos de sair até dia 31 de Dezembro e, no meu caso, não tenho para onde ir“, lamenta.
Os moradores camarários tiveram uma reunião, com a vereadora da Habitação, Filipa Roseta, na sexta-feira, 17, e ficaram descansados. “Continuaremos a ser inquilinos da CML.
Não sabemos onde será a nossa nova casa, mas está acordado que não iremos para um bairro social, mas sim para prédios dentro da cidade”, revela Laurindo Santos, 63 anos, um dos inquilinos das casas da CML, contíguas às que estão arrendadas pela Casa de Goa. “Por agora, vamos ficar aqui, a aguardar, serenamente“, afirma o serralheiro, com uma calma que contrasta com o desespero dos outros moradores.
“Nunca ninguém quis dialogar connosco – nem o ML, nem a CML nem a Casa de Goa. Só isso cria muito transtorno e muita ansiedade”, afiança Miguel, desenhista, outro dos moradores que ali vive com a companheira, Flora, aluna de doutoramento e investigadora na Universidade de Lisboa.
“O prazo começa a ficar muito apertado e estamos todos a entrar em pânico porque não temos dinheiro, com os nossos ordenados, para pagar uma casa no mercado de arrendamento normal”, explica.
À conversa junta-se André Tomás, 35 anos, segurança. “Tenho uma filha com 5 anos, que anda aqui na escola, a minha mulher está desempregada e não temos para onde ir”, diz, preocupado. “Recebemos uma carta registada da Casa de Goa, há cerca de um mês, a dizer que tínhamos de entregar as chaves no dia 31 de Dezembro.
E pelo que sei é mesmo o que vai acontecer. A minha única alternativa é ir para casa dos meus sogros, mas é uma casa muito pequena, que mal chega para eles”.
Apesar de tudo, André guarda uma réstia de esperança. A sua casa foi visitada por uma funcionária do Instituto de Avaliação Imobiliária (INAI), que representa o ML nesta situação. “A única pessoa que falou comigo foi essa senhora, que esteve cá, tirou fotografias à minha casa e disse para não nos preocuparmos, porque ninguém ia ficar na rua. Mas não há nada em concreto“.
Miguel confirma a visita da representante do ML e o que garantiu. “Confiamos que essas palavras sejam sérias, até porque nos disseram que não iam deixar ninguém na rua na quadra natalícia. Só que não há nada em concreto.”
Ao DN o ML afiança que informou, “por carta, os moradores/proprietários abrangidos, as condições propostas e os respectivos timings do processo, estando em curso contactos entre o ML e todos os interessados, tendo em vista alcançar um acordo que minimize os transtornos causados por este empreendimento”.
Sem datas, o ML tenta, ainda assim, acalmar os ânimos. “O ML quer dar uma nota de serenidade a toda a comunidade, sublinhando que está activamente comprometido em encontrar as melhores soluções, para minorar os impactos causados, reforçando o seu compromisso de tratar todos os envolvidos em conformidade com a lei e respeito pela dignidade das pessoas.”
Câmara sugere candidaturas a apoios ao arrendamento
Da parte do município também não surge uma resposta pronta para estas seis famílias que estão na iminência de ficar sem casa. “Quanto aos inquilinos da Casa de Goa importa esclarecer que estes não dispõem de qualquer relação com o município, pelo que deverá ser o Metropolitano a avaliar as condições em articulação com a Casa de Goa.”
Ao mesmo tempo, sem qualquer solução para os inquilinos que estão a pouco mais de um mês do despejo, a CML sugere: “Os ocupantes da responsabilidade da Casa de Goa podem candidatar-se aos programas de apoio e acesso à habitação previstos no Regulamento Municipal do Direito à Habitação: Programa Renda Acessível, Subsídio Municipal ao Arrendamento Acessível e Programa Arrendamento Apoiado.”
Demolições vão avançar em mais prédios de Alcântara
No local, a vereadora Paula Marques, eleita pela coligação Mais Lisboa e membro da Associação Cidadãos por Lisboa, mostra alguma apreensão. “Devia acontecer a protecção dos inquilinos, de todos os moradores, independentemente da sua situação.”
A vereadora reforça que os arrendatários da CML “não poderiam deixar de estar protegidos no seu direito à habitação e, sobretudo, na sua tranquilidade como inquilinos”.
Quanto aos outros mostra-se preocupada. “Há aqui um conjunto de moradores que vão deixar de ter casa. As seis famílias que não são inquilinas da CML não deixam de habitar este espaço. Portanto, aquilo que nós reivindicamos é que, independentemente dos vínculos, há 12 casas que vão desaparecer“.
Por isso, a vereadora da oposição acrescenta: “Se para umas famílias foi possível fazer este acomodar de negociação e fazer os inquilinos continuarem a ser inquilinos do município, as outras pessoas – que são inquilinas da Casa de Goa – são arrendatárias de um espaço que está cedido pela CML à Casa de Goa. Portanto, acho que seria de bom senso não fechar as negociações e contar com elas.”
Este prédio não é o único a ir abaixo, na sequência das obras de alargamento da Linha Vermelha do Metro. Pelo caminho, outros edifícios, municipais e privados, irão abaixo.
“Do outro lado do Vale de Alcântara, na sequência da linha de metro, há outros inquilinos municipais que vão ficar na mesma situação que estes.“
Ao longo do percurso, há prédios privados – nomeadamente na confluência da Rua Maria Pia com a Rua da Costa, onde além de moradores há comerciantes – que também vão ser demolidos.
O ML já está em negociações com os proprietários, mas estes queixam-se de que o valor oferecido, pela expropriação, é demasiado baixo, face ao valor de mercado.
Aliás, estes proprietários, em declarações à imprensa, já revelaram que contam avançar para tribunal, caso o ML não reveja os valores de indemnização.
Funcionários de restaurante ficam sem trabalho
Não são só os inquilinos da Casa de Goa a verem as suas vidas em suspenso. Os cerca de 60 funcionários do espaço de restauração da Casa de Goa também vão para o desemprego.
“Preocupam-me essas famílias e os empregados do restaurante. Porém, as pessoas quando fizeram os seus contratos sabiam ao que iam.
Estava definido nos contratos de arrendamento que, dois meses antes, podiam ser avisadas que tinham de sair. Tudo feitinho como manda a lei”, defende-se José Rodrigues, vice-presidente da Casa de Goa. “Nós também vamos ter de sair e não sabemos para onde. Em Janeiro temos de entregar as chaves ao ML. Só saberemos quando a CML nos arranjar um espaço e esperamos que haja uma atenção para com as pessoas que ali estão a viver”, conclui o dirigente daquela associação.
DN
Isabel Laranjo
28 Novembro 2023 — 00:15
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 7 horas ago