268: Ministério Público investiga. Afinal, o que está em causa no caso das gémeas brasileiras?

 

🇵🇹⚖️ MP // ⚖️ JUSTIÇA // 🇧🇷 GÉMEAS BRASILEIRAS

Inquérito “não corre sobre pessoa determinada”, mas MP quer conhecer processo que envolveu as crianças tratadas no Santa Maria com um dos medicamentos mais caros do mundo. Em relação a eventual intervenção do Presidente da República, se tal se confirmar, a acção teria de ser votada no Parlamento e a investigação correria no Supremo.

Tratamento às crianças foi ministrado no Hospital Santa Maria em Junho de 2020.
© Álvaro Isidoro/Global Imagens

O Ministério Público abriu um inquérito ao caso das gémeas de origem brasileira que foram tratadas no Hospital de Santa Maria com um dos medicamentos mais caros do mundo. O processo está no Departamento de Investigação e Acção Penal Regional de Lisboa “e, por ora, não corre contra pessoa determinada”, segundo o MP.

Esta situação foi conhecida há cerca de um mês, quando o programa Exclusivo, da TVI, noticiou o caso. As gémeas, com cerca de 2 anos, sofrem de atrofia muscular espinal, uma doença incurável, mas cujo avanço pode ser travado com medicação. António Levy Gomes, médico coordenador da Unidade de Neuro-pediatria do Hospital de Santa Maria revelou uma alegada “cunha” à TVI: “O que corria nos corredores era que o tratamento ocorreu por influência do Presidente da República.”

Às crianças foi ministrado o Zolgensma, conhecido por ser o medicamento mais caro do mundo, que no início da sua comercialização tinha o valor de dois milhões de euros.

Desde que o caso foi conhecido registaram-se várias declarações que lançaram mais dúvidas sobre a situação. Aqui ficam as explicações possíveis até ao momento para o entender.

Quem falou sobre o suposto favorecimento?
A mãe das crianças, Daniela Martins, é cidadã luso-brasileira. Numa primeira ocasião, quando chegou a Portugal com as crianças, os serviços médicos terão recusado o tratamento. “Chorei nos corredores do hospital”, disse a mulher a um canal de televisão do seu país. Entretanto, sem saber que estava a ser gravada, a luso-brasileira assumiu que pôs em marcha os seus “contactos”. “Usei o “pistolão”. Conhecia a nora do Presidente, que conhecia o ministro da Saúde [na altura Marta Temido], que mandou um e-mail para lá e falou “E o caso das meninas?”. Eles começaram a receber ordens de cima.”

Quando é que as crianças receberam o Zolgensma?
As meninas receberam o tratamento, de toma única, por via endovenosa em Junho de 2020.

Este tratamento tem vantagens para as crianças?
As meninas já estavam a receber outro tratamento no Brasil. À TVI, o neuro-pediatra José Pedro Vieira garantiu que “o tratamento não é curativo. A deficiência que já existia permanece”. O antigo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, concorda com o colega e diz que o medicamento, “em termos de eficácia não acrescenta nada”. No entanto, Daniela Martins, mãe das crianças, afiança que as filhas ficaram “mais ágeis e fortes”, sobretudo na zona dos braços, após a toma do Zolgensma, em Portugal.

Quem autorizou a aquisição do fármaco por parte do hospital?
O medicamento ainda não está aprovado pela Autoridade Europeia do Medicamento e, por isso, foi necessária uma autorização especial para a sua aquisição. O Infarmed autorizou a compra do medicamento dois dias depois de este ter sido requisitado. Porém, no dia 21 de Outubro de 2021, esta entidade veio explicar as diferenças entre o Zolgensma e o outro medicamento, com o qual as meninas já estavam a ser tratadas no Brasil. O medicamento mais caro do mundo tem de ser ministrado até aos 2 anos de idade e é de toma única. O outro fármaco tem de ser tomado de quatro em quatro meses, através de uma injecção na medula, para toda a vida.

O Presidente da República está envolvido na alegada “cunha”?
Marcelo Rebelo de Sousa, questionado pelos jornalistas, disse não se lembrar se alguma vez o filho, Nuno Rebelo de Sousa, lhe tinha falado no caso das gémeas brasileiras. “À distância de quatro anos, a mãe tem essa ideia de que foi por “cunha”. Então alguém, com muita influência, passou por cima de Belém, do primeiro-ministro e da sra. ministra. A “cunha” deve ter surgido de outro plano ou então não aconteceu! Se o meu filho me falou… francamente não me lembro”, assegurava o Presidente. Porém, o médico António Levy Gomes revelou um e-mail, trocado com Marcelo Rebelo de Sousa, em que este se contradiz. O Presidente terá escrito: “No meio de milhentos pedidos e solicitações, falou-me o meu filho Nuno, no caso específico de luso-brasileiros no Brasil. Disse-lhe logo de imediato que não havia privilégio algum para ninguém e, por maioria de razão, para filho de Presidente”.

O que disse mais tarde?
Adiante, o Presidente assumiu que chegou um pedido, à Casa Civil, e que seria “uma questão relevante”. Foram enviadas duas cartas: uma para o gabinete do primeiro-ministro e outra para o gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.

O que diz Nuno Rebelo de Sousa?
O filho do Presidente foi abordado à entrada de um evento da Web Summit e remeteu-se ao silêncio. A mãe das crianças será conhecida da sua mulher.

Foi a primeira vez que o medicamento foi ministrado em Portugal?
Não. Portugal foi dos primeiros países europeus a adoptar o Zolgensma no tratamento da atrofia muscular espinal. Matilde, de 4 meses, e Natália, de 11 meses, foram as primeiras crianças a receber este tratamento em Portugal, no final de Agosto de 2019. No Brasil, a mãe das gémeas Maité e Lorena soube do caso e tentou a sua sorte, dado que tem dupla nacionalidade: portuguesa e brasileira. Foi ao Consulado-Geral de Portugal em S. Paulo, onde fez o pedido de naturalização das filhas, no dia 2 de Setembro de 2019. O pedido foi aprovado duas semanas depois, a 16 de Setembro. Apesar de, supostamente, haver um tempo de espera de vários meses para a aprovação da nacionalidade, os registos garantem que não houve nada de anormal neste processo.

Outras crianças estrangeiras conseguiram ter este tratamento em Portugal?
Não. Um casal luso-canadiano, Ricardo e Jéssica Batista, fez o mesmo pedido mas não conseguiu que a filha, Daniela, recebesse o medicamento.

DN
Isabel Laranjo
25 Novembro 2023 — 07:00


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published in: 4 dias ago

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170: Medicação para Doenças Crónicas 👨‍⚕️

 

🇵🇹⚕️👪 SAÚDE PÚBLICA // 💊 MEDICAÇÃO CRÓNICA // 👨‍⚕️🏥FARMÁCIAS

Dizem os entendidos que “Sem passar pelo Centro de Saúde? Vamos de bem a melhor”!

Mas não é isso que se passa (ainda)!Desde 25 de Outubro de 2023 que a medida está implementada pelo Ministério da Saúde.

A Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) informa que a partir desta quarta-feira entra em vigor uma medida para “melhorar o acesso em tempo útil” de doentes crónicos à respectiva medicação. Na prática, os utentes deixam de precisar de renovar a receita no centro de saúde e podem levantar a medicação directamente na farmácia.

Após avaliação médica, e durante um ano, estes utentes não precisam de renovar a receita no centro de saúde, bastando para tal que se dirigiram “directamente à farmácia comunitária para levantar a sua medicação”.

“Deixa também de haver limite do número de embalagens a prescrever para medicamentos destinados ao tratamento de doenças crónicas. Nestes casos de tratamentos prolongados bastará que o médico assinale essa opção na receita, indicando a posologia e a duração do tratamento”, explica a Direcção Executiva do SNS.”

Ora, não é isto que se passa (ainda) nesta data, dado que necessitei de um medicamento comprovadamente de uso crónico e a farmácia informou que ainda não sabiam as directrizes a tomar neste campo.

Ou seja, a publicidade é muita, mas apenas para “inglês ver…”, porque na prática e apesar da medida implementada, as farmácias – pelo menos a da minha localidade -, ainda desconhecem os respectivos procedimentos.

Não é de estranhar… estamos em Portugal!

18.11.2023


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published in: 2 semanas ago

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62: Os primeiros medicamentos espaciais estão presos em órbita

 

⚗️ CIÊNCIA // 🛸ESPAÇO // 💊MEDICAMENTOS

Enquanto lê este artigo, os medicamentos da primeira fábrica espacial estão pacientemente à espera para descer à Terra.

Varda/Twitter

A meio de uma missão para criar as primeiras “fábricas espaciais” do mundo — com o objectivo de criar, autonomamente, fármacos e outros produtos mais fáceis de produzir em micro-gravidade, em órbita — a  Varda encontra-se agora com uma pedra no sapato.

A Winnebago 1 partiu a 12 de Junho para órbita com a ajuda de um foguete da empresa do multimilionário Elon Musk, SpaceX. O objectivo — que passava por, durante um mês, sintetizar o medicamento de combate ao VIH, ritonavir — foi cumprido sem grandes problemas.

“Os medicamentos espaciais acabaram de ser preparados, bebé!”, celebrava no agora X e antigo Twitter o o co-fundador da startup californiana, Delian Asparouhov, a 30 de Junho. Mas faltava um passo importante: trazer as drogas para casa.

Quatro meses depois, os medicamentos continuam lá em cima, sem data prevista de retorno.

Drogas presas no Espaço. Porque não as trazem?

O retorno em atraso jaz, segundo a Varda, numa questão que já foi debatida no próprio Congresso dos EUA: a incapacidade da Administração Federal de Aviação (FAA) em acompanhar o ritmo de crescimento da indústria comercial espacial.

“Obviamente isto tem a ver com os níveis de financiamento não estarem alinhados ao enorme aumento da actividade no espaço comercial”, confessou Asparouhov em entrevista ao IEEE Spectrum.

Em resposta à acusação do co-fundador da startup — cujo plano histórico passa por produzir não só medicação como também semicondutores e cabos de fibra óptica na primeira fábrica espacial — a FAA afirma que a Varda não apresentou a documentação necessária para trazer os produtos para o planeta Azul.

Micro-gravidade e farmácia de mãos dadas

No dia 12 de Junho, o foguete Falcon 9 desdobrou 72 pequenos satélites, entre os quais a inovadora fábrica espacial projectada para sintetizar fármacos em micro-gravidade, uma condição que mostrou ser promissora para melhorar a estabilidade e qualidade dos medicamentos.

O evento parecia assinalar o começo de algo revolucionário na medicina.

Em 2019, recorda o Big Think, uma experiência da empresa Merck demonstrou que uma formulação mais estável do seu medicamento contra o cancro, Keytruda, poderia ser produzida na ausência da gravidade terrestre.

Essa estabilidade poderia permitir que o medicamento fosse administrado através de injecção em vez de infusão intravenosa.

Os resultados da Merck destacaram o comportamento único das partículas em micro-gravidade, cujos benefícios são precisamente o alvo da missão da Varda.

A fábrica espacial é composta por uma plataforma de satélite comercial com dois módulos anexados. O primeiro é uma unidade de fabricação automatizada e o segundo uma cápsula de reentrada projectada para retornar os produtos fabricados em segurança à Terra — algo que ainda está por acontecer naquele que vai ser o primeiro teste dos seus sistemas de reentrada e aterragem, com um pouso planeado na Área de Teste e Treino de Utah do Departamento de Defesa.

 Tomás Guimarães, ZAP //
8 Novembro, 2023


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published in: 3 semanas ago

 

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