– As múmias, quando saem dos sarcófagos, levantam poeira do passado em que sempre viveram. Quer em vida, quer em estado mumificado.
🇵🇹 OPINIÃO
Se há características que devem ser reconhecidas em Cavaco Silva são a sua persistência e determinação. O grande líder do PPD/PSD escreveu hoje mais um artigo de opinião.
Desta feita tenta convencer os portugueses de que as contas certas são irrelevantes, mesmo que ainda recentemente as agências internacionais tenham provado o contrário. Para Cavaco, as contas certas são uma “armadilha que o Governo socialista montou para (…) desviar a atenção (…) dos graves problemas do país”.
Não vale a pena tecer aqui comentários anti tecnocratas. Em bom rigor, a tecnocracia caiu em desuso há décadas. Quando regressou mais tarde à esfera política, fê-lo pela mão dos políticos mas apenas para contar com o apoio essencial dos técnicos enquanto meio auxiliar na decisão política.
Voltando ao artigo de opinião do conceituado professor de economia, destaque-se a sua sugestão de implementação do orçamento base zero. A primeira questão é esta: será que o futuro Secretário-geral do PS estará nessa disposição?
Sim, do PS, porque se Cavaco entendesse que Luís Montenegro poderia vencer as eleições já Montenegro teria anunciado essa medida (como o bom aluno que tem sido). Portanto, até agora e em matéria de propostas apresentadas pelo PSD, incluindo no congresso do partido, o resultado é sofrível.
Já que se mencionou o Congresso do PSD, cujo lema foi UNIR PORTUGAL, a pouco mais se assistiu do que um saudosista regresso ao passado. UNIR PORTUGAL através de um abraço pomposo aos líderes de há 30 anos, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite. Então e os novos líderes? E o futuro?
Como pretende o PSD de Montenegro unir Portugal se não consegue unir o próprio partido? Onde estiveram os ex-primeiros-ministros Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho?
E as figuras que não chegaram a exercer o poder, como Fernando Nogueira, Marques Mendes, Luis Filipe Menezes ou Rui Rio? Como pode algum partido ambicionar unir seja o que for quando abafa 30 anos de história política?
Presentemente, o denominador comum no PSD é responsabilizar os outros pelo crescimento da extrema direita quando o próprio partido não consegue unir ou arrumar a casa.
É no mínimo estranho e preocupante ouvir alguém a falar de futuro, de união ou de alternativa, quando se rodeia apenas do passado e apaga a sua própria história.
Diz o ditado popular: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. Neste caso, basta ver com quem não anda Luís Montenegro para saber quem é, o que pode oferecer ao país e que não é desta que o PSD poderá ser uma alternativa ao PS.
O país e o mundo em que vivemos mudaram muito. De tal forma que louvar e querer perpetuar o que (respeitavelmente) se viveu em 1995 é obsoleto e demonstra uma enorme falta de visão contemporânea e de futuro. Portugal não esquece datas, nem a sua história, mas o que nos move verdadeiramente é o que ainda está para vir, não aquilo que já passou.
DN
Manuel Portugal Lage
04 Dezembro 2023 — 20:52
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer, Investigator,
Astronomer and Digital Content Creator, desinfluenciador
published in: 1 dia ago