99: Elevado custo do crédito põe grandes bancos a lucrar 12 milhões por dia

 

🇵🇹 PORTUGAL // 💰 BANCA // 🤑 LUCROS

Conhecidas as contas dos cinco grandes bancos portugueses verifica-se uma escalada nos lucros, muito alavancada na subida dos juros dos empréstimos a famílias e empresas. Incertezas no curto prazo já levaram FMI e Banco de Portugal a pedir cautela na distribuição de dividendos.

Cinco grandes bancos lucraram um total de 3288,6 milhões de euros até Setembro, mais 74,5% face a 2022.
© Gerardo Santos / Global Imagens

Com a apresentação ontem dos resultados da Caixa Geral de Depósitos (CGD), confirmou-se que os cinco grandes bancos a operar em Portugal registaram lucros extraordinários nos nove primeiros meses do ano.

A escalada das taxas de juro garantiu resultados líquidos agregados de 3288,6 milhões de euros até Setembro, um crescimento homólogo (face a 2022) de 74,5%. Foram 12 milhões de euros de ganhos por dia.

O banco público, o último dos grandes a divulgar as contas da atividade nos três trimestres já decorridos de 2023, foi a entidade que mais lucrou neste período, contabilizando resultados líquidos de 987 milhões de euros, um aumento homólogo de 42,6%. Logo a seguir, posicionou-se o BCP, que apresentou lucros de 650,7 milhões (mais 624%).

Ao pódio, subiu também o Novobanco, cuja actividade originou um ganho de 638,5 milhões. O Santander não ficou longe das entidades bancárias mais lucrativas, com 621,7 milhões. Já o BPI somou 390,4 milhões.

Estes resultados eram já expectáveis e somam-se a um ano de 2022 em que os bancos em Portugal tiveram o melhor exercício desde a crise de 2007. A principal razão deve-se à subida das taxas de juro.

Como sentem há largos meses as famílias e as empresas, o custo do crédito pago à banca sofreu fortes aumentos e os bancos estão a beneficiar da política do Banco Central Europeu. Em simultâneo, não estão a onerar os depósitos na mesma dimensão.

Isso mesmo se comprova com os dados da margem financeira.

Os cinco grandes bancos que já apresentaram os resultados dos nove primeiros meses deste ano, registaram 6761,1 milhões de euros de margem financeira, ou seja, a margem dos juros teve um aumento homólogo de 78%. A CGD, que só ontem apresentou as suas contas, viu este indicador financeiro escalar 127%, para 2096 milhões.

Só o BCP apresentou melhor performance, com 2117,5 milhões registados de margem. Os outros bancos ficaram bastante aquém. No total dos cinco bancos, a carteira de crédito manteve-se relativamente estável na casa dos 210 mil milhões de euros.

Depois de sete anos negros, marcados por fortes prejuízos, com a inversão da tendência a ocorrer só em 2018, a banca nacional é já alvo de recados. A incerteza internacional vai exigir cautelas.

Esta é pelo menos a análise do Fundo Monetário Internacional que, esta semana, recomendou aos bancos portugueses (e não só) a criação de uma almofada para as dificuldades que se perspectivam de crédito malparado e falências.

Em Bruxelas, o director do FMI para a Europa recomendou à banca o aumento de fundos próprios e de reservas de capital, ao invés de distribuir pelos accionistas todo o lucro obtido neste período de elevadas taxas de juro.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, concorda com esta tese. Quinta-feira aconselhou a banca a preparar-se para uma nova crise. “O ciclo pode mudar, vai mudar, não sabemos quando, mas temos de estar preparados”, disse.

Já ontem, aquando da apresentação das contas, o presidente da CGD, Paulo Macedo, respondeu a Centeno, frisando que o banco público está bem capitalizado. Como afirmou aos jornalistas, “relativamente a “buffers” [almofadas financeiras para prevenir eventuais perdas], o Banco de Portugal está bastante tranquilo connosco”.

Fruto da conjuntura, a carteira de depósitos destes cinco bancos emagreceu. No final de Setembro deste ano, somavam cerca de 247 mil milhões de euros em depósitos, uma quebra de 3,5% face ao mesmo período de 2022.

Para esta fuga terão contribuído as amortizações que as famílias portuguesas realizaram nos seus créditos para combater a escalada dos juros, mas também a atractividade dos certificados de aforro enquanto instrumento de poupança. A remuneração desses títulos acabou por ser reduzida de 3,5% para 2,5% em Junho, e, em simultâneo, os bancos começaram a subir a taxa de juro dos depósitos.

No final de Setembro, estes cinco bancos empregavam 25 859 pessoas e detinham 1857 balcões, o que significa uma redução de 307 colaboradores e o encerramento de 43 espaços.

Com os elevados lucros que deverão registar no fim deste exercício, os bancos preparam-se para remunerar os accionistas em 2024. Paulo Macedo admite pagar ao Estado 461 milhões de euros em dividendos referentes aos resultados deste ano.

Dada a liquidez que está a registar, o banco público não afasta a possibilidade de realizar investimentos. No entanto, Paulo Macedo aproveitou ontem para esclarecer que a CGD não está interessada em adquirir o Novobanco.

“Respondemos como todos os bancos, não estamos. Estamos focados em crescer, em melhorar a qualidade de serviço”, disse. Para o gestor, “quando há capital a mais ou se devolve ao Estado ou se investe”. A CGD deverá investir, mas “os investimentos da Caixa têm implicações distintas dos de outros bancos”.

DN // Sónia Santos Pereira, Dinheiro Vivo
11 Novembro 2023 — 12:14


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