338: Os eleitores e os eleitos: um divórcio crescente

 

🇵🇹 OPINIÃO

Depois da demissão do primeiro-ministro e do anúncio da iminente dissolução da Assembleia da República, estamos em plena campanha eleitoral a caminho de eleições legislativas.

As campanhas eleitorais são períodos de dúvida para os eleitores, pelo que ouvem e nem sempre compreendem. Candidatos, sejam eles do partido que se recandidata à governação, ou dos partidos que partem da oposição, desdobram-se em propostas e promessas sobre benefícios que até então não foram opção, seja ela política ou económica.

Estamos a assistir a isso mesmo, com medidas como o recuo que o Governo teve face ao IUC ou as propostas da oposição sobre o Complemento Solidário para Idosos. De repente, na euforia eleitoral, nem os milhões de receita prevista no primeiro são, afinal, necessários, nem a despesa que a segunda adiciona é preocupante.

Esta “tradicional” forma de fazer política pelos partidos do chamado “arco do poder” está a afastá-los do eleitorado, cansado de promessas não-cumpridas e de discursos que muitas vezes não coincidem com a prática que se lhes segue.

E até a justificação para que tal não aconteça é quase sempre o facto de o Governo anterior ter deixado uma situação pior que a que se pensava. É claramente uma conversa a precisar de reciclagem.

Temos todos obrigação de contribuir para mudar o sistema, lutando por ele e não abandonando-o à sua sorte, ou seja empurrando-o para fora do arco democrático. Isso faz-se votando pela positiva e não usando o voto para “bater” nos políticos que “nos enganaram”.

Este modus operandi é um dos contributos para o crescimento dos partidos fora do “arco do poder” ou, quem sabe, mesmo nesse espaço. Fenómenos do passado, com a ASD ou o PRD, podem ter tido uma contribuição desta volatilidade discursiva dos candidatos ao poder.

Já quanto ao aparecimento e florescimento de partidos nos extremos do arco político, é praticamente inevitável a sua associação ao divórcio entre o prometido e o realizado.

Os eleitores descontentes, ou incrédulos, durante muito tempo manifestaram-se com um aumento crescente da abstenção, sem que isso induzisse uma alteração na forma de fazer política.

Aos incrédulos juntaram-se os revoltados, que não deixam de votar, mas fazem-no optando pelos partidos nos extremos do arco político e mesmo, como vem acontecendo recentemente, esticando o arco para fora dos limites da democracia.

Como se diz em educação, é sempre bom aprender com os erros dos outros, embora neste caso tal não tenha acontecido. Não aprendemos em tempo suficiente e estamos numa curva ascendente desses fenómenos, correndo o risco de ser acelerada.

Temos até 10 de Março para abrandar o fenómeno de crescimento da extrema-direita. É preocupante ouvir jovens que, tendo nascido 10 ou 20 anos depois do 25 de Abril, querem uma alternativa e esperam encontrá-la dando votos à extrema-direita.

Temos todos obrigação de contribuir para mudar o sistema, lutando por ele e não abandonando-o à sua sorte, ou seja, empurrando-o para fora do arco democrático. Isso faz-se votando pela positiva e não usando o voto para “bater” nos políticos que “nos enganaram”.

Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra

DN
Jorge Conde
30 Novembro 2023 — 00:25


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 6 dias ago

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139: Salvem a política!

 

“… Num País que não está em guerra há 50 anos, onde o Estado Social garante apoio aos que precisam”.

Fake news!!! Portugal não possui um Estado Social que garanta apoio aos que precisam! E a prova é que existem desempregados de longa duração, sem qualquer rendimento, sem qualquer apoio social, sem qualquer subsídio, dependentes de familiares – os que os têm e podem ajudar na sua sobrevivência!

🇵🇹 OPINIÃO

Esta é a semana mais difícil para o País nos últimos anos. Num País que não está em guerra há 50 anos, onde o Estado Social garante apoio aos que precisam, onde a segurança é, felizmente, uma das bandeiras de promoção do País, os problemas que surgem são genericamente de origem política ou envolvendo políticos.

Estamos no meio de um turbilhão político e a dúvida que se nos depara é se estamos perante um problema político causado pelo exercício da política, e do que isso proporciona, ou se estamos perante uma crise política provocada pelo exercício judiciário que cabe ao Ministério Público, eventualmente mal utilizado.

Num caso ou noutro, ao cidadão comum o assunto causa medo, por perceber que é possível que um comunicado do Ministério Público à imprensa ponha em causa o chefe do Governo sem se saber uma semana depois porquê… supostamente porque há umas escutas onde se compromete a resolver assuntos de elevado interesse para o País e para os quais tem um mandato inequívoco conferido pelos portugueses nas urnas.

Ao cidadão comum causa perplexidade que um assunto de gravidade suficiente para envolver o primeiro-ministro e poder demitir o Governo não seja analisado, reanalisado, ponderado, pensado e que, quando se chega à fase de intervenção, não se tenham certezas absolutas do que se vai comprometer.

Ao cidadão comum é assustadora a leveza com que se entra em “casa do primeiro-ministro”, porque se imagina como o farão na casa do cidadão anónimo.

Ao cidadão comum mete medo que se prenda um presidente de câmara durante seis dias sem se conseguir formalizar qualquer acusação, porque se conhecem casos de quem esteja preso sem culpa formada mais de um ano.

Ao cidadão comum causa perplexidade que um assunto de gravidade suficiente para envolver o primeiro-ministro e poder demitir o Governo não seja analisado, reanalisado, ponderado, pensado e que, quando se chega à fase de intervenção, não se tenham certezas absolutas do que se vai comprometer.

Aqui chegados, o Presidente da República, sem uma resposta clara do Conselho de Estado, decide dissolver um Parlamento com uma maioria que garantiria estabilidade ao País durante mais três anos e arrastar-nos para uma crise governativa sem fim à vista. Não é possível prever quando e que Governo teremos.

A probabilidade de se encontrar uma solução mais estável a 10 de Março é uma miragem. Claro que a actual maioria e o primeiro-ministro como seu líder não garantiram uma estabilidade governativa intocável, tendo existido um número de demissões no Governo inadmissível.

Os portugueses têm-se demitido da sua responsabilidade na manutenção da democracia, com a crescente abstenção nas urnas e com a crescente opção por movimentos políticos nos extremos do exercício democrático. Esta crise tem tudo para fomentar o aumento desta desresponsabilização.

Cabe aos partidos centrais da democracia serem capazes de aproveitar esta campanha para mostrar que continuam a ser solução e que são capazes de criar respostas, sob pena de nos vermos todos reféns de vontades minoritárias e extremistas.

Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra

DN
Jorge Conde
16 Novembro 2023 — 00:50


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 3 semanas ago

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