294: Manual de instruções para a reforma

 

– “… As pessoas para lá dos 75 anos devem continuar activas, fazer exercícios físicos, ler, viajar, voluntariado, cidadania, cuidar dos netos, e a fazer coisas que apreciem. O essencial é estarem agarradas à vida.

Tudo isso é excelente para quem possui suporte financeiro que lhe permita dedicar-se a viajar principalmente. Os que têm reformas miseráveis que nem para a farmácia chega, que têm de racionar o que comem… só quem passa por elas! Num artigo hoje inserido neste Blogue, dizia: “Tendo em conta que em 2022 a população portuguesa se contabilizava em 10.444.200 pessoas, significa que quase 1.775.514 (17%) eram pobres.

🇵🇹 OPINIÃO

A noção de que cada um de nós está mais para lá do que para cá, chega a partir dos 50 anos. Somar outros tantos anos daria cem anos e isso é inverosímil para a maioria dos seres humanos.

Mais tarde, acentua-se com o fim da vida profissional. Para muitos é um alívio, estão exaustos de fazer o que fazem, o caso dos professores. Para outros, é algo complexo e inseguro, podendo ser uma ameaça com a nova vida de reformado.

Muitas pessoas querem-se aposentar logo que possam, mesmo antecipadamente e com perdas monetárias significativas, devido a empregos mal remunerados e extenuantes. Reformar-se, além de alívio é uma dádiva.

O problema é as suas condições de saída, que no futuro têm enormes implicações na sua qualidade de vida por falta de recursos económicos.

Segundo a Pordata, em 2022, portugueses com 65 anos ou mais são cerca de 2, 5 milhões – quase 25% da população. O índice de envelhecimento (183,5) está a aumentar em exponencial pelo aumento da esperança de vida.

Em vários países da UE, a idade da reforma tem vindo a aumentar e as pensões têm sido reduzidas, porque o crescimento populacional e o aumento da esperança de vida colocaram uma enorme pressão sobre os sistemas de segurança social.

Portugal não foge à regra, um português pode-se reformar, mas vem com muito menos dinheiro do que se estivesse no activo. A forma de contornar o problema é ficar mais uns tempos a fazer descontos para reequilibrar a pensão.

Actualmente, o sistema de pensões desencoraja a reforma antecipada.

A reforma elimina o stress relacionado com o trabalho e os ambientes de trabalho complicados. Os reformados passam a ter mais tempo livre e disponibilidade para se envolverem em actividades edificantes, como o exercício, desenvolverem as suas ligações sociais, o que é benéfico para a saúde mental.

Contudo há muita gente que não se adapta a esta nova forma de vida. A reforma leva à perda de identidade, deixam de ser rotulados e respeitados pelo que faziam.

Eu falo por mim, é tão bom ter tempo para pensar, leva-nos à criatividade e, até, a poder escrever este texto. Não estou reformado, mas gostava de estar e, isso, não me afecta minimamente. Ser administrador da minha vida e director-geral do meu tempo são atributos que anseio intensamente.

A reforma pode ser um momento de oportunidade e podermos começar a fazer o que mais gostamos.

O índice de felicidade também passa por ter tempo livre. Ter condições de vida (património, casa própria, reforma decente); bem-estar psicológico e satisfação com a vida; saúde física e saúde mental; educação (ensino, conhecimento); resiliência cultural; boa governação; resiliência ecológica e ambiental; mas também o uso de tempo ( tempo livre, tempo no trabalho e tempo de sono).

Não acredito que a maioria das pessoas com 66 anos esteja xexé e fique à espera de morrer.

O conceito de idade está a mudar, o tempo de vida de uma pessoa está em mudança: somos mais tempo jovens e mais tempo adultos, desta forma começamos a ser velhos mais tarde e durante mais tempo.

Manter o cérebro em forma, e ter um bom envelhecimento, no futuro será a regra e poder trabalhar até aos 75 anos será habitual para quem o queira fazer.

Será interessante viver mais anos, feliz e a trabalhar por opção. É primordial deixar-se de ver os velhos como uma população senil, passiva, dependente e parasita do erário público.

O conceito de reformado, sinónimo de acabado e à espera da morte, está ultrapassado.

As pessoas para lá dos 75 anos devem continuar activas, fazer exercícios físicos, ler, viajar, voluntariado, cidadania, cuidar dos netos, e a fazer coisas que apreciem. O essencial é estarem agarradas à vida.

Ideias são precisas para esta nova etapa da vida, com um novo manual de instruções.

Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

DN
Joaquim Jorge
27 Novembro 2023 — 16:11


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 1 semana ago

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35: Saber distinguir espaço público e espaço privado

 

🇵🇹 OPINIÃO

As pessoas não sabem distinguir o espaço público do espaço privado. Em nossa casa, em privado podemos ter comportamentos, desabafos e liberdade para dizer e fazer coisas que não o devemos fazer em público.

Num espaço que é de todos, temos que ter algum cuidado e contenção para não interferir na vida dos outros.

Vou de manhã ao café tomar o pequeno-almoço e levo o jornal para ler. Infelizmente não o consigo fazer, a empregada do café começa a falar alto com os clientes de coisas que não me interessam absolutamente nada e pensam que estão em sua casa.

Para ler é preciso algum silêncio. Quero lá saber a que horas se levantou! Se dormiu mal! E, o que tem para fazer durante o dia! As pessoas perderam os códigos de conduta e saber estar em público.

A maioria pensa que está em sua casa: falam alto, colocam o telemóvel muito alto, sentam-se no metro como se estivessem no sofá da sua casa.

As pessoas não percebem que perturbam as outras pessoas que estão junto a elas.

Na rua falam alto ao telemóvel, berrando com alguém que não sabemos quem é, ou contam segredos íntimos em que não nos interessam minimamente, deixam o carro no meio da rua a impedir o trânsito.

Parece que privatizaram tudo, a confeitaria, o café, o metro, a rua, etc. As pessoas fazem o que lhes vai na real gana pensando que estão em privado e não se preocupam com os outros. Pedir desculpa é algo que não sabem e é algo desnecessário. Quem usurpa o espaço público acha que esse espaço é dele, mas não o é.

O espaço público é de todos, se porventura se chamar à atenção que estão a incomodar, estamos sujeitos a uma resposta agressiva tipo insulto: “cale-se, se não está bem ponha-se”, “está incomodado chame a polícia”, ” não me chateie”, ” meta-se na sua vida”, etc.

Pois, não aprenderam com os pais nem na escola. Temos que reconquistar as boas maneiras, saber estar em público para podermos ser seres civilizados e sociáveis.

Por outro lado, os serviços públicos em Portugal deixam muito a desejar: escola pública, SNS, tribunais. Os anos de democracia foram, entre outras coisas, os de expansão e melhoria dos serviços públicos, porém, actualmente, estão em degradação e nem toda a gente tem dinheiro para ir ao privado: ter um filho num colégio privado ou ir a um hospital privado.

A única coisa que se vai mantendo assim-assim é o Estado-Providência para quem fez realmente descontos.

Empresas essenciais públicas, nas quais se acumularam muitos anos de riqueza colectiva, foram totalmente vendidas e o que pertencia a todos, serviu para enriquecer ainda mais alguns. O caso dos bancos, os correios, a electricidade, a água vai a caminho e os transportes como a CP e a TAP.

O que é publico está a desaparecer e infelizmente o que resta do que é de todos nós.

É urgente lançar com coragem e astúcia a reconquista do público, que é também o da nossa própria vida sossegada, livre e educada.

Fundador do Clube dos Pensadores

DN
Joaquim Jorge
04 Novembro 2023 — 12:58


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 1 mês ago

 

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