48: Lisboa Ocidental chama médicos de todas as especialidades para urgência interna. OM pede explicações

 

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Bastonário da Ordem dos Médicos diz que situação pode configurar “um problema grave”, com implicações técnicas, deontológicas e de segurança. Conselho de administração do CHLO justifica medida devido aos “graves constrangimentos” na elaboração das escalas de urgência interna, na sequência da recusa de vários médicos em fazerem mais horas extra além das 150 por ano previstas na lei.

© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

O Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO) determinou que “a escala de urgência interna seja composta por médicos de todas as especialidades, de modo a assegurar o funcionamento da mesma”. A informação consta de uma circular informativa, com data de 3 de Outubro (sexta-feira), a que o DN teve acesso.

A medida é justificada pelos “graves constrangimentos que se têm verificado na elaboração das escalas de urgências, uma vez que “diversos médicos do CHLO” têm apresentado “declarações de indisponibilidade para prestação do trabalho suplementar, para além do limite legalmente previsto”, de 150 horas por ano.

A Ordem dos Médicos (OM) já pediu explicações ao CHLO, que abrange os hospitais São Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Marta, para saber “exactamente aquilo que está em causa”.

“Se significar taxativamente o que lá está escrito, estamos perante um problema grave. Por um lado, não tem sustentação técnica absolutamente nenhuma e, por outro lado, pode configurar situações perigosas que põem em causa a segurança dos doentes e dos próprios médicos”, diz ao DN Carlos Cortes, bastonário da OM.

“Se a intenção é colocar médicos de uma especialidade a tratarem de doentes de uma área diferente da sua especialidade, terá, obviamente, a total oposição da OM”, avisa o responsável, dando conta de “implicações técnicas e deontológicas”.

À espera de explicações do CHLO, Carlos Cortes opta pela cautela e espera que não seja essa a medida que o Conselho de Administração pretende aplicar.

“Estar a obrigar todos os médicos, independentemente da sua especialidade, a tratar doentes de uma área de conhecimento, de diferenciação diferente da sua, parece-me algo que não faz sentido absolutamente nenhum”, sublinha.

A decisão, diz o Conselho de Administração, surge tendo em conta a “prossecução do interesse público inerente à prestação de cuidados de saúde”, o que “determina a necessidade imperiosa de garantir assistência atempada e adequada aos doentes internados do CHLO”.

“Para o efeito, deverão os directores dos serviços diligenciar no sentido do cumprimento desta deliberação, através da melhor gestão de recursos disponíveis”, determina a administração do CHLO, adiantando que “os médicos escalados para a urgência interna do Hospital São Francisco Xavier e no Hospital Egas Moniz, em particular os internos, terão nesse período, se necessário, todo o suporte clínico pela Equipa de Emergência Interna”.

Na circular informativa, a administração hospitalar refere ainda que lhe compete “a aprovação da constituição das equipas no Serviço de urgência” e recorda que “os profissionais do CHLO encontram-se obrigados, nos termos da legislação em vigor, ao cumprimento de 150 horas anuais de trabalho suplementar”.

Para o bastonário da OM, “nenhum médico”, apesar do Conselho de Administração dizer “que decide como são as equipas”, é “obrigado a intervir num doente – a não ser que o doente esteja naquele momento em perigo de vida -, que esteja fora do seu domínio da especialidade”.

“Isto é, vamos supor, um médico de uma especialidade de psiquiatria” ou “um pneumologista” a “tratar de um doente da área da cardiologia”, exemplifica. “Obviamente, qualquer pessoa compreende que podemos incorrer aqui em situações gravíssimas.

E, obviamente, que o médico, do ponto de vista deontológico, do ponto de vista técnico, jamais irá incorrer numa situação que pode ter consequências muito complicadas para si próprio”, considera Carlos Cortes.

“Não são só as pessoas que entram pela porta da urgência que têm um problema agudo, os doentes que estão internados de repente podem descompensar, daí ter que haver uma urgência interna para poder dar resposta a esses doentes”, explica o bastonário, reforçando a importância dos cuidados diferenciados.

“Se a intenção é colocar médicos de uma especialidade a tratarem de doentes de outra área de especialidade, obviamente que a OM terá que intervir”, reitera.

Carlos Cortes afirma que cabe aos conselhos de administração “proporcionarem a medicina diferenciada, os meios que têm no seu hospital para que os doentes sejam tratados adequadamente”. Trata-se de uma “obrigação ética”, reforça.

“Nenhum médico pode ser obrigado a tratar um doente para o qual não tem conhecimentos”, diz, salvaguardando que aguarda as explicações do CHLO. “Espero que haja o bom senso de não estar a formar equipas de urgência interna no pressuposto de os médicos tratarem doentes de outra especialidade”, declara Carlos Cortes.

DN
Susete Henriques
06 Novembro 2023 — 21:49


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

published in: 3 semanas ago

 

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7: Há 38 hospitais com cerca de 90% dos serviços indisponíveis

 

PROIBIDO ESTAR DOENTE…!!!

– E VIVA O JURAMENTO DE HIPÓCRATES…!!!

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Contabilizados 19 serviços em que 100% dos médicos pediram escusa. Também 25 de 55 agrupamentos de centros de saúde estão a sentir os efeitos do protesto às horas extraordinárias.

© Artur Machado / Global Imagens

Um total de 38 unidades hospitalares está com cerca de 90% dos seus serviços indisponíveis devido falta de médicos para assegurar as escalas, segundo os mais recentes dados divulgados esta quarta-feira pelo movimento “Médicos em Luta”.

Em declarações à agência Lusa, a porta-voz do movimento “Médicos em Luta”, Susana Costa, disse que a lista é praticamente actualizada todos os dias e as informações sobre o impacto nos hospitais são facultadas pelos médicos.

“(…) Num serviço em que haja 20 médicos que façam trabalho extraordinário, se 50% desses médicos colocarem a minuta [de indisponibilidade para horário suplementar], a repercussão que vamos ter nas equipas tem a ver com o número de horas extraordinárias a que estes médicos estão vinculados. Se eles só fizerem seis ou 12 [horas] por semana tem um impacto, se fizerem 24 horas extraordinárias por semana tem outro”, salientou Susana Costa.

Ainda assim, ressalvou que “quem tem o conhecimento exato destes números e do (…) impacto” que as escusas têm nos serviços são as administrações.

A lista ‘online’ está discriminada pelo nome das unidades hospitalares e das especialidades que estão mais afectadas.

Segundo os dados dos “Médicos em Luta”, Garcia de Orta (Almada), Amadora — Sintra, Aveiro, Barcelos, Barreiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Caldas da Rainha e Torres Vedras, Coimbra, Leiria, Covilhã, Évora, Famalicão e Santo Tirso, Faro, Figueira da Foz, Vila Nova de Gaia, Guimarães, Guarda, Leiria, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Santa Maria (Lisboa), São Francisco Xavier (Lisboa), Beatriz Ângelo — Loures, Matosinhos, Penafiel, Portalegre e Elvas, Portimão, São João (Porto), Santo António (Porto), Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Ponte de Lima, Vila Franca de Xira, Vila Real-Chaves-Lamego e Viseu serão os mais afectados.

Até ao momento, foram contabilizados 19 serviços em que 100% dos médicos pediram escusa, como — entre outros — os casos das unidades hospitalares de Santa Maria da Feira, em ortopedia, Viana do Castelo e Ponte de Lima, em cirurgia geral, Garcia de Orta, em Pediatria e Neurologia, Guimarães, em obstetrícia, e Barcelos e Caldas da Rainha, em cirurgia geral.

Também 25 de 55 agrupamentos de centros de saúde (ACES) estão a sentir os efeitos do protesto às horas extraordinárias.

Na zona Norte estarão a ser afectados 15 ACES, enquanto no Centro três e no Alentejo um. Em Lisboa, serão seis os ACES a sofrer com o impacto da falta de médicos.

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) revelou esta quarta-feira que médicos e Governo não chegaram a acordo sobre os aumentos salariais, mas consolidaram os avanços negociais em outras matérias, como férias e tempo de trabalho no serviço de urgência.

No final de uma nova ronda negocial entre o Ministério da Saúde e o SIM e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que começou na quarta-feira ao final da tarde e terminou pelas 00:00 desta quarta-feira, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, garantiu que “há uma grande vontade de chegar a acordo” sobre as questões salariais.

As negociações entre o Ministério da Saúde e o SIM e a FNAM iniciaram-se em 2022, mas a falta de acordo tem agudizado a luta dos médicos, com greves e declarações de escusa ao trabalho extraordinário além das 150 horas anuais obrigatórias, o que tem provocado constrangimentos e fecho de serviços de urgência em hospitais de todo o país.

Ministro da Saúde deixou portugueses “entregues à sorte”

O movimento “Médicos em Luta” admitiu entretanto que não esperava que os sindicatos chegassem a acordo na terça-feira, afirmando que o ministro da Saúde “deixou os portugueses entregues à sua sorte” no mês de Novembro.

“Não tínhamos grande expectativa. As mensagens deixadas pelo ministro da Saúde são muito claras. Não está muito preocupado com a fixação de médicos no Serviço Nacional de Saúde [SNS], claramente.

O trabalho médico, o sucesso e a garantia de acesso por parte dos utentes aos serviços de saúde não tem necessariamente a ver com número de horas (…), mas antes com o seu empenho, com a sua capacidade de trabalho”, adiantou agência Lusa a porta-voz do movimento, Susana Costa.

De acordo com Susana Costa, a motivação dos médicos é cada vez menor devido à postura de Manuel Pizarro.

“A mensagem que o ministro da Saúde deixou aos portugueses é que estão entregues à sua sorte, em relação à sua saúde e aos cuidados de saúde a que terão acesso no mês de Novembro.

Julgo que todos os portugueses captaram muito bem essa mensagem e é esta a postura do Ministério da Saúde: não está muito preocupado com a saúde dos portugueses”, acusou.

Sobre a possibilidade de os sindicatos e o Governo chegarem a um acordo na próxima sexta-feira, a porta-voz do “Médicos em Luta” disse não acreditar “devido ao comportamento do Ministério da Saúde nos últimos 18 meses”.

“Está muito satisfeito com as aproximações que ele diz que tem tido, relativamente às reivindicações dos médicos, mas essa não é a realidade naquilo que verdadeiramente se verifica, portanto, esse optimismo que passa à população não é real. (…) Não estamos convictos de que haja definitivamente um acordo fechado na sexta-feira”, sublinhou.

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) revelou hoje que médicos e Governo não chegaram a acordo sobre os aumentos salariais, mas consolidaram os avanços negociais em outras matérias, como férias e tempo de trabalho no serviço de urgência.

No final de uma nova ronda negocial entre o Ministério da Saúde e o SIM e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que começou na quarta-feira ao final da tarde e terminou pelas 00:00 de hoje, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, garantiu que “há uma grande vontade de chegar a acordo” sobre as questões salariais.

As negociações entre o Ministério da Saúde e o SIM e a FNAM iniciaram-se em 2022, mas a falta de acordo tem agudizado a luta dos médicos, com greves e declarações de escusa ao trabalho extraordinário além das 150 horas anuais obrigatórias, o que tem provocado constrangimentos e fecho de serviços de urgência em hospitais de todo o país.

DN/Lusa
01 Novembro 2023 — 14:20


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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published in: 4 semanas ago

 

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