Uma noite como nunca se tinha visto em quase dois anos de guerra na Ucrânia. Kiev diz que a Rússia lançou o maior ataque com drones desde o início do conflito, o que faz com que as forças ucranianas temam que este seja apenas o começo de uma longa campanha direccionada à destruição das infraestruturas energéticas.
“Kiev é o alvo principal”, afirmou o comandante Mykola Oleshchuk, que coordena a Força Aérea ucraniana. E foi na capital que o poderoso ataque mais se fez sentir. Cerca de 75 drones de fabrico iraniano – os conhecidos Shahed – foram lançados contra a cidade, sendo que 71 foram abatidos.
Na sequência do ataque cinco pessoas ficaram feridas, todas por causa dos destroços provocados pelos drones. Entre as vítimas está uma criança de 11 anos, de acordo com o autarca de Kiev. Em paralelo, vários edifícios e até um jardim de infância foram danificados (ver fotografia de capa), sendo que perto de 17 mil pessoas ficaram sem electricidade.
As autoridades ucranianas referiram que os drones vieram de duas direcções diferentes, tentando assim confundir as defesas instaladas na capital.
Os habitantes de Kiev foram acordados pelas sirenes às 02:30, quando a grande onda de ataques começou, fazendo-se ouvir fortes explosões às 04:00 e 06:00.
“Os nossos soldados abateram a maioria dos drones. Infelizmente, não todos”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Este ataque surge numa altura em que o frio se começa a sentir com maior intensidade em Kiev. Nos últimos dias verificou-se um grande nevão, com temperaturas negativas a registarem-se na capital ucraniana.
A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia fez nota disso mesmo, dizendo que “à medida que as temperaturas caem para lá dos 0 graus, a Rússia envia, cinicamente, ondas de ataques com drones à capital”.
Uma estratégia que não é nova, uma vez que também no ano passado a Rússia lançou vários ataques a infraestruturas energéticas durante o inverno, tentando tirar partido do frio que caracteriza a capital ucraniana.
A Rússia bombardeou 120 cidades habitadas nas regiões fronteiriças ou perto da frente em Chernigiv, Sumi, Kharkiv, Lugansk, Donetsk, Zaporijia, Dnipropetrovsk e Kherson, informou hoje o Estado-Maior ucraniano.
A mesma fonte indicou que Kyiv evitou hoje 11 ataques russos no sul de Bakhmut, 20 em Avdivka e 14 em Marinka, localidades localizadas na região leste de Donetsk.
Em Kupiansk, na região nordeste de Kharkiv, a Ucrânia diz ter repelido três ataques russos.
De acordo com o estado-maior ucraniano, a Rússia perdeu, nas últimas 24 horas, 1.100 soldados, 30 tanques, 32 veículos blindados e 31 sistemas de artilharia nestes ataques.
A invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de Fevereiro de 2022, prossegue com combates sangrentos na região leste, onde as forças de Moscovo desenvolvem ataques massivos em Kupiansk, Marinka e Avdivka, enquanto as tropas de Kyiv vão repelindo estas investidas e tentando progredir na região sul, nas frentes de Zaporijia e Kherson.
Especialistas em assuntos militares prevêem que a Rússia pode desafiar militarmente países membros da NATO nos próximos cinco a dez anos, caso a guerra na Ucrânia entre num impasse — o que permitiria a Moscovo reforçar as suas capacidades bélicas.
MATEUS_27:24&25 / Flickr Tanques blindados T-90 do Exército da Rússia
Um estudo de especialistas em assuntos militares prevê um possível ataque russo a países da NATO nos próximos 10 anos, reporta a Deutsche Welle.
A análise foi divulgada pela Sociedade Alemã de Política Internacional (DGAP), com base em dados de inteligência e círculos militares alemães.
Os autores do estudo, Christian Mölling e Torben Schütz, realçam a necessidade urgente de os países da NATO na Europa reforçarem as suas defesas para dissuadir um potencial ataque russo.
De acordo com Mölling e Schütz, a Lituânia, Letónia e Estónia são os estados membros da NATO mais vulneráveis a um ataque russo, sendo prováveis alvos preferenciais de uma iniciativa bélica de Moscovo.
Apesar das perdas sofridas durante a guerra em curso na Ucrânia, a capacidade militar da Rússia permanece substancial, salientam os autores do estudo.
O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, reiterou recentemente a importância do papel da Alemanha na defesa da Europa, realçando a importância do país como espinha dorsal da dissuasão e defesa colectiva no continente.
As novas directrizes da política de defesa da Alemanha colocam actualmente o foco na renovação das Forças Armadas, visando uma postura mais combativa.
Entretanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, garantiu esta quinta-feira que o presidente russo Vladimir Putin está a preparar nova guerra na Europa, incitando um conflito entre a Sérvia e o Kosovo, para distrair as atenções da guerra na Ucrânia.
Com o prolongamento do conflito na Ucrânia, a guerra de trincheiras parece favorecer a Rússia, que, segundo o analista militar austríaco Markus Reisner, mantém uma considerável capacidade de produção de armamento.
A frente de batalha ucraniana, que se estabilizou após os esforços de contra-ofensiva, pode vir a exigir do Ocidente o fornecimento de armas mais modernas, que permitam um avanço mais significativo das forças ucranianas.
Os avanços tecnológicos no campo de batalha também são uma preocupação crescente. A guerra na Ucrânia está a tornar-se tornando mais electrónica, com destaque para o uso de drones — uma tendência que parece poder vir a afirmar-se como o futuro da guerra.
Também o uso de sistemas de interferência electrónica russa em comunicações e equipamentos, incluindo os lançadores de foguetes Himars, dá nota da competência tecnológica da Rússia, representando um desafio adicional.
Finalmente, o estudo da DGAP salienta que, embora a guerra na Ucrânia não pareça poder terminar a curto prazo, a Rússia pode conseguir recuperar rapidamente as perdas sofridas no conflito, ultrapassando a capacidade defensiva da NATO.
Este cenário coloca os países membros da organização com um prazo apertado para reforçar as suas forças armadas e garantir uma posição de dissuasão eficaz contra possíveis agressões russas, nota o estudo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros adiantou que morreram “uma adulta e duas crianças” de nacionalidade portuguesa e referiu ter transmitido em nome de Portugal ao seu colega israelita “desgosto em relação a estas mortes”.
Três portugueses morreram num bombardeamento no sul da Faixa de Gaza, enclave onde decorre uma guerra entre as forças israelitas e o movimento islamita palestiniano Hamas desde o início de Outubro, adiantou esta quarta-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, lamentou a morte dos três cidadãos portugueses em Gaza, acrescentando que morreram “uma adulta e duas crianças” de nacionalidade portuguesa, juntamente com dois familiares.
“O Governo português lamenta profundamente a morte de cinco pessoas esta tarde em Gaza, três cidadãos nacionais e dois familiares, fruto de um bombardeamento”, declarou João Gomes Cravinho aos jornalistas, num hotel em Bissau.
“Aquilo que aconteceu esta tarde com a morte de três cidadãos nacionais e dois familiares directos desses cidadãos é mais uma prova de que este não é o caminho certo. Nós precisamos de parar agora estes bombardeamentos”, defendeu.
Para João Gomes Cravinho, “pausa, cessar-fogo, trégua, pouco importa” o que se chame, “desde que o resultado seja a cessação de bombardeamentos que estão a provocar vítimas civis”.
Autorizada saída de Gaza para 10 cidadãos sinalizados por Portugal, dois dos quais luso-palestinianos
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) revelou ainda, na mesma nota, que as autoridades egípcias, em articulação com as autoridades israelitas, autorizaram a saída de Gaza para 10 cidadãos sinalizados por Portugal para a retirada daquele território – dois dos quais luso-palestinianos.
“A saída deverá decorrer, sob coordenação das autoridades locais, através da passagem de Rafah, nas próximas horas, a qual estará aberta para a retirada de cidadãos estrangeiros de Gaza para o Egipto”, destacou o MNE, referindo que a saída deverá ocorrer hoje através da passagem de Rafah.
“As Embaixadas de Portugal no Cairo e em Telavive, bem como a representação diplomática de Portugal em Ramallah e o Gabinete de Emergência Consular em Lisboa, estão em contacto com este grupo de cidadãos, bem como com as respectivas autoridades locais para concretizar a saída em segurança”, garantiu ainda.
“O repatriamento dos cidadãos deste grupo que venham a sair, amanhã [quinta-feira] e em dias seguintes, a partir do Egipto ficará a cargo do Estado Português, estando assegurados alojamento e transporte para território nacional”, acrescentou.
A 7 de Outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel — realizaram em território israelita um ataque de dimensões sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, cerca de 5.000 feridos e mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, electricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 40.º dia e continua a ameaçar estender-se a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 11.320 mortos, na maioria civis, 28.200 feridos, 3.250 desaparecidos sob os escombros e mais de 1,6 milhões de deslocados, segundo o mais recente balanço das autoridades locais.
A invasão russa da Ucrânia já danificou ou destruiu 3.790 escolas e estabelecimentos de pré-escolar, segundo um relatório hoje divulgado pela Human Rights Watch (HRW), que descreve casos de unidades pilhadas, vandalizadas e ocupadas para fins militares.
O documento “Tanques no Recreio”, de 71 páginas, documenta os danos e a destruição de escolas e estabelecimentos de pré-escolar nas regiões de Kyiv (norte), Kharkiv, Chernihiv (ambas no nordeste) e Mykolaiv (sul), todas palcos de combates desde o início da invasão russa, em Fevereiro de 2022, onde a organização não-governamental entrevistou quase 90 funcionários escolares, representantes de autoridades locais e testemunhas de operações militares.
Os danos registados foram causados por ataques aéreos, bombardeamentos de artilharia, lançamentos de foguetes e, em alguns casos, munições de fragmentação, “causando estragos significativos nos telhados, desabamento de paredes e grandes destroços nas salas de aula”, tendo como resultado a grave interrupção do acesso à educação de milhões de crianças.
Na generalidade, segundo a HRW, os danos e a destruição de escolas ocorreram em consequência da captura pelas forças russas de cidades e vilas nas primeiras semanas da invasão, ocupando escolas.
Em vários casos, dispararam contra as instalações face à posterior reconquista territorial do Exército ucraniano e antes de se retirarem daquelas regiões.
O relatório assinala que, durante a ocupação de estabelecimentos escolares, as forças russas pilharam-nas, saqueando computadores de secretária e portáteis, televisões, quadros interactivos, outros equipamentos escolares e sistemas de aquecimento.
“O que não foi roubado muitas vezes foi partido. Após a retirada, as forças russas deixaram para trás salas de aula incendiadas e saqueadas. Eles também pintaram ‘graffiti‘ nas paredes”, normalmente expressando ódio aos ucranianos, descreve-se no documento.
É aliás referido o exemplo da escola Borodyanka, nos arredores de Kyiv, que foi atingida na troca de fogo entre forças ucranianas e russas, que, ao abandonarem o local, deixaram mensagens contra a Ucrânia e pinturas de bandeiras nazis, em alusão à “desnazificação” do país invocada pelo líder do Kremlin, Vladimir Putin, para justificar a sua “operação militar especial”.
“Foi impossível conter as lágrimas”, afirmou o director da escola, citado pela HRW. “No refeitório, eles [forças russas] fizeram uma banheira [no lava-louças]. Noutra sala havia sangue nas paredes. Partiram todos os computadores, encheram tudo de lixo e simplesmente roubaram os ‘laptops‘”.
Usar as escolas como alojamentos para tropas, armazenar munições ou estacionar ou posicionar veículos militares nas dependências das instalações aumenta a probabilidade de ataques às escolas, lembra a HRW, observando que as forças militares são obrigadas, segundo as leis da guerra, a fazer todos os possíveis para proteger dos efeitos dos ataques as unidades escolares e outras instalações civis sob o seu controlo.
A HRW recorda também que, em relatórios anteriores, já eram mencionados casos de escolas e instalações de pré-escolar, incluindo para crianças com deficiência, usados pelas forças russas como locais de tortura, violação ou outros maus tratos de prisioneiros de guerra ou como centros de detenção de civis.
Também há casos documentados do posicionamento de soldados ucranianos em escolas, ou de postos de comando nas suas proximidades, além da mobilização de um pequeno número de membros das Forças de Defesa Territorial para fornecer segurança a civis abrigados em unidades de ensino, “acções que podem aumentar o risco de ataques”.
“As crianças ucranianas pagaram um preço elevado nesta guerra porque os ataques à educação são ataques ao seu futuro”, disse Hugh Williamson, director da divisão Europa e Ásia Central da Human Rights Watch, citado em comunicado da organização, acrescentando que “a comunidade internacional deveria condenar os danos e a destruição de escolas na Ucrânia e as pilhagens pelas forças russas”.
O relatório indica que, antes da guerra, o Governo ucraniano, ao contrário do russo, tinha adoptado a Declaração sobre Escolas Seguras, um compromisso político internacional que visa proteger a educação dos piores efeitos dos conflitos armados, e, um mês antes da invasão, mil oficiais foram formados para este instrumento, em concreto, para as Directrizes para a Protecção de Escolas e Universidades contra a Utilização Militar durante Conflitos Armados.
Já em Julho do ano passado, as autoridades ucranianas também emitiram uma ordem de alto nível com o objectivo de “não utilizar instalações educativas para alojamento temporário de quartéis-generais e unidades militares”, de acordo com o Ministério da Defesa da Ucrânia, citado pela HRW.
“As Nações Unidas e outros devem pressionar o Governo russo a cessar imediatamente os ataques deliberados, indiscriminados e desproporcionais contra civis e bens civis, incluindo escolas, e instar a Rússia a evitar a utilização de instalações educativas ucranianas para fins militares.
A Rússia deveria cumprir as disposições da Declaração e incluir os seus princípios na formação de pessoal militar”, apela a organização.
– Como é que um Estado pária, terrorista, genocida com um psicopata a geri-lo, acompanhado pelos seus fantoches russonazis amestrados, pode ter noção sobre o cumprimento da Declaração sobre Escolas Seguras ou Direitos Humanitários? Puro nazismo!
Dados do Ministério da Educação de Kyiv revelam que em Janeiro mais de 95% dos estudantes elegíveis estavam matriculados, “um feito significativo durante o tempo de guerra”, elogia a HRW.
Apesar destes esforços, muitos alunos de escolas danificadas ou destruídas “tiveram de continuar os seus estudos noutras escolas, estudando em turnos ou à distância, o que prejudicou a qualidade da educação, advertiu.
“Os ataques das forças russas às infraestruturas energéticas e os consequentes cortes de electricidade e Internet têm frequentemente impedido a aprendizagem à distância”, refere ainda a HRW.
A ONG salienta o “enorme esforço necessário” para ajudar as crianças ucranianas a recuperar a sua educação, após quase dois anos de guerra ininterrupta.
“Devolver as crianças às salas de aula aumenta a urgência para a Ucrânia, com o apoio de parceiros internacionais, restaurar e reconstruir instalações educacionais danificadas, de acordo com os padrões de segurança e acessibilidade”, sustentou a HRW.
“A maioria dos países do mundo, incluindo a União Europeia e os membros da NATO, comprometeram-se a proteger a educação contra ataques e deveriam ajudar a Ucrânia a atingir esse objectivo durante a guerra, este direito crucial deve ser protegido”, declarou Hugh Williamson.
Portugal está empenhado na reconstrução de uma escola secundária em Jitomir, a 150 quilómetros a oeste de Kyiv, que foi destruída num bombardeamento logo nos primeiros dias de guerra, num projecto da Parque Escolar em parceria com as autoridades ucranianas e a Estónia e que previa a formação de professores em Portugal.