325: Saúde Oral (II). Os 7 Conselhos Principais

 

🇵🇹 OPINIÃO

Como primeiro conselho, já aqui foi realçada a importância da higiene oral com utilização criteriosa de escova e pasta dentífrica adequadas à idade, a partir da infância, para evitar a cárie, tanto dos 20 dentes de leite como dos 32 da dentição definitiva.

Continuam, hoje, as recomendações sob a forma de conselhos. São aparentemente simples, mas baseadas em estudos científicos.

Segundo conselho: é necessário visitar periódica e regularmente o médico dentista, mesmo na ausência de dores ou outros sintomas, na perspectiva da prevenção de problemas da boca e dos dentes. É um aviso preventivo que deverá ser observado ao longo do percurso de vida. Aquilo que o médico dentista disser deve ser tido como prioridade.

As suas opiniões para promoção da saúde ou prevenção de doenças orais são sempre sabedoras. Inquestionáveis. Por outras palavras, devem ser consideradas como se fossem regras para serem cumpridas sem desvalorização.

Terceiro conselho: é preciso saber que os problemas orais não se limitam aos dentes (cárie dentária), uma vez que podem existir doenças nas gengivas, na língua ou nas mucosas que carecem de diagnóstico e de tratamento especializado.

Quarto conselho: há que ter em atenção o eventual aparecimento de sintomas ou sinais como dores, feridas (úlceras), manchas, inchaços ou hemorragias que persistam mais de duas semanas. Nestas situações, impõe-se a antecipação da consulta com o médico dentista, a fim de diagnosticar a natureza do problema.

Saliente-se que o tratamento do cancro oral, que é mais frequente do que se pensa, beneficia da precocidade do diagnóstico, à semelhança de qualquer outra doença oncológica.

A este propósito, note-se que está cientificamente estabelecida a relação causa-efeito entre o fumo de tabaco e o aumento da probabilidade de surgir cancro oral. Fumar é, assim, um factor de risco.

Quinto conselho: é possível, também, evitar os traumatismos da boca através do uso de protecção durante algumas das actividades mais perigosas, nomeadamente motociclo, skate, trotinetas, etc.

Sexto conselho: como a fermentação do açúcar está na génese da cárie dentária, há que tomar as devidas precauções em termos de auto-cuidados profilácticos.

Escovar os dentes com uma pasta contendo flúor, pelo menos duas vezes por dia (depois do pequeno-almoço e ao deitar), é absolutamente indispensável. Não se deve comer alimentos açucarados ou beber refrigerantes nos intervalos das refeições. Repare-se que um simples refrigerante tem 35 gramas de açúcar (o equivalente a cinco pacotes de açúcar).

Sétimo conselho: a aplicação tópica de flúor é altamente benéfica para prevenir a cárie dentária, uma vez que contraria a produção de acidez, impedindo a desmineralização e favorecendo a remineralização dentária.

No entanto, a exposição ao excesso de flúor até aos 4 anos de idade pode provocar fluorose dentária (manchas descoloridas nos dentes).

Conclusão: A cárie dentária é uma doença crónica de elevada prevalência, apesar de poder ser evitada através de cuidados de higiene oral. A alegria das pessoas, traduzida pelo sorriso, assim o exige. Mas, também a saúde. Não é apenas uma questão de estética.

Está, pela certa, dependente do acesso aos cuidados de medicina dentária. Sem desigualdades. Sem iniquidades. Se assim acontecer, constrói-se mais Democracia.

Ex-director-geral da Saúde
franciscogeorge@icloud.com

DN
Francisco George
29 Novembro 2023 — 00:25


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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217: Saúde Oral (I)

 

🇵🇹 OPINIÃO

Todos se lembram das imagens, antigamente difundidas pelos canais de TV, que mostravam pessoas a falar perante as câmaras e que, com chocante naturalidade, exibiam doenças orais, como a falta de dentes ou cárie em estado avançado. Era o resultado da inexistência de cuidados de higiene oral. Uma tristeza reveladora do atraso que Portugal viveu até 1974.

Nos últimos 50 anos o país mudou. É hoje diferente. Melhorou em todas as áreas da Saúde Pública, incluindo na Medicina Dentária. Um salto no bom sentido.

Recentemente, a Ordem dos Médicos Dentistas publicou um interessante volume intitulado Livro Branco da Medicina Dentária que não deve escapar à atenção dos legisladores e dos membros do próximo Governo que, como se sabe, será eleito a 10 de Março.

Mas, antes de tudo, há as lições do passado que traduzem as imensas debilidades da higiene oral que não podem ser ignoradas.

Precise-se.

Se bem que os primeiros anúncios de publicidade a pastas dentífricas tenham sido divulgados, em Portugal, desde 1865, durante o reinado de Luís de Bragança, só algumas famílias da elite aristocrática de Lisboa tinham acesso à higiene oral.

Na altura, Portugal contava apenas 3,8 milhões de habitantes (segundo o Censo do ano anterior). Era um país dominado pela ruralidade, pela imensa pobreza e pelo analfabetismo. Estima-se que 80% dos residentes não sabiam ler, escrever, nem contar.

Tamanho analfabetismo, associado à iliteracia para a saúde e ao atraso socioeconómico da época, eram determinantes que marcavam negativamente a Saúde Pública e que explicavam a curta esperança de vida à nascença, que não ultrapassava 31 anos (1864).

É verdade que, então, a saúde oral constituía um problema de Saúde Pública. Mas, comparada com os efeitos das constantes epidemias de tifo, cólera, tuberculose, varíola, febre-amarela, foi relegada para uma escala inferior de prioridades. Era essa a percepção generalizada.

Perante a pesada herança, foi preciso impulsionar a democratização do acesso a cuidados de saúde oral. É neste âmbito que surge o desenvolvimento da Medicina Dentária. Ainda bem que assim aconteceu.

Interessa conhecer a natureza da cárie dentária e a forma de a prevenir. Todos sabem que as crianças, em regra, nascem sem dentes (o que é excelente para o aleitamento materno), mas depois, a partir dos 6 meses, começam a irromper os dentes de leite. Uma festa na família!

Mas, é preciso saber que estes dentes de leite (no total são 20), apesar de provisórios, têm de ser bem cuidados na perspectiva da prevenção da cárie.

Em geral, aos 6 anos começam a nascer os primeiros dentes definitivos que sucessivamente substituem os de leite. Os molares e incisivos são os primeiros a nascer. A queda do primeiro dente de leite é outra festa! No final, a dentição completa conta com 32 dentes, incluindo 4 cisos.

Ora, a cárie dentária resulta da fermentação do açúcar por bactérias cariogénicas que se encontram habitualmente na região dorsal da língua. Esse processo de fermentação dá origem a substâncias ácidas que (como todos os ácidos) destrói os dentes, tanto os de leite como os definitivos.

Primeiro conselho: a mãe ou o pai terão de usar pasta dentífrica infantil e uma escova macia para os dentes das suas crianças, sem deixar de lavar o dorso da língua. Hábito que, depois, já autonomamente, não será interrompido.

(continua na quarta-feira)

Ex-director-geral da Saúde
franciscogeorge@icloud.com

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Francisco George
22 Novembro 2023 — 00:41


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130: Stress

 

🇵🇹 OPINIÃO

O médico da Universidade de Montreal, Hans Selye (1907-1982), foi o primeiro cientista a interessar-se pelo mecanismo fisiológico originado pela exposição ao stress.

Há cerca de 70 anos, explicou os efeitos que podem assumir múltiplas formas reactivas quer na mente quer no corpo das pessoas perante o stress.

Esclareceu, então, que as diversas reacções eram devidas à secreção de adrenalina pelas glândulas supra-renais que constitui a primeira resposta por parte do organismo. Realce-se que o stress nem sempre representa uma ameaça à saúde. No entanto, muitas vezes, impõe aconselhamento psicológico especializado.

Ora, as descrições científicas de Hans Selye podem, agora, ser analisadas, tendo em consideração os avanços científicos alcançados, tanta nas áreas da emoção como da fisiopatologia de doenças, comprovadamente, provocadas pelo stress.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o stress é uma das preocupantes epidemias do século XXI.

A este propósito, a Associação Académica da Universidade da Beira Interior promoveu, recentemente, um oportuno debate destinado a estudantes de Medicina sobre o tema, que foi conduzido pelo psicólogo Paulo Vitória.

Foi neste ambiente que foram referidos como causas principais de stress os assuntos relacionados com a família (como a doença ou morte de um familiar próximo) ou com problemas financeiros (causados pelo desemprego, por exemplo) ou, ainda, com a insatisfação no trabalho (muitas vezes associada ao excesso de responsabilidade).

Naturalmente, os efeitos na saúde de cada pessoa exposta ao stress dependem de múltiplos factores, nomeadamente do grau de intensidade, da duração do período de exposição e da apreciação subjectiva da gravidade de cada situação.

Saber gerir o stress do dia a dia é essencial, em especial no plano da preservação da saúde.

As consequências patológicas causadas pelo stress foram apresentadas segundo um modelo inovador que distingue quatro grupos: 1 Efeitos fisiológicos directos; 2 Alterações dos comportamentos determinantes da saúde; 3 Recursos psico-sociais; 4 Cuidados de saúde.

Precise-se cada um dos grupos mencionados.

Na classe 1 integram-se os seguintes efeitos: elevação das gorduras no sangue; pressão arterial alta; diminuição da imunidade e aumento da actividade hormonal.

No que se refere ao grupo 2 (estilos de vida) apontam-se: o aumento do fumo do tabaco e do consumo de bebidas alcoólicas; problemas nutricionais; dificuldade em dormir; aumento do consumo de substâncias psicotrópicas e dieta desequilibrada e menor actividade física.

No grupo 3, relacionado com as questões psico-sociais, citam-se as consequências do stress traduzidas pela sensação de falta de apoio social; na redução do optimismo: na ameaça à auto-estima e menor auto-domínio.

Já no grupo 4, sobre os cuidados de saúde, enumeram-se: a diminuição da aderência aos tratamentos; aumento do tempo antes da procura de cuidados; manifestações sintomáticas com perfil pouco claro e diminuição da probabilidade na procura de cuidados.

Nota final: a expressão síndrome de burnout está associada ao trabalho, em resultado da submissão a intenso e repetido stress que está na origem da sensação das capacidades físicas e psíquicas impedirem o cumprimento das responsabilidades profissionais. Situação que, em regra, é provocada por tarefas e carga horária excessivas.

Ex-diretor-geral da Saúde
franciscogeorge@icloud.com

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Francisco George
15 Novembro 2023 — 01:05


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64: Diabetes (capítulo III)

 

🇵🇹 OPINIÃO

Continuam, hoje, alguns esclarecimentos sobre a diabetes mellitus. Já se referiu que a diabetes tipo 2 tem uma expressão familiar e que está relacionada com a falha da insulina, que deixa de ser segregada com normalidade pelas células dos ilhéus do pâncreas.

Ora, como essa falta de insulina é relativa (isto é, não é total), importa tudo tentar para que seja “poupada”, em particular pelas pessoas que têm mais probabilidade de terem diabetes, nomeadamente as que têm familiares com diabetes (pais, tios, avós).

Essa poupança deverá ter como princípio básico a redução do açúcar da alimentação, a fim de a sua presença no sangue não estimular a produção de mais insulina. Sublinhe-se que os teores altos de açúcar no sangue (hiperglicemia) vão influenciar a estimulação de mais produção de insulina na perspectiva de baixar os níveis de glicémia.

Repare-se na fórmula fisiológica do metabolismo dos açúcares (hidratos de carbono): quanto menos açúcar existir no sangue, menos será a insulina necessária; mais açúcar no sangue exigirá mais insulina.

A obesidade é igualmente um factor de risco. É aqui que contam os comportamentos e estilos de vida. Há que ter em atenção a quantidade e qualidade dos alimentos. O excesso de calorias ingeridas prejudica a saúde.

Os primeiros sinais são o aumento de peso reflectido no índice de massa corporal que traduz a corpulência (relação da estatura e peso). É preciso evitar chegar à obesidade. Para isso, há que planear as refeições com menos calorias e fazer mais actividade física.

Apesar de nem sempre ser fácil ler os rótulos com as indicações da composição dos alimentos, há que ter em atenção as quantidades de calorias e de açúcar indicadas nas respectivas embalagens.

A título de exemplo, realce-se que um simples refrigerante de 33cl da marca americana mais conhecida de cola original, corresponde a 7 pacotes de açúcar ingeridos com uma só bebida (admitido que cada pacote tem 5 gramas).

Quais são os primeiros sintomas ou sinais que sugerem o começo da diabetes?

Em regra, a diabetes tipo 2 surge em pessoa adulta (ao contrário do tipo 1 que é tida, principalmente, como juvenil). O quadro clínico inicial traduz-se pela frequência em urinar e em sensação de sede. É habitual começar com perda brusca de peso.

Nestas circunstâncias há que procurar o médico de família para confirmar o diagnóstico. As análises laboratoriais ao sangue e à urina irão exibir níveis altos da glicémia e a presença de açúcar na urina (glicosúria).

A seguir terá de ser a própria pessoa com diabetes a cumprir a terapêutica seguindo os conselhos e recomendações do médico e do enfermeiro para equilibrar os níveis de glicémia em função da alimentação e do exercício físico.

Conclusão:
Eis as principais lições para preservar a saúde, incluindo no plano da moralidade social: é preciso observar comportamentos saudáveis na vida rotineira do dia a dia. O desígnio é fazer com que a vida de cada e de todas as pessoas seja menos curta. Este é um objectivo atingível para quem gosta de viver.

A mudança é sempre praticável. Para tal, há que acreditar que é possível evitar a diabetes. Neste sentido, a receita mágica é comer com equilíbrio e fazer exercício físico.

Por exemplo, preferir a mobilidade urbana recorrendo à bicicleta que, também, reduz a emissão de gases poluentes que é um imperativo moral para todos.

Ex-director-geral da Saúde
franciscogeorge@icloud.com

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Francisco George
08 Novembro 2023 — 01:02


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2: Diabetes (capítulo II)

 

🇵🇹 OPINIÃO

Retoma-se, hoje, a exposição sobre a diabetes. Na semana anterior descreveu-se o mecanismo de feedback entre o teor do açúcar do sangue (glicémia) que, inevitavelmente, está sempre a variar ao longo das 24 horas do dia, sobretudo em função da alimentação e do exercício físico.

Aliás, compreende-se facilmente que a fome faça baixar a glicémia, tal como, no mesmo sentido, a actividade física (pelo natural consumo de energia que provoca). Inversamente, a alimentação e o sedentarismo aumentam a glicémia, logo seguida, como resposta, pela produção de mais insulina que entra na corrente sanguínea.

Então, essa insulina, que foi segregada pelas células dos Ilhéus de Langerhans do pâncreas, irá permitir a penetração do açúcar do sangue para o interior das células do organismo.

A insulina funciona, nestes termos, como se fosse uma chave que abre a porta das células para o açúcar poder entrar. Como efeito imediato, à medida que o açúcar entra nas células, verifica-se a sua descida no sangue circulante, no contexto de um processo ininterrupto ao longo das 24 horas de cada dia.

Sublinhe-se que o açúcar é a principal fonte de energia celular.

Ora, a diabetes aparece precisamente quando falha a acção da insulina. Falha esta que pode ter causas distintas que irão caracterizar os dois principais tipos de diabetes, nomeadamente: a DIABETES TIPO 1 devida a um processo de auto-imunidade que destrói as células produtoras de insulina; e a DIABETES TIPO 2 originada pela resistência à insulina. Isto é, quando o organismo deixa de ser sensível à insulina.

Detalham-se, a seguir, algumas das características próprias da diabetes tipo 2, uma vez que é a mais frequente e que mais medidas de prevenção impõe, tendo em atenção tanto o seu aparecimento como a prevenção dos efeitos que provoca.

Antes de tudo, insista-se que a diabetes tipo 2 é eminentemente hereditária, condição que, em parte, explica a sua frequência na população. Em Portugal, estima-se a existência aproximada de 1,1 milhão de pessoas com diabetes entre os 20 e os 79 anos de idade.

Por outras palavras, cerca de 14% da população neste grupo etário é diabética, mas, estranhamente, apenas 8% tem diabetes clinicamente diagnosticada.

Como acima mencionado, a génese da diabetes tipo 2 está relacionada com o advento de resistência à acção da insulina.

Por outras palavras, a insulina presente no sangue que foi segregada nas células dos ilhéus pancreáticos começa a perder progressivamente a capacidade de fazer entrar o açúcar do sangue para dentro das células, originando hiperglicemia. No fundo, é este fenómeno (insulinorresistência) que se transmite de forma familiar (hereditária).

Por essa razão, netos, filhos, sobrinhos de pessoas com diabetes mellitus de tipo 2 têm de saber que o risco de a adquirirem é mais elevado.

É por isso que, nestas situações, é preciso que esses familiares promovam, desde cedo, comportamentos e estilos de vida preventivos, designadamente alimentação equilibrada com menos açúcares e mais exercício físico.

É absolutamente aconselhável evitar o hábito de as crianças consumirem rebuçados, caramelos, bolachas, refrigerantes, gelados, sobremesas doces.

As famosas Bolas de Berlim, recheadas com creme (lamentavelmente, bem à moda portuguesa), poderão ser quase equiparadas a verdadeiros venenos…

(continua na próxima quarta-feira)

Ex-director-geral da Saúde
franciscogeorge@icloud.com

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Francisco George
01 Novembro 2023 — 00:23


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