🇺🇸 EUA // 🇺🇸 KISSINGER // 🇵🇹 PORTUGAL // 👎🖕 GOLPE DE DIREITA // LIBERDADE 🗣✔️📃
Revelações foram feitas em documentos secretos do Departamento de Estado e que foram publicados no volume do departamento histórico do Departamento de Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977.

Kissinger numa visita a Portugal, junto à Torre de Belém, em 1973.
© Arquivo DN
O ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, que morreu esta quinta-feira aos 100 anos, não era assim “tão contra” um golpe de estado de direita em Portugal durante o processo revolucionário de 1975 e admitiu fornecer armas ao “grupo dos Nove”.
Estas e outras revelações são feitas, 40 anos após o 25 de Abril de 1974, em documentos do Departamento de Estado até agora considerados “secretos” e publicados no volume do departamento histórico do Departamento de Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977 (Foreign Relations of the United States – Volume E-15, part II).
A reunião decorreu a 12 de Agosto de 1975, entre Kissinger, o embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, e vários membros do Departamento de Estado, em Washington, incluindo William Hyland, director do Departamento de Informações e Pesquisa do Departamento de Estado.
Já passara mais de um ano sobre o golpe que derrubou a ditadura, a 25 de Abril, e o Governo de Lisboa era liderado por Vasco Gonçalves, o “inimigo número um” dos EUA. Carlucci e Hyland concluíram que o maior risco para os objectivos norte-americanos eram António de Spínola, o primeiro presidente pós-25 de Abril e que liderou o 11 de Março, e a extrema-direita.
Nessa altura, Henry Kissinger, chefe da diplomacia dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, disse algo que, admitiu, poderia chocar os seus “colegas”.
“Não sou assim tão contra um golpe desse tipo [de direita], por muito chocante que seja para os meus colegas…”, lê-se na ata da reunião de Agosto de 1975, em que se discutiram as hipóteses de êxito de um golpe por parte da direita em Portugal.
Carlucci opôs-se, tal como já se opusera à tese da vacina: Kissinger aceitaria “perder” Portugal para os comunistas, apoiados pela União Soviética, e tal funcionaria como “vacina” para Espanha ou Itália. O diplomata defendeu, isso sim, o apoio dos EUA aos “moderados”, incluindo o PS de Mário Soares.
“Não, também não sou contra um golpe, se resultasse. Mas se Spínola o tentar, não vai resultar. [Melo] Antunes [do Grupo dos Nove] pode ser um líder no momento seguinte, Spínola não. Ele é, na minha opinião, um homem muito perigoso”, afirmou Carlucci.
Spínola, durante o seu exílio após a tentativa falhada de golpe do 11 de Março de 1975, fundou o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), tentou apoios em França e no Brasil para um movimento militar e popular que derrubasse o Governo liderado por Vasco Gonçalves e apoiado pelo PCP.
Kissinger disse que, naquela altura, os EUA não tinham qualquer relação com Spínola. Carlucci duvidou, dado que lera um relatório da CIA sobre a América Latina e que indicava “algum tipo de contacto” com o general.
É também na reunião de 12 de Agosto no Departamento de Estado, em Washington, que Kissinger e Carlucci falam abertamente de uma guerra civil em Portugal e da possibilidade de fornecer armas a personalidades relacionadas ou com Mário Soares ou do Grupo dos Nove.
Neste ambiente, político e militar, Carlucci recebeu luz verde para os Estados Unidos “examinar o pedido” de fornecimento de armas desde que fosse legítimo.
“E se, no seu julgamento, os pedidos forem feitos por elementos responsáveis”, explicou Henry Kissinger. E Carlucci revelou ter sido contacto por pessoas que não eram nem ligadas a Soares nem ao PS nem aos militares “moderados”.
Não há, nestes documentos desclassificados, elementos sobre se foram entregues armas pelos Estados Unidos e a quem.
Kissinger achava que comunistas iam matar Mário Soares
Henry Kissinger, ex-secretário de Estado norte-americano, previu e errou que “os comunistas” iam matar, em 1975, Mário Soares, líder histórico do PS e ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Os comunistas vão arrastar Soares para a esquerda até ele perder apoio e depois vão matá-lo. As forças armadas vão fazer um golpe de estado sob liderança dos comunistas”, afirmou Kissinger numa reunião, a 04 de Fevereiro de 1975, do Comité dos 40, organismo para supervisionar operações clandestinas e que incluía os serviços secretos, a CIA.
Henry Kissinger era um crítico de Mário Soares, considerando-o fraco e, em Outubro de 1974, chegou a dizer-lhe que seria o “Kerensky português”, o dirigente socialista russo derrotado por Lenine na revolução russa de 1917.
Anos mais tarde, já depois do fim do período revolucionário, em finais de 1975, também numa reunião em Washington, admitiu o erro quanto a Mário Soares, que, na democracia portuguesa, foi primeiro-ministro de vários governos e Presidente da República (1986-1996).
CIA abortou plano para apoiar Spínola no Verão Quente
Os Estados Unidos tiveram um plano para apoiar António de Spínola, do movimento anti-comunista MDLP, durante o período revolucionário de 1975, mas foi “chumbado” pela CIA, que foi mantendo “algum tipo de contacto” com o general.
O embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, Frank Carlucci, era contra qualquer apoio norte-americano ao general do monóculo, que fugiu de Portugal após a tentativa falhada de golpe de Estado de 11 de Março de 1975, e é isso mesmo que diz a Henry Kissinger numa reunião em Washington em 12 de Agosto de 1975, no Departamento de Estado.
A secreta norte-americana não estaria, porém, inocente nos contactos com Spínola, dado que Carlucci recorda, nesse encontro, que viu um relatório da CIA que “indicava algum tipo de contacto”, o que o lhe causa “alguma preocupação”.
A avaliar pelos documentos agora divulgados pelo Departamento de Estado, passados os quase 40 anos de classificação, a proposta de apoio a Spínola circulou entre vários membros do Comité dos 40, um organismo chefiado por Kissinger para supervisionar operações clandestinas e que incluía os serviços secretos, a CIA, mas não avançou, de acordo com um documento secreto, datado de 30 de Julho de 1975.
O documento teve a oposição do Departamento de Estado e da CIA, obtendo apenas o voto favorável do chefe de estado conjunto das forças armadas norte-americanas, general George Brown. Para o Departamento de Estado, Spínola “estava desacreditado e [com ele] não há perspectivas de sucesso” para os objectivos dos EUA.
Durante o seu exílio após a tentativa falhada de golpe do 11 de Março de 1975, António de Spínola fundou o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), tentou apoios em França e no Brasil para um movimento militar e popular para derrubar o Governo liderado por Vasco Gonçalves e apoiado pelo PCP.
Texto originalmente publicado a 23 de Agosto de 2014, e agora republicado por motivo da morte de Henry Kissinger.
DN // Lusa
30 Novembro 2023 — 04:08
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published in: 6 horas ago