Entre o dia 11 e 12 de Dezembro, a super-gigante vermelha vai desaparecer. Portugal encontra-se na área onde será possível observar a sua passagem.
ALMA (ESO/NAOJ/ NRAO) / E. O’Gorman / P. Kervella
A estrela Betelgeuse, situada na constelação de Órion, o Caçador, irá desaparecer temporariamente devido à passagem do asteroide 319 Leona.
O fenómeno ocorrerá entre os dias 11 e 12 de Dezembro, sendo visível para observadores numa faixa estreita que se estende da Ásia Central e sudeste da Europa até à Florida e México.
Betelgeuse é a estrela avermelhada no “ombro” do Caçador. A sua luz será bloqueada por alguns segundos pelo asteroide. Portugal encontra-se na área onde será possível observar a sua passagem, mas a equipa do projecto Virtual Telescope criou a simulação abaixo para dar oportunidade, aos mais azarados, de acompanhar o evento.
Além de fascinante, o fenómeno representa uma excelente oportunidade para astrónomos estudarem a estrela e o asteroide. Ao recolher dados precisos da duração da ocultação (ou seja, o período em que a estrela estará coberta pelo asteroide), a equipa poderá determinar o tamanho e forma da rocha espacial.
À medida que o asteróide se move, passará por grandes células de convecção — responsáveis pelo aumento e diminuição do brilho na estrela.
“Podemos até obter informações sobre a distribuição destas células e ver se elas podem explicar a perda de massa na Betelgeuse, observada em grandes telescópios”, explicou o astrónomo Miguel Montargès, do Observatório de Paris.
Durante o Simpósio Europeu para Projectos de Ocultação (ESOP), astrónomos amadores e profissionais discutiram formas de observar o evento.
O astrónomo Bernd Gährken sugeriu o uso de câmaras DSLR no modo vídeo, capazes de registar a diminuição do brilho da estrela. Outra possibilidade é o uso de filtros para observar as variações de diâmetro dela em diferentes comprimentos de onda.
A estrela Betelgeuse
Também conhecida como Alpha Orionis, Betelgeuse é uma super-gigante vermelha localizada a 640 anos-luz da Terra, na constelação de Órion.
Pertence às estrelas da classe M, constituída principalmente por anãs vermelhas e de brilho ténue. Betelgeuse tem entre 8 e 8,5 milhões de anos, sendo assim uma estrela relativamente jovem.
Contudo, a super-gigante já esgotou quase todo o hidrogénio no seu núcleo, elemento essencial para a fusão nuclear que sustenta a sua estrutura. Sem ele, está a fundir hélio em carbono e oxigénio. Quando terminar a fusão nuclear, Betelgeuse colapsará sobre si mesma até explodir em super-nova.
Nos últimos anos, o seu brilho variou em ciclos de 400 dias. Em 2019, perdeu brilho, intrigando os astrónomos que suspeitavam que poderia estar prestes a explodir. Contudo, um estudo publicado em 2021 revelou que o escurecimento foi causado por uma nuvem de plasma libertada pela estrela.
É bom que Betelgeuse expluda em breve”, brincou Sanjana Curtis, astrofísica da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. “Ou eu própria faço-a explodir.”
Sempre que algo acontece com Betelgeuse, proliferam as especulações sobre ela explodir como uma super-nova.
Em Junho, a estrela super-gigante vermelha brilhou mais quase 50%, e isso fez com que as especulações aumentassem novamente. Novas pesquisas mostram que ela pode explodir como uma super-nova mais cedo do que se esperava.
Astrofísicos descobriram um sistema planetário “próximo” da Terra formado por seis planetas que orbitam a sua estrela em sincronia, como se dançassem uma valsa, divulgou esta quarta-feira a revista científica Nature.
Os seis planetas, que provavelmente têm realizado esta mesma “dança rítmica” desde que o sistema planetário se formou há milhares de milhões de anos, orbitam a estrela HD110067, situada a cerca de 100 anos-luz da Terra, na constelação da Cabeleira de Berenice.
Segundo os autores da investigação, liderada pelo astrofísico espanhol Rafael Luque, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, este raro sistema planetário pode dar novas pistas sobre a formação e evolução dos planetas.
“Esta descoberta vai tornar-se uma referência para estudar como os sub-Neptunos, o tipo mais comum de planetas fora do Sistema Solar, se formaram, evoluíram, de que são feitos e se possuem as condições certas para suportar água líquida nas suas superfícies”, sustentou Rafael Luque, citado em comunicado pela Universidade de Chicago.
As observações dos seis planetas foram feitas com o telescópio espacial norte-americano TESS e a leitura de dados combinada com a informação recolhida pelo telescópio espacial europeu CHEOPS.
Os planetas extra-solares em questão estão em ressonância orbital, que ocorre quando dois ou mais corpos celestes em órbita exercem influência gravitacional um sobre o outro.
No caso, o planeta mais próximo da estrela HD110067 completa três órbitas por cada duas feitas pelo planeta seguinte, um padrão que se repete entre os quatro planetas mais próximos da estrela.
Entre os planetas mais distantes da estrela HD110067 repete-se duas vezes um padrão de quatro órbitas por cada três feitas pelo planeta seguinte.
“Pensamos que apenas cerca de um por cento de todos os sistemas [planetários] permanecem em ressonância, e menos ainda mostram uma cadeia de planetas nesta configuração”, assinalou o astrofísico Rafael Luque, acrescentando que “a configuração original” do sistema HD110067 “sobreviveu intocada”.
Numa descoberta notável, os astrónomos encontraram um disco em torno de uma estrela jovem na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da nossa.
Trata-se da primeira vez que um disco deste tipo, idêntico aos que formam planetas na nossa Via Láctea, é encontrado fora da nossa Galáxia. As novas observações revelam uma estrela jovem de grande massa a crescer e a acumular matéria do meio que a envolve, dando assim origem a um disco em rotação. Esta detecção foi feita com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) no Chile, do qual o Observatório Europeu do Sul (ESO) é um parceiro.
“Quando vi pela primeira vez evidências de uma estrutura rotativa nos dados do ALMA, nem queria acreditar que tínhamos detectado o primeiro disco de acreção extra-galáctico, foi mesmo um momento especial“, disse Anna McLeod, professora associada da Universidade de Durham, no Reino Unido, e autora principal do estudo publicado hoje na revista Nature.
“Sabemos que os discos são vitais para a formação de estrelas e planetas na nossa Galáxia e, pela primeira vez, temos agora provas directas da ocorrência do mesmo fenómeno noutra galáxia.”
“Descobrimos um jacto a ser lançado por esta estrela jovem de grande massa, o que é um sinal da existência de um disco de acreção em formação“, explicou McLeod. No entanto, para ter a prova irrefutável de que este disco estava de facto presente, a equipa teve que medir o movimento do gás denso em torno da estrela.
Quando a matéria é atraída por uma estrela em crescimento, não cai directamente sobre ela; em vez disso, achata-se num disco que gira em torno da estrela. Mais perto do centro, o disco roda mais depressa, e esta diferença de velocidade é a pista que assinala aos astrónomos a existência de um disco de acreção.
“A frequência da radiação varia consoante a velocidade a que o gás que emite essa radiação se move em direcção a nós ou na direcção oposta“, explica Jonathan Henshaw, investigador da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, e co-autor deste estudo.
“Trata-se exactamente do mesmo fenómeno que ocorre quando o tom da sirene de uma ambulância muda ao passar por nós e a frequência do som muda de mais alta para mais baixa.”
As medições de frequência detalhadas de que o ALMA é capaz permitiram aos autores distinguir a rotação característica de um disco, confirmando a primeira detecção de um disco em torno de uma estrela extra-galáctica jovem.
As estrelas de grande massa, como a que foi aqui observada, formam-se muito mais rapidamente e têm vidas muito mais curtas do que as estrelas de pequena massa, como é o caso do nosso Sol.
Na nossa Galáxia, estas estrelas massivas são notoriamente difíceis de observar, estando frequentemente obscurecidas pelo material poeirento a partir do qual se formaram na altura em que um disco se está a formar à sua volta.
No entanto, na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia situada a 160 000 anos-luz de distância da Terra, o material a partir do qual se estão a formar novas estrelas é fundamentalmente diferente do da Via Láctea.
Graças à menor quantidade de poeira aí presente, a HH 1177 já não está envolvida no seu casulo natal, oferecendo, por isso, aos astrónomos uma visão desobstruída, ainda que distante, da formação de estrelas e planetas.
“Estamos numa era de rápidos avanços tecnológicos no que concerne as instalações astronómicas“, conclui McLeod. “Ser capaz de estudar como é que as estrelas se formam a distâncias tão incríveis e numa galáxia diferente é realmente muito entusiasmante.”
Informações adicionais
Este trabalho de investigação foi descrito num artigo científico intitulado “A likely Keplerian disk feeding an optically revealed massive young star” publicado na revista Nature (doi: 10.1038/s41586-023-06790-2). O disco foi descoberto numa região da Grande Nuvem de Magalhães denominada LHA 120-N 180B, a qual foi alvo de uma nota de imprensa anterior do ESO intitulada “Bolhas de estrelas recém nascidas”.
A equipa é composta por: A. F. McLeod (Centre for Extragalactic Astronomy, Department of Physics, Durham University, Reino Unido; Institute for Computational Cosmology, Department of Physics, University of Durham, Reino Unido), P. D. Klaassen (UK Astronomy Technology Centre, Royal Observatory Edinburgh, Reino Unido), M. Reiter (Department of Physics and Astronomy, Rice University, EUA), J. Henshaw (Astrophysics Research Institute, Liverpool John Moores University, Reino Unido; Instituto Max Planck de Astronomia, Alemanha), R. Kuiper (Faculdade de Física, Universidade de Duisburg-Essen, Alemanha) e A. Ginsburg (Department of Astronomy, University of Florida, EUA).
O Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), uma infraestrutura astronómica internacional, surge no âmbito de uma parceria entre o ESO, a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NSF) e os Institutos Nacionais de Ciências da Natureza (NINS) do Japão, em cooperação com a República do Chile. O ALMA é financiado pelo ESO em prol dos seus Estados Membros, pela NSF em cooperação com o Conselho de Investigação Nacional do Canadá (NRC) e o Conselho Nacional de Cragiência e Tecnologia da Taiwan e pelo NINS em cooperação com a Academia Sinica (AS) da Taiwan e o Instituto de Astronomia e Ciências do Espaço da Coreia (KASI). A construção e operação do ALMA é coordenada pelo ESO, em prol dos seus Estados Membros; pelo Observatório Nacional de Rádio Astronomia dos Estados Unidos (NRAO), que é gerido pela Associação de Universidades, Inc. (AUI), em prol da América do Norte; e pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão (NAOJ), em prol do Leste Asiático. O Observatório Conjunto ALMA (JAO) fornece uma liderança e gestão unificadas na construção, comissionamento e operação do ALMA.
O Observatório Europeu do Sul (ESO) ajuda cientistas de todo o mundo a descobrir os segredos do Universo, o que, consequentemente, beneficia toda a sociedade. No ESO concebemos, construimos e operamos observatórios terrestres de vanguarda — os quais são usados pelos astrónomos para investigar as maiores questões astronómicas da nossa época e levar ao público o fascínio da astronomia — e promovemos colaborações internacionais em astronomia. Estabelecido como uma organização intergovernamental em 1962, o ESO é hoje apoiado por 16 Estados Membros (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça), para além do Chile, o país de acolhimento, e da Austrália como Parceiro Estratégico. A Sede do ESO e o seu centro de visitantes e planetário, o Supernova do ESO, situam-se perto de Munique, na Alemanha, enquanto o deserto chileno do Atacama, um lugar extraordinário com condições únicas para a observação dos céus, acolhe os nossos telescópios. O ESO mantém em funcionamento três observatórios: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope e o Interferómetro do Very Large Telescope, assim como telescópios de rastreio, tal como o VISTA. Ainda no Paranal, o ESO acolherá e operará o Cherenkov Telescope Array South, o maior e mais sensível observatório de raios gama do mundo. Juntamente com parceiros internacionais, o ESO opera o APEX e o ALMA no Chajnantor, duas infraestruturas que observam o céu no domínio do milímetro e do submilímetro. No Cerro Armazones, próximo do Paranal, estamos a construir “o maior olho do mundo voltado para o céu” — o Extremely Large Telescope do ESO. Dos nossos gabinetes em Santiago do Chile, apoiamos as nossas operações no país e trabalhamos com parceiros chilenos e com a sociedade chilena.
O Telescópio Gaia previu que a anã branca vinha em direcção ao Sistema Solar, mas uma equipa de cientistas encontrou, felizmente, um erro no cálculo.
NASA, ESA, P. McGill (Universidade da Califórnia, Santa Cruz e Universidade de Cambridge), K. Sahu (STScI), J. Depasquale (STScI)
No ano passado, dados do Telescópio Gaia indicaram que uma anã branca estava prestes a colidir com o nosso Sol. De acordo com o equipamento, a estrela atravessaria uma região exterior do Sistema Solar, chamada nuvem de Oort, em cerca de 29 000 anos, um período muito curto em termos cósmicos.
No entanto, uma nova avaliação revelou, recentemente, que houve um erro no cálculo e no trajecto desenhado. Segundo o Futurism, não passou de um falso alarme.
“O encontro próximo previsto entre a WD0810-353 e o Sol não vai acontecer”, garantiu o co-autor do estudo, Stefano Bagnulo, astrónomo do Observatório Armagh, em comunicado. “De facto, a WD0810-353 pode nem sequer estar a mover-se em direcção ao Sol”.
Erro de cálculo
Normalmente, os astrónomos calculam o movimento de estrelas através da observação do seu espectro de luz. Se uma estrela estiver a afastar-se da Terra, esse comportamento irá alterar o comprimento de onda da luz que ela emite.
Como consequência, a sua luz irá deslocar-se para a extremidade avermelhada do espectro electromagnético, resultando num fenómeno conhecido como “desvio para o vermelho”.
Contudo, caso uma estrela se estiver a aproximar da Terra, o comprimento de onda da luz que emite fica mais esticado, deslocando-se para a extremidade azul – um fenómeno descrito como “desvio para o azul”.
Foi assim que os cientistas utilizaram as informações do Telescópio Gaia para calcular o trajecto e a velocidade da WD 0810-353, mas desconsideraram uma informação essencial: a estrela tem um campo magnético muito grande, e os campos magnéticos também podem afectar o espectro de luz.
“Em astronomia, os campos magnéticos são cruciais para entender muitos aspectos físicos de uma estrela, e não considerá-los pode levar a interpretações equivocadas de fenómenos físicos”, explicou Eva Villaver, autora do artigo científico, recentemente publicado no The Astrophysical Journal.
Nesta nova investigação, os astrónomos usaram informações do Focal Reducer and low dispersion Spectrograph 2 (FORS2), do Very Large Telescope (VLT), no Chile, para observar os espectros da estrela, tendo conseguido modelar o seu campo magnético.
Os resultados revelam que a estrela evitará o Sistema Solar e que, muito provavelmente, nem está a dirigir-se na direcção do nosso planeta.
O Telescópio Espacial Hubble da NASA mediu o tamanho do exoplaneta mais próximo da Terra que passa pela face de uma estrela vizinha. Este alinhamento, chamado trânsito, abre a porta a estudos posteriores para ver que tipo de atmosfera, se é que existe, o mundo rochoso poderá ter.
Ilustração do exoplaneta LTT 1445Ac, que tem o tamanho da Terra. O planeta orbita uma estrela anã vermelha. A estrela está num sistema triplo, com duas anãs vermelhas em órbita íntima, vistas no canto superior direito. O ponto preto à frente da brilhante esfera vermelho-clara no centro da imagem é o planeta LTT 1445Ac a transitar pela face da estrela. O planeta tem uma temperatura à superfície de cerca de 260º C. Em primeiro plano, no canto inferior esquerdo, está outro planeta do sistema, LTT 1445Ab. A vista é de 22 anos-luz de distância, olhando para trás em direcção ao nosso Sol, que é o ponto brilhante em baixo à direita. Algumas das estrelas de fundo fazem parte da constelação de Boieiro. Crédito: NASA, ESA, Leah Hustak (STScI)
O pequeno planeta, LTT 1445Ac, foi descoberto pela primeira vez pelo TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA em 2022. Mas a geometria do plano orbital do planeta em relação à sua estrela, vista da Terra, era incerta porque o TESS não tem a resolução óptica necessária.
Isto significa que a detecção pode ter sido o chamado trânsito rasante, em que um planeta apenas atravessa uma pequena porção do disco da estrela-mãe. Isto daria origem a um limite inferior impreciso do diâmetro do planeta.
“Havia a possibilidade deste sistema ter uma geometria azarada e, se fosse esse o caso, não conseguiríamos medir o tamanho correto. Mas, com as capacidades do Hubble, conseguimos determinar o seu diâmetro”, disse Emily Pass, do Centro de Astrofísica | Harvard & Smithsonian, em Cambridge, Massachusetts, EUA.
Este diagrama compara dois cenários de como um exoplaneta do tamanho da Terra passa em frente da sua estrela hospedeira. O percurso inferior mostra o planeta apenas a roçar a estrela. Estudar a luz de um trânsito deste tipo pode levar a uma estimativa incorrecta do tamanho do planeta, fazendo-o parecer mais pequeno do que realmente é. O percurso superior mostra a geometria óptima, em que o planeta transita por todo o disco da estrela. A precisão do Telescópio Espacial Hubble pode distinguir entre estes dois cenários, produzindo uma medição precisa do diâmetro do planeta. Crédito: NASA, ESA, Elizabeth Wheatley (STScI)
As observações do Hubble mostram que o planeta faz um trânsito normal por todo o disco da estrela, o que lhe dá um tamanho real de apenas 1,07 vezes o diâmetro da Terra.
Isto significa que o planeta é um mundo rochoso, como a Terra, com aproximadamente a mesma gravidade à superfície. Mas, com uma temperatura à superfície de cerca de 260º C, é demasiado quente para a vida tal como a conhecemos.
O planeta orbita a estrela LTT 1445A, que faz parte de um sistema triplo de três estrelas anãs vermelhas, a 22 anos-luz de distância, na direcção da constelação de Erídano. A estrela tem dois outros planetas maiores que LTT 1445Ac.
Um par íntimo de duas outras estrelas anãs, LTT 1445B e C, encontra-se a cerca de 4,8 mil milhões de quilómetros de distância de LTT 1445A, também resolvido pelo Hubble. O alinhamento das três estrelas e a órbita do par BC, vista de lado, sugerem que tudo no sistema é coplanar, incluindo os planetas conhecidos.
“Os planetas em trânsito são excitantes porque podemos caracterizar as suas atmosferas com espectroscopia, não só com o Hubble, mas também com o Telescópio Espacial James Webb. A nossa medição é importante porque diz-nos que este é provavelmente um planeta terrestre muito próximo.
Aguardamos com expectativa as observações que se seguirão e que nos permitirão compreender melhor a diversidade de planetas à volta de outras estrelas”, disse Pass.
A Via Láctea não consegue reter todas as suas estrelas. Algumas são ejectadas para o espaço intergaláctico, embarcando numa jornada incerta.
NASA / JPL / Spitzer Zeta Ophiuchi
Uma equipa de astrónomos analisou mais de perto as estrelas fugitivas mais massivas para compreender como são ejectadas.
Quando observam um campo de estrelas na Via Láctea, os astrónomos medem a distribuição da velocidade. A distribuição global da velocidade da população estelar reflecte a rotação da galáxia. Uma estrela que não está em harmonia com a rotação da galáxia chama a atenção dos astrónomos.
Uma equipa, a trabalhar com dois catálogos de estrelas massivas, descobriu um grupo de estrelas a mover-se de forma diferente da galáxia. São estrelas fugitivas a caminho de sair da galáxia.
Os novos achados estão num artigo intitulado “Galactic runaway O and Be stars found using Gaia DR3”, que será publicado na revista Astronomy and Astrophysics.
A autora principal é Mar Carretero Castrillo, investigadora pós-graduada no Departamento de Física Quântica e Astrofísica, Instituto de Ciências do Cosmos, Universidade de Barcelona.
Castrillo e os seus colegas basearam o seu trabalho em dois catálogos estelares: o Galactic O-Star Catalog (GOSC) e o Be Star Spectra (BeSS), que são catálogos de diferentes tipos de estrelas massivas: estrelas tipo O e tipo Be, e os seus subtipos.
Os investigadores também utilizaram dados da Gaia, a poderosa nave de medição estelar da ESA. A Gaia emprega astrometria para medir posições, distâncias e movimentos de mil milhões de estrelas, revolucionando a astronomia com dados precisos e robustos.
Não se sabe quantas estrelas fugitivas estão a deixar a nossa galáxia, mas os astrónomos continuam a encontrar mais. Algumas estimativas apontam para 10 milhões de estrelas fugitivas da Via Láctea, mas pode depender do mecanismo que as impulsiona, algo ainda não totalmente compreendido pelos astrofísicos.
Este estudo visa esclarecer o fenómeno das estrelas fugitivas, focando nas estrelas massivas.
“Uma fracção relevante de estrelas massivas são estrelas fugitivas. Estas estrelas movem-se com uma velocidade peculiar significativa em relação ao seu ambiente”, explicam os autores, que procuraram descobrir e caracterizar as estrelas massivas e de tipo inicial fugitivas nos catálogos, examinando os dados da Gaia.
“As estrelas OB de tipo inicial massivo são as mais luminosas da Via Láctea”, explicam. Estas estrelas não são apenas massivas e jovens, mas também extremamente quentes, formando-se em grupos organizados de forma frouxa chamados associações OB.
Devido à sua juventude e calor, não duram muito. São importantes na astronomia por serem massivas, energéticas e muitas explodem como super-novas.
A equipa cruzou os dados da Gaia com os catálogos GOSC e BeSS, encontrando 417 estrelas tipo O e 1335 estrelas tipo Be presentes tanto na Gaia quanto nos catálogos. Entre estas, descobriram 106 estrelas tipo O fugitivas, o que representa 25,4% das estrelas no catálogo GOSC. 42 são recém-identificadas.
Encontraram 69 estrelas tipo Be fugitivas, representando 5,2% das estrelas no catálogo de estrelas tipo Be. 47 destas são recém-identificadas. No geral, as estrelas tipo O movem-se mais rápido do que as estrelas tipo Be.
Por que as estrelas massivas compõem uma proporção tão alta de estrelas fugitivas? Há duas teorias concorrentes que tentam explicar as estrelas fugitivas, ambas envolvendo estrelas massivas. Uma é o cenário de ejecção dinâmica (DES) e a outra é o cenário de super-nova binária (BSS).
As estrelas OB muitas vezes formam pares binários. No BSS, uma estrela explode como super-nova e a explosão impulsiona a outra estrela. Se a situação for adequada, a estrela sobrevivente recebe energia suficiente na direcção certa para escapar da sua ligação com o parceiro, agora uma estrela de neutrões ou um buraco negro, e também da gravidade da Via Láctea. Se isso acontecer, inicia a sua longa jornada pelo espaço intergaláctico.
No DES, não há explosão dramática de super-nova. Em vez disso, uma estrela numa região densamente povoada sofre interacções gravitacionais com outras estrelas. Encontros entre estrelas binárias e simples podem produzir fugitivas, assim como encontros entre dois pares binários.
As associações OB, onde as estrelas tipo O e B tendem a formar-se, são ambientes densos que podem desencadear estrelas fugitivas. Como a maioria destas estrelas é massiva, a maioria das estrelas fugitivas também o é.
Os cientistas têm debatido sobre os dois cenários há décadas. Ambos podem produzir estrelas com velocidade suficiente para escapar da galáxia. Ao estudar a sua amostra de 175 estrelas fugitivas, os investigadores descobriram que os seus dados favorecem uma explicação em detrimento da outra.
“Os percentuais mais altos e as velocidades mais elevadas encontradas para as estrelas tipo O em comparação com as estrelas tipo Be sublinham que o cenário de ejecção dinâmica é mais provável do que o cenário de super-nova binária”, escrevem.
As percentagens de tipos espectrais representados em estrelas fugitivas ajudam a explicar esta conclusão. 25% das estrelas tipo O na amostra são fugitivas versus 5% das estrelas tipo Be.
Outros estudos apresentaram números diferentes, mas, como os autores apontam, “há concordância no sentido de que a percentagem de estrelas tipo O fugitivas é significativamente maior do que para estrelas B ou Be”.
Pesquisas anteriores mostram que as estrelas tipo O fugitivas têm velocidades mais altas do que as estrelas B e Be. Pesquisas anteriores também mostram que a ejecção dinâmica muitas vezes resulta em fugitivas mais rápidas e massivas do que o cenário de super-nova binária.
“As estrelas GOSC-Gaia DR3 têm velocidades mais elevadas em geral do que aquelas em BeSS-Gaia DR3”, explicam os autores, o que está alinhado com pesquisas anteriores.
“Isto reforça a dominância do cenário DES em detrimento do BSS”, concluem.