🇵🇹 OPINIÃO
Fiz uma prótese na anca!
Sim, a idade idosa atacou-me forte e feio 20 anos antes do normal. Mas o que me fascina neste tipo de intervenções, nem é tão pouco o trabalho de precisão do cirurgião, que era, de facto, muito bom com a serra e com o martelo, mas sim este objecto intrusivo que entra no nosso corpo e passa a fazer parte dele.
O que verdadeiramente me fascina são as possibilidades e os contextos de criação que me permitem, num dia, criar um espaço efémero, noutro, desenhar uma cadeira icónica, mas pelo meio destes dias, ajudar uma série de doentes.
Isto é um resumo muito, muito abreviado da história de Charles e Ray Eames, os designers da icónica Lounge Chair (1956) feita em contraplacado moldado, nascida no período do pós-guerra, que é hoje um dos objectos mais cobiçados e que todos queremos ter nas nossas salas.
Repletos de brilhantismo, o casal Eames tinha a convicção de dar uma forma moderna a um futuro que, fruto da guerra, já tinha chegado, e acabou por afirmar que o design é a melhor ferramenta para melhorar as vidas, e que não serve apenas como um pretexto decorativo para a nossa presença terrena.

© Carlos Rosa
O que mais me apaixona na obra deste casal é o caminho que fizeram até que a sua icónica espreguiçadeira chegasse às casas de todo o mundo e se transformasse num objecto icónico.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Eames criaram uma tala de perna leve, que garantiu baixo custo de produção, possibilidade de produção em massa e facilidade de transporte. E assim em 1942 este casal de designers oferece à Marinha Americana um objecto biomórfico que cumpria todos os objectivos definidos, que se podia facilmente aplicar nos doentes, mas, acima de tudo, garantir uma posição perfeita das pernas magoadas, garantindo uma recuperação mais rápida e mais eficaz.
São de facto as cadeiras dos Eames que queremos ter em casa, mas o trabalho mais notável é sem dúvida as talas de madeira, não só pelo que deram aos militares americanos, mas também pela exploração e dedicação que depositaram numa técnica que depois tanto deu aos nossos quotidianos.
Nunca é demais afirmar que o design não faz só coisas bonitas. Também faz talas em madeira moldada e espigões de titânio que se enfiam no fémur e nos ajudam a andar sem dor.
Para que não subsistam dúvidas, o design, acima de tudo, ajuda-nos a viver melhor e a desenvolver outras áreas do conhecimento, como – imagine-se! – a medicina.
Designer e director do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia
DN
Carlos Rosa
29 Novembro 2023 — 00:35
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 7 dias ago