406: Estudo do Webb revela que os planetas rochosos podem formar-se em ambientes extremos

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // WEBB

Uma equipa internacional de astrónomos utilizou o Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA para obter a primeira observação de água e outras moléculas nas regiões interiores de formação de planetas rochosos de um disco num dos ambientes mais extremos da nossa Galáxia.

Impressão de artista de uma estrela jovem rodeada por um disco protoplanetário no qual se estão a formar planetas.
Crédito: ESO/L. Calçada

Uma equipa internacional de astrónomos utilizou o Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA para obter a primeira observação de água e outras moléculas nas regiões interiores de formação de planetas rochosos de um disco num dos ambientes mais extremos da nossa Galáxia.

Estes resultados sugerem que as condições para a formação de planetas rochosos, tipicamente encontradas em discos de regiões onde se formam estrelas de baixa massa, podem também ocorrer em regiões onde se formam estrelas massivas e possivelmente numa gama mais alargada de ambientes.

Estes são os primeiros resultados do programa XUE (eXtreme UV Environments) do Telescópio Espacial James Webb, que se centra na caracterização de discos de formação planetária em regiões onde se formam estrelas massivas.

Estas regiões são provavelmente representativas do ambiente em que se formou a maioria dos sistemas planetários.

Compreender o impacto do ambiente na formação dos planetas é importante para que os cientistas possam compreender a diversidade das populações observadas de exoplanetas.

O programa XUE tem como alvo um total de 15 discos em três áreas da Nebulosa da Lagosta (também conhecida como NGC 6357), uma grande nebulosa de emissão a cerca de 5500 anos-luz de distância da Terra, na direcção da constelação de Escorpião.

A Nebulosa da Lagosta é uma das regiões de formação estelar mais jovens e mais próximas, albergando algumas das estrelas mais massivas da nossa Galáxia.

As estrelas massivas são mais quentes e, por isso, emitem mais radiação ultravioleta (UV). Este facto pode dispersar o gás no disco, fazendo com que o seu tempo de vida esperado seja de apenas um milhão de anos.

Graças ao Webb, os astrónomos podem agora estudar o efeito da radiação UV nas regiões interiores de formação de planetas rochosos dos discos protoplanetários em torno de estrelas como o nosso Sol.

Este gráfico apresenta alguns dos primeiros resultados do programa XUE (eXtreme UV Environments) do Telescópio Espacial James Webb. Estes resultados sugerem que as condições para a formação de planetas rochosos, tipicamente encontradas em discos de regiões onde se formam estrelas de baixa massa, podem também ocorrer em regiões onde se formam estrelas massivas e possivelmente numa gama mais vasta de ambientes.
Este primeiro resultado centra-se no disco protoplanetário denominado XUE 1, que está localizado no enxame estelar Pismis 24.
O disco interior em torno de XUE 1 revelou assinaturas de água (aqui destacada a azul e centrada em cerca de 14,2 micrómetros), bem como acetileno (C2H2, destacado a verde; centrado em cerca de 13,7 micrómetros), cianeto de hidrogénio (HCN, destacado a castanho; centrado em cerca de 14,0 micrómetros) e dióxido de carbono (CO2, destacado a vermelho; centrado em cerca de 14,95 micrómetros). Como indicado, algumas das emissões detectadas eram mais fracas do que alguns dos modelos previstos, o que pode implicar um pequeno raio do disco exterior.
Crédito: NASA, ESA, CSA, STScI, J. Olmsted (STScI), M. C Ramírez-Tannus (Instituto Max Planck de Astronomia)

“O Webb é o único telescópio com a resolução espacial e a sensibilidade necessárias para estudar discos de formação planetária em regiões onde se formam estrelas massivas”, disse a chefe da equipa, María Claudia Ramírez-Tannus, do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha.

Os astrónomos pretendem caracterizar as propriedades físicas e a composição química das regiões formadoras de planetas rochosos nos discos protoplanetários da Nebulosa da Lagosta, utilizando o MRS (Medium Resolution Spectrometer) do MIRI (Mid-InfraRed Instrument) do Webb. Este primeiro resultado centra-se no disco protoplanetário denominado XUE 1, que se situa no enxame estelar Pismis 24.

“Só a gama de comprimentos de onda e a resolução espectral do MIRI nos permitem sondar o inventário molecular e as condições físicas do gás quente e da poeira onde se formam os planetas rochosos”, disse o membro da equipa Arjan Bik, da Universidade de Estocolmo, na Suécia.

Devido à sua localização perto de várias estrelas massivas em NGC 6357, os cientistas esperam que XUE 1 tenha estado constantemente exposta a um campo de radiação ultravioleta elevada durante toda a sua vida. No entanto, neste ambiente extremo, a equipa ainda detectou uma série de moléculas que são os blocos de construção de planetas rochosos.

“Descobrimos que o disco interior em torno de XUE 1 é notavelmente semelhante ao das regiões de formação estelar próximas”, disse Rens Waters, membro da equipa, da Universidade de Radboud, nos Países Baixos.

“Detectámos água e outras moléculas como monóxido de carbono, dióxido de carbono, cianeto de hidrogénio e acetileno. No entanto, a emissão encontrada foi mais fraca do que alguns modelos previam. Isto pode implicar um pequeno raio exterior do disco”.

Este gráfico apresenta alguns dos primeiros resultados do programa XUE (eXtreme UV Environments) do Telescópio Espacial James Webb. Estes resultados sugerem que as condições para a formação de planetas rochosos, tipicamente encontradas em discos em regiões onde se formam estrelas de baixa massa, podem também ocorrer em regiões onde se formam estrelas massivas e possivelmente numa gama mais vasta de ambientes.
Os astrónomos concentraram-se em regiões de discos com formação de planetas rochosos na Nebulosa da Lagosta, utilizando o MRS (Medium Resolution Spectrometer) do MIRI (Mid-InfraRed Instrument) do Webb. Este primeiro resultado centra-se no disco protoplanetário denominado XUE 1, que está localizado no enxame estelar Pismis 24.
Este gráfico apresenta as assinaturas observadas de monóxido de carbono entre 4,95 e 5,15 micrómetros.
Crédito: NASA, ESA, CSA, STScI, J. Olmsted (STScI), M. C Ramírez-Tannus (Instituto Max Planck de Astronomia)

“Ficámos surpreendidos e entusiasmados porque esta é a primeira vez que estas moléculas foram detectadas em condições tão extremas”, acrescentou Lars Cuijpers da Universidade de Radboud.

A equipa também encontrou evidências de pequenos grãos de poeira de silicato, parcialmente cristalinos, na superfície do disco. Estes são considerados os blocos de construção dos planetas rochosos.

Estes resultados são uma boa notícia para a formação de planetas rochosos, uma vez que a equipa científica descobriu que as condições no disco interior se assemelham às encontradas nos discos bem estudados localizados em regiões de formação estelar próximas, onde apenas se formam estrelas de baixa massa. Isto sugere que os planetas rochosos podem formar-se numa gama muito mais ampla de ambientes do que se pensava anteriormente.

A equipa nota que as restantes observações do programa XUE são cruciais para estabelecer a semelhança destas condições.

“XUE1 mostra-nos que as condições para a formação de planetas rochosos existem, por isso o próximo passo é verificar até que ponto são comuns”, diz Ramírez-Tannus. “Vamos observar outros discos na mesma região para determinar a frequência com que estas condições são observadas.”

// ESA (comunicado de imprensa)
// ESA/Webb (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck de Astronomia (comunicado de imprensa)
// Universidade de Estocolmo (comunicado de imprensa)
// Universidade de Radboud (comunicado de imprensa)
// Universidade Estatal da Pensilvânia (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)
// Artigo científico (arXiv.org)

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5 de Dezembro de 2023



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Os astrónomos encontram planetas “inclinados” mesmo em sistemas solares pristinos

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // PLANETAS

Há muito que os cientistas se interrogam sobre a razão pela qual todos os planetas do nosso Sistema Solar têm órbitas ligeiramente inclinadas em torno do Sol. Mas um novo estudo, liderado pela Universidade de Yale, sugere que este fenómeno pode não ser assim tão invulgar. Mesmo em sistemas solares “pristinos”, os planetas exibem uma certa inclinação.

Neste diagrama, dois planetas em órbita exibem uma ligeira inclinação em comparação com o eixo de rotação da sua estrela hospedeira.
Crédito: Malena Rice

Os astrónomos há muito que supunham que os planetas com órbitas inclinadas – órbitas que não se alinham com o eixo de rotação da estrela que os acolhe – eram o resultado de alguma “confusão” cósmica de alto nível, como estrelas e planetas próximos que empurram os seus vizinhos.

Mas um novo estudo publicado na revista The Astronomical Journal indica o contrário.

Para o estudo, uma equipa internacional de investigadores liderada pela astrónoma de Yale, Malena Rice, efectuou uma análise exaustiva de sistemas multi-planetários, onde as órbitas dos planetas permaneceram relativamente inalteradas desde a sua formação.

“Este tipo de configuração, em que a órbita de um planeta está precisamente ordenada com a de outro numa relação exacta de períodos orbitais, é provavelmente comum num sistema solar no início do seu desenvolvimento”, disse Rice, professora assistente de astronomia na Faculdade de Artes e Ciências de Yale e autora principal do estudo.

“É uma configuração maravilhosa – mas apenas uma pequena percentagem de sistemas a mantém”, disse ela.

E mesmo nestes sistemas solares, descobriram Rice e os seus co-autores, os planetas podem ter uma inclinação orbital de até 20 graus.

Os investigadores começaram o seu trabalho medindo a órbita inclinada de TOI-2202 b, um “Júpiter ameno” num sistema solar pristino. Um Júpiter ameno é um planeta muito maior do que a Terra com um período orbital significativamente mais curto do que os 365 dias da Terra.

Os investigadores compararam a órbita de TOI-2202 b com os dados orbitais do censo completo de planetas semelhantes que se encontram no Arquivo de Exoplanetas da NASA.

Neste contexto mais alargado, havia uma inclinação típica de até 20 graus para tais planetas, sendo o sistema TOI-2202 b um dos mais fortemente inclinados.

Rice disse que a descoberta fornece informações valiosas sobre o desenvolvimento do sistema exoplanetário primitivo – e diz algo importante sobre o nosso Sistema Solar: que um pouco de inclinação é cosmicamente natural.

“É tranquilizador”, disse Rice. “Diz-nos que não somos um Sistema Solar super-esquisito. É como olhar para nós próprios num espelho e ver como nos encaixamos no quadro geral do Universo”.

O novo estudo também ajuda Rice na sua pesquisa para compreender os sistemas solares com “Júpiteres quentes”, que são sistemas que contêm planetas gigantes gasosos que podem ser semelhantes a Júpiter, mas com períodos orbitais muito curtos.

“Estou a tentar perceber porque é que os sistemas com Júpiteres quentes têm órbitas extremamente inclinadas”, disse Rice. “Quando é que se tornaram inclinados? Será que nasceram assim? Para descobrir isso, primeiro preciso de descobrir que tipos de sistemas não têm uma inclinação tão acentuada”.

O novo estudo é o oitavo resultado do levantamento SOLES (Stellar Obliquities in Long-period Exoplanet Systems), que foi fundado por Rice e co-liderado por Songhu Wang, antigo pós-doutorando de Yale, que está agora na Universidade de Indiana e é co-autor do novo estudo.

Outros co-autores incluem investigadores da Bélgica, Espanha, Chile, Austrália e Estados Unidos.

// Universidade de Yale (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astronomical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
5 de Dezembro de 2023



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404: James Webb detecta “estruturas inexplicáveis” no coração da nossa galáxia

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // VIA LÁCTEA

A NASA revelou uma nova imagem da Via Láctea, obtida pelo Telescópio Espacial James Webb, que apresenta uma região próxima do núcleo da nossa galáxia repleta daquilo a que a agência espacial chama de “estruturas inexplicáveis”, semelhantes a agulhas.

NASA, ESA, CSA, STScI, and S. Crowe (University of Virginia)

O Telescópio Espacial James Webb, um poderoso instrumento de infravermelhos, conseguiu tirar uma fotografia detalhada de Sagitário C, uma região central da Via Láctea onde nascem as estrelas. Esta região encontra-se a cerca de 300 anos-luz do gigantesco buraco negro que constitui o núcleo central da nossa galáxia.

A imagem contém cerca de 500 mil estrelas e um aglomerado de protoestrelas que emergem de densas nuvens escuras de poeira e gás. O telescópio também revelou mantos de plumas (a ciano na imagem), que se crê serem emissões de hidrogénio ionizado. Normalmente, estas nuvens são o produto de estrelas maciças que emitem fotões excitados que ionizam o hidrogénio gasoso circundante.

Segundo o Futurism, os cientistas estão intrigados com a existência de estruturas em forma de agulha que se encontram aleatoriamente distribuídas pelo hidrogénio ionizado. Apesar de não saberem o que são, estão determinados a procurar mais dados para descobrir.

“Nunca houve dados infravermelhos sobre esta região com o nível de resolução e sensibilidade que obtemos com o Webb, por isso estamos a ver muitas características aqui pela primeira vez”, explicou Samuel Crowe, estudante universitário e investigador principal da Universidade da Virgínia.

“O Webb revela uma quantidade incrível de detalhes, permitindo-nos estudar a formação de estrelas neste tipo de ambiente de uma forma que não era possível anteriormente”, acrescenta o astrónomo.

O telescópio foi lançado no final de 2021, com as suas primeiras imagens a serem divulgadas no ano seguinte. O objectivo do instrumento é levantar o véu sobre os primeiros períodos do Universo, procurar exoplanetas, examinar as primeiras galáxias e mapear a formação de estrelas.

Esta imagem pode, precisamente, ajudar os investigadores a compreender como é que estas se formam.

“O centro galáctico é um lugar cheio e tumultuoso”, começou por dizer Rubén Fedriani, investigador do Instituto Astrofísico de Andaluzia.

“Há nuvens de gás turbulentas e magnetizadas que estão a formar estrelas, que depois têm impacto no gás circundante com os seus ventos, jactos e radiação. O Webb forneceu-nos uma tonelada de dados sobre este ambiente extremo, e nós estamos apenas a começar a investigá-los“, rematou.

ZAP //
5 Dezembro, 2023



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392: Astrónomos encontram planeta gigante num sítio em que não podia estar

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // PLANETAS

Astrónomos depararam-se com um fenómeno celeste inesperado, que desafia as teorias existentes sobre a formação de planetas.

Penn State University
Ilustração da órbita de LHS-3154b, com a sua estrela à beira.

Os especialistas descobriram que uma pequena estrela chamada LHS-3154, uma anã vermelha localizada a cerca de 51 anos-luz de distância, alberga um planeta gigante quase tão maciço como Neptuno.

Esta descoberta deixou os cientistas boquiabertos, uma vez que as simulações de sistemas estelares, particularmente as que envolvem estrelas pequenas como a LHS-3154, sugerem que não deveriam ter material suficiente para formar planetas gigantes.

O astrónomo Guðmundur Stefánsson, da Universidade de Princeton, e a sua equipa observaram a estrela peculiar e a sua companheira maciça, denominada LHS-3154b, utilizando a ligeira oscilação da estrela causada pela atracção gravitacional do planeta em órbita.

Os resultados, publicados recentemente na conceituada revista Science, revelam que LHS-3154b é cerca de 13 vezes mais maciço do que a Terra, quase rivalizando com o tamanho de Neptuno.

O quebra-cabeças resulta do facto de LHS-3154 ser uma estrela diminuta, apenas um décimo da massa do nosso Sol, e os modelos de formação planetária existentes implicam que tais estrelas devem ter sistemas planetários relativamente pequenos.

Tipicamente, a gravidade de uma estrela jovem atrai material circundante como gás, poeira e gelo, formando um disco protoplanetário. Este disco acaba por dar origem a planetas.

Os astrónomos estimam a quantidade de poeira nestes discos protoplanetários com base em observações de sistemas semelhantes. No entanto, a poeira visível nestes discos é muitas vezes insuficiente para suportar a formação de planetas do tamanho do LHS-3154b.

De acordo com a Inverse, Stefánsson e a sua equipa fizeram simulações de sistemas estelares construídos em torno de estrelas como a LHS-3154, tendo em conta a quantidade de poeira observada. Surpreendentemente, em todas as simulações, a estrela não conseguiu formar um planeta com mais de dez vezes a massa da Terra no seu Sistema Solar interior.

A discrepância coloca um desafio aos modelos actuais de formação de planetas, sugerindo que ou a LHS-3154 é extraordinária ou a nossa compreensão da quantidade de poeira que rodeia as jovens estrelas anãs vermelhas está incompleta.

Algumas explicações propostas incluem a possibilidade de os planetas se começarem a formar mais cedo do que o previsto, com a poeira a aglomerar-se em seixos, tornando mais difícil a sua detecção pelos telescópios.

Outra ideia é que o disco protoplanetário pode ser mais abundante em poeira do que o actualmente observado, possivelmente escondendo da vista os planetas em formação inicial.

ZAP //
3 Dezembro, 2023


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383: As estrelas “vampiras” que atacam as suas companheiras podem ter um cúmplice escondido

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // ESTRELAS VAMPIRAS

A pesquisa indica que os sistemas de três estrelas são mais comuns no Universo do que se pensava.

ZAP // DALL-E-2

Um novo estudo publicado na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society revela descobertas intrigantes sobre sistemas “vampiros” de três estrelas, que agora se acredita serem mais prevalentes no Universo do que se pensava.

A pesquisa, conduzida pela Universidade de Leeds no Reino Unido, foca-se na evolução das estrelas tipo-Be, um subconjunto das luminosas estrelas tipo-B. Estas estrelas são caracterizadas pelas sua rápida rotação e anéis circundantes de matéria, cujas origens têm intrigado os astrónomos há muito tempo.

Utilizando dados de alta precisão dos satélites Gaia e Hipparcos, a equipa de pesquisa, liderada pelo estudante de doutoramento Jonathan Dodd, propôs que essas características únicas das estrelas tipo-Be poderiam ser resultado de interacções com duas estrelas companheiras adicionais, escreve o Live Science.

Esta hipótese desafia a teoria predominante de que essas características resultam unicamente de sistemas binários, onde uma estrela maior “ataca” uma companheira menor, atraindo matéria e girando mais rápido – ganhando o apelido de “estrelas vampiras”.

A abordagem da equipa espelhou o método usado pelo astrónomo Friedrich Wilhelm Bessel em 1844 para observar o primeiro sistema estelar binário.

Ao analisar as posições e movimentos das estrelas pelo céu, os autores observaram um desvio nas trajectórias das estrelas causado por interacções gravitacionais com estrelas companheiras.

Este desvio é indicativo de uma diferença no centro de massa do sistema versus o centro da luz combinada emitida pelas estrelas.

Surpreendentemente, o estudo encontrou menos sistemas binários entre as estrelas Be em comparação com as estrelas B – apenas cerca de 28% das estrelas Be eram binárias, em oposição a 42% das estrelas B. Isso levantou questões sobre a teoria binária, especialmente porque a redução nos binários foi observada apenas em distâncias específicas de separação entre as estrelas.

Os cientistas teorizaram que em casos onde estrelas Be tinham estrelas companheiras dentro desses intervalos específicos, os sistemas eram provavelmente parte de uma disposição mais complexa de três estrelas. Nestes sistemas, a influência gravitacional da terceira estrela aproximaria as duas estrelas internas, permitindo à estrela Be atrair material da sua companheira, adquirindo assim a sua rotação e anel distintos.

Esta descoberta sugere que sistemas de três estrelas, particularmente aqueles que envolvem estrelas tipo-Be, desempenham um papel mais significativo no universo do que se compreendia anteriormente.

Como Jonathan Dodd nota, “[Os triplos] são um factor mais importante do que pensávamos anteriormente,” destacando a natureza dinâmica e complexa das interacções e formações estelares no nosso universo.

ZAP //
3 Dezembro, 2023


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353: Astrónomos descobrem pela primeira vez um disco em torno de uma estrela noutra galáxia

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // UNIVERSO // GALÁXIAS

Numa descoberta notável, os astrónomos encontraram um disco em torno de uma estrela jovem na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da nossa. Trata-se da primeira vez que um disco deste tipo, idêntico aos que formam planetas na nossa Via Láctea, é encontrado fora da nossa Galáxia.

As novas observações revelam uma estrela jovem de grande massa a crescer e a acretar matéria do meio que a envolve, dando assim origem a um disco em rotação. Esta detecção foi feita com o auxílio do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) no Chile, do qual o ESO é um parceiro.

Esta imagem artística mostra o sistema HH 1177, situado na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da nossa. O objecto estelar jovem e de grande massa que brilha intensamente no centro da imagem, acreta matéria de um disco de poeira ao mesmo tempo que lança para o espaço matéria sob a forma de poderosos jactos. Com o auxílio do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), do qual o ESO é um parceiro, uma equipa de astrónomos conseguiu descobrir evidências da presença deste disco ao observar a sua rotação. Trata-se da primeira vez que um disco em torno de uma estrela jovem — o tipo de disco idêntico aos que formam planetas na nossa própria Galáxia — foi descoberto noutra galáxia.
Crédito: ESO/M. Kornmesser

“Quando vi pela primeira vez evidências de uma estrutura giratória nos dados do ALMA, nem queria acreditar que tínhamos detectado o primeiro disco de acreção extra-galáctico, foi mesmo um momento especial”, disse Anna McLeod, professora associada da Universidade de Durham, no Reino Unido, e autora principal do estudo publicado na revista Nature.

“Sabemos que os discos são vitais para a formação de estrelas e planetas na nossa Galáxia e, pela primeira vez, temos agora evidências directas da ocorrência do mesmo fenómeno noutra galáxia.”

Este estudo surge no seguimento de observações com o instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) do VLT (Very Large Telescope) do ESO, que detectou um jato lançado por uma estrela em formação — o sistema foi designado HH 1177 — no interior de uma nuvem de gás na Grande Nuvem de Magalhães.

“Descobrimos um jacto a ser lançado por esta estrela jovem de grande massa, o que é um sinal da existência de um disco de acreção em formação”, explicou McLeod.

No entanto, para ter a prova irrefutável de que este disco estava de facto presente, a equipa teve que medir o movimento do gás denso em torno da estrela.

Quando a matéria é atraída por uma estrela em crescimento, não cai directamente sobre ela; em vez disso, achata-se num disco que gira em torno da estrela.

Mais perto do centro, o disco roda mais depressa, e esta diferença de velocidade é a pista que assinala aos astrónomos a existência de um disco de acreção.

Com as capacidades combinadas do VLT (Very Large Telescope) do ESO e do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), do qual o ESO é um parceiro, observou-se um disco em torno de uma estrela jovem de grande massa noutra galáxia. À esquerda temos observações levadas a cabo com o instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer), acoplado ao VLT, e que mostram a nuvem progenitora, LHA 120-N 180B, na qual o sistema, denominado HH 1177, foi inicialmente observado. A imagem do centro mostra os jactos que o acompanham. A parte superior do jacto desloca-se ligeiramente na nossa direcção e por isso apresenta-se com um desvio para o azul; a parte inferior do jacto está a afastar-se de nós e por isso vemo-la com um desvio para o vermelho. À direita, as observações executadas com o ALMA revelam o disco em rotação em torno da estrela, do mesmo modo com partes a aproximarem-se e a afastarem-se de nós.
Crédito: ESO/ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/A. McLeod et al.

“A frequência da radiação varia consoante a velocidade a que o gás que emite essa radiação se move em direcção a nós ou na direcção oposta”, explica Jonathan Henshaw, investigador da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, e co-autor deste estudo.

“Trata-se exactamente do mesmo fenómeno que ocorre quando o tom da sirene de uma ambulância muda ao passar por nós e a frequência do som muda de mais alta para mais baixa.”

As medições de frequência detalhadas de que o ALMA é capaz permitiram aos autores distinguir a rotação característica de um disco, confirmando a primeira detecção de um disco em torno de uma estrela extra-galáctica jovem.

As estrelas de grande massa, como a que foi aqui observada, formam-se muito mais rapidamente e têm vidas muito mais curtas do que as estrelas de pequena massa, como é o caso do nosso Sol.

Na nossa Galáxia, estas estrelas massivas são notoriamente difíceis de observar, estando frequentemente obscurecidas pelo material poeirento a partir do qual se formaram na altura em que um disco se está a formar à sua volta.

No entanto, na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia situada a 160.000 anos-luz de distância da Terra, o material a partir do qual se estão a formar novas estrelas é fundamentalmente diferente do da Via Láctea.

Graças à menor quantidade de poeira aí presente, HH 1177 já não está envolvida no seu casulo natal, oferecendo, por isso, aos astrónomos uma visão desobstruída, ainda que distante, da formação de estrelas e planetas.

“Estamos numa era de rápidos avanços tecnológicos no que toca às instalações astronómicas”, conclui McLeod. “Ser capaz de estudar como é que as estrelas se formam a distâncias tão incríveis e numa galáxia diferente é realmente muito entusiasmante.”

// ESO (comunicado de imprensa)
// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// Universidade de Durham (comunicado de imprensa)
// Universidade Rice (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)
// Artigo científico (arXiv.org)
// Fazendo zoom até à jovem estrela HH 1177 (ESO via YouTube)

CCVALG
1 de Dezembro de 2023


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Neblina alienígena, “cozinhada” num laboratório, esclarece a visão de mundos aquáticos distantes

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // UNIVERSO

Os cientistas simularam as condições que permitem a formação de céus nublados em exoplanetas ricos em água, um passo crucial para determinar de que forma a nebulosidade dificulta as observações dos telescópios terrestres e espaciais.

Dois exoplanetas ricos em água, com enormes camadas de neblina, orbitam a sua estrela hospedeira.
Crédito: Roberto Molar Candanosa/Universidade Johns Hopkins

A investigação fornece novas ferramentas para estudar a química atmosférica dos exoplanetas e ajudará os cientistas a modelar a forma como os exoplanetas com água se formam e evoluem, descobertas que poderão ajudar na procura de vida para além do nosso Sistema Solar.

“O grande objectivo é saber se existe vida fora do Sistema Solar, mas tentar responder a esse tipo de pergunta requer uma modelação muito detalhada de todos os tipos diferentes, especificamente em planetas com muita água”, disse a co-autora Sarah Hörst, professora associada de Ciências da Terra e Planetárias da Universidade Johns Hopkins.

“Isto tem sido um enorme desafio porque não temos o trabalho de laboratório para o fazer, por isso estamos a tentar usar estas novas técnicas de laboratório para obter mais dos dados que estamos a receber com todos estes grandes e sofisticados telescópios”.

A equipa publicou as suas conclusões na revista Nature Astronomy.

Segundo os investigadores, o facto de a atmosfera de um planeta conter neblinas ou outras partículas tem uma influência marcante nas temperaturas globais, nos níveis de entrada da luz estelar e noutros factores que podem dificultar ou promover a actividade biológica.

A equipa realizou as experiências numa câmara concebida à medida no laboratório de Hörst. São os primeiros a determinar a quantidade de neblina que se pode formar em planetas aquáticos fora do Sistema Solar, disse Hörst.

A neblina é constituída por partículas sólidas suspensas em gás e altera a forma como a luz interage com esse gás. Diferentes níveis e tipos de neblina podem afectar a forma como as partículas se espalham através de uma atmosfera, alterando o que os cientistas conseguem detectar sobre planetas distantes com telescópios.

“A água é a primeira coisa que procuramos quando estamos a tentar ver se um planeta é habitável, e já há observações interessantes de água nas atmosferas de exoplanetas.

Mas as nossas experiências e modelos sugerem que estes planetas muito provavelmente também contêm neblina”, disse Chao He, um cientista planetário que liderou a investigação na Johns Hopkins.

“Esta névoa complica realmente as nossas observações, pois turva a nossa visão da química atmosférica e das características moleculares de um exoplaneta.”

Os cientistas estudam os exoplanetas com telescópios que observam a forma como a luz atravessa a sua atmosfera, detectando a forma como os gases atmosféricos absorvem diferentes tonalidades ou comprimentos de onda dessa luz.

Observações distorcidas podem levar a erros de cálculo das quantidades de substâncias importantes no ar, como a água e o metano, e do tipo e níveis de partículas na atmosfera.

Tais interpretações erróneas podem prejudicar as conclusões dos cientistas sobre as temperaturas globais, a espessura de uma atmosfera e outras condições planetárias, disse Hörst.

A equipa criou duas misturas de gás contendo vapor de água e outros compostos que se supõe serem comuns em exoplanetas. A equipa emitiu um feixe de luz ultravioleta sobre essas misturas para simular a forma como a luz de uma estrela iniciaria as reacções químicas que produzem as partículas de neblina.

Depois mediram a quantidade de luz que as partículas absorviam e reflectiam para compreender como interagiam com a luz na atmosfera.

Os novos dados coincidiram com as assinaturas químicas de um exoplaneta bem estudado chamado GJ 1214 b com mais exactidão do que a investigação anterior, demonstrando que neblinas com diferentes propriedades ópticas podem levar a interpretações erradas da atmosfera de um planeta.

As atmosferas exoplanetárias podem ser muito diferentes das do nosso Sistema Solar, disse Hörst, acrescentando que há mais de 5000 exoplanetas confirmados com diferentes químicas atmosféricas.

A equipa está agora a trabalhar para criar mais “análogos” de neblina feitos em laboratório com misturas de gases que representem com maior precisão o que se vê com os telescópios.

“As pessoas poderão usar esses dados quando modelarem essas atmosferas para tentar compreender coisas como a temperatura da atmosfera e da superfície do planeta, se existem nuvens, qual a sua altura e de que são feitas, ou a velocidade dos ventos”, disse Hörst.

“Todo este tipo de coisas pode ajudar-nos a concentrar a nossa atenção em planetas específicos e a tornar as nossas experiências únicas, em vez de fazermos apenas testes generalizados quando tentamos compreender o panorama geral.”

// Universidade Johns Hopkins (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)

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1 de Dezembro de 2023


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Astrofísicos descobrem seis planetas próximos da Terra a “dançarem uma valsa”

 

⚗️ CIÊNCIA // 📡ASTROFÍSICA // 🌌UNIVERSO

Os autores da investigação dizem que este raro sistema planetário pode dar novas pistas sobre a formação e evolução dos planetas.

© ROGER THIBAUT/NCCR PLANETS

Astrofísicos descobriram um sistema planetário “próximo” da Terra formado por seis planetas que orbitam a sua estrela em sincronia, como se dançassem uma valsa, divulgou esta quarta-feira a revista científica Nature.

Os seis planetas, que provavelmente têm realizado esta mesma “dança rítmica” desde que o sistema planetário se formou há milhares de milhões de anos, orbitam a estrela HD110067, situada a cerca de 100 anos-luz da Terra, na constelação da Cabeleira de Berenice.

Segundo os autores da investigação, liderada pelo astrofísico espanhol Rafael Luque, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, este raro sistema planetário pode dar novas pistas sobre a formação e evolução dos planetas.

“Esta descoberta vai tornar-se uma referência para estudar como os sub-Neptunos, o tipo mais comum de planetas fora do Sistema Solar, se formaram, evoluíram, de que são feitos e se possuem as condições certas para suportar água líquida nas suas superfícies”, sustentou Rafael Luque, citado em comunicado pela Universidade de Chicago.

As observações dos seis planetas foram feitas com o telescópio espacial norte-americano TESS e a leitura de dados combinada com a informação recolhida pelo telescópio espacial europeu CHEOPS.

Os planetas extra-solares em questão estão em ressonância orbital, que ocorre quando dois ou mais corpos celestes em órbita exercem influência gravitacional um sobre o outro.

No caso, o planeta mais próximo da estrela HD110067 completa três órbitas por cada duas feitas pelo planeta seguinte, um padrão que se repete entre os quatro planetas mais próximos da estrela.

Entre os planetas mais distantes da estrela HD110067 repete-se duas vezes um padrão de quatro órbitas por cada três feitas pelo planeta seguinte.

“Pensamos que apenas cerca de um por cento de todos os sistemas [planetários] permanecem em ressonância, e menos ainda mostram uma cadeia de planetas nesta configuração”, assinalou o astrofísico Rafael Luque, acrescentando que “a configuração original” do sistema HD110067 “sobreviveu intocada”.

DN // LUSA
29 Novembro 2023 — 16:45


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329: Astrónomos descobrem pela primeira vez um disco em torno de uma estrela doutra galáxia

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // ESTRELAS

Numa descoberta notável, os astrónomos encontraram um disco em torno de uma estrela jovem na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da nossa.

Trata-se da primeira vez que um disco deste tipo, idêntico aos que formam planetas na nossa Via Láctea, é encontrado fora da nossa Galáxia. As novas observações revelam uma estrela jovem de grande massa a crescer e a acumular matéria do meio que a envolve, dando assim origem a um disco em rotação. Esta detecção foi feita com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) no Chile, do qual o Observatório Europeu do Sul (ESO) é um parceiro.

Quando vi pela primeira vez evidências de uma estrutura rotativa nos dados do ALMA, nem queria acreditar que tínhamos detectado o primeiro disco de acreção extra-galáctico, foi mesmo um momento especial“, disse Anna McLeod, professora associada da Universidade de Durham, no Reino Unido, e autora principal do estudo publicado hoje na revista Nature.

Sabemos que os discos são vitais para a formação de estrelas e planetas na nossa Galáxia e, pela primeira vez, temos agora provas directas da ocorrência do mesmo fenómeno noutra galáxia.

Este estudo surge na seguimento de observações com o instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) do Very Large Telescope (VLT) do ESO, que detectou um jato lançado por uma estrela em formação — o sistema foi designado HH 1177 — no interior de uma nuvem de gás na Grande Nuvem de Magalhães.

Descobrimos um jacto a ser lançado por esta estrela jovem de grande massa, o que é um sinal da existência de um disco de acreção em formação“, explicou McLeod. No entanto, para ter a prova irrefutável de que este disco estava de facto presente, a equipa teve que medir o movimento do gás denso em torno da estrela.

Quando a matéria é atraída por uma estrela em crescimento, não cai directamente sobre ela; em vez disso, achata-se num disco que gira em torno da estrela. Mais perto do centro, o disco roda mais depressa, e esta diferença de velocidade é a pista que assinala aos astrónomos a existência de um disco de acreção.

A frequência da radiação varia consoante a velocidade a que o gás que emite essa radiação se move em direcção a nós ou na direcção oposta“, explica Jonathan Henshaw, investigador da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, e co-autor deste estudo.

Trata-se exactamente do mesmo fenómeno que ocorre quando o tom da sirene de uma ambulância muda ao passar por nós e a frequência do som muda de mais alta para mais baixa.

As medições de frequência detalhadas de que o ALMA é capaz permitiram aos autores distinguir a rotação característica de um disco, confirmando a primeira detecção de um disco em torno de uma estrela extra-galáctica jovem.

As estrelas de grande massa, como a que foi aqui observada, formam-se muito mais rapidamente e têm vidas muito mais curtas do que as estrelas de pequena massa, como é o caso do nosso Sol.

Na nossa Galáxia, estas estrelas massivas são notoriamente difíceis de observar, estando frequentemente obscurecidas pelo material poeirento a partir do qual se formaram na altura em que um disco se está a formar à sua volta.

No entanto, na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia situada a 160 000 anos-luz de distância da Terra, o material a partir do qual se estão a formar novas estrelas é fundamentalmente diferente do da Via Láctea.

Graças à  menor quantidade de poeira aí presente, a HH 1177 já não está envolvida no seu casulo natal, oferecendo, por isso, aos astrónomos uma visão desobstruída, ainda que distante, da formação de estrelas e planetas.

Estamos numa era de rápidos avanços tecnológicos no que concerne as instalações astronómicas“, conclui McLeod. “Ser capaz de estudar como é que as estrelas se formam a distâncias tão incríveis e numa galáxia diferente é realmente muito entusiasmante.

Informações adicionais

Este trabalho de investigação foi descrito num artigo científico intitulado “A likely Keplerian disk feeding an optically revealed massive young star” publicado na revista Nature (doi: 10.1038/s41586-023-06790-2). O disco foi descoberto numa região da Grande Nuvem de Magalhães denominada LHA 120-N 180B, a qual foi alvo de uma nota de imprensa anterior do ESO intitulada “Bolhas de estrelas recém nascidas”.

A equipa é composta por: A. F. McLeod (Centre for Extragalactic Astronomy, Department of Physics, Durham University, Reino Unido; Institute for Computational Cosmology, Department of Physics, University of Durham, Reino Unido), P. D. Klaassen (UK Astronomy Technology Centre, Royal Observatory Edinburgh, Reino Unido), M. Reiter (Department of Physics and Astronomy, Rice University, EUA), J. Henshaw (Astrophysics Research Institute, Liverpool John Moores University, Reino Unido; Instituto Max Planck de Astronomia, Alemanha), R. Kuiper (Faculdade de Física, Universidade de Duisburg-Essen, Alemanha) e A. Ginsburg (Department of Astronomy, University of Florida, EUA).

O Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), uma infraestrutura astronómica internacional, surge no âmbito de uma parceria entre o ESO, a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NSF) e os Institutos Nacionais de Ciências da Natureza (NINS) do Japão, em cooperação com a República do Chile. O ALMA é financiado pelo ESO em prol dos seus Estados Membros, pela NSF em cooperação com o Conselho de Investigação Nacional do Canadá (NRC) e o Conselho Nacional de Cragiência e Tecnologia da Taiwan e pelo NINS em cooperação com a Academia Sinica (AS) da Taiwan e o Instituto de Astronomia e Ciências do Espaço da Coreia (KASI). A construção e operação do ALMA é coordenada pelo ESO, em prol dos seus Estados Membros; pelo Observatório Nacional de Rádio Astronomia dos Estados Unidos (NRAO), que é gerido pela Associação de Universidades, Inc. (AUI), em prol da América do Norte; e pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão (NAOJ), em prol do Leste Asiático. O Observatório Conjunto ALMA (JAO) fornece uma liderança e gestão unificadas na construção, comissionamento e operação do ALMA.

O Observatório Europeu do Sul (ESO) ajuda cientistas de todo o mundo a descobrir os segredos do Universo, o que, consequentemente, beneficia toda a sociedade. No ESO concebemos, construimos e operamos observatórios terrestres de vanguarda — os quais são usados pelos astrónomos para investigar as maiores questões astronómicas da nossa época e levar ao público o fascínio da astronomia — e promovemos colaborações internacionais em astronomia. Estabelecido como uma organização intergovernamental em 1962, o ESO é hoje apoiado por 16 Estados Membros (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça), para além do Chile, o país de acolhimento, e da Austrália como Parceiro Estratégico. A Sede do ESO e o seu centro de visitantes e planetário, o Supernova do ESO, situam-se perto de Munique, na Alemanha, enquanto o deserto chileno do Atacama, um lugar extraordinário com condições únicas para a observação dos céus, acolhe os nossos telescópios. O ESO mantém em funcionamento três observatórios: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope e o Interferómetro do Very Large Telescope, assim como telescópios de rastreio, tal como o VISTA. Ainda no Paranal, o ESO acolherá e operará o Cherenkov Telescope Array South, o maior e mais sensível observatório de raios gama do mundo. Juntamente com parceiros internacionais, o ESO opera o APEX e o ALMA no Chajnantor, duas infraestruturas que observam o céu no domínio do milímetro e do submilímetro. No Cerro Armazones, próximo do Paranal, estamos a construir “o maior olho do mundo voltado para o céu” — o Extremely Large Telescope do ESO. Dos nossos gabinetes em Santiago do Chile, apoiamos as nossas operações no país e trabalhamos com parceiros chilenos e com a sociedade chilena.

 ESO – European South Observatory
Nota de Imprensa
29 de Novembro de 2023


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306: Novos conhecimentos sobre a evolução estelar

 

CIÊNCIA // FÍSICA // ASTRONOMIA // EVOLUÇÃO ESTELAR

Uma nova descoberta pioneira poderá transformar a forma como os astrónomos compreendem algumas das maiores e mais comuns estrelas do Universo.

Impressão de artista de uma estrela “vampira” (esquerda) que rouba material da sua “vítima”.
Crédito: ESO/M. Kornmesser/S.E. de Mink

A investigação levada a cabo pelo estudante de doutoramento Jonathan Dodd e pelo Professor René Oudmaijer, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Leeds, aponta para novas e intrigantes evidências de que as estrelas massivas Be – que até agora se pensava existirem principalmente em sistemas duplos – podem de facto ser “triplas”.

A notável descoberta poderá revolucionar a nossa compreensão destes objectos – um subconjunto das estrelas B – que são considerados um importante “banco de ensaio” para o desenvolvimento de teorias sobre a evolução das estrelas em geral.

Estas estrelas Be estão rodeadas por um disco característico feito de gás – semelhante aos anéis de Saturno no nosso próprio Sistema Solar. E embora as estrelas Be sejam conhecidas há já cerca de 150 anos – tendo sido identificadas pela primeira vez pelo famoso astrónomo italiano Angelo Secchi em 1866 – até agora, ninguém sabia como se formavam.

Até à data, o consenso entre os astrónomos diz que os discos são formados pela rápida rotação das estrelas Be, que pode ser provocada pela interacção das estrelas com a outra estrela no sistema binário.

Sistemas triplos

Dodd, autor correspondente da investigação, disse: “O melhor ponto de referência para isso é ver a ‘Guerra das Estrelas’, onde há planetas com dois sóis”.

Mas agora, ao analisar os dados do satélite Gaia da ESA, os cientistas dizem ter encontrado evidências de que estas estrelas existem de facto em sistemas triplos – com três corpos a interagir em vez de apenas dois.

Dodd acrescentou: “Observámos a forma como as estrelas se movem no céu nocturno, em períodos mais longos, como 10 anos, e períodos mais curtos, de cerca de seis meses.

Se uma estrela se move em linha recta, sabemos que há apenas uma estrela, mas se houver mais do que uma, veremos uma ligeira oscilação ou, no melhor dos casos, uma espiral.

“Aplicámos isto aos dois grupos de estrelas que estamos a analisar – as estrelas B e as estrelas Be – e o que descobrimos, de forma confusa, é que, à primeira vista, parece que as estrelas Be têm uma taxa mais baixa de companheiras do que as estrelas B. Isto é interessante porque esperávamos que as estrelas Be tivessem uma taxa mais elevada”.

No entanto, o investigador principal, prof. Oudmaijer, disse: “O facto de não as vermos pode dever-se ao facto de serem agora demasiado ténues para serem detectadas”.

Impressão de artista composta por uma estrela com um disco à sua volta (uma estrela “vampira” Be; primeiro plano) e a sua estrela companheira que foi despojada das suas camadas exteriores (fundo).
Crédito: ESO/L. Calçada

Transferência de massa

Os investigadores analisaram depois um conjunto diferente de dados, procurando estrelas companheiras mais distantes, e descobriram que, a estas separações maiores, a taxa de estrelas companheiras é muito semelhante entre as estrelas B e Be.

A partir daí, puderam inferir que, em muitos casos, uma terceira estrela está em jogo, forçando a companheira a aproximar-se da estrela Be – suficientemente perto para que a massa possa ser transferida de uma para a outra e assim possa formar o disco característico da estrela Be.

Isto também pode explicar porque é que já não vemos estas companheiras; tornaram-se demasiado pequenas e ténues para serem detectadas depois da estrela Be “vampira” ter sugado tanta da sua massa.

A descoberta poderá ter um enorme impacto noutras áreas da astronomia – incluindo a nossa compreensão dos buracos negros, das estrelas de neutrões e das fontes de ondas gravitacionais.

O professor Oudmaijer afirmou: “Está a decorrer uma revolução na física em torno das ondas gravitacionais. Só há alguns anos é que começámos a observar estas ondas gravitacionais, que se descobriu serem devidas à fusão de buracos negros.

“Sabemos que estes objectos enigmáticos – buracos negros e estrelas de neutrões – existem, mas não sabemos muito sobre as estrelas que se transformam neles. As nossas descobertas fornecem uma pista para compreender estas fontes de ondas gravitacionais”.

E acrescentou: “Durante a última década, os astrónomos descobriram que a binariedade é um elemento incrivelmente importante na evolução estelar. Estamos agora a avançar mais para a ideia de que é ainda mais complexo do que isso e que as estrelas triplas devem ser consideradas.”

“De facto”, disse Oudmaijer, “as triplas tornaram-se as novas binárias”.

// Universidade de Leeds (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
28 de Novembro de 2023


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