Moscovo, 23 nov 2023 (Lusa) – O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, apelou hoje a novas soluções no sentido do reforço da segurança dos membros da aliança militar pós-soviética, a Organização do Tratado de Segurança Colectiva (CSTO), que realiza uma cimeira em Minsk.
“As principais tendências na evolução da actual situação político-militar na área de responsabilidade da organização, tanto no mundo em geral como na região, devem ser analisadas”, afirmou Lukashenko na abertura da reunião.
O principal aliado do Kremlin na campanha militar contra a Ucrânia acrescentou que a segurança dos países da organização deve ser reforçada.
“É necessário encontrar novas soluções para reforçar a segurança dos nossos países”, disse apelando à união dos membros.
“A nossa organização continua a ser um elemento inalienável para garantir a segurança dos membros e da região euro-asiática, em conjunto”, sublinhou Lukashenko.
O líder bielorrusso dirigiu-se aos representantes dos outros Estados membros – Rússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão – mas não à Arménia, que decidiu ausentar-se devido às suas divergências em relação à organização.
O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, recusou-se a assinar a declaração final da cimeira há um ano devido à passividade do bloco face aos ataques do Azerbaijão e, desde essa altura, tem tomado medidas para reforçar os laços com o “Ocidente”.
No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Arménia negou hoje que a saída do país da CSTO ou o encerramento da base militar russa estejam a ser analisados.
Putin deslocou-se a Minsk hoje de manhã para discutir, segundo o Kremlin, “a melhoria do sistema de segurança colectiva, bem como questões regionais e internacionais actuais”.
Nas reuniões que antecederam a cimeira, foram assinados cerca de vinte documentos relativos às “esferas política e político-militar, bem como à contenção (…) das ameaças à segurança”, afirmou o Ministro da Defesa da Bielorrússia, Sergey Aleinik.
Mais de 2.400 crianças ucranianas com idades entre seis e 17 anos foram levadas de quatro regiões da Ucrânia parcialmente ocupadas por tropas russas para a Bielorrússia, segundo um estudo da Universidade de Yale.
O estudo, divulgado na quinta-feira pelo Laboratório de Investigação Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale, financiada pelo Departamento de Estado norte-americano, concluiu que “o trabalho sistematizado da Rússia para identificar, recolher, transportar e reeducar as crianças ucranianas tem sido facilitado pela Bielorrússia” e é “em última análise coordenado” entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o líder autoritário bielorrusso, Alexander Lukashenko.
“O envolvimento directo da Bielorrússia na deportação forçada de crianças pela Rússia representa uma colaboração” entre os dois países, “com diversas organizações pró-Rússia e pró-regime a facilitar a deportação de crianças da Ucrânia”, refere a investigação.
De acordo com o estudo, pelo menos 2.442 crianças, entre as quais crianças com deficiência, foram levadas para a Bielorrússia de 17 cidades das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia entre 24 de Fevereiro de 2022 e 30 de Outubro de 2023 — uma iniciativa descrita em grande pormenor no relatório de 40 páginas.
Das regiões ucranianas ocupadas, as crianças foram levadas para a cidade de Rostov, no sul da Rússia, e em seguida metidas num comboio para a Bielorrússia. O transporte foi financiado pelo Estado bielorrusso e estiveram envolvidas organizações estatais, com a aprovação de Lukashenko.
Ao todo, 2.050 crianças foram levadas para o centro infantil de Dubrava, na região bielorrussa de Minsk, ao passo que as restantes 392 foram distribuídas por 13 outras instalações em todo o país. Aí, foram sujeitas a reeducação e treino militar, incluindo com os serviços de segurança e policiais da Bielorrússia, segundo o relatório.
No documento, são também nomeados alguns intervenientes importantes neste processo, como a figura pública bielorrussa Alyaksei Talai, a empresa estatal bielorrussa produtora de potássio Belaruskali, a União da Juventude Republicana da Bielorrússia e clubes de motociclistas ultranacionalistas pró-russos.
As autoridades ucranianas afirmaram que estão a investigar as deportações como um possível genocídio. O Procurador-Geral da Ucrânia indicou que o papel da Bielorrússia nas deportações forçadas de mais de 19.000 crianças dos territórios ocupados está também a ser investigado.
No início deste ano, o Tribunal Penal Internacional (TPI) indiciou Putin e a comissária russa para os direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, pelo seu alegado envolvimento em crimes relacionados com a deportação forçada de crianças da Ucrânia e emitiu mandados de captura para eles.
A oposição bielorrussa tem procurado obter um indiciamento semelhante para Lukashenko. Pavel Latushka, um antigo ministro bielorrusso que se tornou líder da oposição no exílio, indicou ter entregado ao TPI provas que implicam o Presidente da Bielorrússia.
Latushka disse hoje à agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) que o relatório de Yale complementa os dados que ele e a sua equipa recolheram com mais “pormenores horríveis” e “levanta a questão da acusação criminal internacional dos principais criminosos bielorrussos que organizaram a deslocação ilegal de crianças ucranianas para a Bielorrússia”.
“A democracia vence quando há responsabilização, e Lukashenko e os que lhe estão associados têm cometido milhares de crimes contra bielorrussos e ucranianos”, sustentou.
Num comunicado anunciando o relatório de Yale, na quinta-feira, o Departamento de Estado norte-americano declarou que Washington “continuará a procurar responsabilizar os envolvidos em abusos relacionados com a guerra da Rússia contra a Ucrânia”.
A Rússia lançou a 24 de Fevereiro de 2022 uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, de acordo com dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e fez nos últimos 20 meses um elevado número de vítimas não só militares como também civis, impossíveis de contabilizar enquanto o conflito decorrer.
A invasão — justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.