‘Revolução da Dignidade’ Euromaidan agudizou relações com a Rússia

 

🇺🇦🔱 UCRÂNIA //  EUROMAIDAN // REVOLUÇÃO DA DIGNIDADE

No rescaldo da ‘Revolução da Dignidade’ do inverno de 2013-2014, iniciada há 10 anos, a Ucrânia entrou num período de conflito latente e escalada de tensões com a Rússia, suavizadas temporariamente em 2019.

© Sergei Supinsky/AFP via Getty Images

O movimento de protesto em Maidan (praça em ucraniano) implicou a queda do presidente “pró-russo” Viktor Ianukovitch em 24 de Fevereiro de 2014, que três meses antes tinha renunciado a um acordo de associação com a União Europeia. O país dividia-se entre este projecto de integração económica e uma alternativa proposta russa de união aduaneira.

De imediato, o presidente russo Vladimir Putin e o seu círculo do Kremlin equiparam o protesto massivo na praça central de Kyiv “a um pogrom” enquanto o chefe da diplomacia, Serguei Lavrov, denuncia interferências estrangeiras.

Apesar das manifestações, Ianukovitch persiste e assina um acordo com Moscovo que implica o fim das barreiras alfandegárias e um empréstimo russo de 14 mil milhões de euros.

Os confrontos não esmorecem, a violência agrava-se em Fevereiro – entre os dias 18 e 21, um total de 90 mortos em Kyiv, manifestantes e polícias, segundo as autoridades — e que implica a destituição de Ianukovitch pelo parlamento, que opta pelo exílio na Rússia.

Putin denuncia um “golpe de Estado” – nas barricadas de Maidan conviviam opositores “pró-europeus”, mas também nacionalistas em particular do partido de extrema-direita Svoboda -, uma abordagem destinada a desacreditar um movimento manipulado por “potências ocidentais”, e refere-se ao seu carácter nacionalista e perigoso.

As chancelarias europeias e norte-americana eram acusadas de ter apoiado, e provocado, a revolta para favorecer a chegada ao poder de governos que pretendiam limitar a influência russa na região.

Com um governo interino em funções, Putin declara que a Rússia “se reserva no direito de recorrer a todas as opções disponíveis, incluindo a força como último recurso”, enquanto logo em maio de 2014 eclodem confrontos entre militantes pró e anti-russos em várias cidades, incluindo Odessa ou Simferopol, a capital da Crimeia, maioritariamente russófona.

Com a sua base naval em Sebastopol e dois aeroportos militares em Kacha e Simferopol, a península nas margens do mar Negro é um território estratégico para a Rússia, que envia tropas e promove em 16 de Março um referendo que vota massivamente pela integração na Rússia, considerado “ilegal” por Estados Unidos e União Europeia.

Esta decisão implica o endurecimento das relações de Moscovo com o ocidente, que se agravam logo em 07 de Abril, com o início da guerra civil no Donbass, no leste ucraniano, também com maioria de população russófona.

Os separatistas, apoiados por Moscovo apesar de a Rússia negar envolvimento no conflito, organizam dois referendos em Donetsk e Lugansk em 11 de Maio de 2014, com uma ampla vitória do “sim” à independência. A Ucrânia e os países ocidentais não reconhecem o resultado, ao contrário da Rússia.

A nível interno, e na sequência da proibição dos principais partidos “pró russos” — que tinham dominado a vida política interna desde 2006 –, o ex-opositor Petro Poroshenko é eleito em 25 de Maio Presidente da Ucrânia com 56% dos votos, com os resultados também reconhecidos por Moscovo.

De imediato, anuncia um plano de paz e decreta um cessar-fogo unilateral em 20 de Junho, com poucos efeitos nas zonas de combate, e após Kyiv ter desencadeado a sua operação “antiterrorista” e enviar para leste o seu Exército e milícias de extrema-direita.

A primeira grande iniciativa diplomática decorre quase de imediato, quando o Presidente francês François Hollande e a chanceler alemã Ângela Merkel se reúnem em 06 de Junho com Putin e Poroshenko na Normandia (França) por ocasião do 70º aniversário do desembarque aliado.

Tinha início o “formato Normandia”, encontros quadripartidos entre Alemanha, França, Rússia e Ucrânia. Em paralelo, a União Europeia decide assinar no final desse mês um acordo de associação económico e de comércio livre com Kyiv, de novo criticado por Moscovo.

No Donbass, o conflito persiste, sangrento e intenso. Em 17 de Julho, o voo MH 17 da Malaysia Airlines é abatido no leste da Ucrânia, em território controlado pelos separatistas (298 mortos) e que implicará posteriores condenações por um tribunal holandês a prisão perpétua, mas à revelia, de dois russos e um ucraniano.

Em paralelo, o primeiro cessar-fogo entre as duas partes, negociado entre os dois campos na capital bielorrussa (Minsk I) em 05 de Setembro, e com o Presidente Aleksander Lukashenko na função de anfitrião, implica uma redução dos combates, que no entanto prosseguem.

O semi fracasso do também designado “Protocolo de Minsk” impelirá as repúblicas populares secessionistas de promoverem eleições presidenciais e elegerem os seus lideres (Alexandre Zakhartchenko em Donetsk e Igor Plotniski em Lugansk), com a Ucrânia a denunciar uma violação dos acordos de Minsk e a Rússia a considerar que respeitam o acordado.

No final desse ano, e numa atitude de claro desafio a Moscovo, o parlamento ucraniano vota a favor de uma adesão à NATO, a principal “linha vermelha” há muito estabelecida pelo Kremlin.

Lavrov reage e refere-se a um movimento “contraproducente” que “fornece a ilusão de permitir resolver a profunda crise interna que atravessa a Ucrânia” e que apenas “vai exacerbar o clima de confrontação”.

O prosseguimento dos combates e dos bombardeamentos no leste do país implica uma nova reunião dos dirigentes da Rússia, Ucrânia, Alemanha e França, de novo na capital da Bielorrússia, para impor um novo cessar-fogo.

Para além desta medida, o acordo obtido em 12 de Fevereiro de 2015 após uma maratona de negociações com Putin inclui a retirada das armas pesadas de cada lado, troca de prisioneiros, restauração das fronteiras ucranianas e retirada das tropas estrangeiras.

Este “Minsk 2” também inclui uma vertente política que prevê a organização de eleições no quadro ucraniano e o reconhecimento de alguma autonomia para Donetsk e Lugansk.

Nos meses e anos que se seguem, o conflito fica congelado, com diversas cimeiras entre dirigentes europeus, russos e ucranianos em 2015 e 2016 sem resultados concretos.

Nas regiões separatistas, e em finais do ano seguinte, o líder da auto-proclamada República Popular de Lugansk (LNR), Igor Plotniski, demite-se após se refugiar em Moscovo (será substituído por Leonid Pasetchnik).

Alguns meses depois, em Agosto de 2018, o seu homólogo da República Popular de Donetsk (DNR), Alexandre Zakhartchenko, é assassinado, com o separatista Denis Puchiline a assumir o cargo, dois acontecimentos interpretados por analistas como o reforço da influência de Moscovo nessas regiões.

Será ainda em finais de 2018, após três pequenos navios da Marinha ucraniana serem apresados pela Rússia e os seus 24 tripulantes detidos quando tentavam cruzar a ponte da Crimeia, no estreito de Kerch – inaugurada com pompa pela Rússia nesse mesmo ano –, que Poroshenko decreta a lei marcial por 30 dias nas regiões russófonas do leste. Mas o seu fim político estava próximo.

Notícias ao Minuto Notícias ao Minuto
21/11/23 08:19
por Lusa

🇺🇦 SLAVA UKRAYINI 🇺🇦


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211: Hubble mede o tamanho do exoplaneta mais próximo em trânsito

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // HUBBLE

O Telescópio Espacial Hubble da NASA mediu o tamanho do exoplaneta mais próximo da Terra que passa pela face de uma estrela vizinha. Este alinhamento, chamado trânsito, abre a porta a estudos posteriores para ver que tipo de atmosfera, se é que existe, o mundo rochoso poderá ter.

Ilustração do exoplaneta LTT 1445Ac, que tem o tamanho da Terra. O planeta orbita uma estrela anã vermelha. A estrela está num sistema triplo, com duas anãs vermelhas em órbita íntima, vistas no canto superior direito. O ponto preto à frente da brilhante esfera vermelho-clara no centro da imagem é o planeta LTT 1445Ac a transitar pela face da estrela. O planeta tem uma temperatura à superfície de cerca de 260º C. Em primeiro plano, no canto inferior esquerdo, está outro planeta do sistema, LTT 1445Ab. A vista é de 22 anos-luz de distância, olhando para trás em direcção ao nosso Sol, que é o ponto brilhante em baixo à direita. Algumas das estrelas de fundo fazem parte da constelação de Boieiro.
Crédito: NASA, ESA, Leah Hustak (STScI)

O pequeno planeta, LTT 1445Ac, foi descoberto pela primeira vez pelo TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA em 2022. Mas a geometria do plano orbital do planeta em relação à sua estrela, vista da Terra, era incerta porque o TESS não tem a resolução óptica necessária.

Isto significa que a detecção pode ter sido o chamado trânsito rasante, em que um planeta apenas atravessa uma pequena porção do disco da estrela-mãe. Isto daria origem a um limite inferior impreciso do diâmetro do planeta.

“Havia a possibilidade deste sistema ter uma geometria azarada e, se fosse esse o caso, não conseguiríamos medir o tamanho correto. Mas, com as capacidades do Hubble, conseguimos determinar o seu diâmetro”, disse Emily Pass, do Centro de Astrofísica | Harvard & Smithsonian, em Cambridge, Massachusetts, EUA.

Este diagrama compara dois cenários de como um exoplaneta do tamanho da Terra passa em frente da sua estrela hospedeira. O percurso inferior mostra o planeta apenas a roçar a estrela. Estudar a luz de um trânsito deste tipo pode levar a uma estimativa incorrecta do tamanho do planeta, fazendo-o parecer mais pequeno do que realmente é. O percurso superior mostra a geometria óptima, em que o planeta transita por todo o disco da estrela. A precisão do Telescópio Espacial Hubble pode distinguir entre estes dois cenários, produzindo uma medição precisa do diâmetro do planeta.
Crédito: NASA, ESA, Elizabeth Wheatley (STScI)

As observações do Hubble mostram que o planeta faz um trânsito normal por todo o disco da estrela, o que lhe dá um tamanho real de apenas 1,07 vezes o diâmetro da Terra.

Isto significa que o planeta é um mundo rochoso, como a Terra, com aproximadamente a mesma gravidade à superfície. Mas, com uma temperatura à superfície de cerca de 260º C, é demasiado quente para a vida tal como a conhecemos.

O planeta orbita a estrela LTT 1445A, que faz parte de um sistema triplo de três estrelas anãs vermelhas, a 22 anos-luz de distância, na direcção da constelação de Erídano. A estrela tem dois outros planetas maiores que LTT 1445Ac.

Um par íntimo de duas outras estrelas anãs, LTT 1445B e C, encontra-se a cerca de 4,8 mil milhões de quilómetros de distância de LTT 1445A, também resolvido pelo Hubble. O alinhamento das três estrelas e a órbita do par BC, vista de lado, sugerem que tudo no sistema é coplanar, incluindo os planetas conhecidos.

“Os planetas em trânsito são excitantes porque podemos caracterizar as suas atmosferas com espectroscopia, não só com o Hubble, mas também com o Telescópio Espacial James Webb. A nossa medição é importante porque diz-nos que este é provavelmente um planeta terrestre muito próximo.

Aguardamos com expectativa as observações que se seguirão e que nos permitirão compreender melhor a diversidade de planetas à volta de outras estrelas”, disse Pass.

// Centro de Astrofísica | Harvard & Smithsonian (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// ESA/Hubble (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
21 de Novembro de 2023


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210: Utilizando eclipses para calcular a transparência dos anéis de Saturno

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // SATURNO

Um estudante de doutoramento da Universidade de Lancaster mediu a profundidade óptica dos anéis de Saturno utilizando um novo método baseado na quantidade de luz solar que atingiu a nave espacial Cassini quando esta se encontrava na sombra dos anéis.

Impressão de artista da nave espacial Cassini perto de Saturno.
Crédito: ESA

A profundidade óptica está relacionada com a transparência de um objecto e mostra a distância que a luz pode percorrer através desse objecto antes de ser absorvida ou dispersa.

A investigação, realizada pela Universidade de Lancaster em colaboração com o Instituto Sueco de Física Espacial, foi publicada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

A nave espacial Cassini, da NASA/ESA, foi lançada em 1997 e chegou a Saturno em 2004, realizando o mais extenso estudo do planeta e das suas luas até à data. A missão terminou em 2017, quando a Cassini mergulhou na atmosfera saturniana, depois de ter viajado 22 vezes entre o planeta e os seus anéis.

O estudante de doutoramento da Universidade de Lancaster, George Xystouris, sob a supervisão do Dr. Chris Arridge, analisou dados históricos da sonda de Langmuir a bordo da Cassini, um instrumento que mede o plasma frio, ou seja, iões e electrões de baixa energia, na magnetosfera de Saturno.

Para o seu estudo, concentraram-se nos eclipses solares da nave espacial: períodos em que a Cassini estava na sombra de Saturno ou dos anéis principais. Durante cada eclipse, a sonda de Langmuir registou alterações dramáticas nos dados.

George disse: “Como a sonda é metálica, sempre que está iluminada pelo Sol, a luz solar pode fornecer energia suficiente à sonda para libertar electrões.

Este é o efeito foto-eléctrico e os electrões libertados são os chamados ‘foto-electrões’. Mas podem criar problemas, pois têm as mesmas propriedades que os electrões do plasma frio que rodeia Saturno e não há uma forma fácil de separar os dois.”

“Concentrando-nos nas variações dos dados, apercebemo-nos de que estavam relacionados com a quantidade de luz solar que cada anel deixava passar.

Eventualmente, utilizando as propriedades do material de que era feita a sonda de Langmuir e o brilho do Sol na vizinhança de Saturno, conseguimos calcular a variação do número de foto-electrões para cada anel e calcular a profundidade óptica dos anéis de Saturno.

“Este foi um resultado novo e excitante! Recorremos a um instrumento que é principalmente utilizado para medições de plasma para medir uma característica planetária, o que é uma utilização única da sonda de Langmuir, e os nossos resultados estão de acordo com estudos que utilizaram imagens de alta resolução para medir a transparência dos anéis”.

Os anéis principais, que se estendem até 140.000 km do planeta, mas têm uma espessura máxima de apenas 1 km, deverão desaparecer da vista da Terra em 2025. Nesse ano, os anéis estarão inclinados na direcção da Terra, tornando quase impossível a sua visualização.

Durante a fase seguinte da órbita de 29 anos de Saturno, os anéis voltarão a inclinar-se na direcção da Terra e continuarão a tornar-se mais visíveis e mais brilhantes até 2032.

O Professor Mike Edmunds, Presidente da Real Sociedade Astronómica, acrescentou: “É sempre bom ver um estudante envolvido na utilização de instrumentos de sondas espaciais de uma forma invulgar e inventiva.

Este tipo de inovação é precisamente o que é necessário na investigação astronómica – e uma abordagem que muitos antigos alunos, que estão numa variedade de carreiras, estão a aplicar para ajudar a resolver os problemas do mundo”.

// Universidade de Lancaster (comunicado de imprensa)
// Real Sociedade Astronómica (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society)

CCVALG
21 de Novembro de 2023


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Com erupções sem precedentes, um “cadáver” estelar dá sinais de vida

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // UNIVERSO

Uma equipa liderada pela Universidade de Cornell relata, numa nova investigação publicada a 15 de Novembro na Nature, que após a morte explosiva de uma estrela distante, um “cadáver” estelar activo foi a fonte provável de repetidos surtos energéticos observados ao longo de vários meses – um fenómeno que os astrónomos nunca tinham visto antes.

Representação artística de AT2022tsd, uma explosão numa galáxia distante. A imagem mostra uma explicação possível: um buraco negro a acretar matéria de um disco e a alimentar um jacto. A variação na direcção do jacto pode produzir os flashes rápidos observados.
Crédito: Robert L. Hurt/Caltech/IPAC

Os flashes brilhantes e breves – tão curtos quanto alguns minutos de duração e tão poderosos quanto a explosão original 100 dias depois – apareceram no rescaldo de um tipo raro de cataclismo estelar que os investigadores se propuseram a encontrar, conhecido como LFBOT (sigla inglesa para “luminous fast blue optical transient”).

Desde a sua descoberta em 2018, os astrónomos têm especulado sobre o que poderá estar na origem de tais explosões extremas, que são muito mais brilhantes do que os fins violentos pelo qual as estrelas massivas normalmente passam, mas que se desvanecem em dias em vez de semanas.

A equipa de investigadores pensa que a actividade anteriormente desconhecida, que foi estudada por 15 telescópios em todo o mundo, confirma que o “motor” deve ser um “cadáver” estelar: um buraco negro ou uma estrela de neutrões.

“Não pensamos que mais nada possa produzir este tipo de erupções”, disse Anna Y.Q. Ho, professora assistente de astronomia na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Cornell.

“Isto resolve anos de debate sobre o que está na origem deste tipo de explosão e revela um método invulgarmente directo de estudar a actividade dos cadáveres estelares.”

Ho é a primeira autora do artigo científico, com mais de 70 co-autores que ajudaram a caracterizar o LFBOT oficialmente rotulado AT2022tsd e apelidado de “diabo da Tasmânia”, e os subsequentes pulsos de luz vistos a cerca de mil milhões de anos-luz da Terra.

Ho escreveu o software que assinalou o evento em Setembro de 2022, enquanto filtrava meio milhão de mudanças, ou transientes, detectadas diariamente num levantamento de todo o céu realizado pela ZTF (Zwicky Transient Facility), com sede no estado norte-americano da Califórnia.

Depois, em Dezembro de 2022, enquanto monitorizava rotineiramente a explosão que se desvanecia, Ho e os colaboradores Daniel Perley, da Universidade John Moores em Liverpool, Inglaterra, e Ping Chen, do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, reuniram-se para rever novas observações realizadas e analisadas por Ping – um conjunto de cinco imagens, cada uma com a duração de vários minutos.

A primeira não mostrava nada, como se esperava, mas a segunda captava luz, seguida de um pico intensamente brilhante na imagem do meio que rapidamente desvaneceu.

“Ninguém sabia o que dizer”, recorda Ho. “Nunca tínhamos visto nada assim antes – algo tão rápido e com um brilho tão forte como o da explosão original meses depois – em nenhuma super-nova ou FBOT. Nunca tínhamos visto isso, ponto final, em astronomia”.

Para aprofundar a investigação sobre o abrupto aumento de brilho, os investigadores envolveram parceiros que contribuíram com observações de mais de uma dúzia de outros telescópios, incluindo um equipado com uma câmara de alta velocidade.

A equipa passou a pente fino os dados anteriores e trabalhou para excluir outras possíveis fontes de luz. A sua análise acabou por confirmar pelo menos 14 impulsos de luz irregulares durante um período de 120 dias, provavelmente apenas uma fracção do número total, disse Ho.

“Surpreendentemente, em vez de desvanecer de forma constante, como seria de esperar, a fonte voltou a brilhar por breves instantes – e de novo, e de novo”, disse. “Os LFBOTs já são uma espécie de evento estranho e exótico, por isso este foi ainda mais estranho”.

Os processos exactos que estiveram em acção – talvez um buraco negro a canalizar jactos de material estelar para o exterior a uma velocidade próxima da da luz – continuam a ser estudados.

Ho espera que a investigação avance com objectivos de longa data para mapear como as propriedades das estrelas, em vida, podem prever a forma como vão morrer e o tipo de cadáver que produzem.

No caso dos LFBOTs, a rotação rápida ou um forte campo magnético são provavelmente componentes chave dos seus mecanismos de lançamento, disse Ho. É também possível que não sejam super-novas convencionais, mas sim desencadeadas pela fusão de uma estrela com um buraco negro.

“Poderemos estar a assistir a um canal completamente diferente para os cataclismos cósmicos”, disse.

As explosões invulgares prometem dar uma nova visão dos ciclos de vida estelares, normalmente só vistos em instantâneos de diferentes fases – estrela, explosão, remanescentes – e não como parte de um único sistema, disse Ho. Os LFBOTs podem representar uma oportunidade para observar uma estrela no ato de transição da vida para a morte.

“Porque o cadáver não fica ali sem fazer nada, está activo e a fazer coisas que podemos detectar”, disse Ho. “Pensamos que estas erupções podem estar a vir de um destes cadáveres recém-formados, o que nos dá uma forma de estudar as suas propriedades depois da sua formação.”

// Universidade de Cornell (comunicado de imprensa)
// ICE-CSIC (comunicado de imprensa)
// Universidade de Tecnologia de Swinburne (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)
// Artigo científico (arXiv.org)

CCVALG
21 de Novembro de 2023


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208: Cientistas descobrem a origem do misterioso asteróide Kamo’oalewa

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // ASTERÓIDES

Seria de esperar que os astrónomos já tivessem descoberto todos os asteróides e cometas próximos da Terra. Mas não é o caso.

Juan A. Sanchez/PSI

Segundo o Wired, alguns escondem-se em órbitas difíceis de detectar, porque a sua descoberta requer olhar directamente para o Sol.

Um desses objectos — chamado Kamo’oalewa — escapou à detecção até há cerca de sete anos, mas a sua origem sempre foi misteriosa… até agora.

Os astrónomos detectaram, pela primeira vez, o Kamo’oalewa com um telescópio no cimo do vulcão Haleakalā, em Maui, no Havai, e deram-lhe um nome havaiano que significa “objecto celestial oscilante“.

É considerado um “quase-satélite” da Terra, uma vez que daqui parece ser um companheiro constante — embora fraco — como uma lua distante. Mas, na verdade, está a pairar além da esfera de influência gravitacional do nosso planeta e orbita o Sol e não a Terra.

Desde do início que Renu Malhotra, astrónoma da Universidade do Arizona, suspeitou que não provinha de um cinturão de asteróides — a origem da maioria dos objectos próximos da Terra.

“A partir das propriedades da órbita, percebemos que era diferente de outros asteróides próximos à Terra e poderia potencialmente ter uma origem diferente”, diz Malhotra.

A sua equipa mediu o espectro de luz, que se assemelhava suspeitosamente ao dos silicatos encontrados na Lua e não nos asteróides.

Os resultados publicados em 2021 demonstram que, em teoria, um rochedo espacial de 50 metros, que se move de forma descontrolada, foi expelido da Lua, devido ao impacto de um asteroide há milhões de anos.

Agora, a equipa descobriu que a órbita oscilante de Kamo’oalewa é, de facto, consistente com essa teoria e publicaram a sua descoberta no mês passado.

Malhotra e o estudante de doutoramento Jose Daniel Castro-Cisneros utilizaram modelos numéricos para simular as formas como um pedaço de rocha lunar poderia ter sido projectado para uma trajectória espacial.

Modelaram possíveis colisões de asteróides com a superfície da Lua que poderiam ter lançado pedaços de rególito com velocidade suficiente para atingir a velocidade de escape, o que significa que não cairiam de volta à superfície.

Depois, modelaram as órbitas subsequentes dessas rochas e avaliaram se alguma acabou numa trajectória semelhante à de Kamo’oalewa. Algumas acabaram.

Esta investigação envolve modelar uma ampla gama de trajectórias possíveis que os fragmentos lunares poderiam seguir após serem ejectados por um impacto.

Malhotra e Castro-Cisneros concluíram que uma órbita como a de Kamo’oalewa é rara, mas não é impossível, surgindo em 0,8% dos cenários que exploraram.

A sua análise parece convincente, diz Andrew Rivkin, cientista planetário no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, que estuda a composição dos asteróides e que não esteve envolvido no artigo.

Rivkin enfatiza que Kamo’oalewa é um objecto invulgar. Dos cerca de 80.000 meteoritos recolhidos na Terra, apenas uma pequena percentagem provêm da Lua, e dos 1.382 meteoritos que caíram e foram observados e documentados por pessoas, nenhum era lunar.

Os investigadores concluíram que Kamo’oalewa, provavelmente, tem estado por aí durante milhões de anos, mas a sua órbita não é estável, graças ao clássico problema dos três corpos, no qual a influência gravitacional caótica de três corpos — a Terra, o Sol e Kamo’oalewa —, eventualmente, o empurrará para fora e voará para longe.

A investigação astronómica continua. Os investigadores agora estão a tentar localizar a cratera precisa de onde Kamo’oalewa foi lançado.

A proveniência lunar de Kamo’oalewa também tem implicações para os asteróides potencialmente perigosos para a Terra que a NASA e outras organizações procuram nos céus.

Significa que as pessoas também devem considerar órbitas provenientes da Lua, não apenas rochas lançadas do cinturão de asteróides.

A NASA está à procura de asteróides com 140 metros de diâmetro e maiores, semelhantes em tamanho ao que a sonda DART colidiu para testar técnicas de deflexão.

Objectos próximos da Terra provenientes de impactos lunares antigos provavelmente teriam 100 metros ou menos, diz Malhotra, mas ainda assim são conhecidos como “assassinos de cidades“, suficientemente perigosos para causar destruição generalizada se atingissem a Terra.

Esse provavelmente não será o destino de Kamo’oalewa, mas a investigação de Malhotra e Castro-Cisneros mostra que, provavelmente, existem outros objectos semelhantes em algum lugar.

 Teresa Oliveira Campos, ZAP //
20 Novembro, 2023


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207: E como não chegaríamos aqui?

 

🇵🇹 OPINIÃO

“Ministério Público: como chegámos aqui?”, perguntava ontem no Público a procuradora geral adjunta Maria José Fernandes. Uma pergunta que se responde no seu corajoso e lúcido texto de opinião: há muito que aqui estávamos.

Quando li que entre as transcrições de escutas da Operação Influencer tinham sido detectados vários erros, confesso não ter achado surpreendente.

E há um motivo específico para tal que não apenas o de errar ser completamente humano; é que já tive o grato prazer de ler transcrições de escutas telefónicas nas quais fui, como se costuma ler na imprensa da especialidade, “apanhada” (todo um programa nesta palavra) – querendo dizer que fui escutada “fortuitamente” quando liguei para números de telefone que estavam sob escuta por parte da justiça.

Há poucas coisas mais estranhas que ler a interpretação que alguém faz de conversas ou de mensagens telefónicas que trocámos com outras pessoas. E digo interpretação porque, numa primeira fase dos processos, aquilo que está nas transcrições não é o registo exacto do que foi dito, mas resumos, ou seja aquilo que as pessoas que escutam consideram “o essencial” do que as pessoas escutadas disseram.

Quando li esses resumos – muitos anos depois de me confrontar com “notícias” que por sua vez interpretavam essas interpretações, e que foram publicadas quando o processo em causa não era ainda de acesso público, significando que eu própria não podia sequer, nessa fase, aquilatar da justeza das interpretações jornalísticas (chamemos-lhe assim, mesmo se em muitos casos havia zero de jornalismo, se entendido no rigor das suas regras, nessas “notícias”) – maravilhei-me duplamente.

Pelo facto de conversas sem qualquer interesse para a descoberta de uma qualquer verdade “criminal” terem sido transcritas – o que implicava terem sido valoradas por autoridade judiciais como meio para a descoberta dessa mesma verdade – e pela forma como tinham sido “noticiadas”.

Houve por exemplo “notícias” em que me foram atribuídas conversas que eram afinal, percebi nas transcrições (e digo percebi porque, sabendo que nunca as tinha tido, não havia como saber por que raio mas atribuíam), de outras pessoas que não eu; houve “notícias” em que me foram imputadas intenções totalmente inversas daquelas que estavam em causa nas conversas; e houve “notícias” que simplesmente comungavam das interpretações de total má fé – não é possível chamar-lhe outra coisa – de quem transcreveu.

Há muitos exemplos, mas não tendo nesta coluna espaço infinito, darei apenas um: saíram “notícias” sobre aquilo que seria a narrativa de um modus operandi criminal de um arguido como tendo-me sido comunicada por uma pessoa que viria a ser também arguida (e que estava já sob escuta) quando afinal a conversa em causa constava da leitura que essa pessoa estava a fazer-me dos jornais que comprara nesse dia, na sequência da detenção de três dos arguidos do processo.

Extraordinariamente, nos resumos das escutas, ninguém achara importante anotar que aquela conversa era isso mesmo: alguém a ler narrativas jornalísticas que por sua vez, em perfeita pescadinha de rabo na boca, se baseavam na narrativa da própria autoridade judiciária que estava a escutar – e a minha reacção e da outra pessoa a tais revelações.

Contado assim, parece até cómico, não é? Sucede que não, não tem graça nenhuma perceber a que ponto se pode chegar, não só no desrespeito pelas pessoas, como (talvez ao menos isto para a maioria – que tão bem parece conviver com a devassa tantas vezes absolutamente gratuita, com o único intuito de achincalhar e destruir, da vida dos outros – seja relevante) no desprezo por aquilo a que costuma chamar a “verdade material”.

Que esse desprezo exista no mundo infecto dos tablóides (cada vez mais hegemónico na comunicação social portuguesa, mesmo nos órgãos que se afirmam “de referência”) é mau que chegue; constatar que as próprias autoridades judiciárias empenham em algo com a gravidade de escutas a seriedade e o rigor de um qualquer tabloideiro é aterrorizador e talvez explique por que motivo há processos que se arrastam sem conclusão à vista: chama-se muito simplesmente incompetência.

Claro que deveria, muito antes de novembro de 2014 – como é evidente, tenho estado sempre a falar da minha experiência pessoal como pessoa escutada fortuitamente no âmbito da Operação Marquês -, saber que essa incompetência malévola, que faz de inquéritos judiciais processos de intenções os quais, não raro, se esboroam perante a sindicância de magistrados que levam a sério a sua responsabilidade de aplicar a lei sem olhar a quem, não é incomum na justiça portuguesa.

Nunca esqueci que um dos “indícios” do processo Casa Pia apontado em “notícias” (indício de quê, desde logo?) era uma conversa de Paulo Pedroso com um homem a quem o ex-governante chamava “menina” e que a investigação não conseguira identificar – conversa que, viemos a saber porque a pessoa em causa se revelou publicamente, era afinal com uma mulher (e, claro, nada tinha a ver com o objecto da investigação; como é sabido, Pedroso, depois de ter estado preso preventivamente mais de seis meses, e de ter a vida destruída pela monstruosa suspeita de abuso sexual de menores, veria o Tribunal de Instrução Criminal decidir, em maio de 2004, não haver indícios que permitissem levá-lo a julgamento, acabando por, 14 anos depois, ganhar no Tribunal Europeu de Direitos Humanos o direito a ser indemnizado pelo Estado Português em 68 mil euros por ter sido vítima de detenção ilegal).

Mas mesmo tendo noção de que coisas dessas aconteciam, mesmo tendo como jornalista reportado tantas vezes sobre incompetência e desmandos das polícias, do ministério público, de juízes, tantas vezes me ter deparado com situações de injustiça pungente e revoltante, nunca me tinha acontecido a mim — e não há nada, na forma como vimos e sentimos as coisas, que substitua acontecer connosco.

E porque vos conto tudo isto? Para já porque o efeito desses “erros” (chamemos-lhes assim) perdura na minha vida, e perdurará decerto até ao seu fim, por mais acções que intente (e ganhe) contra quem quis deles fazer a minha condenação na praça pública – já que não fui indiciada fosse do que fosse, restava isso.

E porque quem quer que seja que cometeu esses “erros” continua decerto alegremente a fazer o que fazia, como fazia – tenha-se ou não demonstrado que a forma como “investiga” e acusa resulta em processos coxos, megalómanos e infindáveis que desembocam em becos sem saída ou na mais que provável prescrição.

Porque nunca existiu aquilo a que um ex-presidente da República deu o nome de “sobressalto cívico” em relação à forma corrupta e corruptora do regular funcionamento das instituições democráticas – e portanto da democracia – como o sistema judicial se tem aliado a uma cultura jornalística tablóide para, nas palavras da procuradora geral adjunta Maria José Fernandes no seu artigo de opinião no Público (“Ministério Público: como chegámos aqui?”) que incendiou esta segunda-feira, exercer “a investigação criminal como uma extensão de poder sobre outros poderes, sobretudo os de natureza política”, sendo quem se opõe a essa prática “rotulado [de] protector dos corruptos”.

Porque alguém como António Costa, malgrado ter vivido de tão perto as perversidade inomináveis do Processo Casa Pia, nunca teve a coragem de tentar, mesmo se a isso desafiado por Rui Rio, pensar uma forma de fazer da justiça portuguesa uma instituição menos manobrável por poderes ocultos, mais eficiente e mais – passe o pleonasmo – justa.

Não cabe apenas a Costa, evidentemente, o ónus de nestes quase 50 anos de democracia nada ter sido feito nesse sentido, e não é despiciendo para esse imobilismo que o PS esteja, vai fazer uma década, assombrado pela acusação de corrupção a um ex-secretário-geral e ex-primeiro-ministro.

Mas o seu – de Costa e do PS – tão tacticista quão ingénuo “à justiça o que é da justiça, à política ou que é da política”, encontrou-se a 7 de Novembro com a sarcástica comprovação da sua impossibilidade. A justiça arrombou a porta que nunca existiu.

Como chegámos aqui, pergunta Maria José Fernandes no seu corajoso e lúcido artigo. Como não chegaríamos, se já aqui estávamos há tanto tempo?

DN
Fernanda Câncio
21 Novembro 2023 — 00:35


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206: O cronista confessa-se

 

🇵🇹📚 OPINIÃO

Que tempo este em que falar de árvores é quase um crime,
porque seria esquecer tantas
injustiças.

Bertolt Brecht

O cronista gostaria de soltar a sua escrita e falar, não de árvores, mas de viagens, não de flores, mas de memórias. Mas interpõe-se e impõe-se à sua escrita, como o elefante no meio da sala de que falava na última crónica, o momento político que atravessamos.

É um estranho país, este em que vivemos desde o dia 7 de Novembro. Sou filho de juiz e nos tempos de meu pai havia uma regra, que se perdeu, chamada “segredo de justiça”.

Hoje, basta ser mencionado por um suspeito ou por uma testemunha num processo, para se ser publicamente incriminado. Eu sei o que o meu pai pensaria disto, mas não o tenho já neste mundo para poder falar com ele.

Já tivemos uma “república de juízes”, a Itália dos processos das “Mãos Limpas”, que destruiu, ou fez implodir, o sistema político italiano. Seguiu-se a este terremoto o incorruptível Berlusconi e, depois de Governos chefiados por técnicos económicos e não por políticos, chegámos ao Governo de extrema-direita da sra. Meloni.

É fácil de compreender o mecanismo que leva a generalizar a corrupção que temos à vista com todo um sistema político na sua globalidade e avançar o combate contra ele, sem ponderar a legalidade do procedimento, nem os seus efeitos prováveis.

Quando eu era jovem, também acreditava que só a destruição total do sistema económico capitalista poderia levar à construção de um mundo novo, em que os amanhãs começassem a cantar.

Com o tempo e seguindo o aforismo de Willy Brandt (“quem não foi comunista aos 20 anos não tem coração; quem não se tornou social-democrata aos 40 não tem cabeça”) tornei-me social-democrata. Não quero destruir o capitalismo, mas regulá-lo e pô-lo ao serviço do interesse público.

Mas a social-democracia não pode ser uma máscara para dar um rosto humano ao neoliberalismo extremo, que nos Anos 80 do século passado, veio substituir o liberalismo com algumas preocupações e compromissos sociais, por uma ideologia claramente anti-social.

Entre nós, essa transformação do liberalismo com preocupações sociais em liberalismo declaradamente anti-social chegou com a troika e seus servidores.

Friedrich von Hayek, o grande economista liberal, ao ver nascer o Sistema Nacional de Saúde no Reino Unido, considerou que estava a ser dado um passo fatal no “caminho para a servidão” que conduzia aos totalitarismos.

Essa ideia de combate ao Estado Social, afastada algum tempo pelos próprios liberais face às necessidades do pós-guerra, voltou a comandar as políticas liberais desde Margaret Thatcher, aquela que duvidava da própria existência de uma sociedade…

A social-democracia, que tem um pensamento próprio e que defende (ou devia defender) um Estado estratega e interventor e combate (ou devia combater) a rendição da economia real e produtiva aos especuladores financeiros, tem de assumir claramente as suas diferenças em políticas públicas com os extremistas neoliberais.

Por isso, o momento que atravessamos é fundamental para o nosso futuro. Os servidores da troika continuam e continuarão a querer ir além da troika. Os inimigos da democracia continuam e continuarão a colocar-se como a única alternativa a um sistema corrupto.

Só uma afirmação claramente social-democrata, que rejeite a mentira do TINA (There is no alternative), poderá dar esperança aos descrentes do sistema e oferecer um caminho viável para enfrentar as crises que ameaçam a democracia, bem como os seus fautores.

Como prometi uma confissão, faço-a e chamo-lhe declaração de interesses: sou socialista (que surpresa, leitor!) e, não obstante toda a amizade e consideração que tenho por José Luís Carneiro, com quem tive o gosto de trabalhar, sou apoiante de Pedro Nuno Santos. E que o futuro nos traga o equilíbrio e a moderação necessários para que eu possa falar de árvores sem remorsos.

Diplomata e escritor

DN
Luís Castro Mendes
21 Novembro 2023 — 00:43


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Chega p’ra lá

 

🇵🇹 OPINIÃO

Primeiro era apenas o projecto de um homem só, a quem ninguém deu importância até ele ser eleito. Um dissidente do PSD que, tal como outros dissidentes de partidos de direita e esquerda, não ia a lado nenhum. Depois de eleito, também não incomodava ninguém, era o tal homem só, e, como ele, havia outros deputados únicos no Parlamento.

Ainda lhe quiseram fazer um cordão sanitário de acesso ao hemiciclo, porque nem se queriam cruzar com ele no corredor. Tratava-se de um grilo falante que ninguém quer escutar, mesmo quando a consciência do grilo está, por vezes, certa.

Depois veio a maioria absoluta e o homem já não estava sozinho, era líder do terceiro partido com mais votos no país. E, finalmente, começaram a levá-lo a sério. Tarde demais.

As sondagens, a que todos dão demasiada importância – apesar de dizerem que não têm importância nenhuma – foram avisando consistentemente para a subida do partido de um homem só.

Agora que se tornou impossível ignorar o elefante dentro do Parlamento, a narrativa é contra o programa e a ideologia do partido, mas sempre em defesa dos eleitores dele.

Sim, porque neste sistema democrático, que é o pior sistema à excepção de todos os outros, os eleitores zangados, desiludidos, cansados, ignorados e esquecidos, estes eleitores andam há 50 anos à espera de amanhãs que cantam e esses dias nunca mais chegam.

Chega, terão pensado eleitores de todos os partidos que confluíram com votos para o pastor evangélico, para o messias que diz ter a resposta para todos os problemas.

Cada voto no Chega é o reconhecimento do falhanço dos outros partidos todos. Os que são democráticos de verdade e os que se dizem democráticos mas, por serem de esquerda, são revolucionários.

Quase quase nos 50 anos de democracia, há muitos, muitos milhares, senão mais, que ficaram para trás. São sempre os mesmos, os que vão às quatro da manhã para a fila do centro de saúde, os que são pobres mesmo trabalhando, os que acabam a pedir comida nas instituições públicas e, sobretudo, nas privadas e voluntárias. Os que ficam fora do discurso político, porque nem sequer entendem “o que eles dizem”.

É a estes eleitores, e a muitos que tinham desistido de votar, que já não chegam apenas palavras de circunstância e uma caneta na campanha eleitoral. O país mudou, tornou-se mais reivindicativo e mais informado, mais exigente e menos tolerante.

Nas próximas eleições, todos os partidos vão à procura destes eleitores. Talvez cheguem tarde. Talvez alguém tenha Chega(do) primeiro e os tenha conquistado.

Cada voto no Chega é o reconhecimento do falhanço dos outros partidos todos. Os que são democráticos de verdade e os que se dizem democráticos mas, por serem de esquerda, são revolucionários.

Revolução só há uma e foi há 50 anos. Pode ser que, desta vez, os partidos tenham percebido que chegou a hora das pessoas. E que isso não seja apenas um slogan para os cartazes, mas um compromisso de mudança, de futuro e de progresso. Março está a caminho.

Jornalista

DN
Pedro Cruz
21 Novembro 2023 — 00:30


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204: Prepare-se para o frio. Temperaturas vão cair até 7 graus

 

🌦️ METEOROLOGIA // 🇵🇹 PORTUGAL // 🥶 FRIO

Estão previstas “máximas a rondar os 13 a 14/15 graus e mínimas entre 1 e 5 graus no interior, 0 graus nos locais mais abrigados e no restante território entre 6 a 12 graus “, segundo meteorologista do IPMA.

© NUNO VEIGA/LUSA

Depois de semanas com temperaturas muito acima da média, Portugal continental vai registar a partir de hoje máximas e mínimas típicas para o mês de Novembro devido a uma massa de ar polar, segundo a meteorologista Maria João Frada.

Em declarações à Lusa, a meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicou que as temperaturas vão descer significativamente hoje na ordem dos 3 a 5/6 graus ou até 7 graus em alguns locais do continente, relativamente a segunda-feira.

“Apesar da descida, as temperaturas estão dentro da média para esta altura do ano. O que têm estado é muito acima da média até 19 de Novembro. Para hoje estão previstas máximas a rondar os 13 a 14/15 graus e mínimas entre 1 e 5 graus no interior, 0 graus nos locais mais abrigados e no restante território entre 6 a 12 graus “, disse.

De acordo com Maria João Frada, esta descida da temperatura está associada a um fluxo de norte que transporta uma massa de ar polar na circulação do anticiclone relativamente intenso que está a oeste/sudoeste das Ilhas Britânicas.

“Essa massa além de ser mais fria e responsável pela descida das temperaturas traz também vento associado. Apesar de as temperaturas estarem dentro da média para a época, o vento vai dar sensação de frio”, disse.

Segundo a meteorologista do IPMA, na quarta-feira está prevista nova descida de 2 a 3 graus das temperaturas, diminuição do vento e noites frias.

“Para os próximos dias, o frio vai manter-se e não está prevista precipitação pelo menos até ao fim de semana”, disse.

DN/Lusa
21 Novembro 2023 — 08:11


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Peskov diz que filha passou “dificuldades” em Paris e é ridicularizado

 

🇷🇺☠️ PESKOV // 🇷🇺☠️ MOSCÓVIA // 🤡 CIRCO

Influenciadora e empresária de sucesso. Afinal, o que se sabe sobre Elizaveta Peskova?

© Reprodução Instagram / Elizaveta Peskova

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, está envolto em críticas, tendo mesmo sido chamado de “mentiroso patológico”, depois de afirmar que a sua filha, de 25 anos, Elizaveta Peskova, vivia em “condições espartanas” e lutou para sobreviver enquanto estudou em Paris.

A filha do porta-voz do presidente russo é co-proprietária de uma empresa de planeamento de eventos e dirige uma fundação cultural russo-francesa. Tal como noticiou o The Times, Elizaveta Peskova é uma dos muitos familiares de responsáveis ​​russos que desfrutaram de uma vida confortável na Europa, onde morou com a mãe, antes de regressar a Moscovo, há cerca de cinco anos, e se formar no prestigiado Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo.

Contudo, o seu pai decidiu dar outra versão dos factos e acabou ridicularizado. Em entrevista ao canal de televisão estudantil MGIMO 360, na sexta-feira, Peskov afirmou que a filha nunca foi uma “mazhor” – uma palavra usada na gíria russa para descrever os filhos de funcionários governamentais e empresários que são privilegiados.

“A minha filha nunca foi uma criança ‘mazhor‘”, disse Peskov. “Ela teve uma vida muito complicada, uma educação complicada”, acrescentou, referindo que, no tempo que passou a estudar em França, viveu “em condições muito espartanas”.

“Ela foi forçada a superar um grande número de dificuldades, passou muito tempo a tentar encontrar-se e, graças a Deus, agora estabeleceu-se… e tornou uma mulher de sucesso”, acrescentou ainda.

De realçar que Peskova se mudou para Paris com a mãe, Ekaterina Solotsinskaya, depois da separação dos pais, e viveu lá durante vários anos, tendo frequentado, inclusive, a EDC Paris Business School.

“Uma coisa é seres realmente um ‘mazhor’ e viveres bem, quando não tens nada a que aspirar, mas outra coisa é quando todos os dias precisas de superar problemas: onde alugar uma casa um pouco mais barata, como economizar dinheiro para poder comprar umas jeans novas no final do mês”, exemplificou.

Contudo, as declarações de Peskov contrastam com a página de Instagram de Elizaveta Peskova, rede social onde tem milhares de seguidores e exibe um estilo de vida de luxo.

Uma das pessoas a criticar Peskov foi Lyubov Sobol, assessora de Navalny, que partilhou uma fotografia de Elizaveta numa jacto particular e escreveu: “Condições espartanas de acordo com o mentiroso patológico Peskov”, lê-se na legenda, segundo cita a imprensa internacional.

Uma investigação da fundação anti-corrupção de Navalny avançou, anteriormente, que a jovem e mãe haviam comprado um apartamento no centro de Paris, no valor de 1.8 milhões de euros.

Além disso, a sua empresa de eventos tem o Ministério do Comércio e Indústria da Rússia e outras agências governamentais entre os seus clientes, tendo aumentando substancialmente os seus lucros comparativamente a 2022.

De realçar que a filha de Peskov foi alvo de sanções por parte dos EUA e da União Europeia na sequência da guerra na Ucrânia. Na altura, o Tesouro dos Estados Unidos justificou as sanções alegando que os familiares do porta-voz do Kremlin tinham “estilos de vida luxuosos que são incongruentes com o salário de funcionário público de Peskov”.

Note-se que, em 2019, Elizaveta já havia sido notícia por estar a estagiar no Parlamento Europeu com Aymeric Chauprade, então eurodeputado dissidente da Frente Nacional francesa, que tinha sido conselheiro de Marine Le Pen para os Assuntos Internacionais.

Na altura, Chauprade garantiu que Elizaveta era remunerada com mil euros por mês, como todos os seus estagiários, e só tinha acesso a informação pública.

Notícias ao Minuto Notícias ao Minuto
20/11/23 18:53
por Notícias ao Minuto


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