153: Mais Europa precisa-se

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🇵🇹 OPINIÃO

As eleições europeias têm sido sempre um parente pobre actos eleitorais. Ou os partidos não lhes dão grande relevância ou usam-nas como testes aos governos e às suas lideranças ou aproveitam-nas para fazer política interna. Desta vez é provável que sobressaia a primeira hipótese.

Teremos eleições legislativas em Março e um novo governo em Abril ou Maio, dependendo se teremos negociações mais fáceis ou mais difíceis para um dos dois maiores partidos conseguir uma aliança. Ora as eleições para o Parlamento Europeu serão em Junho.

O país vai estar a viver na ressaca das legislativas e a analisar os primeiros passos do novo governo. Um ambiente em tudo propício para, mais uma vez, não se falar da União Europeia, que caminho deve seguir, que políticas deve implementar e o que cada partido pretende fazer no Parlamento Europeu.

O que a União Europeia decide é hoje profundamente preponderante na vida de cada cidadão. Basta dizer que mais de metade das leis aprovadas no parlamento português são “leis” vindas da União Europeia.

Mas há, de facto, um relativo desinteresse por parte das populações europeias sobre as instituições europeias, as políticas europeias e os temas comuns a todos os europeus. Há diferentes culpados para que isto aconteça.

As próprias instituições europeias são as primeiras culpadas, nomeadamente a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia. Estes organismos deviam ser os principais interessados em divulgar o que fazem e a promoverem bastante melhor as suas competências.

Há muito tempo que devia haver órgãos de comunicação social públicos europeus, nomeadamente televisão e rádio, à semelhança do que acontece com cada Estado europeu. E estes canais deviam estar obrigatoriamente posicionados logo após as estações nacionais, tanto no cabo como na TDT no caso da televisão. Por outro lado, é fundamental uma melhor publicitação de todos os investimentos europeus em cada um dos Estados.

A maioria dos portugueses nem sequer imagina que sem União Europeia não haveria dinheiro para metade das obras do Estado (do governo ou das câmaras).

Os actores políticos são os segundos culpados pela falta de interesse das populações pelas questões europeias. Os governos raramente referem a União Europeia como a grande investidora no país, preferindo ficar com os louros nas inaugurações das obras públicas.

E há mesmo uma narrativa que atravessa todos os partidos de poder, nomeadamente no PS e no PPD: quando as coisas correm bem é porque o seu governo fez bem, quando as coisas correm mal é porque a União Europeia não permitiu que se fizesse bem. E há mesmo aqueles que culpam a União Europeia pela relativa pobreza do país.

Ou são as políticas impostas ou é a existência de uma moeda como o euro. Todo um discurso que tenta disfarçar as suas próprias incompetências. Quanto ao euro ser um factor que obstaculiza o nosso desenvolvimento basta ver como Estados com o euro que estavam bem atrás de Portugal já nos ultrapassaram.

Os terceiros culpados são os órgãos de comunicação social. Ou porque se aliam à narrativa dos políticos ou porque desprezam em geral a política europeia.

Dada a importância do que acontece em Bruxelas é incompreensível que as televisões, os jornais e as rádios tenham apenas um único correspondente na capital europeia e que não haja todos os dias notícias vindas do centro político europeu.

No caso das televisões e rádios o tempo dedicado a estes temas devia ser muito maior, com um maior investimento e atenção. No caso dos jornais devia haver uma secção própria dedicada à política europeia, seja a que sai das suas instituições, seja o que é noticiário dos 27 Estados da UE.

Por fim, é urgente que haja mais Europa no ensino. Mais Europa na História, mais Europa na Geografia… Mas também um maior contacto, por exemplo, com a literatura europeia.

Os alunos saem do secundário sem referências literárias francesas, espanholas, alemãs ou polacas, a não ser que tenham uma disciplina dedicada a um desses idiomas. Há um profundo desconhecimento sobre a nossa cultura comum europeia, que muitas vezes sublinha estereótipos que até roçam a xenofobia.

Quem nunca ouviu comentários preconceituosos sobre espanhóis, franceses, ingleses? Até nos canais televisivos com a maior das naturalidades, sem que ninguém se lembre de recriminar. Existe uma espécie de xenofobia do bem se for direccionada a outros povos europeus.

Há ainda um longo caminho a percorrer no que toca à europeização dos povos europeus. A União Europeia tem apenas 66 anos, a integração está longe do seu final e o sentimento de pertença a uma comunidade europeia ainda está no início.

É visível que as gerações mais novas são muito mais apegadas à Europa, à liberdade de viajar sem obstáculos pelo espaço europeu, à possibilidade de viver e trabalhar fora do seu Estado de origem e ser um cidadão pleno nesse novo Estado.

Mas é necessário que os três maiores responsáveis (UE, governos nacionais e comunicação social) façam o seu papel.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu

DN
Tiago Matos Gomes
16 Novembro 2023 — 18:59


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

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