142: Dissuasores improváveis

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– Regimes comunistas, estejam eles em que latitude estiverem, são regimes de ditadura repressiva, assassina, onde a palavra democracia não existe e onde impera a coacção sobre quem tem pretensões a oposição ao regime, com a aplicação de prisões, re-educações ideológicas, envenenamentos, assassínios, etc.. Quando se comparam os regimes fascistas do passado – Salazar com a sua PIDE, Franco, Mussolini e Hitler com o seu regime nazi apoiado nas SS -, com os regimes comunistas e imperialistas de agora, não se nota qualquer diferença processual.

🇵🇹 OPINIÃO

O encontro de Joe Biden e Xi Jinping em São Francisco poderia indicar-nos um ambiente de distensão na grande rivalidade estratégica. Mas o que parece não é.

A ascensão da China e a perda de poder relativo dos EUA serão a grande história desta e da próxima década. Tendemos a focar-nos na rivalidade entre a potência ainda dominante e a potência desafiante que cresce.

Um olhar mais fino mostra-nos que o que verdadeiramente impressiona é a supremacia de EUA e China perante o resto. A riqueza dos dois gigantes juntos é 55% superior à dos oito seguintes em bloco.

Os chineses tinham a 11.ª economia mundial no final da década de 70, a décima no final dos Anos 80, a sétima no final dos Anos 90, a terceira pelo final da primeira década deste século (ultrapassariam o Japão por volta 2009 no segundo lugar). Estarão já nos 80% do PIB dos EUA.

Mas temos de voltar à ideia inicial de “o que parece não é”: Biden, quase a completar 81 anos, está em dificuldades para a reeleição; Xi, uma década mais novo, reforçou-se como o presidente chinês mais poderoso desde Mao.

Em contra-ciclo, os EUA cresceram 4,9% no último trimestre, exactamente o mesmo que a China (que antes da pandemia crescia mais do dobro da América). Quem diria?

Em 2021, o relatório anual dos Serviços de Informação dos EUA já era claro ao identificar “grande confrontação com a China e a Rússia”. A invasão de Putin à Ucrânia e as movimentações agressivas de Pequim no Estreito de Taiwan e no Mar do Sul da China agravaram dramaticamente esses receios.

Biden acredita que Xi deveria ter acção dissuasora junto de Putin na invasão russa da Ucrânia e junto de Kim para que a Coreia do Norte não entre no apoio militar a Moscovo. A China deve ser também o travão à acção ameaçadora do Irão na guerra Israel/Hamas.

Mais de uma dezena de pacotes de sanções desde 24 de Fevereiro de 2022 deixaram a Rússia sem os seus maiores clientes dos combustíveis fósseis: os países europeus.

Isso permitiu um aumento espectacular nas compras chinesas à Rússia: 9,7 milhões de toneladas de petróleo no início deste semestre, mais do dobro de há 20 meses. Quanto à influência da China junto da Coreia do Norte, estamos conversados: Pyongyang depende em 90% do fornecimento chinês.

E o que pode fazer a China para conter a ameaça iraniana? Diminuir a compra de petróleo a Teerão. A tendência começou só há quatro anos, mas a China já recebe uma média diária de 560 mil barris de petróleo do Irão.

No início do século, o poderio de navios de guerra norte-americanos era mais do triplo dos chineses. Há dez anos, a aproximação da China já se fazia notar: 285 para 210. A China deverá atingir os 400 navios de guerra em 2025.

O objectivo da Marinha norte-americana para o mesmo ano é 355. Essa tendência é mitigada pelos chineses terem para já três porta-aviões (o Fujian, com as suas 80 mil toneladas, foi o mais recente, com novos sistemas de combate), enquanto os EUA têm 11, o que lhes dá uma vantagem estratégica muito importante (como se viu logo a seguir a 7 de outubro no Mediterrâneo oriental).

Enquanto a China tem um projecto de expansão a longo prazo, os Estados Unidos têm optado pelo retraimento estratégico. O secretário da Defesa, general Lloyd Austin, foi claro: “Os EUA estão num ponto crucial com a China e precisarão de força militar para garantir que os valores americanos, e não os de Pequim, definam as normas globais no século XXI.”

Biden garantiu que a América tem poder para liderar o apoio em duas guerras ao mesmo tempo. Mas cuidado: não disse três. Os chineses estarão à espera do que vai acontecer nas presidenciais em Taiwan, já daqui a dois meses.

A diplomacia norte-americana tem sido o maior agente de dissuasão para conter a fúria de Israel em Gaza e diminuir a ameaça de alastramento. Em vez de agressores, os EUA são os mais efectivos dissuasores no Médio Oriente.

Ao convocar Xi, Biden quer que o seu grande rival se junte ao clube dos dissuasores improváveis. Mas da China será melhor esperar mais dúvidas do que respostas. Mais ambiguidade do que assertividade. Já devíamos ter aprendido.

Autor de cinco livros sobre presidências dos EUA

DN
Germano Almeida
16 Novembro 2023 — 00:51


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator

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One thought on “142: Dissuasores improváveis

  1. – Regimes comunistas, estejam eles em que latitude estiverem, são regimes de ditadura repressiva, assassina, onde a palavra democracia não existe e onde impera a coacção sobre quem tem pretensões a oposição ao regime, com a aplicação de prisões, re-educações ideológicas, envenenamentos, assassínios, etc..

    Quando se comparam os regimes fascistas do passado – Salazar com a sua PIDE, Franco, Mussolini e Hitler com o seu regime nazi apoiado nas SS -, com os regimes comunistas e imperialistas de agora, não se nota qualquer diferença processual.

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