Lucy completa o seu primeiro “flyby” e descobre que Dinkinesh afinal é um asteróide binário!

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // LUCY

No passado dia 1 de Novembro, a NASA confirmou que a sua sonda espacial Lucy passou com sucesso pelo asteroide Dinkinesh, uma rocha espacial relativamente pequena situada na cintura principal de asteróides entre Marte e Júpiter. É um marco na viagem da Lucy, uma vez que Dinkinesh é o primeiro de 10 asteróides que a sonda irá visitar nos próximos 12 anos.

Esta imagem mostra o “nascer” do satélite à medida que emerge por detrás do asteroide Dinkinesh, tal como visto pelo L’LORRI (Lucy Long-Range Reconnaissance Imager), uma das imagens mais detalhadas obtidas pela nave espacial Lucy da NASA durante o seu “flyby” pelo asteroide binário. Esta imagem foi obtida às 16:55 (hora portuguesa) de 1 de Novembro de 2023, um minuto após a maior aproximação, a uma distância de aproximadamente 430 km. Nesta respectiva, o satélite está atrás do asteroide primário. A imagem foi melhorada e processada para aumentar o contraste.
Crédito: NASA/Goddard/SwRI/Johns Hopkins APL/NOAO

“Com base na informação recebida, a equipa determinou que a nave espacial está de boa saúde”, escreveram os responsáveis da NASA num curto blog após o “flyby”. “A equipa ordenou à nave espacial que começasse a transferir os dados recolhidos durante o encontro”.

A missão Lucy faz parte do ambicioso esforço da NASA para desvendar os segredos do passado do nosso Sistema Solar. Embora a Lucy também passe por alguns asteróides relativamente próximos, como Dinkinesh, o principal objectivo da sonda é passar por alguns asteróides troianos mais distantes, que orbitam o Sol ao lado de Júpiter, como conjuntos de seixos presos às marés gravitacionais de um rochedo gigante.

Os cientistas estão interessados em saber mais sobre esses troianos porque pensa-se que são relíquias antigas do Sistema Solar, como peças extras de Lego no “set” que construiu os planetas.

A passagem da sonda Lucy por Dinkinesh pode ser considerada um teste, uma vez que muitos dos instrumentos da nave espacial foram agora “lubrificados” enquanto recolhiam dados sobre este primeiro encontro com um asteroide – incluindo uma câmara a cores, uma câmara de alta resolução e um espectrómetro de infravermelhos.

Acerca das imagens já transmitidas: “esta é uma série espetacular de imagens. Indicam que o sistema de localização de terminais funcionou como previsto, mesmo quando o Universo nos apresentou um alvo mais difícil do que esperávamos”, disse Tom Kennedy, engenheiro de orientação e navegação da Lockheed Martin em Littleton, Colorado, EUA. “Uma coisa é simular, testar e praticar. Outra coisa é ver isso acontecer de facto.”

Embora este encontro tenha sido realizado como um teste de engenharia, os cientistas da equipa estão entusiasmados com a análise dos dados para obter informações sobre a natureza dos pequenos asteróides.

“Sabíamos que este seria o asteróide da cintura principal mais pequeno alguma vez visto de perto”, disse Keith Noll, cientista do projecto Lucy, do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland.

“O facto de serem dois torna-o ainda mais excitante. Em alguns aspectos, estes asteróides são semelhantes ao binário próximo da Terra, Didymos e Dimorphos, que a DART viu, mas há algumas diferenças realmente interessantes que vamos investigar”.

De acordo com a agência espacial, os dados destes instrumentos demorarão cerca de uma semana a ser transferidos para a Terra e a equipa está “ansiosa por ver como a nave espacial se comportou durante este primeiro teste a alta velocidade de um encontro com um asteroide”.

A seguir, a Lucy regressará à Terra para receber uma assistência gravitacional que a ajudará a aproximar-se do seu segundo alvo: o asteroide 52246 Donaldjohanson – assim chamado em homenagem ao co-descobridor do fóssil Lucy (representativo de um dos primeiros antepassados humanos, que dá nome à nave espacial), o paleoantropólogo americano Donald Johanson. O termo “Dinkinesh” é outro nome do fóssil Lucy e significa “és maravilhosa” em amárico.

// NASA (comunicado de imprensa)

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3 de Novembro de 2023


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31: Sais e materiais orgânicos observados na superfície de Ganimedes pela sonda Juno

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // GANIMEDES

A missão Juno da NASA observou sais minerais e compostos orgânicos na superfície da lua de Júpiter, Ganimedes. Os dados para esta descoberta foram recolhidos pelo espectrómetro JIRAM (Jovian InfraRed Auroral Mapper) a bordo da nave espacial durante um “flyby” pela lua gelada.

Os resultados, que poderão ajudar os cientistas a compreender melhor a origem de Ganimedes e a composição do seu oceano profundo, foram publicados dia 30 de Outubro na revista Nature Astronomy.

Esta imagem da lua joviana, Ganimedes, foi obtida pelo instrumento JunoCam a bordo da sonda Juno no dia 7 de Junho de 2021. Os dados dessa passagem foram utilizados para detectar a presença de sais e materiais orgânicos em Ganimedes.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Kalleheikki Kannisto

Maior do que o planeta Mercúrio, Ganimedes é a maior das luas de Júpiter e há muito que desperta o interesse dos cientistas devido ao vasto oceano interno de água escondido sob a sua crosta gelada.

Observações espectroscópicas anteriores efectuadas pela sonda espacial Galileo da NASA e pelo Telescópio Espacial Hubble, bem como pelo VLT (Very Large Telescope) do ESO, sugeriram a presença de sais e de substâncias orgânicas, mas a resolução espacial dessas observações era demasiado baixa para permitir uma determinação.

No dia 7 de Junho de 2021, a Juno passou por Ganimedes a uma altitude mínima de 1046 quilómetros. Pouco depois do momento da maior aproximação, o instrumento JIRAM obteve imagens e espectros infravermelhos (essencialmente as impressões digitais químicas dos materiais, com base na forma como reflectem a luz) da superfície da lua.

Construído pela Agência Espacial Italiana, o JIRAM foi concebido para captar a luz infravermelha (invisível a olho nu) que emerge das profundezas de Júpiter, sondando a camada meteorológica até 50 a 70 quilómetros abaixo do topo das nuvens do gigante gasoso.

Mas o instrumento também tem sido usado para fornecer informações sobre o terreno das luas Io, Europa, Ganimedes e Calisto (conhecidas colectivamente como as luas galileanas, em homenagem ao seu descobridor, Galileu).

Os dados JIRAM de Ganimedes obtidos durante o “flyby” atingiram uma resolução espacial sem precedentes para a espectroscopia no infravermelho – melhor que 1 quilómetro por pixel.

Com isso, os cientistas da Juno conseguiram detectar e analisar as características espectrais únicas de materiais que não são água gelada, incluindo cloreto de sódio hidratado, cloreto de amónio, bicarbonato de sódio e possivelmente aldeídos alifáticos.

Dados processados do espectrómetro JIRAM (Jovian InfraRed Auroral Mapper), a bordo da sonda Juno da NASA, sobrepõem-se a um mosaico de imagens ópticas das naves espaciais Galileo e Voyager da agência espacial, que mostram um terreno com sulcos na lua de Júpiter, Ganimedes.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/ASI/INAF/JIRAM/Universidade de Brown

Explorando outros mundos jovianos

A modelação anterior do campo magnético de Ganimedes determinou que a região equatorial da lua, até uma latitude de cerca de 40 graus, está protegida do bombardeamento energético de electrões e iões pesados criado pelo campo magnético infernal de Júpiter. Sabe-se que a presença de tais fluxos de partículas tem um impacto negativo sobre os sais e sobre os compostos orgânicos.

Durante a passagem próxima de Junho de 2021, o JIRAM cobriu uma estreita faixa de latitudes (10 graus norte a 30 graus norte) e uma faixa mais ampla de longitudes (menos 35 graus leste a 40 graus leste) no hemisfério virado para Júpiter.

“Encontrámos a maior abundância de sais e materiais orgânicos nos terrenos escuros e brilhantes em latitudes protegidas pelo campo magnético”, disse Scott Bolton, investigador principal da Juno, do SwRI (Southwest Research Institute) em San Antonio, no estado norte-americano do Texas. “Isto sugere que estamos a ver os restos de uma salmoura oceânica profunda que atingiu a superfície deste mundo gelado”.

Ganimedes não é o único mundo joviano por onde a Juno passou. A lua Europa, que se pensa abrigar um oceano sob a sua crosta gelada, também esteve sob o olhar da Juno, primeiro em Outubro de 2021 e depois em Setembro de 2022.

Agora, Io está a receber a mesma atenção. A próxima aproximação a este mundo coberto de vulcões está prevista para 30 de Dezembro, altura em que a nave espacial se aproximará a 1500 quilómetros da superfície de Io.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)

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3 de Novembro de 2023


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30: Os planetas gigantes têm um lado mortífero

 

CIÊNCIA // ASTRONOMIA // PLANETAS GIGANTES

Os planetas gigantes gasosos podem ser agentes do caos, assegurando que nada vive nos seus vizinhos parecidos com a Terra em torno de outras estrelas. Novos estudos mostram que, em alguns sistemas planetários, os gigantes tendem a expulsar os planetas mais pequenos da sua órbita e a causar estragos nos seus climas.

Ilustração que mostra como a gravidade dos planetas gigantes pode pôr em perigo exoplanetas rochosos situados na zona habitável.
Crédito: Dana Berry/Nat Geo Creative

Júpiter, de longe o maior planeta do nosso Sistema Solar, desempenha um importante papel protector. O seu enorme campo gravitacional desvia cometas e asteróides que, de outra forma, poderiam atingir a Terra, ajudando a criar um ambiente estável para a vida. No entanto, os planetas gigantes noutras partes do Universo não protegem necessariamente a vida nos seus vizinhos mais pequenos e rochosos.

Um novo artigo publicado na revista The Astronomical Journal explica em pormenor como a atracção de planetas massivos num sistema estelar próximo pode empurrar os seus vizinhos semelhantes à Terra para fora da “zona habitável”.

Esta zona é definida como o intervalo de distâncias, a uma estrela, que são suficientemente quentes para que exista água líquida na superfície de um planeta, tornando a vida possível.

Ao contrário da maioria dos outros sistemas solares conhecidos, os quatro planetas gigantes de HD 141399 estão mais longe da sua estrela. Este facto torna-o um bom modelo para comparação com o nosso Sistema Solar, onde Júpiter e Saturno também estão relativamente longe do Sol.

“É como se houvesse quatro Júpiteres a atuar como bolas de demolição, atirando tudo para fora de controlo”, disse Stephen Kane, astrofísico da Universidade da Califórnia, em Riverside, autor do artigo publicado na revista.

Tendo em conta os dados sobre os planetas do sistema, Kane efetuou várias simulações em computador para compreender o efeito destes quatro gigantes. Ele queria especificamente olhar para a zona habitável deste sistema estelar e ver se uma Terra poderia permanecer numa órbita estável.

“A resposta é sim, mas é muito improvável. Existem apenas algumas áreas específicas onde a atracção gravitacional dos gigantes não faria com que um planeta rochoso saísse da sua órbita e voasse para fora da zona”, disse Kane.

Enquanto este artigo científico mostra que os planetas gigantes fora da zona habitável destroem as hipóteses de vida, um segundo artigo, relacionado com este, mostra como um grande planeta no meio da zona teria um efeito semelhante.

Também publicado na revista The Astronomical Journal, este segundo trabalho examina um sistema estelar a apenas 30 anos-luz de distância da Terra, chamado GJ 357. Para referência, estima-se que a nossa Galáxia tenha 100.000 anos-luz de diâmetro, pelo que este sistema está “definitivamente na nossa vizinhança”, disse Kane.

Estudos anteriores descobriram que um planeta neste sistema, chamado GJ 357 d, reside na zona habitável do sistema e foi medido com cerca de seis vezes a massa da Terra. No entanto, neste segundo trabalho, Kane mostra que a massa é provavelmente muito maior.

“É possível que GJ 357 d tenha até 10 massas terrestres, o que significa que provavelmente não é terrestre, pelo que não poderia ter vida nele”, disse Kane. “Ou, pelo menos, não seria capaz de albergar vida tal como a conhecemos”.

Na segunda parte do artigo, Kane e a sua colaboradora, a bolseira de pós-doutoramento em ciências planetárias da UCR, Tara Fetherolf, demonstram que, se o planeta for muito maior do que se pensa, é certo que impedirá que mais planetas semelhantes à Terra residam na zona habitável ao seu lado.

Embora existam também alguns locais específicos na zona habitável deste sistema onde uma Terra poderia potencialmente residir, as suas órbitas seriam altamente elípticas em torno da estrela. “Por outras palavras, as órbitas produziriam climas loucos nesses planetas”, disse Kane.

“Este artigo científico é realmente um aviso, quando encontramos planetas na zona habitável, para não assumirmos que são automaticamente capazes de albergar vida”.

Em última análise, o par de artigos mostra como é invulgar encontrar o conjunto certo de circunstâncias para acolher vida noutras partes do Universo. “O nosso trabalho dá-nos mais razões para estarmos muito gratos pela configuração planetária particular que temos no nosso Sistema Solar”, disse Kane.

// UC Riverside (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (The Astronomical Journal)
// Artigo científico #1 (arXiv.org)
// Artigo científico #2 (The Astronomical Journal)

CCVALG
3 de Novembro de 2023


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“O conflito no Médio Oriente pode colocar problemas sérios a Putin”

 

SOCIEDADE // POLÍTICA // ENTREVISTAS

José Milhazes, jornalista e historiador, é o entrevistado desta sexta-feira do Vozes ao Minuto.

© Global Imagens

Mais de um ano e meio depois da invasão das tropas russas na Ucrânia começarem, a 24 de Fevereiro de 2022, o historiador José Milhazes publicou ‘A Mais Breve História da Ucrânia’, em parceria com o historiador ucraniano Vladimir Dolin.

Numa publicação que explica a história deste país desde o início dos povos eslavos, os dois autores falam de vários episódios marcantes neste percurso turbulento do país. José Milhazes falou com o Notícias ao Minuto para fazer um balanço sobre o tema, numa aproximação com a obra.

O também jornalista, que foi correspondente em Moscovo,  na Rússia, e colaborou com publicações como a BBC e a RFI, fala não só sobre o livro e a “resistência” ucraniana que tem vindo a ser fundamental para este conflito, como também da influência da mais recente guerra no Médio Oriente – e na importância que esta poderá ter no conflito no leste europeu.

[A política de Putin] é um pouco a política de Hitler, que ia avançando aos bocados e depois quando viu que tinha perante si um Ocidente impotente, decidiu conquistar tudo – mas perdeu.

O livro fala sobre as batalhas constantes que os ucranianos tiveram de travar interna e externamente. Fala, nomeadamente, que “Ucrânia” significa “terra de fronteiras” em eslavo antigo. Milénios depois, o país quer fazer jus ao seu nome, mas esta ideia ainda não está bem assente em Moscovo. Aponta não só o apoio internacional como “vital” para esta guerra, mas também o do povo. Acredita que esta resistência se vai manter ao longo do tempo, ou vai esmorecer? E tal como se lê no poema ‘Testamento’, de Taras Shevchenko, que inicia a publicação, a Ucrânia vai sempre acreditar que “o sangue vil, inimigo” será levado “para o fundo do mar”?

Tendo em conta a força e a insistência com que os ucranianos combateram ao longo da sua História, tenho razões para acreditar que a Ucrânia se vai manter como um Estado independente soberano na Europa. Claro que há muitas incógnitas. Houve, no início da guerra, quem esperasse que a Ucrânia completamente, o que não aconteceu. Os ucranianos mostraram que sabem combater e sabem defender a sua terra. Daí que penso que a Ucrânia tem futuro. A verdade é que a história da Ucrânia – daqueles povos e países – ficam nos chamados “lugares complicados” da geografia. São países que ficam nos corredores de passagem de povos. Esse factor desempenhou um grande papel na História do país e continua a ser ainda hoje.

O chefe das Forças Armadas Ucranianas, Valery Zaluzhny, disse, esta semana, num artigo publicado na publicação The Economist, que “provavelmente não haverá nenhum profundo nem bonito avanço” no que diz respeito à contra-ofensiva. Haverá uma altura em que Kyiv não terá outra alternativa a não ser fazer cedências?

Acho que o artigo do general Zaluzhny é um artigo realista, em que ele desenha a situação real das coisas. Nós sabemos que a Ucrânia, tendo de conta a desproporcionalidade em homens ou armamento, não poderia vencer esta guerra. Nem poderá, se pensarmos que uma vitória significa a derrota total do inimigo.

Como ele disse, é uma guerra de exaustão e claro que esta guerra não vai ser possível vencer pela força das armas. Aqui é procurar uma saída que permita que a Ucrânia saia com dignidade deste conflito. Sabemos que a Ucrânia não vence a Rússia exactamente pelas dimensões – em número de soldados –, mas também não foi vencida nem batida. Resistiu, recuperou uma parte do seu território e, por isso, também não se pode dizer que a Ucrânia perdeu a guerra.

Eu receio muito que uma troca de pacto por terra, por território – como muitos defendem – vai ser um erro muito grande.

Porquê?

Porque se [Vladimir] Putin conseguir ficar com partes do território ucraniano, não demorará muito tempo a vir a apresentar novas exigências – que, se não for à Ucrânia, é a outros países vizinhos da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte].

No fim de contas, a Ucrânia é a primeira trincheira da Europa

No livro parece fazer referência a essa ideia. Escreve que Napoleão foi aconselhado a invadir a Rússia a partir de território ucraniano. Este é um território estratégico para, futuramente, e num pior cenário, Moscovo alargar os seus combates? Ou seja, tomando controlo da Ucrânia, não há nada que o posso parar, como Napoleão poderá ter pensado na altura?

O que estou a dizer é, mais ou menos, isso. Putin irá até onde o deixarem ir. E, nesse sentido, vai sempre depender das condições existentes – e da forma como a Rússia vai utilizar ou não essas condições.

Em que medida?

Se o chamado Ocidente sair enfraquecido, também, da guerra do Médio Oriente – que é outra guerra que está muito ligada à Ucrânia -, se a Rússia se apresentar como uma grande vencedora, e o Ocidente não tomar as medidas necessárias para garantir a sua segurança, então aí Putin pode voltar a atacar.

Fez isso em 2008, em 2014 e está a fazer isso agora. No fundo, é um pouco a política de Hitler, que ia avançando aos bocados e depois quando viu que tinha perante si um Ocidente impotente, decidiu conquistar tudo – mas perdeu.

E, nessa altura, o apoio internacional foi vital.

Exacto.

Quando falamos em apoio internacional, falamos no apoio incondicional da União Europeia, NATO, Estados Unidos?

Há uma coisa que nós temos de ter presente. Esta guerra não é só uma guerra pela Ucrânia. Esta guerra é uma guerra pela Ucrânia e pela Europa. Porque, volto a repetir: se Putin ocupar a parte da Ucrânia, ele depois pode lançar-se noutras aventuras. No fim de contas, a Ucrânia é a primeira trincheira da Europa. Daí que é pena que o chamado Ocidente não tenha dado atempadamente o apoio necessário à Ucrânia. A Ucrânia deveria ter tido um apoio muito maior e um apoio muito mais atempado. Vemos no artigo do general Zaluzhny, ele escreve sobre o porquê de não se conseguir avançar – um dos motivos é a falta de armamentos, nomeadamente, a aviação. O Ocidente, aqui, deveria concluir que tem que se preocupar mais com a sua segurança e ajudar os vizinhos que estão do lado do Ocidente.

Estamos a falar não só dos sistemas de defesa Patriot, como também dos caças F-16, por exemplo?

Isso e muito mais – estamos a falar de armamentos modernos. Porque, em termos de homens, o desequilíbrio é muito grande a favor da Rússia – que tem muito mais potencial humano para uma guerra. E isso só pode ser compensado através de equipamentos modernos do outro lado – e que a Ucrânia tem vindo a necessitar. E se a Ucrânia não tem mais êxito essa é uma das principais razões. Porque o espírito combativo dos ucranianos não falta.

Referiu que a “Ucrânia tem futuro”. Acredita num futuro próximo no qual a Ucrânia faça parte da União Europeia ou na NATO?

Essa é uma questão a que eu não daria tanta atenção como está a ser dada e como se deu – e que se resume, muitas vezes, só a palavras.

Porquê?

Para mim, é muito mais importante que, neste momento, a Ucrânia consiga, pelo menos, alguns dos seus objectivos e depois abordarmos a questão da entrada da Ucrânia na União Europeia e na NATO. Isto irá acontecer – penso que será um processo longo. Deverá ser mais rápida para a União Europeia do que para a NATO. Estas metas da NATO e da União Europeia são importantes para os ucranianos, mas, como se costuma dizer, primeiro vamos ver como é que isto vai acabar. E, depois, já falamos o resto a seguir.

Não é a entrada ou não adesão que está a impedir a comunidade internacional de dar apoio a Kyiv.

Exactamente. É que, se não derem apoio e continuarem a discussão, depois, quando disserem “podem entrar para a NATO”, a Ucrânia pode estar a 10% do seu território. Por isso é que, muito mais importante, é primeiro garantir a segurança do território ucraniano e, depois, termos estas discussões todas.

O que aconteceu no Daguestão pode ser um sinal tão forte, ou mais forte, do que o levantamento [motim] de [Yevgeny] Prigozhin. 

Jens Stoltenberg deixará a liderança da NATO, se tudo correr como previsto, em Outubro do próximo ano. Falou-se de Robert Fico, da Eslováquia, para seu sucessor. O agora primeiro-ministro eslovaco ganhou as legislativas com uma campanha pró-Rússia e anti-americana. Caso suceda a Stoltenberg, esta pode ser mais uma batalha que Kyiv – e todos os estados envolvidos na NATO – terá de travar?

É por isso que eu digo que é prematuro estarmos a perder tanto tempo com essa discussão. Porque nós não sabemos o que é que nos espera no futuro. Estamos num período de convulsões muito rápidas. E qualquer fator pode mudar completamente a disposição das forças. Por exemplo, estávamos a falar da guerra na Ucrânia e acontece o ataque terrorista em Israel – esse é um dos factores Que veio a mudar muito esta situação.

Em que medida?

Primeiro, na medida em que esse conflito no Médio Oriente está a desviar as atenções daquilo que se passa na Ucrânia. Segundo, os apoiantes da Ucrânia têm, também, uma parte deles, significativamente, apoiantes também de Israel. Por exemplo, os Estados Unidos, que agora têm que dividir a ajuda por dois.

E, depois, é o próprio apoio internacional à Ucrânia, porque a configuração anterior é uma, hoje é outra. Por exemplo, Israel, que em relação à Ucrânia tinha uma atitude um tanto ou quanto limitada Ou, digamos, neutra entre a Rússia e a Ucrânia e neste momento é um aliado da Ucrânia – que, se conseguir os objectivos do Médio Oriente, poderá esta situação ajudar a resolver a situação na Ucrânia a favor dos ucranianos.

Há aqui muitas coisas que nós não sabemos como vão acontecer. E, por isso, quanto ao cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (até lá podem aparecer novos nomes, novas personalidades), neste momento, é preciso prestar atenção e centrar-se nos objectivos mais imediatos, que são travar as guerras e, depois falar então em nova estrutura mundial.

A situação na Ucrânia poderá ter sido um rastilho para a situação no Médio Oriente se desenrolar?

Um dos cenários possíveis é o alargamento do conflito no Médio Oriente a novas regiões – e isso aí é um perigo muito grande. Eu diria até que, num sentido, poderia até ajudar a Ucrânia, mas, por outro lado, poderia ter consequências enormes para toda a humanidade. Não só ao Médio Oriente, mas por exemplo: Putin tem mostrado toda a sua incompetência, mais do que uma vez, com os acontecimentos recentes no Cáucaso, onde nós vemos grupos de jovens extremistas islâmicos a tomar um aeroporto, incendiar um centro cultural hebraico. E isto passa-se numa região da Rússia muito sensível e muito explosiva, que é o Cáucaso, onde existe uma maioria da população muçulmana. E o conflito no Médio Oriente pode alargar-se até ali e colocar sérios problemas ao próprio Putin.

Como?

Porque serão movimentos, a aparecer nessa região, que vão contestar a política de Putin. E, nesse sentido, não imaginem, nem acreditem, quando Putin diz que “está tudo calmo e não há problemas religiosos nem coisa nenhuma na Rússia”. Isso é o que ele diz. Outra coisa é o que pode vir a acontecer. O que aconteceu no Daguestão pode ser um sinal tão forte, ou mais forte, do que o levantamento [motim] de [Yevgeny] Prigozhin. Ou seja, num país como a Rússia, onde vivem numerosíssimos povos – incluindo muçulmanos e judeus -, este tipo de acontecimento é muito perigoso. Nesse sentido, nós não sabemos para onde vai a guerra no Médio Oriente e quais serão as consequências – não só para Israel, mas para outros países daquela região.

É nesse sentido que diz que pode ser mau para a humanidade, mas bom para a Ucrânia? No sentido em que poderá gerar um conflito interno e resultar em algo contra Putin?

Sim. Aí Putin vai ter que combater em várias frentes – e uma delas, as frentes internas, são extremamente perigosas para Putin.

Porquê?

Porque não se sabe como é que vão reagir as forças armadas e a polícia – quem é que vai apoiar. Uma coisa é Putin controlar a situação em geral, e depois ver que, no Daguestão, entra um bando de malfeitores pelo aeroporto aeroporto e a polícia não faz nada. Isso é mau sinal para Putin. É que Putin diz que manda em tudo e pode tudo, mas há coisas em que vemos que não é assim. Uma delas é essa.

Tanto mais em regiões como o Daguestão, onde uma parte significativa da polícia são locais – e poderão não entrar na onda de violência se for necessário reprimir algum levantamento.

No livro ‘aproxima’ ainda a Ucrânia a Portugal, na medida em que faz referência a judeus sefarditas portugueses ou mesmo à independência de Timor-Leste. Julga que a história da Ucrânia é um tema em falta nas escolas em Portugal?

Eu ando muito em escolas, faço palestras para os jovens e fico surpreendido exactamente pela pobreza dos nossos manuais de História em termos de relações internacionais. É importante estudar a História de Portugal – não há dúvida nenhuma – mas não é só o que importa. Portugal vive num meio geográfico determinado, vive no mundo. E as pessoas têm de saber que problemas há neste mundo que podem vir ou não a afectar Portugal. O nosso futuro de história nas escolas devia ser mais alargado e ligado, claro, a temas importantes, como são aqueles que vão acontecendo nos últimos anos. É preciso que os jovens tomem consciência de que estamos a caminhar para um mundo muito incerto e que serão eles que terão de resolver os problemas. A juventude tem de ter consciência do mundo difícil em que vive e de que as crises que vamos atravessar irão ser também muito difíceis – e participar na vida social e política de forma a minimizar os perigos que nos esperam.

Notícias ao Minuto Notícias ao Minuto
03/11/23 08:39
por Teresa Banha


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28: Quantidade de água subiu em nove as bacias hidrográficas e desceu em três

 

🇵🇹 PORTUGAL // 💦BACIAS HIDROGRÁFICAS

Os armazenamentos de Outubro de 2023 por bacia hidrográfica apresentaram-se em geral superiores às médias de armazenamento de Outubro (1990/91 a 2022/23), excepto para as bacias do Sado, Guadiana, Mira, Ribeiras do Algarve e Arade.

A quantidade de água armazenada subiu em Outubro em nove bacias hidrográficas e desceu em três comparativamente ao último dia do mês anterior, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH).

Os armazenamentos de Outubro de 2023 por bacia hidrográfica apresentaram-se em geral superiores às médias de armazenamento de Outubro (1990/91 a 2022/23), excepto para as bacias do Sado, Guadiana, Mira, Ribeiras do Algarve e Arade.

A bacia do Barlavento continua a ser a que tem a menor quantidade de água, apenas 7,6%, quando a média é de 53,4%.

Das 60 albufeiras monitorizadas, 18 apresentavam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 17 inferiores a 40%.

Segundo os dados do SNIRH disponíveis hoje, com menor disponibilidade de água estavam no final de Outubro as bacias do Barlavento (7,6%), Arade (25,5%), Mira (31%) e Sado (36,7%).

A bacia do Ave era a que apresentava maior volume de água, com 99,6% da sua capacidade, seguida da do Douro (84%), Cávado (83,3%), Lima (75,5%), Tejo (73,4%), Guadiana (67,7%), Oeste (66,9%) e Mondego (66,7%).

Os armazenamentos de Outubro de 2023 por bacia hidrográfica apresentaram-se em geral superiores às médias de armazenamento de Outubro (1990/91 a 2022/23), excepto para as bacias do Sado, Guadiana, Mira, Ribeiras do Algarve e Arade.

A cada bacia hidrográfica pode corresponder mais do que uma albufeira.

DN/Lusa
03 Novembro 2023 — 08:05


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27: Quem são os donos dos donos da TAP?

 

🇵🇹 OPINIÃO

O interesse da TAP para os seus potenciais adquirentes parece que são as suas rotas para o Brasil e, eventualmente, algumas para África e mais recentemente para os Estados Unidos, que serão rentáveis.

Não propriamente o dito hub de Lisboa, um dos piores aeroportos da Europa, esgotado, sujo, com atrasos permanentes e estruturais e a apenas 50 minutos de voo do aeroporto de Madrid, esse sim, decente e funcional.

Mas também tem vários aviões recentes ao seu serviço e tripulações experimentadas e de qualidade, que podem voar para qualquer sítio do mundo.

Aparentemente, a compra da TAP será decidida entre o grupo IAG, o grupo Lufthansa e o grupo Air France/KLM. E a ideia mais recente será vender a TAP, sem qualquer participação do Estado Português ou, existindo esta, minoritária. Ou qualquer outra coisa, porque, na verdade, ninguém sabe ou ninguém diz.

Descobrir quem são os donos efectivos destes potenciais adquirentes não é fácil. Mas é possível.

O grande accionista do grupo IAG, usualmente descrito, de forma algo enganosa, como a junção da British Airways e da Iberia (e de um conjunto de outras companhias de aviação espanholas e com grande presença em Portugal, já agora, como a Vueling ou a Air Europa), é o governo do Qatar — com mais de 25% do capital, está muito à frente do maior accionista seguinte, um de vários fundos de investimento internacionais, com cerca de 3%.

Não parece haver grandes dúvidas que, na verdade, se trata em boa medida de uma “empresa pública”, esse anátema, só que controlada pelo Estado do Qatar, com sede em Londres e cotada na bolsa de Madrid.

Parece que empresas públicas em Portugal, desde que detidas por autocracias do Médio Oriente, chinesas ou de outras proveniências longínquas, já não representam problema. O problema é mesmo serem do Estado — quando este é o português.

Air France/KLM, quem são os seus donos? Sem grande surpresa, os maiores accionistas são o Estado francês, com 28%, e o Estado holandês, com 9%, e tendo ainda o governo chinês quase 5%, através da China Eastern Airlines. Pode uma empresa com 42% do seu capital na mão de três governos ser uma empresa privada? Pode… E alguém acredita nisso?

Quanto ao grupo Lufthansa, 73% dos seus accionistas são alemães, tendo à frente, e a larga distância, o accionista Kühne Aviation, do bilionário alemão Klaus-Michael Kühne, com mais de 15% do capital. A seguir, muito atrás, vem o fundo de investimentos Black Rock, com 3%, também accionista, aliás, da IAG.

Parece tudo muito privado, certo? Mas o Estado alemão rapidamente adquiriu 20% da companhia, durante o período pandémico, que levou os governos a salvarem companhias de aviação.

Segundo declarações publicadas, curiosamente esse valor já foi compensado na venda da quota pública, tendo sido devolvido também o valor dos empréstimos públicos recebidos, com lucro relevante para o Estado alemão (lucro de 760 milhões de euros, vê-se na imprensa). Dizia o presidente da Lufthansa: “A estabilização da Lufthansa foi bem-sucedida e lucrativa para o governo alemão e para os contribuintes”. Seria bom de ver qualquer coisa semelhante por aqui.

Convencermo-nos de que o Estado é mau gestor por princípio, ou até apenas um mau accionista, mesmo quando minoritário, está no plano do pensamento mágico. A TAP, recentemente, 100% pública, parece que deu lucro.

Mas também estará no plano do pensamento mágico achar-se que, com uma empresa privada de aviação, mesmo que chamada TAP, ela tem de cumprir um papel emocional permanente, financeiramente exigente, do género usar o aeroporto de Lisboa para grande parte das suas operações ou incluir uma percentagem relevante de fornecedores nacionais ou trabalhadores nacionais.

Se a TAP ainda existe e pode até ser lucrativa, isso seguramente se deveu a uma circunstância temporal e uma equipa de gestão que actuou num tempo em que desapareceram as maiores companhias de aviação do Brasil (a Varig ou a Transbrasil, por exemplo) e soube posicionar-se para as substituir, nesse mercado de mais de 200 milhões de pessoas, em paralelo com os seus voos super-inflacionados para Angola e mais alguns.

Quisesse o Brasil ter uma grande companhia de aviação, competitiva, a TAP já seria há muito tempo o que é a Austrian Airlines ou a Swiss, essas sub-marcas da Lufthansa. Desses países de 9 milhões de habitantes, já agora.

Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

DN
Miguel Romão
03 Novembro 2023 — 00:19


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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26: A União Europeia anda com o compasso geopolítico desnorteado

 

🇵🇹 OPINIÃO

A União Europeia apanha com alguns estilhaços do confronto israelo-palestiniano. A sua política externa comum deixou, nesta crise, de ser comum. Desintegrou-se em três fracções, como se viu na recente votação na Assembleia Geral da ONU.

Mais marcante ainda, a presidente da Comissão Europeia e alguns líderes nacionais decidiram alinhar-se sem reservas com a política do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Vão mesmo mais longe que Joe Biden que, embora sustenha a liderança israelita, não se priva de recomendar, repetidamente, prudência e proporcionalidade na resposta aos actos terroristas de 7 de Outubro.

Ursula von der Leyen e os que seguiram as suas pisadas, como o chanceler alemão, a primeira-ministra italiana ou a presidente do Parlamento Europeu, ao abraçar Netanyahu devem ter-se esquecido de dois factos, pelo menos.

Primeiro, que existem na Europa importantes segmentos populacionais que se consideram próximos da causa palestiniana. Nomeadamente, mas não só, por partilharem uma visão metafísica comum e por se sentirem relativamente discriminados nas sociedades em que vivem.

A segregação e o rancor identitário constituem duas ameaças muito sérias à estabilidade social em países como a Alemanha, a Bélgica, a Dinamarca, a França, a Itália, os Países Baixos ou a Suécia, para mencionar apenas os exemplos mais evidentes.

Segundo, que uma Europa geopolítica, a ambição expressa por von der Leyen desde o início do seu mandato, exige que se projecte uma imagem de equilíbrio e ponderação. Sobretudo quando está em causa uma problemática bastante complexa.

O apoio incondicional a uma das partes exclui a Europa de qualquer futuro processo de mediação. Mais, abre espaço político para que a Rússia e a China ganhem influência nos Estados árabes, no mundo islâmico e no Sul Global.

Nesta mesma ordem de ideias, a sugestão feita por Emmanuel Macron de juntar forças europeias a uma coligação de combate aos terroristas em Gaza e arredores é um erro político ou apenas conversa fiada.

A única opção inteligente é clara: a política externa da UE no Médio Oriente deve promover a paz, os direitos humanos, a redução do sofrimento humano e fazer campanha contra os grupos extremistas e as associações terroristas. Se assim procedermos, estaremos a agir com coerência, dentro do nosso quadro de valores.

E seremos realistas, tendo em conta os limites das nossas capacidades de intervenção. Não cabe à Europa intrometer-se militarmente na região ou tomar partido para além da defesa dos princípios universais, a começar pelo valor da vida.

Nesse sentido, a grande questão que os líderes europeus devem considerar é como contribuir para que haja paz entre Israel e um Estado que seja a pátria dos palestinianos. Actuar assim seria a melhor prova de estarmos na verdade a construir uma Europa geopolítica.

É vital não esquecermos que a prioridade mais imediata e com maior impacto sobre o nosso futuro, enquanto europeus, se encontra na Ucrânia. Não podemos deixar a Ucrânia ficar diminuída e esfrangalhada às mãos da agressão russa.

Uma vitória do inimigo, por muito limitada que fosse, seria sempre uma derrota também para a Europa e uma ameaça a prazo para a segurança e a preservação da UE.

Assim, é fundamental trazer a questão ucraniana de volta para o centro das nossas preocupações estratégicas. E deixar de acreditar ingenuamente que, se estivermos em perigo, os EUA virão no segundo imediato juntar-se a nós, para nos libertar das garras do urso mau.

Os EUA têm muitos fogos a que acorrer, para além de estarem em risco de uma enorme crise política interna, agravada, nomeadamente, por uma pressão migratória sem precedentes vinda da América Central e de outras paragens.

Na frente externa, se os EUA tiverem de escolher entre Israel e a Europa, a preferência é evidente. Sobretudo, se a isso se juntar um embate violento com o Irão.

Se se tratar de uma confrontação que envolva a China, a opção americana é igualmente clara. E se se adicionar a isso alguma acção mais tresloucada de Kim Jong Un, a Europa sairá do radar de Washington.

Não propugno uma visão pessimista ou derrotista da segurança europeia. Nem este texto constitui um apanhado completo, pois não toco, para já, nem na situação nos Balcãs nem nas repercussões potencialmente negativas das migrações em massa sobre a política e as sociedades europeias.

O que aqui escrevo, neste momento de grandes tensões e de infindáveis conflitos armados, destina-se apenas a lembrar que os europeus têm os seus próprios desafios.

As nossas energias devem centrar-se na prevenção e nas respostas a esses desafios. E não entrar nas guerras dos outros fora da Europa, a não ser que seja para construir a paz ou fornecer ajuda humanitária.

Conselheiro em segurança internacional.

Ex-secretário-geral-adjunto da ONU

DN
Victor Ângelo
03 Novembro 2023 — 00:31


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25: Mais de 44.100 idosos que vivem sozinhos ou isolados sinalizados pela GNR

 

👪 SOCIEDADE // 👴 IDOSOS // ISOLAMENTO

Mais de 44.100 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou ainda em situação de vulnerabilidade, foram sinalizados pela GNR na Operação ‘Censos Sénior 2023’, que decorreu em Outubro, anunciou esta força policial.

© Shutter Stock

A GNR explica que esta operação visou garantir acções de patrulhamento e sensibilização à população mais idosa que vive sozinha e/ou isolada, alertando-a para a necessidade de adoptar comportamentos de segurança, reduzindo o risco de se tornar vítima de crimes, sobretudo violência, burla e furto.

Os distritos de Guarda (5.477), Vila Real (5.360), Viseu (3.528), Faro (3.513), Bragança (3.347) e Beja (3.230) foram os distritos nos quais mais idosos foram sinalizados, refere a GNR em comunicado.

Durante a operação, os militares realizaram uma série de acções que privilegiaram o contacto pessoal com as pessoas idosas em situação vulnerável.

No total, foram sinalizados 44.114 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, por causa da sua condição física, psicológica, ou outra que possa colocar em causa a sua segurança, explica a GNR.

No total, durante a Operação “Censos Sénior 2023” a GNR realizou 304 acções em sala e 2.651 porta a porta, abrangendo um total de 24.978 idosos.

No ano passado, a operação tinha permitido sinalizar 44.511 idosos que viviam sozinhos ou isolados.

Desde 2011, ano em que foi realizada a primeira edição da Operação “Censos Sénior”, a GNR tem vindo a actualizar a sinalização geográfica, proporcionando “um apoio mais próximo” à população idosa, o que contribui para “criar um clima de maior confiança e empatia entre os idosos e os militares da GNR”, servindo a iniciativa para também aumentar o sentimento de segurança.

Notícias ao Minuto
03/11/23 07:45
Notícias ao Minutopor Lusa


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24: Domingos afecta sábado: vem aí mais uma depressão – e mais chuva forte

 

🇵🇹🌦️ METEOROLOGIA // MAU TEMPO // DEPRESSÃO DOMINGOS

Chuva forte e persistente no sábado, no Norte e Centro, em especial no litoral e regiões montanhosas.

Alvin Leopold / Unsplash

Uma superfície frontal fria, associada à depressão Domingos, deslocando-se do Atlântico para leste, deverá afectar o continente, com chuva forte e persistente no sábado, no Norte e Centro, em especial no litoral e regiões montanhosas, informou hoje o IPMA.

De acordo com um comunicado do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a depressão Domingos, designação atribuída pelo Serviço Meteorológico de Espanha, desloca-se ao longo do Atlântico em direcção a leste, e às 12:00 de sábado deverá estar centrada a sul da Irlanda, com impacto significativo na costa norte espanhola e a região do golfo da Biscaia, “com vento e agitação marítima muito fortes”.

Apesar de Portugal continental “não ser directamente atingido pela tempestade, uma superfície frontal fria associada” irá atravessar o território no sábado, originando “períodos de chuva forte e persistente na noite e manhã de dia 04 no Norte e Centro, em especial no litoral e nas regiões montanhosas, passando gradualmente a regime de aguaceiros a partir da tarde”, lê-se na nota.

“Na região Sul, prevê-se períodos de chuva, em especial durante a tarde de dia 04, mas que será em geral moderada a fraca”, acrescenta-se.

O vento irá intensificar-se a partir do final de hoje, sexta-feira, “soprando forte de sudoeste no litoral oeste, em especial a norte do Cabo Espichel, onde as rajadas poderão atingir 75 a 85 km [quilómetros]/hora], e por vezes muito forte nas terras altas, com rajadas até 110 km/h”, prevê o IPMA.

“O vento rodará gradualmente para oeste a partir da manhã, diminuindo a intensidade a partir do final da tarde de dia 04”, referiu.

O instituto salientou um novo aumento da agitação marítima na costa Ocidental, com um pico de intensidade entre o final da tarde de sábado e o final da manhã de domingo, “quando se esperam ondas de noroeste com sete a nove metros de altura, mantendo-se superior a cinco metros até ao final da manhã” de segunda-feira.

A superfície frontal fria deverá atravessar o arquipélago da Madeira durante o final de sábado, “embora sem severidade”.

“O mais significativo será o aumento da agitação marítima, que será de noroeste com cinco a seis metros de altura significativa no dia 05 na costa norte da ilha da Madeira e Porto Santo”, afirmou o IPMA, aconselhando, devido a esta situação meteorológica, o acompanhamento das previsões meteorológicas e dos avisos.

 ZAP //Lusa
3 Novembro, 2023


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23: O seu computador está lento? Pode ser falta de sal

 

👨‍💻 TECNOLOGIA // 💻 COMPUTADORES // 🥶ARREFECIMENTO

Uma solução de arrefecimento inovadora, que mistura água e sal de brometo de lítio, pode aumentar o desempenho dos computadores em quase 33%, enquanto oferece arrefecimento por mais de seis horas.

Um estudo publicado, esta terça-feira, na ScienceDirect, revelou que uma simples e barata solução salgada é bastante eficaz no arrefecimento dos computadores e melhora o seu desempenho em quase 33%.

Este valor representa uma melhoria significativa em relação aos sistemas passivos de arrefecimento existentes.

Os investigadores desenvolveram um sistema que depende da evaporação de água de uma solução de brometo de lítio.

O sal, capaz de absorver água, está contido numa membrana porosa que apenas permite a passagem de vapor de água. Essa membrana é colocada dentro de uma placa oca, que é acoplada a um dissipador de calor metálico para remover o calor das unidades de processamento central (CPUs) de um computador.

Este método de arrefecimento permite que as CPUs suportem uma maior taxa de consumo de energia durante tarefas de computação intensivas sem sobreaquecer. O sistema também tem a capacidade de repor a água e efectivamente reiniciar quando o computador estiver inactivo.

“O dispositivo pode recuperar espontânea e rapidamente a sua capacidade de arrefecimento, absorvendo vapor de água do ar durante as horas de inactividade, tal como um mamífero se hidrata e se prepara para transpirar novamente”, explicou o líder da investigação, Wei Wu, da Universidade de Hong Kong, citado pela New Scientist.

Testes feitos pela equipa revelaram que este sistema poderia manter a temperatura do processador de um computador padrão abaixo dos 64°C durante mais de seis horas – o que supera, de longe, os sistemas passivos de arrefecimento alternativos que dependem de estruturas metal-orgânicas (MOFs) à base de crómio, que são caras e duram apenas 42 minutos.

Além disso, o novo sistema sairia mais barato. A solução de sal é capaz de oferecer uma eficácia de custo 1000 vezes superior à abordagem MOF.

A tecnologia poderia ser aplicada em servidores de computadores densamente compactados, a baterias, células solares e até edifícios, garantiu Wei Wu.

 ZAP //
3 Novembro, 2023


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