XV – Abite! Abite! E justiça popular

 

🇵🇹 OPINIÃO

Durante o longo período da formação de Portugal, caracterizado por lutas contínuas, externas e internas, quando era necessário defender o território contra sarracenos, leoneses, concelhos vizinhos, malfeitores ou pessoas poderosas, mas principalmente contra os primeiros, recorria-se ao apelido.

Nessas alturas aflitivas de defesa colectiva contra agressões, sobretudo, exteriores, fazia-se a convocação geral, clamando e repetindo o chamamento para mobilizar a população, sendo todos, sem excepção, obrigados a participar, caso contrário sujeitava-se às penalizações constantes nos forais.

Essa prática centenária foi inteligentemente utilizada por Álvaro Pais, ao manipular a população lisboeta, bradando que socorressem D. João, Mestre de Avis, através da gritaria do pajem e sua, enganando, deliberadamente, os lisboetas ao dizer que o matavam, nos paços da rainha, quando fora informado de que o próprio Mestre havia acabado de matar o conde Andeiro.

O apelido podia funcionar também como grito de guerra, como aconteceu, por exemplo, na batalha de Atoleiros onde, para além de ditos vibrantes e alaridos dos combatentes, os portugueses chamavam “Portugal e sam Jorge”, enquanto os castelhanos “Castilha, Samtiago”.

Na guerra ultramarina, a tropa dos comandos tinha como grito de guerra “Mama Sumae” que significa “Aqui estamos, prontos para o sacrifício”, que faz lembrar “Ave, Caesar! Morituri te salutant” (Salve, César, nós que vamos morrer te saudamos).

Recordo que na minha participação na guerra ultramarina, em Angola, não tínhamos propriamente um grito de guerra. Durante as acções de combate, superado o stressante período de tempo do silêncio tumular, que antecede o início da peleja, quando as espingardas e metralhadoras começavam a cantar e o tiroteio parecia infindável, quase em simultâneo, as acções e reacções dos combatentes eram acompanhadas de prolongada e ensurdecedora gritaria.

O silvar das balas, secundado de barulheira infernal, irmanada com injúrias e obscenidades, ditas de parte a parte, qual delas mais indecorosa, criavam uma mistura aterrorizadora de sons que ecoavam como ribombar de trovões em fúria, onde o insulto menos ultrajante era chamar filhos da puta.

Por não gostar de utilizar palavrões quando, debaixo de fogo, nos lançávamos em perseguição do inimigo, o meu grito de guerra, ou seja, o meu apelido era “Académica, Académica, Académica”, que os meus camaradas ainda hoje me fazem lembrar, repetindo-o nos nossos encontros anuais, com sorrisos nos lábios e evocação de memórias perturbadoras retidas das densas florestas angolanas (Valentino Viegas, A morte do herói português, 2010).

Nessa linha de actuações violentas, com nervos à flor da pele e sensações carregadas de emotividade extrema, na fase inicial do processo revolucionário, a cidade de Évora pode ser apresentada como exemplo para comprovar que em Portugal, a conduta dos mesteirais, dos assoldadados ou dos pobres vagabundos não foi muito distinta da do resto da Europa.

O ódio dos pobres contra os mais ricos manifestava-se na desconfiança que os primeiros patenteavam contra os segundos, porque, após a conquista do castelo de Évora, começaram a fazer novas reivindicações e apresentar queixas incoerentes, mesmo contra aqueles que já tinham aceitado como seus capitães, como foi o caso mais evidente de Diego Lopes Lobo e Fernão Gonçalves de Arca, principais capitães na conquista desse castelo.

Sob fortes ameaças, os populares disseram-lhes que, se realmente amavam o serviço do Mestre e eram seus partidários, então deviam ir a Lisboa para o servir e ajudar a defender o reino, não lhes dando outra alternativa senão aceitarem essa imposição categórica e seguirem para a capital.

A sanha popular era tão violenta que, conquistado o castelo de Évora, ao contrário do costume, o povo continuou a andar alvoroçado, comportando-se livremente, tendo por líderes Gonçalo Eanes, cabreiro, e Vicente Anes, alfaiate, e trazendo por apelido “Abite! Abite! Aqui dos dabite!”

Apesar de ter consultado milhares de documentos joaninos e fernandinos, jamais encontrei esse apelido, a não ser na crónica de Fernão Lopes que, nos meus textos sobre a primeira revolução portuguesa tenho tomado a liberdade de reproduzir, sem os citar passo a passo.

Consta nela que se algum dos participantes nesses levantamentos dissesse vamos a fulano, para matá-lo e roubá-lo, essa sugestão era logo posta em prática, de nada valendo a intervenção dos grandes da cidade intercedendo em defesa do visado.

A propósito de uma dessas decisões repentinas, uns dizem que Gonçalo Eanes, cabreiro, um dos capitães do levantamento de Évora, desafiou o povo a matar a aleivosa D. Joana Pires, abadessa de Castris, parente e criada da rainha, outros asseveram ter constatado que a abadessa lhes chamara de bêbados e acrescentado que pagariam pelas maldades que praticavam.

O certo é que, fazendo justiça pessoal, foram buscá-la à casa onde residia e, quando souberam que tinha ido à igreja catedral, irromperam pela Sé aos gritos de Abite! Abite!

A aterrorizada abadessa, embora tivesse abraçado o cálice, com hóstias sagradas, e fosse defendida por destacados membros da Igreja, foi retirada violentamente da Sé, levada pela rua da Selaria até à Praça onde, depois de ter sido morta com uma cutilada na cabeça, continuou a ser golpeada.

Não contentes em invadir a Igreja e cometer tamanha barbaridade, foram comer e procurar outros desenfadamentos. Regressando de noite, ataram um baraço aos pés da vítima e arrastaram-na até ao Rossio.

Naquela conjuntura política, onde os acontecimentos se sucediam com rapidez espantosa, a surpresa e o medo foram as armas mais eficazes utilizadas, pelos miúdos, contra os mais poderosos.

Justificavam o comportamento afirmando que procediam dessa maneira para defender a causa do Mestre e da independência nacional, contra a rainha D. Leonor e as infundadas pretensões do monarca castelhano.

Nessa clara divisão entre grandes e pequenos, ao ajuntamento dos pequenos chamavam arraia-miúda e os grandes escarneciam dos pequenos chamando-lhes povo do Messias de Lisboa, que ingenuamente acreditava ser o Mestre de Avis capaz de o salvar da sujeição do rei de Castela.

Em resposta, os pequenos, quando juntos e unidos, ganhavam audácia e chamavam aos grandes de traidores, cismáticos e partidários de Castela, e nenhum deles, por maior que fosse, tinha o atrevimento de lhes opor ou contra-argumentar porque sabia que, caso falasse, seria logo morto, de forma impiedosa, sem ninguém ter coragem para lhe acudir.

Em isso acontecendo, nos finais de Dezembro de 1383 e início do mês seguinte, o povo miúdo e os ventres ao sol deram largas à raiva acumulada, de gerações em gerações. O entusiasmo da revolução dava-lhes tanta coragem e intrepidez que tudo arrastavam na sua onda devastadora.

Até as mulheres, quase sempre resignadas na Idade Média, faziam justiça pessoal matando quem ofendesse o Mestre, como foi o caso de Nuno Rodrigues de Vasconcelos.

Os grandes, surpreendidos e profundamente divididos, eram incapazes de esboçar um gesto de defesa. Uns abandonavam o país, outros fugiam para as vilas que tinham voz por Castela e, como escreve Fernão Lopes, “os meudos corriam apos eles, e buscavom nos e premdiam nos tam de voomtade, que pareçia que lidavom polla Fe”.

Nessas circunstâncias específicas, o povo dava largas à sua imaginação e conquistava rapidamente os castelos, utilizando uma técnica eficiente com resultados imediatos, descrita brilhantemente pelo cronista:

– Era maravilha de veer, que tamto esforço dava Deos nelles, e tamta covardiçe nos outros, que os castelos que os amtiigos rreis per lomgos tempos jazemdo sobrelles, com força darmas, nom podiam tomar; os poboos meudos, mall armados e sem capitam, com os vemtres ao soll, amte de meo dia os filhavom por força (Crónica delRei dom João I da boa memória, Parte Primeira, capítulo 44).

Para obrigar os defensores a renderem-se mais depressa, os populares não sitiavam os castelos, como era prática habitual, mas traziam as mulheres e os filhos dos defensores e punham-nos, amarrados, em cima dos carros.

Depois transportavam os aprisionados à porta do castelo e gritavam bem alto aos defensores: ou saem e abandonam o castelo, ou queimamos as mulheres e filhos em vossa presença.

Isso aconteceu na conquista do castelo de Évora e em outros castelos, tornando-se essa prática inovadora em autêntico jogo de povos-miúdos.

Sem ser necessário recorrer ao apelido, o Porto foi exemplo inquestionável de aplicação da justiça popular.

Em resposta às cartas do Mestre, pedindo que tomassem voz por Portugal e ignorassem as cartas da rainha D. Leonor ou do rei de Castela, juntaram-se todos, especialmente o povo miúdo, e aqueles a quem chamavam arraia-miúda disseram a Álvaro da Veiga que levasse a bandeira pela cidade em voz e nome do Mestre de Avis. Tendo recusado fazê-lo, foi logo chamado de traidor, partidário da rainha e morto à cutilada.

Para o dia seguinte, escolheram o homem-bom Afonso Anes Pateiro para executar a mesma incumbência. Informado pelos seus amigos do risco que corria, logo de manhã, muito cedo, foi à praça da cidade e antes que fosse desafiado, pegou na bandeira e gritou: Portugal, Portugal, pelo Mestre de Avis.

De seguida, com pompa e circunstância, o arraial é repetido por toda a cidade. Na Sé, desafiando o interdito, tangem-se os sinos, dizem-se missas, desenterram-se os mortos e enterram-nos nas igrejas sem que ninguém se atrevesse a opor. Essa manifestação citadina de júbilo é culminada com uma oportuna prédica de um frade pedindo unidade à volta do Mestre de Avis.

Tal como sucedeu com a Igreja no resto da Europa, também em Portugal alguns dos seus membros perderam a vida. A morte do bispo de Lisboa e o linchamento da abadessa são eventos conjunturais que não significam haver um movimento contra a Igreja.

Contrariamente ao resto da Europa, o clero português podia juntar-se à revolução, como juntou, sem receios da hierarquia, porque muitos membros influentes da Igreja apoiavam a luta pela defesa da independência nacional.

Nesse ínterim, como actuariam as forças de impugnação?

Historiador
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

DN
Valentino Viegas
11 Setembro 2023 — 00:27


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



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XII – Da rebelião à revolução

 

🇵🇹 OPINIÃO

A eleição de D. João, Mestre de Avis, como Regedor e Defensor dos Reinos de Portugal e do Algarve, no mosteiro de São Domingos, confirmada no dia seguinte no plenário da Câmara do Concelho de Lisboa, foi a resposta dada pelos populares à ausência do poder, transformando a rebelião em revolução e ficando assim, a partir da criação desse poder paralelo, consumada a ruptura definitiva com a rainha D. Leonor.

Fernão Lopes repete, com insistência, que o povo miúdo rogou ao Mestre para não partir, oferecendo-lhe em troca a própria vida, mas da análise da trama revolucionária e dos documentos se conclui que, se a população lisboeta temia a vingança da rainha, mais ainda receava o Mestre, porque além de se saber ser ela cautelosa e retaliadora, constava também que comprara os mestres dos navios para ele ser traído e abandonado na costa de Atouguia, quando desejasse fugir para Inglaterra, a fim de ser preso ou morto, aliás, como ordenara em vida do rei D. Fernando.

Se é certo que o povo necessitava do Mestre, também ele precisava do povo. Dependendo um do outro, ambos sabiam que só conjugando esforços teriam possibilidade de sucesso. Os dois estavam presos pela corrente da sobrevivência.

Como corolário da eleição, no seguimento do processo revolucionário em curso, o Mestre apresenta o seu governo, passando Portugal a ter dois governos: o legítimo, que acompanhava a rainha D. Leonor, e o ilegítimo, cuja composição é revolucionária, porque do seu elenco se denota a ausência de membros leigos da nobreza. É a primeira vez que Portugal tem um governo sem nobres e com um único eclesiástico.

Em nenhum arquivo português encontrei documentos de D. João, Mestre de Avis, respeitantes ao período controverso de Dezembro de 1383, havendo apenas duas doações, datadas de Janeiro, de 7 e 15, efectuadas a particulares e de pouca importância, daí a redobrada relevância da crónica lopeana.

Contudo existe uma doação feita aos homens dos mesteres, povoadores e moradores de Lisboa, com prevalência dos mesteirais, datada de 1 de Abril de 1384 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. João I, fls. 21 v. – 22 v; Estremadura, Livro III, fls. 8-9 v.), utilizada parcialmente na crónica, cujo extracto foi tirado pelo cronista, em 1434, a pedido dos mesteirais, e que merece um tratamento especial por ser de suma importância.

Comparando vários dados, chega-se à conclusão que uma parte da doação deve ter sido feita entre meados e finais de Dezembro de 1383, sendo 1 de Abril de 1384 a data do registo e não da concessão ou, mais provavelmente, uma síntese de várias doações que lhes foi feita desde o início da revolução (Veja-se Marcelo Caetano, O Concelho de Lisboa na Crise de 1383-1385, 1953; Valentino Viegas, Cronologia da Revolução de 1383-1385, 1984; Lisboa. A Força da Revolução, 1985; Uma Revolução pela Independência Nacional nos finais do século XIV, vol. I, 1996).

Ela confirma algumas passagens da crónica, em especial, as concernentes à importância dos mesteirais naquele período crítico.

Activos participantes do processo revolucionário, com saber de experiência feito, estando presentes no mosteiro de São Domingos, exigem, no plenário da Câmara do Concelho, a aceitação e registo, por escrito, das reivindicações acordadas no dia anterior com o Mestre.

Lembrados do fracasso da revolta dos mesteirais, capitaneada pelo alfaiate Fernão Vasques, no reinado fernandino, não estão dispostos a serem traídos de novo.

Em troca da eleição de D. João, Mestre de Avis e da continuação dos serviços prestados e a prestar a ele e ao reino, os mesteirais, povoadores e moradores de Lisboa exigem que lhes faça mercê de todas as cousas que demandassem, para eles e sucessores, sendo o Mestre obrigado a satisfazê-la.

As medidas exigidas, de extraordinária importância, revelam uma invulgar capacidade reivindicativa e inusitada força impositiva. Pela satisfação da primeira fica esclarecida a razão da ausência de nobres no governo do Mestre.

Informados de que ele queria tomar em seu Conselho Álvaro Gonçalves, vedor da Fazenda do falecido rei D. Fernando, partidário da rainha e, por isso, inimigo deles, assim como outros criados dela e membros do seu Conselho, os agraciados não os consideram capazes de exercer bons serviços a ele e ao reino, afiançando que lhes faria dano e lhes causaria a morte. Sabendo que a intenção dele era perdoar-lhes, não admitem a presença daqueles comprometidos no seu Conselho, nem permitem que se lhes dê ofícios na cidade de Lisboa.

Por não estarem familiarizados com os negócios do Estado, para maior segurança do cumprimento das suas reivindicações, pedem dois procuradores, homens-bons, letrados, para os representar no Conselho do Mestre, com a missão de analisar todos os assuntos referentes à cidade e decidir se eram ou não em sua prol, em honra da cidade e serviço do Mestre.

Tendo o direito de veto, só com o despacho e acordo desses procuradores na Câmara da Relação da cidade de Lisboa é que passariam os assuntos a eles respeitantes e à cidade de Lisboa.

O salário deles seria taxado por eles, sendo retirado dos bens e rendas do concelho, podendo ser substituídos caso não cumprissem zelosamente as suas determinações.

Procurando controlar todos os órgãos judiciais citadinos e impedir a promulgação e execução de legislação lesiva aos seus interesses, exigem que os juízes, regedores e procurador existentes e futuros não publiquem nenhumas posturas nem ordenações, nem prometam nem dêem serviços nem encargos, nem façam nem possam fazer a eleição de juízes, vereadores e procurador, nem dêem ofícios a ninguém, sem que dois homens-bons de cada mester fossem chamados e se fizesse segundo o acordo da maior parte deles.

Conseguem que os impostos de sisas, talhas, taxas, fintas e serviços, existentes e futuros possam ser sujeitos a recursos e levantados quando por eles fosse verificado que podiam ser escusados, mesmo que os juízes, regedores e vereadores dissessem o contrário.

Aceitam o arrendamento desses impostos apenas em caso de grande necessidade, mas mesmo assim com acordo dos seus procuradores. Exigem que esses impostos fossem também pagos por ricos, poderosos, fidalgos, que tinham sido sempre privilegiados, e doutores.

Além de outras exigências, conseguem que todos os ofícios pertencentes à cidade e ao seu concelho, tais como juízes, vereadores, regedores, procuradores, provedores, administradores dos hospitais do concelho, correctores, porteiros, pregoeiros, adelas, merceeiros, escrivães, contadores, recebedores e quaisquer outros que fossem de nomeação do concelho, passassem a ser exclusivamente indicados por eles e pelo concelho, passando assim os exercícios anteriores a não ter validade mesmo os da nomeação do Regente. Só a confirmação dos juízes eleitos continuaria a pertencer ao soberano, conforme costume.

Esse documento é nitidamente de cariz revolucionário. Não foi uma doação feita de livre vontade pelo Mestre. Foi antes uma exigência deles a que teve de submeter-se, porque não diz que o faz de livre vontade, certa ciência e poder absoluto, como às vezes acontece quando quer vincar bem a sua autoridade nas doações, graças e mercês mas, bem pelo contrário, depois de aduzir as razões apresentadas pelos mesteirais, povoadores e moradores de Lisboa para que a doação fosse efectuada, afirma textualmente: “Polla qual razam dizem que nós lhe devemos fazer mercees em todallas cousas que nos demandarem assy para eles como para aquelles que delles ao diante vierem o que nós entendemos fazer”.

Faz a doação porque eles disseram que lhes devia fazer e não porque o quisesse fazer. Não existe nenhum documento joanino onde se expresse essa ideia e tenha essa linguagem impositiva.

Essas acções reivindicativas inserem-se nas reclamações apresentadas na Europa ocidental trecentista, umas mais outras menos violentas. A diferença reside no facto de, em Portugal, os estratos mais baixos do povo, aproveitando a luta desencadeada em defesa da independência nacional, participaram nela e, em simultâneo, avançaram com propostas para a satisfação das suas reivindicações específicas.

É natural que o Mestre pretendesse recompensar a vontade firme demonstrada em servi-lo, mas determinados artigos da doação, que controlavam as suas próprias iniciativas e acções, foram alcançadas porque a gravidade da situação geral, em especial a do Mestre, não se compadecia de indecisões resultantes de planos futuros, mas exigiam a solução de problemas imediatos.

Na conjuntura dramática, então vivida, aquilo que o Mestre mais necessitava, à sua volta, era uma grande força anímica e uma vontade férrea de vencer. De momento, o preço, o pagamento e cumprimento eram irrelevantes.

Os mesteirais não queriam conquistar o poder. Pretendiam e conseguiram, revolucionariamente, a participação na governação citadina.

Como o governo do Mestre tinha a sua sede em Lisboa e eles detinham no seu Conselho os seus dois representantes com direito de veto, automaticamente, influenciavam os destinos do país.

Doravante não se importarão com a progressiva perda do controlo do Conselho do Mestre e do domínio da Câmara da capital, desde que não fossem excluídos da sua gestão.

Como é que o Mestre terá ultrapassado a preponderância dos mesteirais e qual a resposta da rainha D. Leonor?

Historiador
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

DN
Valentino Viegas
08 Julho 2023 — 00:25


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X – A fuga da rainha D. Leonor e as angústias do Mestre de Avis

 

🇵🇹 OPINIÃO

Face ao andamento do processo revolucionário, incapaz de dominar a revolta popular, desconhecendo as verdadeiras intenções de D. João, Mestre de Avis, sentindo-se insegura em Lisboa e temendo pela própria vida, a rainha D. Leonor concebe um plano engenhoso e prudente, aparentemente de cariz defensivo.

Tendo sido desautorizada publicamente pelo Mestre que, usurpando o seu poder, sem a sua autorização, nem conhecimento, mandara proibir o ataque à judiaria, a receosa e precavida rainha, analisando a correlação das forças em presença e dando a entender que aceitava e se conformava com a situação vigente, pede autorização e salvo-conduto ao cunhado para abandonar livremente a cidade de Lisboa.

Obtida a autorização, alegando necessidade imperiosa de medidas urgentes, ordenou aos governantes e a todos os membros da sua Casa que a acompanhassem de imediato, não lhes dando tempo, nem oportunidade, para reflectir ou questionar a sua decisão.

Acompanhada de seus familiares, que tinham grande influência no país, do anadel-mor, chanceler-mor, tesoureiro-mor, vedor da Fazenda, corregedor, membros do desembargo e criados, partiu para Alenquer, escoltada por lanças dos gascões, por recear a população lisboeta, apesar de possuir licença e salvo-conduto do Mestre. Com essa fuga estratégica cria, intencionalmente, um vazio de poder.

Dessa maneira, em segurança e longe da ira popular, enquanto não pudesse executar o plano que ia forjando para dominar a insurreição e reassumir o poder, que lhe pertencia de direito, embora o tivesse perdido de facto na capital, teve a lucidez necessária para se proteger a si própria e aos principais órgãos governativos, impedindo que pudessem cair nas mãos dos insurrectos.

O ódio que os vexados fugitivos nutriam por Lisboa pode ser testemunhado pelo desabafo de um dos acompanhantes da comitiva: “Que maao fogo a queimasse, e que aimda a visse estroida e arada a bois” (Fernão Lopes, Crónica delRei dom João I da boa memória, Parte Primeira, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1977, p. 33).

Para se compreender o comportamento da nobreza portuguesa e dos membros do governo da rainha D. Leonor, há que analisar esse período revolucionário em função de, pelo menos, duas correntes de pensamento que traduziam dois objectivos prevalecentes naquela conjuntura política portuguesa.

Por um lado, havia nobres que se opunham à fusão das coroas portuguesa e castelhana e, simultaneamente, eram hostis à preponderância que o conde Andeiro tinha ganhado no coração da rainha e nas lidas da governação, daí terem apoiado a conjura para o assassinar. Para esses, o primeiro objectivo era impedir a fusão das duas coroas e o segundo, a eliminação do conde.

Alcançado o segundo objectivo, acreditavam que o primeiro podia ser atingido sob a direcção da rainha D. Leonor, a quem deviam a fidelidade senhorial, não sendo, por isso, de estranhar que a tivessem acompanhado na fuga.

Por outro lado, outros havia que não acreditavam poder vir a alcançar-se o primeiro objectivo sob a liderança da rainha, porque estavam convictos de ter sido ela própria a empenhar-se na realização do comprometedor contrato de casamento de Salvaterra de Magos.

Esses pensavam que, com a morte deste e a fuga da rainha, tinha chegado a hora de lutar pela candidatura do infante D. João, na pessoa do seu representante em Portugal, meio-irmão mais novo, D. João, Mestre de Avis.

Essas seriam as duas correntes de pensamento predominantes, embora pudesse haver quem desde logo fizesse a sua opção pelo Mestre, ou quem não visse outra saída senão a reconciliação com a rainha. Para os últimos, era necessário reforçar o poder da regente para que ela pudesse responder em posição de força às pretensões do rei de Castela.

Com o vazio do poder criado em Lisboa, as previsões da rainha vão-se confirmar, porque rapidamente irão surgir os primeiros sinais de desunião entre os apoiantes da eliminação do conde Andeiro.

Ao contrário daquilo que muitos congeminavam, com a morte do conde e, em especial, após a fuga da rainha, secundada pelo governo legítimo, as contradições da sociedade portuguesa, em vez de se desanuviarem, agravaram-se ainda mais, rompendo o equilíbrio instável em que se vivia.

O povo miúdo inferia também que se o rei de Castela conquistasse Lisboa, com apoio de muitos galegos, castelhanos e criados da rainha, que ainda permaneciam na capital, Portugal inteiro seria sujeito a Castela, os maiorais iriam ser perdoados, como habitualmente acontecia, e ele seria alvo das maiores represálias.

A maioria dos nobres, que dias antes tinham apoiado entusiasticamente o Mestre recebendo-o como herói no Rossio, presos à rainha por juramento de fidelidade, não descortinaram outra alternativa senão acompanhá-la.

Nessas circunstâncias, o Mestre de Avis, inicialmente apoiado por muitos, vê-se pouco a pouco abandonado pelos seus mais indefectíveis companheiros, havendo agora quem comentasse que matara o conde Andeiro por ambicionar ser rei de Portugal.

Se compreendia a atitude do conde de Barcelos, D. João Afonso Telo, por ser membro do Conselho e seu irmão, que também pretendera matar o conde Andeiro, desejara participar no seu assassinato nos Paços da irmã, o havia recebido como herói no Rossio e reforçara o seu pedido de perdão quando se ajoelhara diante da rainha, não entendia que Vasco Porcalho, comendador-mor da Ordem de Avis, Martinho Anes Barbuda, comendador da mesma Ordem e Garcia Peres, craveiro de Alcântara, também se afastassem dele.

Na realidade, as pessoas tinham medo da rainha e dos seus poderosos familiares e mais medo ainda dos boatos que corriam dizendo haver ela convidado o rei de Castela a entrar em Portugal.

Sentindo-se isolado, posto à margem e abandonado pela maioria da alta nobreza, o angustiado Mestre, receando ser preso, acusado de alta traição e morto, decide fugir para Inglaterra, mandando carregar os seus pertences em duas naus, atracadas em Lisboa.

Justificava a sua resolução alegando: ser voz corrente ter a rainha escrito ao rei de Castela convidando-o a entrar rapidamente em Portugal para cumprir a sua vontade; sendo vingativa, enquanto fosse viva a sua vida corria perigo; que muitos receavam aproximar-se dele com medo dela e dos seus parentes; pela mesma razão os antigos apoiantes, agora se afastavam.

Estando na fase derradeira dos preparativos para a partida, a apreensiva população lisboeta, em especial o povo miúdo, vivendo aflito e amedrontado, recordava-se da sua participação na revolta dos mesteirais contra o casamento da rainha e das suas consequências nefastas, do protesto contra o pendão a favor de D. Beatriz, da ajuda que tinham prestado ao Mestre aquando da morte do conde Andeiro, das implicações da morte do bispo e da fuga da queixosa rainha para Alenquer.

O povo miúdo inferia também que se o rei de Castela conquistasse Lisboa, com apoio de muitos galegos, castelhanos e criados da rainha, que ainda permaneciam na capital, Portugal inteiro seria sujeito a Castela, os maiorais iriam ser perdoados, como habitualmente acontecia, e ele seria alvo das maiores represálias.

Necessitando de ser apoiado por um nobre de alta estirpe, na ausência do infante D. João, encontra no Mestre de Avis a sua esperança no desespero e a única tábua de salvação.

Sentindo-se desamparado, aproximava-se do Mestre, acompanhava-o pela cidade e pedia-lhe, aos brados, para defender a cidade de Lisboa e não partir para Inglaterra.

Oferecia-lhe toda a ajuda, incluindo a própria vida; prometia promovê-lo a regedor e defensor dos reinos de Portugal e do Algarve; convidava-o a assenhorear-se dos tesouros dos armazéns, das alfândegas e de outros direitos pertencentes ao rei dizendo que, se porventura o infante D. João viesse e o reino lhe pertencesse de direito, só então o tomariam por rei e não de outra forma.

Também alguns fidalgos reforçavam o pedido popular fazendo-lhe ver que, ao serviço do rei de Inglaterra, dificilmente poderia conquistar uma cidade como Lisboa, cujos habitantes se ofereciam para o servir e ajudar com tudo o que possuíam, incluindo a própria vida.

Sensibilizado com as argumentações, o Mestre de Avis começa a hesitar, equacionando a possibilidade de ficar, salvaguardando a sua honra e proveito.

As suas hesitações e dúvidas vão ser desfeitas quando consulta o ermitão castelhano, frei João da Barroca, e ele o aconselha a não partir profetizando ser vontade divina fazê-lo rei de Portugal.

Reconfortado com as previsões desse homem santo, o Mestre transmite, a Álvaro Pais e a outros membros da cidade, a sua decisão de permanecer, mas apenas se descobrissem uma boa saída para a situação.

Que propostas farão os seus representantes e qual será o seu fim?

Historiador.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

D.N.
Valentino Viegas
11 Junho 2023 — 00:39

 


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VIII – A revolta nas ruas de Lisboa

 

🇵🇹 OPINIÃO

Após assassinato do conde Andeiro na sala contígua à câmara da rainha D. Leonor, no decurso da Primeira Revolução Portuguesa, a eufórica multidão popular, ao ver D. João, Mestre de Avis, vivo, chorava de prazer, escoltando-o com gritos de júbilo e pedindo-lhe ordens.

A atitude do Mestre de Avis e os seus comportamentos iniciais subsequentes, indiciam que nem a nobreza oposicionista dispunha de um plano para derrubar o poder instituído e ocupar o seu lugar nem o Mestre parece almejar a coroa do falecido rei D. Fernando.

Em resposta ao insistente pedido dos populares, – “Que nos mandais fazer, Senhor? Que quereis que façamos?” -, o Mestre agradecia muito acrescentando não necessitar mais deles.

Na sua saída triunfante dos paços da rainha D. Leonor, sendo saudado entusiasticamente pelas ruas de Lisboa, é recebido à entrada do Rossio como herói pelo conde D. João Afonso Telo, irmão da rainha, por numerosos fidalgos e pessoas mais importantes da cidade.

Enquanto se preparava para se sentar na mesa e jantar em casa daquele conde, os retardatários populares, acompanhantes de Álvaro Pais na correria até ao paço da rainha, ao chegarem junto da Sé, aquando do regresso da acção de socorro ao Mestre, recordaram-se de que todas as igrejas tinham participado no chamamento geral repicando sinos, excepto a Igreja da Sé, apesar de ter sido solicitada de forma veemente.

Como todas as suas portas se encontravam encerradas, a partir de dentro, e também em virtude de o bispo D. Martinho ser castelhano, os revoltosos concluíram, apressada e erradamente, que estava implicado na suposta conjura para matar o Mestre. Enfurecidos, trouxeram escadas e, entrando por uma fresta, abriram as portas e invadiram o templo sagrado.

Antes porém, após terem observado e sentido a agudização do alvoroço, o bispo e acompanhantes tinham-se refugiado na torre mais alta.

Por não ter nada a temer, ser eclesiástico zeloso, ter a consciência limpa e não se sentir culpado, o bispo D. Martinho permitiu que os invasores da Sé subissem as escadas e dialogassem com ele a fim de poder justificar a sua conduta, quando podia ter evitado cair nessa situação melindrosa caso defendesse o seu espaço vital impedindo a ascensão deles, feita por uma estreita escada que só dava passagem a uma pessoa de cada vez.

Os ocupantes da dianteira, que tinham ascendido até à torre, após diálogo com o bispo, aceitam as suas fundamentações, mas os populares que estavam no adro, encarniçados e sedentes de vingança, com pragas e ameaças, obrigam os que tinham aceitado as argumentações e acordado a segurança do bispo a lançá-lo do alto da torre para o fundo, sofrendo assim morte atroz.

É sabido que, quando se faz justiça popular, podem-se cometer erros irreparáveis e há oportunistas que se aproveitam dessas situações tumultuárias para resolverem os seus problemas pessoais, como foi o caso de um escudeiro que por ter contas a ajustar com o prior de Guimarães, convidado do bispo, descobriu-o e matou-o.

A cegueira popular foi de tal ordem que se chegou ao ponto de assassinar também o inocente tabelião de Silves que, por mera infelicidade, acompanhava o bispo.

Não contentes em praticar essas atrocidades, depois de amarrarem as pernas do bispo desnudado com cordas, alguns refeces pediram aos cachopos que o arrastassem pela cidade até ao Rossio, onde os cães começaram a comê-lo, só sendo enterrado no dia seguinte.

Embora houvesse quem desaprovasse esse procedimento ignóbil e reprovável, o medo era tamanho que ninguém tinha coragem de manifestá-lo.

De entre os participantes nessas acções, Fernão Lopes menciona apenas Silvestre Esteves, homem honrado, procurador da cidade, alcaide pequeno, informando que outros elementos tinham colaborado nessa acção, sem contudo especificar os nomes.

A bula Sede apostolica, pia mater, (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Livro de Traduçoens de Breves e Bullas, Núcleo Antigo, n.º 42, fl.1) do papa Urbano VI, datada de Génova, de 4 de Novembro de 1385, dirigida ao bispo de Lisboa, esclarece que tinham participado naquele acometimento, além do cidadão Silvestre Esteves, os cidadãos João da Veiga e Estevão Afonso, acompanhados de outras pessoas.

Isso significa que Álvaro Pais, pela forte influência que continuava a ter em Lisboa, apesar de estar aposentado, para dar cobertura ao assassinato do conde Andeiro, explorando a insatisfação popular, tinha feito um cuidadoso trabalho de sapa, mobilizando pessoas influentes da cidade e pedindo-lhes que, quando fossem chamados a actuar, arrastassem consigo os seus correligionários e apoiantes para, alegadamente, irem socorrer o Mestre, razão pela qual se juntou tamanha multidão no paço da rainha D. Leonor e à volta do paço.

Na petição que faziam ao papa, os suplicantes não apresentavam razões políticas mas religiosas, justificando haverem assassinado os cismáticos D. Martinho, bispo que fora do Algarve, e Gonçalo Vaz, prior que fora de Santa Maria de Guimarães, da diocese de Braga, por intentarem entregar a cidade de Lisboa nas mãos dos cismáticos, omitindo propositadamente o assassinato do tabelião de Silves por não poderem apresentar justificação aceitável.

Esta traição fora comprovada, segundo eles, em virtude de se encontrarem escondidos no tecto da Sé de Lisboa, donde tinham sido precipitados ao adro.

Como haviam cometido esse excesso, por zelo religioso, pediam ao papa que os absolvesse da pena de excomunhão e de outras penas e sentenças em que se encontravam incursos.

O papa admite a súplica e manda o bispo de Lisboa averiguar da veracidade da alegação. Caso fosse verdade, prescrevia que os suplicantes e os acompanhantes fossem absolvidos da excomunhão e de outras penas e sentenças, que tinham merecido por aquele motivo, mas somente por aquela vez, impondo-se-lhes penitência saudável e as mais que de direito lhes deviam ser impostas, desde que humildemente suplicassem ao bispo de Lisboa a absolvição daquelas penas.

A bula deixa claro a maneira oportunista como os participantes da violação do templo, e dos assassinatos perpetrados no interior da Igreja da Sé de Lisboa, aproveitaram a divisão da Igreja no Grande Cisma do Ocidente (1378-1417) em seu proveito.

Até parece terem decidido, nos bastidores das negociações efectuadas, que os inquiridores fariam propositadamente de esquecidos garantindo a absolvição dos suplicantes, porque caso a inquirição para a descoberta da verdade fosse séria e rigorosa, era muito fácil descobrir que, quando se deram esses acontecimentos, em consequência do Tratado da Paz de Elvas, de 10 de Agosto de 1382, efectuado entre Portugal e Castela, já Portugal tinha mudado de opção de papa de Roma para papa de Avinhão, por passar a ser aliado de Castela.

Daí que, quando se deram os assassinatos, Portugal estava aliado ao papa de Avinhão e não ao papa de Roma, não podendo D. Martinho ser acusado de intentar entregar a cidade de Lisboa nas mãos dos cismáticos, porque ela já estava entregue por decisão do falecido rei D. Fernando.

Naquele período conturbado quando, D. João, Mestre de Avis, se tinha sentado na mesa para jantar e foi informado de que os citadinos queriam matar o bispo, só não foi em seu socorro porque o seu anfitrião conde de Barcelos, D. João Afonso Telo, irmão da rainha, o impediu dizendo que não se importasse pois, se o matassem, seria substituído por um português melhor do que ele.

Depois do jantar, o Mestre, agora rodeado e felicitado por maior número de fidalgos, disse aos condes D. Álvares Peres de Castro e D. João Afonso Telo que, por ter feito um grande desprazer à rainha, matando o conde Andeiro nos seus paços, intentava pedir-lhe perdão, caso eles estivessem de acordo.

Chegados ao local, depois dos três se ajoelharem diante dela, o Mestre tomou a palavra e pediu-lhe perdão não por ter matado o conde Andeiro, mas por tê-lo feito nos seus paços, justificando que o fizera por segurança de sua vida.

Apesar desse pedido ter sido reforçado com argumentos dos condes D. Álvares Peres de Castro e D. João Afonso Telo, a resposta da rainha foi sempre evasiva e em tom de escárnio, pelo que os três abandonaram os paços.

Antes, porém, quando o Mestre de Avis sugeriu que ela devia escrever ao rei de Castela pedindo-lhe que não entrasse em Portugal e caso o fizesse, devia combatê-lo, ouviram a rainha replicar: “Oo que booa rrazom essa! E hi era elRei meu Senhor vivo, e vos outros todos com elle, e nom ho podiees fazer, quamto mais agora que elle he morto, e toda vossa esperamça soterrada com elle” (Fernão Lopes, Crónica delRei dom João I da boa memória, Parte Primeira, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1977, p. 28).

Será que o povo português estava tão céptico como a rainha D. Leonor?

Historiador
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

D.N.
Valentino Viegas
03 Maio 2023 — 00:27


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