392: Ursula Maior e Ursula Menor

 

🇵🇹 OPINIÃO

O discurso do Estado da União de Ursula von der Leyen teve pontos bastante positivos, como reafirmar sem hesitações o apoio dos europeus à Ucrânia.

Quando já passou um ano e meio depois da invasão russa ao território ucraniano e sente-se um certo desgaste sobre o tema é muito importante não ter qualquer tipo de sinal dúbio quanto ao empenho das instituições europeias e de cada um dos Estados europeus.

Mas também foi importante sublinhar a preocupação com as alterações climáticas e recordar a importância do Pacto Ecológico Europeu “como elemento central da economia”. E que terá cada vez maior impacto na transição que as indústrias europeias têm de fazer nos próximos anos, nomeadamente na transição energética.

Aqui a União Europeia tem dado passos sólidos e seguros e tem sido um bom exemplo para o resto do mundo. A Europa é mesmo um dos poucos espaços políticos que tem uma forte preocupação com esta matéria e que leva a sério o problema das alterações climáticas.

A presidente da Comissão Europeia também esteve bem na sua análise sobre a economia europeia. É verdade que vivemos praticamente em pleno emprego, mas que há uma escassez de mão-de-obra em várias áreas e falta de competências noutras.

E que há um problema sério com a falta de emprego entre os jovens. Não se esqueceu de referir a inflação, mas não foi ao fundo da questão nem deu um sinal político forte sobre o assunto.

A subida das taxas de juro são um dos maiores problemas dos povos de alguns Estados, como é o caso de Portugal (onde há uma percentagem significativa da população que comprou casa com crédito à habitação com taxa variável), e Ursula von der Leyen não dedicou uma palavra ao tema.

Depois esteve bem tanto nas áreas do digital como na inteligência artificial, onde a Europa tem regulado quase sempre bem. E sempre com a preocupação fundamental: a defesa do consumidor final.

Como também esteve bem na análise do que deve ser a Europa enquanto player mundial. E aqui é importante que a política externa europeia prevaleça em relação às políticas externas de cada um dos Estados, nomeadamente nas grandes questões mundiais.

É urgente que se estabeleçam fronteiras para a política externa estadual. Nestes pontos anteriores, com uma ou outra excepção tivemos uma Ursula Maior

Onde tivemos uma Ursula Menor foi quando afirmou: “Não podemos – e não devemos – esperar por alterações ao Tratado para avançar com o alargamento.

É possível preparar a União para o alargamento mais rapidamente. Implica afinar aspectos práticos sobre o funcionamento de uma União com mais de 30 países”. Esta é uma afirmação profundamente irresponsável, que posta em prática seria a destruição da própria União Europeia.

Tal como está, nomeadamente com o voto por unanimidade no Conselho Europeu, qualquer alargamento irá travar ainda mais qualquer decisão menos consensual. Se já temos um problema em conseguir unanimidade nas decisões a 27, o que seria com 35 ou mais Estados?

Qualquer alargamento sem, pelo menos, mudar esta regra, é condenar a União Europeia a um impasse e a um bloqueio nas próximas décadas. E isto só se muda com um novo tratado.

Mas há mais a ser mudado num novo tratado europeu, a começar por permitir ao Parlamento Europeu ter iniciativa legislativa, como acontece em qualquer parlamento democrático do mundo.

Neste momento, apenas as iniciativas vindas da Comissão Europeia são votadas, ainda que o parlamento possa sugerir legislação à comissão (esta última hipótese introduzida pelo Tratado de Lisboa).

E se a União Europeia quer mesmo ter voz relevante no mundo é urgente que crie umas forças armadas europeias. Só assim será ouvida e respeitada.

E, não menos importante, estar mais segura perante ameaças externas, como é a Rússia e outros territórios vizinhos historicamente instáveis. É tempo de termos uma Europa corajosa e ambiciosa.

O tempo de uma Europa de corredores e de cinismos de ocasião tem de acabar. A própria forma como se elege o/a presidente da Comissão Europeia tem de mudar.

Quando votamos para o Parlamento Europeu temos de saber quem são os candidatos de cada grupo político. E vencendo um deles que tome posse como líder europeu, ao contrário do que aconteceu em 2019, com uma presidente da comissão escolhida pelos governos e não pelas pessoas.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

DN
Tiago Matos Gomes
13 Setembro 2023 — 21:45


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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377: Cavaco e a sua arte de nos fazer esquecer como governou

 

🇵🇹 OPINIÃO

Aníbal Cavaco Silva vai lançar um livro denominado O primeiro-ministro e a arte de governar onde, de acordo com o que já foi revelado pela comunicação social, nos tenta ensinar como deve ser um chefe de governo. Cavaco Silva governou durante 10 anos, dois em maioria relativa e oito em maioria absoluta, entre 1985 e 1995.

É bom lembrar que Mário Soares tinha assinado uns meses antes da primeira vitória de Cavaco Silva a nossa adesão à então Comunidade Económica Europeia, a 12 Junho de 1985, onde entrámos de pleno direito a 1 de Janeiro de 1986. Foi, por isso, o primeiro primeiro-ministro a beneficiar dos fundos europeus.

É também bom recordar que país tínhamos em 1985, quando Cavaco Silva foi eleito em Outubro. Portugal era um país profundamente atrasado em comparação com os seus parceiros europeus.

A revolução tinha acontecido há apenas 11 anos, seguida de 2 anos de PREC e profunda instabilidade política e económica, bem como de um processo de descolonização com a chegada de meio milhão de pessoas em poucos meses. Seguiram-se anos de governos instáveis e de curta duração, com a morte de um primeiro-ministro pelo meio, culminando com a vinda do FMI num governo de bloco central.

E foi este governo, tão mal falado hoje em dia, que nos colocou definitivamente na Europa, depois de muitos sacrifícios para salvar o país da bancarrota. E para quem tem má memória, havia sectores relevantes do PPD/PSD que eram contra a entrada de Portugal na então CEE.

Cavaco Silva começa a governar um país paupérrimo, saído de uma intervenção do FMI e de um governo profundamente patriótico, com milhões de fundos vindos de Bruxelas.

É por isto que as pessoas lhe atribuem um enorme sucesso e uma imagem de desenvolvimento do país. É por comparação com a década anterior.

Quando se passa de 2 para 10 tem muito maior impacto quando se passa de 120 para 128, mesmo que a subida seja a mesma. Os governos de Cavaco Silva fizeram essa “proeza” de passarmos de 2 para 10.

Só que devemos muito mais às instituições europeias do que aos governos de Cavaco Silva. Brincando, se uma qualquer personagem da Disney fosse primeiro-ministro entre 1985 e 1995 os resultados não seriam muito diferentes. Mas talvez esta última hipótese nos tivesse poupado ao governo mais autoritário da história democrática portuguesa.

O tempo tende a apagar tudo, mas convém lembrar que uma pessoa ficou paraplégica por um tiro da polícia nos protestos pelo aumento do valor das portagens da Ponte 25 de Abril, convém lembrar as cargas policiais que estudantes do secundário e das universidades levaram, convém lembrar que polícias foram obrigados a confrontar outros polícias no Terreiro do Paço, no famoso episódio de secos contra molhados.

E também convém lembrar como o dinheiro vindo de Bruxelas para aplicar na conversão e modernização da nossa agricultura foi mal aproveitado e passámos de repente a ver jipes por todo o interior do país em vez de terras cultivadas.

E como se incentivou a monocultura do eucalipto. E como se investia em centenas de quilómetros de auto-estradas e se desinvestia na ferrovia. Foi no seu tempo que uma certa mentalidade dependente do automóvel floresceu. Bem como um novo-riquismo que atrasou formas mais progressistas de pensamento.

E tudo isto com apenas dois canais nacionais (RTP1 e RTP2) e dois canais regionais (RTP Açores e RTP Madeira), todos do Estado. Os governos de Cavaco Silva foram os últimos na Europa ocidental a dar licenças a televisões privadas.

E até teve um jornal do Estado até 1991, este mesmo, o Diário de Notícias. Foi no tempo dos governos de Cavaco Silva que um programa de Herman José foi censurado e tirado do ar. Foi no tempo dos governos de Cavaco Silva que José Saramago foi excluído de um concurso literário.

O legado de Cavaco Silva não pode ser visto apenas pelos números e estatísticas. O ponto de partida era baixíssimo e foram as instituições europeias que modernizaram Portugal, pelo menos nas suas necessidades básicas.

Um exemplo disso foi o saneamento, e aí mérito das câmaras que usaram bem os dinheiros europeus, que em 1985 não chegava a todo o lado. Não esqueçamos que nesse tempo ainda havia aldeias sem luz.

O legado dos governos de Cavaco Silva terá com certeza os seus pontos positivos, como uma rápida construção de novas escolas (ainda que muitas delas provisórias até hoje), num momento em que tivemos uma das nossas maiores populações estudantis nos ensinos primário e secundário.

E entende-se que queira deixar uma imagem mais positiva para memória futura. Mas não foi o nosso melhor primeiro-ministro.

Havia mesmo um sentimento de asfixia democrática. Havia até pessoas com medo de dizer o que pensavam com medo de represálias. Provavelmente infundadas. Mas havia esse clima.

É por isso que Cavaco Silva nunca será uma figura consensual. Então porque conseguiu duas maiorias absolutas como primeiro-ministro? Por tudo o que atrás foi dito.

Beneficiou como nenhum outro (não em termos quantitativos, mas comparativos com o passado) dos fundos europeus, dominou a comunicação social, nomeadamente a televisão em monopólio em sete dos 10 anos de governação, e criou um clima de receio e dependência do Estado na sociedade portuguesa.

Foi esta a sua arte de governar.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

DN
Tiago Matos Gomes
07 Setembro 2023 — 00:33


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361: O preconceito aceite e permitido

 

“… Qualquer pessoa com 50 anos já é para a sociedade, e para o mercado de trabalho sem cunhas, alguém descartável e que não serve. É hoje bastante visível o desprezo como as camadas mais velhas da população são tratadas nos serviços públicos, como são tratadas nos transportes, como são tratadas nos restaurantes, como são tratadas até pelos próprios filhos e netos. Há um total desprezo e preconceito da sociedade portuguesa perante os nossos velhos.

Verdade nua e crua, não só de agora, mas de há muitos anos atrás. Bravo!!!

🇵🇹 OPINIÃO

Todos os preconceitos são inaceitáveis. Pelo simples facto que magoam alguém. E isso é razão suficiente para que nenhum preconceito seja aceite. Todos temos preconceitos e quem diz o contrário está a mentir.

Até porque muitos deles são irracionais. Cabe a cada um de nós puxar pela racionalidade e reprimir ideias feitas e injustas sobre grupos de pessoas.

E temos evoluído, nem sempre à velocidade que desejaríamos, no sentido de reduzir manifestações de preconceito, bem como a opinião pública tem evoluído no sentido de condenar cada vez mais qualquer manifestação de preconceitos. Ou melhor, de alguns dos preconceitos que se têm instituído como mais inaceitáveis.

O problema é que há preconceitos, cada vez mais banalizados, que não têm a mesma atenção. E há um deles que está a crescer, que se tem institucionalizado e de que ninguém fala: o idadismo.

O preconceito contra as pessoas mais velhas, sobretudo num país como Portugal, bastante envelhecido, é uma das maiores chagas da nossa sociedade.

E não é necessário ser septuagenário ou octogenário. Qualquer pessoa com 50 anos já é para a sociedade, e para o mercado de trabalho sem cunhas, alguém descartável e que não serve.

É algo bastante grave que se tem acentuado na mesma proporção de que ser-se jovem é automaticamente sinónimo de todas as qualidades e méritos.

A linguagem das entidades oficiais também não tem ajudado. Há uma preocupação grande com as dificuldades dos mais jovens, seja na habitação, seja para encontrar um primeiro emprego, seja nos baixos salários.

E são preocupações justas. O problema é que não se vê a mesma atenção das entidades oficiais com a larga maioria da população, que é mais velha, que não tem voz.

É hoje bastante visível o desprezo como as camadas mais velhas da população são tratadas nos serviços públicos, como são tratadas nos transportes, como são tratadas nos restaurantes, como são tratadas até pelos próprios filhos e netos. Há um total desprezo e preconceito da sociedade portuguesa perante os nossos velhos.

Claro que com estes casos não se gastam horas e horas de debates nos canais de informação. Não há uma página de jornal sobre o tema. Não é um preconceito que tenha a visibilidade do racismo, da xenofobia, da homofobia ou da misoginia. Mas mata.

Não é por acaso que este preconceito é o causador do isolamento cada vez maior dos nossos mais velhos. Não é por acaso que aceitamos como correcto despejar octogenários em lares até ao fim das suas vidas.

Também grave é que o idadismo está a provocar uma divisão na sociedade. Em que pessoas de gerações distantes já mal conseguem comunicar entre si. Em que uns e outros, não se entendendo, vivem numa guerra surda. E isto causa problemas bem mais graves do que ter uma sociedade envelhecida.

Até porque é muito possível, tenhamos nós governantes à altura, aproveitar a experiência e o saber dos mais velhos para desenvolver o país. A sociedade que tem de saber adaptar-se à nova realidade.

Infelizmente, nem os governos estão a saber lidar com uma população envelhecida, como ainda por cima o preconceito perante os mais velhos tem crescido sem que ninguém os defenda.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

DN
Tiago Matos Gomes
30 Agosto 2023 — 22:54


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334: Portugal não é um país bonito?

 

– “… Começando por Lisboa, não se entende como uma cidade capital tem um espaço público tão abandonado. Como há tanto lixo nas ruas, como é possível ter tanto carros em cima de passeios, como temos tanta calçada esburacada“.

Simples de responder: o lixo nas ruas, na maior parte das vezes, é por não existir recolha do mesmo e, concomitantemente, a falta de civismo e de cidadania dos porcos moradores que ajudam a isso; em ordem aos carros – e scooters, motociclos, bicicletas, trotinetas e afins -, é porque a polícia municipal não fiscaliza nem actua sobre os infractores, obrigando os peões a circularem pela estrada com risco da própria vida e porque não existindo fiscalização e contra-ordenações aos infractores, os labregos continuam a fazer dos passeios, das passadeiras, das paragens dos transportes públicos, o seu estacionamento privativo. 24 horas por dia!

🇵🇹 OPINIÃO

Esta semana um artigo de Joel Neto no Expresso criou alguma polémica. Tão só porque colocou o dedo na ferida sobre a beleza, ou a falta dela, de Portugal.

E a pergunta impõe-se: como é que um país tão dependente do turismo tem um território tão maltratado, que pode envergonhar até o cidadão mais patriota?

Começando por Lisboa, não se entende como uma cidade capital tem um espaço público tão abandonado.

Como há tanto lixo nas ruas, como é possível ter tanto carros em cima de passeios, como temos tanta calçada esburacada, como se demora tanto tempo a limpar os graffiti, como é que o Rossio tem as fontes constantemente desligadas, como é que o castelo de São Jorge está às escuras desde 2017, como é que à volta da Torre de Belém não se resolve o assoreamento, o mesmo problema que existe há anos no Cais da Colunas?

São pormenores? Talvez. E não retiram totalmente a beleza à cidade. Mas alguém imagina a maioria das capitais europeias tão maltratadas como Lisboa? Nem em Atenas, considerada uma das capitais mais sujas e desorganizadas, a Acrópole está às escuras durante a noite.

Em Madrid não há uma fonte desligada dia e noite. Em Amesterdão não se vê lixo nas ruas. Em Viena não se vê um carro em cima dos passeios. E sendo justo, estes não são problemas recentes, vêm de gestões camarárias anteriores.

– Mas infelizmente esses cidadãos de outros países ditos civilizados e que não estacionam em cima dos passeios na terra deles, quando chegam ao nosso “quintal”, estacionam em cima dos passeios à boa maneira tuga! Basta constatar as matrículas desses “civilizados” cidadãos de outros países!

Mas Portugal está longe de ser apenas Lisboa. Como escreveu Joel Neto, há locais lindíssimos. Com excepção da capital, a maioria dos centros históricos das cidades e vilas portuguesas estão cuidados e bem preservados.

Viana do Castelo, Guimarães, Chaves, Bragança, Guarda, Tomar, Óbidos, Sintra, Elvas, Évora, Castelo de Vide, Monsaraz, Mértola, Tavira… são alguns dos bons exemplos.

Há muitos outros. E fora de muitos centros históricos há áreas profundamente belas como o Gerês, a Serra da Estrela, algumas áreas protegidas e algumas matas.

O pior é quase tudo o resto. Com a excepção de boa parte do Alentejo e dos Açores, região do nosso Joel Neto, temos vindo a destruir o nosso território e o que temos a apresentar a quem nos visita (e a nós próprios) é bastante feio.

Parte do Minho, boa parte das Beiras (a que erradamente chamamos Centro), boa parte do Ribatejo e Oeste e até as serras algarvias de Monchique e do Caldeirão são regiões que estão transformadas em gigantescas áreas de eucaliptal. Alguém gosta de olhar para uma paisagem sem floresta e que só vê eucaliptos?

Quando não são os inestéticos eucaliptos vemos terrenos abandonados, amontoados de sucata, muros de quintas inacabados ou de tijolos, bermas das estradas com lixo e ervas nunca cortadas.

Basta visitar qualquer outro país europeu para se ver o cuidado com todo o espaço rural. Tudo limpo, muros pintados, estradas arranjadas e sem a falta de cuidado com o espaço público como se vê em Portugal.

E depois temos as nossas aldeias. Tirando as aldeias históricas, sobretudo nas Beiras, e boa parte das aldeias alentejanas, destruímos quase tudo o resto.

Uma casa de cada cor, telhados suíços, leões de louça nos portões, portas de alumínio, mármores partidos a servir de chão, carros parados nas bermas e em cima dos passeios… Mais uma vez, é comparar com as aldeias que existem em França, Bélgica, Alemanha, Itália…

A boa notícia é que todos os erros que temos cometido nos últimos 100 anos, no que ao ordenamento do território diz respeito, podem ser revertidos.

É possível acabar com os eucaliptos, deixando a sua produção ser feita apenas em três ou quatro distritos, substituindo-os por árvores autóctones

É possível começar a recuperar paulatinamente as nossas aldeias, com programas locais que podem e devem envolver a participação da população.

É possível acabar com o lixo nas bermas das estradas, com os terrenos abandonados e ter políticas de ocupação do território de forma mais racional e positiva para os cidadãos que vivem nessas regiões.

É algo que vai demorar anos, muitas décadas. Mas é urgente começar desde já a recuperar o nosso território. O urbano e o rural. E obrigado, Joel Neto, por teres colocado o dedo na ferida e lembrado quão importante é este tema. Só quem ama verdadeiramente Portugal consegue ter um olhar sério e crítico e quer ver a nossa terra substancialmente melhorada.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

DN
Tiago Matos Gomes
16 Agosto 2023 — 17:48

– A grande maioria da sociedade portuguesa, ainda se situa na era dos Flintstones em termos de comportamentos sociais e cívicos. Não faltam por aí são Freds Tugas Flintstones à solta!


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327: Portugal devia ser um grande evento

 

🇵🇹 OPINIÃO

“Participei em quatro Jornadas Mundiais da Juventude: Rio de Janeiro, Cracóvia, Panamá e agora Lisboa. E este foi a mais bem preparada”, disse o Papa Francisco na conferência de imprensa que deu no avião já a caminho de Roma.

E de facto os portugueses têm uma capacidade de organizar grandes eventos que é algo que devia ser estudado. Os mais óbvios e mais emblemáticos são a Expo’98 e o Euro 2004, mas vários outros têm sido um sucesso pelo menos desde a organização de Lisboa Capital Europeia da Cultura em 1994.

E o mérito não tem apenas uma cor. Ao longo das últimas décadas tivemos eventos que começam com governos de um partido e acabam com outro. E que envolvem câmaras de vários símbolos.

Era necessário fazer um estudo sociológico para entender melhor a razão pela qual como tão desorganizados para os assuntos do dia-a-dia e tão bons para os acontecimentos excepcionais, sobretudo se tiverem um cariz europeu ou internacional.

Terá a ver com o nosso desejo muito português de querermos agradar aos outros? Este desejo lusitano de sermos reconhecidos por quem é de fora? É bem possível. Ao longo dos últimos séculos pouco nos preocupámos connosco e sempre nos preocupámos por fazer boa figura internacionalmente.

E tem dado os seus frutos. Não é certamente por acaso que tivemos um presidente da Assembleia Geral da ONU, um presidente da Comissão Europeia e temos ainda um secretário-geral das Nações Unidas, sem contar com dezenas de outros portugueses que têm ocupado lugares de topo em lugares públicos e privados um pouco por todo o mundo.

A Jornada Mundial da Juventude foi “apenas” mais um caso de sucesso mundial. Basta ver alguns vídeos das outras três últimas jornadas para perceber que a de Lisboa foi manifestamente um enorme sucesso de organização e de bom gosto.

E também basta ver alguns vídeos de edições anteriores para entender que as nossas forças de segurança, sejam as militares sejam as policiais, são de uma enorme qualidade.

E numa nota mais política foi muito positiva a atitude do primeiro-ministro ao longo desta Jornada Mundial da Juventude. Deixou o protagonismo para o Presidente da República, nunca se colocou em bicos de pés e apareceu nos momentos certos e com as palavras correctas.

E tendo louros neste sucesso, assim como a Igreja Católica portuguesa e os presidentes de câmara envolvidos, em especial Carlos Moedas. É justo reconhecê-lo.

Só é pena que esta nossa capacidade não se estenda para a governança nacional durante todo o ano. Portugal parece aquela casa que está sempre desarrumada e nem sempre limpa, mas quando recebe visitas atira tudo para um quarto fechado, faz uma limpeza superficial, prepara um jantar maravilhoso e consegue fazer boa figura.

Portugal precisa de ser uma casa cuidada todo o ano e todos os anos. E deve começar a tratar muito melhor os seus moradores. Temos de tratar de Portugal como se tivéssemos um grande evento contínuo e sem fim à vista.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

DN
Tiago Matos Gomes
09 Agosto 2023 — 18:05


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265: O PS não é socialista e o PSD não é social democrata

 

🇵🇹 OPINIÃO

Olhar para os nomes e símbolos dos principais partidos portugueses é, por um lado, uma viagem no tempo e, por outro, verificar como são desadequados às suas políticas e ao seu eleitorado. Mas que em parte a sua manutenção serve a narrativa de alguns dos seus adversários.

Começando pelo partido do governo. Alguém intelectualmente honesto pode considerar o Partido Socialista como sendo socialista? O símbolo (também ele ultrapassado – e do qual nem Mário Soares gostava, como revelou décadas mais tarde após a fundação do PS) bem pode ter um punho fechado, mas as lutas dos “socialistas” sempre foram bem moderadas e muito alinhadas com toda a ideologia e prática dos partidos sociais-democratas europeus.

Nunca o PS, nem mesmo nos anos seguintes à sua fundação, pós-1973, foi um verdadeiro partido socialista.

Nem os seus dirigentes alguma vez foram socialistas, nem as bases do partido alguma vez foram socialistas, nem o seu eleitorado alguma vez foi maioritariamente socialista, ainda que o PS capte voto útil à esquerda mais radical.

É verdade que a partir de certa altura os dirigentes do PS começaram a dizer que eram socialistas democráticos, para distinguir o PS do PCP, esse sim pertencente ao socialismo real, uma espécie de sinónimo de comunismo.

O problema é que “socialismo democrático” é uma contradição de termos. Se é socialista não é democrático, se é democrático não pode ser socialista.

O PS é um partido social democrata, moderado, de centro-esquerda, que defende uma democracia liberal e que convive bem com o capitalismo, desde que muito regulamentado.

É por isso que se torna inverosímil a narrativa da Iniciativa Liberal, fazendo uma divisão entre socialistas e liberais, como se PCP, BE, PAN e PS (às vezes incluindo o PSD) fossem todos socialistas. E afirmando que vivemos num país socialista, o que está muito longe de ser verdade.

Países socialistas são Cuba e Venezuela, para lembrar os mais óbvios. Portugal, retirando o curto período do PREC, nunca teve nada parecido com um regime socialista.

Mas o PSD também não é nem nunca foi social-democrata. Aliás, nasceu com o nome e siglas que deveria ter mantido sem ter acrescentado “PSD”. Partido Popular Democrático, PPD, é a verdadeira essência daquele que se auto-denomina como o mais português dos partidos em Portugal, embora este atributo seja bastante discutível. O PPD/PSD nasceu da ala liberal da ditadura do Estado Novo.

um partido que surge à direita do espectro político português. Nunca foi um partido de centro-esquerda, como são todos os verdadeiros partidos sociais-democratas europeus, partidos irmãos do PS.

E desde o início que o PPD/PSD captou a maioria do eleitorado do centro-direita e direita no pós-25 de Abril.

Os pequenos e grandes empresários, os descontentes com a revolução, os saudosistas do Estado Novo, os descontentes com a descolonização em África… todos se colocaram dentro ou junto do PPD/PSD.

E, claro, parte destes, em muito menor número, para dentro ou junto do CDS (outro partido que nunca foi centrista, apesar de ter “centro” no nome).

É certo que todas estas designações profundamente erradas para os partidos em questão têm uma explicação histórica. Saindo de um regime ditatorial de extrema-direita e fascista é natural que os partidos nascidos na nova democracia de 1974 não quisessem qualquer tipo de associação à direita, mesmo que democrática.

E assim escolheram nomes bem mais à esquerda do que era a sua matriz. Tanto que o partido mais à direita, com um eleitorado bastante conservador, se chamou, e ainda chama, Centro Democrático Social.

Talvez fosse tempo de os partidos mais antigos começarem a actualizar os seus nomes, símbolos e estética. Já passou quase meio século da revolução e a política do país, da Europa e do mundo mudou muito.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

DN
Tiago Matos Gomes
19 Julho 2023 — 21:58



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217: O memorial da hipocrisia

 

🇵🇹 OPINIÃO

O memorial para homenagear as vítimas dos incêndios de 2017 inaugurado pelo Presidente da República, primeiro-ministro, outros governantes e autoridades locais é um monumento que nos faz lembrar a profunda hipocrisia em que o mundo político se move.

Bastava estar mais atento e perceber que o monumento inaugurado estava circundado por centenas de eucaliptos, uma espécie de árvore invasora que é um autêntico fósforo em caso de incêndio e que tem destruído toda a paisagem do território português.

Não é sequer uma questão de ordenar os eucaliptais (devemos recusar-nos chamar floresta às manchas de eucaliptos que proliferam por aí) existentes. É urgente começar a reduzir drasticamente as manchas de eucaliptos em Portugal.

E o que tem feito o governo e os municípios? Nada. Normalmente com a desculpa de que os terrenos são privados. Então há que criar uma lei que restrinja a plantação e a replantação de eucaliptos na maioria dos distritos e escolher em quais a sua plantação pode ser feita e controlada.

Nos restantes há que os retirar e plantar espécies de árvores autóctones e preparadas para um clima mais quente e mais severo como aquele que vamos viver por causa das alterações climáticas.

Tudo o que se fizer menos do que isto é pura negligência e uma total hipocrisia. De nada valerá criar monumentos de homenagem se na prática não houver coragem de enfrentar os lobbies que vivem à custa da produção dos eucaliptos.

Todos sabemos que são forças com muito poder, mas os políticos não foram eleitos para as servirem, foram eleitos para servir o povo. Ou poderão ser acusados de conivência com a manutenção de um território profundamente perigoso para as populações, que no limite as pode matar.

É verdade que os eucaliptos não são a única causa dos incêndios, seria demagógico afirmá-lo. Mas é um dos factores decisivos na perigosidade dos incêndios, seja na rapidez como se alastram, seja na força das chamas.

O negócio que daí advém não justifica que não se faça uma guerra séria à plantação e replantação de eucaliptos.

Mas a falta de organização do nosso território é outro dos factores que as autoridades teimam em não resolver, mais uma vez por falta de coragem. Durante muitas décadas deixou-se construir em todo o lado.

Temos casas isoladas em boa parte do nosso interior. Basta comparar a dispersão de casas em países como França ou Alemanha para perceber que se fez tudo mal em Portugal.

Agora é muito difícil reordenar convenientemente o território, vai demorar décadas. Mas o problema é que não há vontade política para iniciar essa tarefa.

Por um lado porque vai deixar descontente parte do eleitorado, por outro porque os benefícios dessa política só será visível nas gerações vindouras.

Por tudo isto, medo de enfrentar lobbies, medo de enfrentar parte do eleitorado, nada se faz. Infelizmente, todas as medidas de prevenção adoptadas hoje e no futuro pouco ou nada melhorarão os riscos de incêndios.

Os políticos continuarão a atirar as culpas para a mudança do clima sem que ataquem o mal pela raiz. E neste caso de forma literal.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

D.N.
Tiago Matos Gomes
27 Junho 2023 — 22:52



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202: Não existe caça à multa

 

– “… Esta é uma ideia claramente errada. Não existe “caça à multa”, o que existe é fazer cumprir a lei e o código da estrada.

É um facto sem qualquer tipo de contestação. É que não só não existe caça à multa como também não existe fazer cumprir a lei e o código da estrada…

🇵🇹 OPINIÃO

A expressão “caça à multa” é muito utilizada para significar uma espécie de perseguição das autoridades, percepcionada como ilegítima, a quem não segue o código da estrada.

Esta é uma ideia claramente errada. Não existe “caça à multa”, o que existe é fazer cumprir a lei e o código da estrada.

Num país em que se vive em quase total impunidade, em que pouco se fiscaliza, em que as autoridades fecham os olhos às maiores aberrações nas nossas ruas e estradas… quando se faz cumprir as regras há sempre alguém que vem com o argumento da “caça à multa”.

Sim, basta sair de casa para perceber que Portugal é um país que vive mal com regras básicas e que é o automóvel que manda no espaço público.

– Eu diria antes que Portugal é um país de gente incivilizada, sem qualquer dom de cidadania e de civismo!

Carros em cima de passadeiras, carros em cima de passeios, carros parados em segunda fila, carros a fazerem manobras perigosas, carros em velocidade excessiva, carros a passarem sinais vermelhos… a lista é longa e são casos que acontecem recorrentemente de norte a sul do país.

Quando há casos em que a polícia de forma mais organizada tenta apanhar os condutores que não cumprem a lei e o código da estrada vem a narrativa da “caça à multa”.

Seria bom lembrar a quem usa essa argumentação que basta cumprir as regras aprendidas nas aulas das escolas de condução que não terá de se preocupar com multas.

Esta narrativa da “caça à multa” faz muito lembrar aquelas pessoas que estacionam em cima de passadeiras e passeios e que depois argumentam que são só cinco minutos ou que estão a trabalhar, como se isso desculpasse a infracção cometida.

Convém dizer que não existe um direito de parar o carro em qualquer lado que dê jeito, mesmo que isso seja contra a lei.

É urgente começar a mudar mentalidades sobre o uso do carro em Portugal. Temos um problema grave de acidentes e mortes nas estradas, incluindo mortes nas passadeiras. Temos um problema grave de ocupação dos carros no espaço público nas nossas cidades.

As autoridades políticas, seja ao nível central seja ao nível local, têm de começar a restringir o uso do automóvel à imagem do que se faz em boa parte das cidades europeias. Não é concebível ver as próprias viaturas das câmaras municipais e das freguesias a parar em cima de passeios. Têm de dar o exemplo.

– Dizem todos eles que não têm outro espaço para estacionar e andar a pé faz calos nos dedos (dos pés)…

E as autoridades policiais têm de fiscalizar mais e melhor. E também têm de dar o exemplo. Quantas vezes não vemos carros da polícia em cima de passeios, tantas vezes sem qualquer justificação para isso?

E devem intensificar todas as formas de fiscalização, mesmo aquelas que alguns denominam erradamente como “caça à multa”. Porque neste como noutros temas: quem não deve não teme.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

D.N.

Tiago Matos Gomes
21 Junho 2023 — 17:36


Web-designer, Investigator, Astronomer
and Digital Content Creator


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105: Baixa de Lisboa: local a evitar

 

🇵🇹 OPINIÃO

E infelizmente não é só a Baixa um local a evitar, também o Chiado, o Bairro Alto e Alfama são cada vez mais zonas do centro de Lisboa que se têm tornado desconfortáveis até para passear.

Este desconforto não é de agora, vem pelo menos desde 2014/2015 quando Lisboa passou a estar na moda e o executivo da altura, presidido por António Costa e depois por Fernando Medina, não souberam adaptar a cidade à chegada de milhares de turistas todos os dias.

De um centro histórico meio abandonado e com poucos moradores, mas frequentado durante o dia por muitos portugueses, passámos a ter uma zona central com o edificado a ser recuperado por privados e visitada quase exclusivamente por estrangeiros.

Culpar o turismo pela descaracterização dos centros das cidades não serve de nada. E bem sabemos como, infelizmente, a nossa economia vive dependente dos fluxos turísticos.

Mas enquanto noutras cidades da Europa o aumento do turismo serviu para melhorar o espaço público, aumentando passeios, retirando carros do centro, restaurando monumentos e edifícios públicos… em Lisboa abandonou-se o centro tornando-o um local que os lisboetas começaram a evitar.

A Baixa, Alfama, o Chiado, o Bairro Alto e a Bica tornaram-se zonas sujas, com ruas cheias de lixo acumulado, com cheiros insuportáveis em várias delas, com tráfico de droga e de falsa droga em artérias supostamente nobres, com passeios minúsculos cheios de gente, com carros em cima de passeios todo o tempo, com fios de electricidade e telecomunicações nas fachadas…

O centro de Lisboa é um acumular de péssimos exemplos que em nada a colocam como cidade europeia de primeiro mundo.

Nem coisas básicas que até em Atenas funcionam, famosa por algum desleixo, em Lisboa não. Só dois exemplos: as muralhas do castelo de São Jorge estão às escuras há pelo menos cinco anos.

Alguém imagina a Acrópole ou a Torre Eiffel sem iluminação à noite? E as fontes do Rossio funcionam umas poucas horas por dia desde a pandemia. Alguém imagina as fontes de Madrid sem água praticamente 24 horas por dia?

O centro de Lisboa vive num total desleixo onde deixou de ser prazeroso frequentar. Outro exemplo: o Cais das Colunas é hoje um espaço de venda ambulante, cantores de rua de terceira categoria e estacionamento de tuk-tuks junto à passadeira.

Já para não falar da inestética saída de águas pluviais que cria uma praia suja e que destrói toda a simetria pombalina da Praça do Comércio.

Outro local onde houve assoreamento foi junto à Torre de Belém, mas aí já estamos fora do centro de Lisboa. As autoridades da cidade e do país não andam na rua? Não se importam com o estado a que o espaço público chegou?

Se não podemos nem devemos travar a chegada de turistas ao menos que tratemos do espaço que é de todos. Não basta deixar recuperar prédios para fazer hotéis e restaurantes, é necessário tratar e cuidar dos passeios, das praças, dos edifícios públicos, dos monumentos e manter as ruas limpas.

E já agora sem famílias inteiras que se decidam a traficar droga e falsa droga e a chatear as pessoas de 10 em 10 metros.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

D.N.
Tiago Matos Gomes
17 Maio 2023 — 14:29


Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais


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81: Dia da Europa, dia de falar de euro-federalismo

 

🇵🇹 OPINIÃO

“A Europa não se construirá de uma só vez, nem de acordo com um plano único. Construir-se-á através de realizações concretas que criarão, antes de mais, uma solidariedade de facto.”
Declaração de Schuman, 9 de Maio de 1950

Robert Schuman entendeu há 73 anos que o projecto europeu, quando ainda nem sequer existia, só poderia ser construído passo a passo.

E é o que tem acontecido. Não só o que viria a ser a União Europeia tem dado pequenos passos, a maior parte das vezes, como grandes passos, mais raramente. E assim os europeus têm vindo a aceitar e a apoiar este caminho de integração europeia. E ainda bem.

Por outro lado, a União Europeia tem evoluído a várias velocidades, numa espécie escolha à la carte, conforme as conveniências dos Estados-membros.

Dos 27, uns têm o euro como moeda outros não, uns pertencem ao espaço Schengen outros não, só para dar os dois exemplos mais óbvios.

E a UE tem funcionado assim, sem problemas de maior, ainda que, com este modelo, seja mais difícil gerir a governança do projecto comum.

Entretanto, além da União Europeia, que internamente já funciona a ritmos diferentes, foi criada, por proposta de Emmanuel Macron, a Comunidade Política Europeia, que integra os Estados da UE e países europeus que poderão ou não vir a entrar na UE.

“Esta comunidade não é uma alternativa ao processo de adesão, mas um complemento que, independentemente dele, permite uma estruturação mais forte da relação política, energética e de investimento com vários países que desejam aderir”, disse o presidente francês no Dia da Europa do ano passado para justificar a sua proposta.

E a verdade é que a ideia foi para a frente e a primeira cimeira da Comunidade Política Europeia realizou-se em Outubro último.

Temos já dois espaços de convergência europeia, sem contar com as várias velocidades internas da própria União Europeia. É tempo e mais do que urgente criar o terceiro espaço europeu: o da União Federal da Europa.

Aqueles Estados-membros que desejarem avançar mais rapidamente numa plena integração europeia devem unir esforços e fundarem uma federação europeia, a começar com um entendimento entre a França e a Alemanha, os dois motores do projecto europeu.

No início não teríamos mais do que 10 a 15 Estados, mas ao longo do tempo a União Federal da Europa poderia ir crescendo de acordo com a vontade de cada país.

Neste mundo globalizado em que nem a Alemanha, o maior e mais rico Estado da União Europeia, terá capacidade para competir com as grandes potências, é mais do que urgente começar a debater aquilo a que Ana Gomes chama “the F word”, o federalismo.

Quanto mais tempo os europeus esperarem para encarar a realidade e adiarem a única solução que poderá retirar a Europa do declínio, mais tempo demorarão a sair desta estagnação crónica.

Não se trata já de meras opções. Queremos ou não uma Europa mais integrada? Queremos ou não caminhar para o federalismo?

Estas são perguntas erradas. Devemos é perguntar: Queremos ou não sobreviver num mundo de potências globais? Queremos ou não ser dominados economicamente e culturalmente por outras potências?

Quando vamos juntar esforços e criar uma federação europeia e em que moldes? Estas são as perguntas que devemos fazer.

O que está em causa, e a invasão da Rússia na Ucrânia é demonstrativa dos perigos que existem na Europa, é a nossa sobrevivência enquanto sociedade e civilização com determinados valores e bem-estar social. Não podemos deitar isso a perder.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

D.N.
Tiago Matos Gomes
10 Maio 2023 — 00:35


Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais


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