– “… Além disso, é necessário termos presente que nesta nossa sociedade cada vez mais atomizada, a vida na rua, nos bairros, assente nas relações de vizinhança, praticamente já não faz parte das vivências das gerações mais jovens“.
Os “profissionais da educação”, alguns deles, são profissionais da política partidária e ideológica! O grande problema deste país é existirem agitadores políticos no seio da classe académica, neste caso, dos professores, que levam aos extremos os seus interesses partidários, da sua ideologia político/partidária e da profissionalização sindical.
🇵🇹 OPINIÃO
A caminho do quarto ano, a instabilidade caracteriza a vida nas escolas. Primeiro a pandemia, depois as greves. Vamos terminar o ano lectivo envoltos na maior crise educacional das últimas décadas e o mesmo cenário já se anuncia para o próximo.
Os profissionais da Educação estão descontentes, as famílias apreensivas e a sociedade civil inquieta. O que está a acontecer coloca em risco a coesão social e o desenvolvimento económico do país. Estamos a brincar com o fogo.
Continuamos a ter uma grande quantidade de famílias pobres, que vivem em condições muito difíceis, que têm baixos níveis de escolarização e cujos filhos são os que maioritariamente vivem repetidas situações de insucesso escolar. Sabemos ser forte a ligação entre a pobreza, as baixas qualificações das famílias e o insucesso escolar dos seus filhos.
Quando a missão da escola pública se perde na instabilidade reinante, estamos a comprometer o presente e o futuro de milhares de portugueses, que apenas vêem erguer-se obstáculos onde antes lhes prometiam segurança, esperança e bem-estar.
Perante o clima de permanente guerrilha educacional, as famílias que podem vão saindo da escola pública e escolhendo os colégios privados. Fazem-no porque, como qualquer mãe e pai, querem o melhor para os seus filhos. Assim se acentua um sistema dual.
De um lado, um ensino privado para os que podem pagar, estável, rigoroso e exigente, atento às inovações educativas e diligente na construção de oportunidades para os seus alunos.
Do outro, um ensino público que, pouco a pouco, vai deixando de ser tudo isso, mercê de políticas educativas e curriculares inadequadas e de um clima de instabilidade insanável.
Além disso, é necessário termos presente que nesta nossa sociedade cada vez mais atomizada, a vida na rua, nos bairros, assente nas relações de vizinhança, praticamente já não faz parte das vivências das gerações mais jovens, cujas actividades fora da escola são cada vez menos livres e mais reguladas e individualizadas.
A rua e o bairro, enquanto espaços de encontro da diversidade, afirmação das identidades e de construção da autonomia, perderam-se.
E aquelas actividades fora da escola, tirando partido das múltiplas oportunidades de Educação não formal, são um privilégio reservado aos que lhes conseguem aceder.
Quer isto dizer que, ao contrário do que aconteceu durante muitas gerações, as escolas públicas, devem ser hoje o último grande espaço público de encontro e socialização de todas as crianças e jovens nos valores da democracia e da justiça social, independentemente das suas origens e diferenças.
Devem ser os últimos espaços públicos em que as crianças e os jovens de todas as classes e grupos sociais podem aprender a viver e a trabalhar juntos, a respeitar-se mutuamente e a cooperar de forma solidária, partilhando desafios e projectos, num ambiente de estabilidade, rigor e exigência.
Nunca como hoje o projecto da escola pública foi tão importante para o nosso futuro colectivo. E nunca como hoje este projecto esteve tão ameaçado.
Professor do Ensino Superior
D.N.
Pedro Patacho
12 Junho 2023 — 00:47
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published in: 3 meses ago