250: A natureza da direita

 

🇵🇹 OPINIÃO

O Parlamento Europeu aprovou ontem a sua posição sobre a Lei do Restauro da Natureza, destinada a recuperar os ecossistemas e solos degradados na Europa, essencial na estratégia de combate à crise climática.

Apesar do sucesso, a votação marcou um ponto de inflexão na política europeia, nomeadamente no que diz respeito ao compromisso climático.

É que o Partido Popular Europeu (PPE), casa onde habitualmente se encontrava a direita moderada, está a aproximar-se de tal forma da extrema-direita que começa a ser difícil distinguir as posições de uns e de outros.

Agitando desinformação e argumentos desmentidos pelos cientistas, a direita europeia alinhou-se com os grupos da direita radical e extremista para tentar derrubar esta lei. Felizmente, falharam.

Hoje, não há como alegar desconhecimento, falta de informação ou a necessidade de mais estudos para começar a agir. Não faltam provas sobre a urgência desta causa. Não é só a maior intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como as vagas de calor que começam a ser habituais.

São os dados científicos que o comprovam para lá de qualquer dúvida: o clima está a mudar devido à acção humana. O planeta não espera e, como dizem os jovens nas manifestações, não há planeta B.

É tempo de agir e concretizar as medidas que defendem o futuro do nosso planeta, as mesmas das quais dependem as gerações vindouras. Seria fundamental que tal não fosse alvo de polarização política.

Contudo, em vez de decidir a sua posição com base no conteúdo da lei, a direita já estava determinada a afundá-la.

Os motivos são simples (e tristes). O primeiro é de táctica eleitoral: para evitar que a extrema-direita lhe continue a roubar votos, a direita moderada adopta o programa extremista que julga agradar aos cidadãos. Mesmo que seja injusto, errado ou contra a evidência científica.

O segundo é de puro interesse pessoal. Manfred Weber, presidente do PPE, insiste em desafiar Ursula von der Leyen, apesar de serem da mesma família política.

Tudo remonta a 2019, quando Weber – o mesmo que tinha pedido sanções na força máxima contra Portugal – foi apresentado como candidato do PPE a presidente da Comissão Europeia, mas acabou preterido em favor de Von der Leyen.

Apesar de o presidente do PPE estar disposto a instrumentalizar a causa climática para a sua guerra pessoal, nem todos os eurodeputados do seu grupo cederam. Alguns votaram a favor da lei – entre os quais, lamentavelmente, não se conta ninguém da direita portuguesa.

PSD e CDS deixaram-se enredar nestes jogos de poder e, quando confrontados, tiveram de correr à procura de justificações a posteriori. Os argumentos, preparados em cima do joelho, eram trapalhões e falsos.

Há mais legislação fundamental a caminho, que enfrentará novamente esta aliança da direita com a extrema-direita. Já não são só os valores humanistas e a democracia que estão em causa; agora é o próprio planeta que colocam em risco.

14 valores
Descida da inflação

Nem tudo está resolvido, mas os sinais são positivos: em Portugal, pelo oitavo mês consecutivo, a inflação desceu. Encontra-se agora nos 3,4%, um terço do pico registado em 2022, e abaixo da média europeia. Com o contributo fundamental dos apoios à produção e redução do IVA nos bens essenciais.

Eurodeputado

DN
Pedro Marques
13 Julho 2023 — 00:17



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233: Carta à Senhora Lagarde

 

🇵🇹 OPINIÃO

Na sua passagem por Portugal, a presidente do Banco Central Europeu repescou a linguagem da austeridade.

Implícita nas suas palavras está uma visão ortodoxa, onde o combate à inflação pode e deve ser feito a todo custo.

O objectivo do BCE de limitar a inflação a 2% não pode ser justificação para atropelar a situação social e económica na Europa.

Além disso, o contexto actual – incluindo a inflação em clara queda na Zona Euro – acrescenta dúvidas sobre a pertinência e adequação dos aumentos consecutivos da taxa de juro que Christine Lagarde quer prosseguir.

Depois dos picos em 2022, os preços da energia estão em trajetória descendente. Actualmente, o seu peso na taxa de inflação já é negativo. Mas, assim como aconteceu aquando da sua subida, a sua repercussão em toda a economia leva algum tempo.

Tal como antes a inflação subiu ao longo de vários meses, também agora não se pode esperar que a descida seja imediata.

Acresce que, como admite a própria Lagarde, um dos elementos que mais tem contribuído para a inflação é o aumento das margens de lucro por parte de algumas empresas. Não se trata de qualquer radicalismo ou de ataque à iniciativa privada.

É o que demonstram todos os estudos e análises das instituições mais insuspeitas; e é o que constata qualquer pessoa minimamente atenta, ao ver os lucros das grandes empresas a subir de um modo que a situação económica não justifica.

Dado que o aumento das taxas de juro não tem qualquer efeito prático na redução das margens de lucro, a actuação do BCE – que penaliza brutalmente as famílias – vê limitado o seu efeito sobre os preços.

Lagarde, porém, insiste em carregar mais nas taxas de juro a priori, correndo o risco de exagerar no “ajustamento monetário”.

Defende-se com o seu mandato principal – o controlo da inflação – e o estatuto de independência do BCE. Só que a inflação não é um número abstracto e independência não pode ser desligamento da realidade.

Daí a total pertinência das críticas que Primeiro-ministro e Presidente da República lhe dirigiram. Até Luís Montenegro tentou esboçar uma ligeira crítica, ainda que as suas palavras sejam traídas pelas posições do seu líder da bancada parlamentar e pelo Partido Popular Europeu (que o PSD integra), que bem recentemente defendiam o aumento das taxas de juro.

Independência também não significa ausência de escrutínio. Por isso mesmo, na próxima segunda-feira, integrado numa missão do Parlamento Europeu (a única instituição que escrutina o BCE), questionarei Christine Lagarde relativamente ao caminho que se propõe prosseguir e que pode ter um efeito desastroso na economia europeia.

A política económica não pode voltar a ser um Excel sem considerar as implicações na vida real.

Nós, no Parlamento Europeu, não nos esquecemos da crise financeira e não deixaremos de o lembrar à Sr.ª Lagarde.

15 valores
António Lacerda Sales

A postura apaziguadora e educada, a sensibilidade e o bom senso são, nos tempos que correm, “bens escassos” na política. A forma como Lacerda Sales conduziu a CPI à TAP merece destaque. E, outra coisa difícil, demonstrou que ainda é possível ser consensual. Um exemplo que prestigiou o Parlamento.

Eurodeputado (PS)

DN
Pedro Marques
06 Julho 2023 — 00:17


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219: Era uma vez um homem forte

 

🇵🇹 OPINIÃO

Ao recapitular os eventos dos últimos dias e, é praticamente impossível escapar ao sentimento de perplexidade. Pouquíssimos poderiam imaginar uma insurreição do Grupo Wagner contra o Kremlin.

E, certamente, ninguém – nem mesmo Vladimir Putin – desconfiava que o esquadrão de mercenários extremistas faria a sua marcha armada até 200km de Moscovo, sem oposição.

Mas quando já todos se desdobravam em especulação (e preocupação) sobre os cenários subsequentes, foi com igual perplexidade que assistimos a um anti-clímax: Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia, anunciou um acordo que incluiu a retirada do Grupo Wagner e ida do seu líder, Yevgeny Prigozhin, para a Bielorrússia.

Anti-clímax não porque a guerra civil ou o sucesso da insurreição do Grupo Wagner fossem desejáveis – a instabilidade numa potência nuclear é sempre de temer.

Antes porque Prigozhin e os seus mercenários desafiaram directamente o Kremlin, incluindo as suas narrativas forjadas sobre a invasão da Ucrânia, mas, ainda assim, as repercussões foram limitadas.

Prigozhin confessou que a invasão russa não é uma resposta defensiva ao Ocidente e à expansão da NATO. Acusou os líderes Russos de mentirem quanto ao decorrer da guerra. Marchou contra o Kremlin com facilidade e, em alguns casos, foi aplaudido pela população.

Enfraqueceu, como mais ninguém até hoje, a imagem do “homem forte” que Putin tanto gosta de cultivar.

Apesar da narrativa oficial de que o conflito foi sanado e a Rússia já redireccionou as suas atenções para a dita Operação militar especial, as dúvidas sobre a robustez do regime russo estão definitivamente instaladas.

Este, tal como qualquer outro autoritarismo, tem o seu destino intimamente ligado à capacidade de projectar uma imagem de força capaz de inibir quaisquer alternativas internas, incluindo as democráticas.

Para um líder como Putin, que investiu deliberadamente nesta imagem como fonte de autoridade e legitimidade, a sensação de fragilidade é ainda maior.

É que, perdida essa “força”, somos levados a pensar no desempenho da Rússia sob a sua liderança. E os resultados estão muito aquém da imagem que tenta projectar.

Actualmente, a dimensão da economia russa está algures entre a de Espanha e Itália – isto apesar de ter mais habitantes do que os dois países juntos (143 milhões de pessoas contra 106 milhões) – e as sanções impostas pelo Ocidente vão agravando a situação.

E não é um problema circunscrito à economia, há implicações concretas no bem-estar das pessoas. A Rússia está entre os dez países do mundo onde, em termos proporcionais, mais pessoas se suicidam.

Em 2021, por exemplo, a esperança média de vida na Rússia era de 69 anos – muito menos do que em Portugal (81 anos) e inferior a países como o Iraque, a Líbia ou a Venezuela.

Isto sem contar com as muitas dezenas de milhares de russos que certamente morreram na guerra, cujo número o Kremlin esconde, mas vão deixando cada vez mais famílias enlutadas.

Sem resultados práticos com que se possa respaldar, não há como fintar a conclusão: depois do motim do Grupo Wagner, órfão do título de “homem forte”, Vladimir Putin está fragilizado.

Mas isso não significa menos perigoso. Nem que seja pela tentação de, com mais bombardeamentos e ofensivas bárbaras, nos tentar fazer esquecer que o czar vai nu.

17 valores
Marcos Freitas

Um dos melhores resultados individuais de sempre em ténis de mesa [Medalha de Prata], o meu desporto de infância, daí tê-lo seleccionado no meio de tantos resultados positivos nestes Jogos Europeus.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
29 Junho 2023 — 00:37



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199: O mar morto

 

🇵🇹 OPINIÃO

Enquanto na semana passada, em Estrasburgo, o Parlamento Europeu (PE) assinalava um momento de esperança para a política europeia de migrações, formava-se uma nova tempestade de desespero e morte no Mediterrâneo.

Um barco carregado de centenas de migrantes e refugiados navegava a caminho da Europa. São vidas de desespero, onde a miséria profunda nos seus países de origem as empurra a escolher o perigo mortal das águas do Mediterrâneo, tal como bem recordou Roberta Metsola, presidente do PE, na sua visita recente à Assembleia da República.

Um relato de desespero, de um barco demasiado cheio de ganância dos traficantes: a água e a comida que acabavam, o motor que deixava de funcionar, as autoridades pouco sensíveis nos países europeus, os apelos de ajuda respondidos de modo insuficiente. No fim, são famílias inteiras – com muitas crianças – todas perdidas no mar.

Tal como fomos solidários com os milhões de ucranianos que fugiram da guerra, temos de ser capazes de ser solidários com os sírios, sudaneses e tantos outros que fogem igualmente da guerra, da seca e da miséria extrema.

Solidariedade para com um refugiado que tudo perdeu na sua vida, salvar um ser humano em perigo no mar: eis o que se exige a quem vive no conforto desta Europa.

A esperança de que tal se possa tornar realidade vem do pacto das migrações. Não resolverá tudo, longe disso, não será a vacina definitiva contra a xenofobia, mas será uma ajuda importante.

As migrações são normais, acontecem desde que vivemos em sociedade. E o continente europeu está envelhecido, precisamos de migrantes como parte do nosso desenvolvimento.

Gerir as migrações não pode significar recusar ajuda no mar, criar campos de refugiados com condições miseráveis numa qualquer ilha europeia, ou externalizar o problema para ditadores e regimes falhados nas nossas fronteiras, onde nem um pingo de humanidade resta, quanto mais instituições que funcionem.

Gerir as migrações implica trabalho com os países de origem, sim, mas também inclusão e humanismo nos países de destino, assim como solidariedade em toda a União Europeia, repartindo responsabilidades entre os 27 estados-membros, e não apenas nos países de fronteira.

Se o PPE, grupo europeu do PSD e do CDS, não rasgar os compromissos já assumidos na discussão parlamentar, cedendo novamente à agenda da extrema-direita, conseguiremos ainda neste mandato reformar a legislação europeia, trazendo mais solidariedade onde ela tanto tem faltado.

A Europa não pode falhar. Mas, para isso, não podemos ser complacentes com os que recusam a solidariedade, quer estejam nas fronteiras externas, quer no interior do continente.

Aos europeus exige-se que este tema não caia no esquecimento colectivo. Faltam, desta vez, as imagens chocantes e comoventes, porque nenhuma daquelas crianças veio a ser encontrada nalguma praia europeia.

Estão todas silenciadas no Mediterrâneo profundo. Mas a dor não a podemos esconder, a revolta não a podemos calar.

P.S. – À hora a que escrevo, numa luta contra o tempo, numerosos navios, aviões e submarinos procuram no meio do Atlântico um pequeno submarino que desapareceu com cinco milionários. Oxalá o encontrem a tempo.

A desproporção dos meios empregues não podia ser mais gritante. Não, as vidas humanas não têm o mesmo valor. Sei que é o mundo que temos, mas não somos obrigados a resignar-nos.

17 valores
Fim dos estágios não-remunerados

Portugal, antecipando-se ao trabalho a nível europeu, já começou a implementar medidas para garantir que os estágios profissionais são pagos. É uma resposta concreta a uma das principais razões de queixa (há muitos anos) entre os jovens que entram no mercado de trabalho. Estamos no rumo certo!

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
22 Junho 2023 — 00:46


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179: Os radicais e os professores

 

– Ainda não consegui entender a “intelectualidade” de certos “professores”, que se deixam formatar por agitadores profissionais pseudo-sindicalistas com interesses bastante obscuros…

🇵🇹 OPINIÃO

O Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, é, por norma, uma ocasião de unidade. Infelizmente, em 2023, as comemorações e o espírito de proximidade ficaram manchados por uma demonstração acre contra António Costa.

Ocorreu durante uma manifestação de alguns professores. Quero ser claro: ninguém recusa ou tem dúvidas da legitimidade da causa dos professores. Ninguém, nem mesmo o próprio primeiro-ministro.

António Costa foi responsável pelo descongelamento das carreiras e pela recuperação parcial do tempo de serviço. Reconhece as aspirações dos professores, mas, lembra ao mesmo tempo que existem classes profissionais em situação semelhante.

Estariam em causa 1300 milhões de euros em despesa permanente, ou seja, todos os anos. E, se esses direitos, cortados durante os governos PSD/CDS no período da troika, fossem devolvidos, muitos outros cortes de pensões e rendimentos também teriam de o ser… O que seria impossível.

Sendo beneficiários directos de tal decisão, é fácil de entender que muitos professores defendam que esses custos devem ser assumidos. É também compreensível que o governo não tenha a mesma posição, pois tem de zelar não apenas pelos interesses dos professores, mas de todos os portugueses – e seriam estes a pagar este gigantesco aumento da despesa permanente do Estado.

Ambas as posições são legítimas, assim como o são as críticas e manifestações.

O que não é aceitável é passar da crítica ao insulto. Pior ainda quando se trata de insultos de teor racista, como os cartazes com que os manifestantes perseguiram o primeiro-ministro.

Sem surpresa, o seu autor desmentiu o teor racista dos cartazes. Provavelmente, os professores que os empunhavam também o desmentirão. Mas será que é isso que determina a natureza racista do ataque? André Ventura também diz que não é racista…

Uma olhada por outros desenhos do mesmo autor, que circulam pelas redes sociais, ajudam a perceber o que está implícito. Num deles, o primeiro-ministro surge como um faquir, turbante na cabeça e pinta vermelha, tradicional na cultura hindu, na testa.

Está a fazer malabarismo com vacinas. Não bastaria retratá-lo com as vacinas? Porquê esta representação? Porque, para o autor, a origem de António Costa (que não é hindu) é um elemento essencial a caricaturar.

Noutro, Costa é esbofeteado por uma mulher cabo-verdiana. Mas, de forma muito reveladora, o autor opta por colocar uma banana (!) na mão desta mulher negra. Qual a função da banana? Perguntem a qualquer adepto de futebol.

Tenho a certeza – absoluta – de que a maioria dos professores (e dos portugueses) não se revê nestas atitudes. Mas é incontornável constatar que alguns protestos dos professores têm sido marcados por um radicalismo a que o país não estava habituado.

Greves selvagens, consideradas ilegais pela PGR, intransigência negocial que torna impossível encontrar soluções de compromisso, manifestações crescentemente agressivas e por vezes ofensivas.

Sejamos claros, rigorosos e deixemo-nos de interpretações mais ou menos criativas de factos, até históricos, que pessoas insuspeitas de serem apoiantes do primeiro-ministro António Costa, de António Lobo Xavier a Mário Nogueira, identificaram: aqueles cartazes são absolutamente inaceitáveis, qualquer que seja o ponto de vista.

E, sim, são racistas.

18 valores
Miguel Maia

Aos 52 anos, o atleta olímpico português anunciou oficialmente o fim da sua carreira profissional. Uma referência máxima do voleibol nacional, Miguel Maia é também um exemplo de resiliência e força de vontade. Parabéns, e um obrigado, por 36 anos de jogo ao mais alto nível.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
15 Junho 2023 — 00:17


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158: O futuro do trabalho

 

🇵🇹 OPINIÃO

Não é fácil imaginar um contexto mais disruptivo para o mundo do trabalho do que o início desta década. Começou com uma pandemia global, logo nos primeiros meses de 2020, que nos forçou ao distanciamento social como forma de protecção.

Essas restrições tornariam a pandemia num acelerador da digitalização. O teletrabalho, até então desconsiderado como alternativa fiável, passou a solução fundamental para assegurar a funcionalidade de vários sectores, mantendo-se até aos dias de hoje (maioritariamente em formato híbrido).

Muitas empresas apostaram em especializar-se no comércio e serviços online. Outras aproveitaram para investir na sua eficiência, introduzindo ciência de dados na gestão quotidiana.

A emergência de Saúde Pública terminou, mas a tendência continua bem viva. No relatório O futuro dos empregos do Fórum Económico Mundial, onde participaram mais de 800 organizações, a expectativa é que a adopção de novas tecnologias digitais se torne o factor mais relevante na evolução do funcionamento das empresas.

Tudo indica que a próxima vaga (a Inteligência Artificial) trará debates exigentes sobre o seu impacto na sociedade, desde o ensino ao trabalho.

Mas o desafio não se fica por aí. Em simultâneo, assistimos à brutal reconfiguração das cadeias de produção globais. É uma consequência directa da guerra na Ucrânia, visto que as sanções aplicadas à Rússia forçam a procura de novos fornecedores energéticos e de outros produtos.

Neste novo contexto geopolítico internacional, duas tendências concorrem e complementam-se: a relocalização do parque industrial para territórios próximos e aliados (friendshoring) e o regresso da política de desenvolvimento industrial, adormecida desde o advento da globalização.

Uma e outra coincidem com a transição verde, através de investimentos que alterem o modelo de produção intensivo em emissões poluentes, e reforçando a aposta também na produção de energia limpa.

É uma oportunidade, que não pode ser desperdiçada, para cumprir o imprescindível combate às alterações climáticas.

Perante tantas dinâmicas altamente disruptivas, não há como esperar que o mundo do trabalho se mantenha estático.

Mas também nada obriga a que as mudanças sejam negativas. Em qualquer uma destas dimensões, o bem-estar dos trabalhadores e a qualidade de vida têm de ser prioridade.

Em vez de competir com as máquinas, estas devem ser geradoras de produtividade (cujos retornos têm de ser redistribuídos) que libertem o ser humano do trabalho mais exaustivo, permitindo outras ocupações para a sua disponibilidade física, capacidades cognitivas e criatividade. Ou seja, que máquinas e algoritmos sirvam os humanos e não o oposto.

E também não teremos de nos resignar à obsolescência: assim como a oferta formativa no pós-secundário terá de ser compatibilizada às necessidades do mercado de trabalho, também a reconversão profissional será essencial para a adaptação aos novos empregos. Ou seja, que os empregos possam evoluir, mas o pleno emprego continue a ser viável.

O objectivo, tal como nos diz a Organização Internacional do Trabalho, não é lutar contra as mudanças. É guiá-las a bom porto, para que funcionem para todos nós.

15 Valores
Projecto-piloto, semana de 4 dias

O debate tem ganhado tracção em todo o mundo. A semana de trabalho de quatro dias, que Portugal se encontra a testar, pode ser um dos benefícios das novas tecnologias, que permitem novas formas de organização do trabalho sem perdas de produtividade global e com maior satisfação dos trabalhadores.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
08 Junho 2023 — 00:17

 


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134: O planeta na gaveta

 

🇵🇹 OPINIÃO

O combate às alterações climáticas tem sido um dos grandes desígnios do actual mandato nas instituições europeias, iniciado em 2019.

Depois de largas décadas reservado a um nicho de especialistas, o clima passou a marcar presença assídua no debate público, consagrando-se como prioridade política e pedra basilar no trabalho da União Europeia.

Com a aprovação da Lei Europeia do Clima, os 27 Estados-membros comprometeram-se a reduzir as emissões poluentes em 55% até 2030 e a atingir a neutralidade carbónica até 2050. Há poucos anos seria inimaginável, hoje é uma realidade.

Mas, sem diminuir a importância deste desenvolvimento positivo, lançar já os foguetes seria prematuro. A vasta maioria dos países continua distante dos objectivos estabelecidos; alcançá-los exige passar da teoria à prática. E tal não acontecerá na ausência de determinação ou de solidariedade.

Determinação porque se exigem grandes investimentos em energias renováveis, em transportes (colectivos, de preferência) eléctricos e de baixas emissões, em agricultura mais sustentável, em repensar o modelo industrial de poluição intensiva.

Portugal não é estranho ao tema, marcando presença frequente no grupo de países europeus com bons exemplos. Um deles, recente: em Abril, mais de metade da electricidade produzida no país teve origem em energia solar e eólica.

Solidariedade porque ninguém pode ser deixado para trás. Há trabalhadores, pequenas empresas e territórios mais afectados do que outros – seja pelo efeito das alterações climáticas, seja pelas implicações da transição. Para com eles temos o dever de procurar, juntos, oportunidades e soluções.

E é precisamente por isso que noto, com preocupação, essa ausência em alguns grupos da direita europeia nas discussões mais recentes em matéria climática.

Não me refiro à extrema-direita negacionista das alterações climáticas (e de tantos outros factos científicos), pois tal já seria de esperar.

O problema é que o Partido Popular Europeu (PPE, integrado por PSD e CDS), nitidamente já focado nas próximas eleições europeias, continua preocupado em disputar eleitorado com a extrema-direita.

Primeiro foi a aproximação nas migrações, agora seguem-se indícios da mesma estratégia na oposição a leis climáticas.

No mês passado, o PPE adoptou formalmente a sua posição contra a redução de pesticidas agrícolas e contra a lei do restauro da natureza.

Isto depois do seu presidente, Manfred Weber, e de vários deputados no grupo parlamentar defenderem uma moratória legislativa, ou seja, trata-se de travar a acção climática.

É claro que o debate democrático deve tolerar e contemplar o realismo de quem se preocupa com as consequências, directas ou indirectas, de uma lei. Essa é uma boa prática que, naturalmente, se estende a todos os temas.

Mas não é esse o caso, nem há como confundir realismo com conformismo. O primeiro é o esforço de execução mediante as limitações da realidade; o segundo é aceitar e ajudar o atrito que impede a mudança.

Ao defender uma moratória legislativa, o PPE expõe a superficialidade do seu compromisso climático, pronto a ser despejado em segundo plano ao primeiro obstáculo. Com “aliados” destes, a acção climática não precisa de mais adversários.

16 valores – João Almeida

O ciclista português conseguiu um impressionante pódio no Giro de Itália, uma das três provas mais importantes do desporto. João Almeida, que aos 24 anos já promete ser uma das grandes referências nacionais do ciclismo, está de parabéns.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
01 Junho 2023 — 00:23


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102: Ó, diabo!

 

– Em defesa da sua dama, este cronista foca aspectos interessantes da economia portuguesa, reconhecida pela UE, mas não foca o assalto metódico e constante na carga fiscal sobre aqueles que menos recebem e mais pagam! Porque será, ó Diabo? Quanto à oposição, a táctica continua a ser sempre a mesma, ou seja, dizer mal do que está bem e omitir o restante… É o papel dela…

🇵🇹 OPINIÃO

Portugal a crescer mais do dobro da média europeia, com o terceiro saldo orçamental mais favorável dos 27 estados-membros da UE, e também no pódio dos países que mais diminuíram a sua dívida pública.

Estas são as projecções da Comissão Europeia para a nossa economia, acompanhando as estimativas igualmente encorajadoras do FMI e da OCDE.

Porém, estes factos não parecem encaixar nas narrativas que nos têm sido vendidas pelos comentadores.

Uma delas postula que, afinal, os bons resultados do país são totalmente independentes da governação. Na prática, entenda-se, querem dizer que o governo é responsável por tudo o que corre mal e nada do que corre bem.

Desafia a lógica, eu sei, mas de tanto o repetirem as pessoas começam a acreditar.

Mas temos de nos perguntar se sem o mecanismo ibérico, travão ao aumento dos preços da energia, e os apoios aos custos de produção, teria sido possível manter muitas empresas a funcionar (e milhares de empregos) no pico da crise energética? Sem a boa gestão orçamental, haveria a confiança necessária à captação de investimento para o país?

Sem a aposta nas qualificações, em particular a democratização do acesso ao Ensino Superior (redução do valor das propinas; aumento do número de alunos; aposta na formação pós-graduada), como poderia a nossa economia ser cada vez mais competitiva?

Na verdade, essa narrativa é até absurda se tivermos em conta que Portugal cresceu sempre acima da média europeia desde 2016 – onde apenas 2020, pico da pandemia, foi excepção.

O crescimento de 2023 não é, portanto, excepção; é a continuação do que tem acontecido desde que o PS está no governo (o que não acontecia antes).

Outra narrativa, mais frequente à esquerda, acusa o governo de estar demasiado focado em dados macroeconómicos, desatento às condições de vida das pessoas.

Em termos abstractos, há motivos para esta reflexão. A nível global, a evolução do PIB tornou-se a principal métrica de desempenho das economias, mas, em bom rigor, é um instrumento limitado que pode esconder desigualdades brutais.

Em termos concretos, porém, há dados claros de que o governo está tão empenhado em fazer crescer o bolo como em reparti-lo de forma justa.

Seja pelo aumento recente das pensões, pela implementação de um ambicioso programa de habitação ou pela aprovação da agenda do trabalho digno – que aumenta a protecção social dos trabalhadores, estabelece a obrigatoriedade de remuneração para estágios profissionais, entre outros.

De facto, há narrativas que têm muita dificuldade em encaixar na realidade, mas, com Eleições Europeias à vista, a oposição tem de fazer prova de vida. Na IL, PCP e BE para afirmar as novas lideranças, que temem ter piores resultados que as anteriores.

No PSD, porque Montenegro sabe que a oposição interna está à espreita, e não lhe perdoarão uma derrota. Todos os pretextos servem então para a dramatização.

Pelo seu lado, o governo tem sensivelmente um ano para fazer valer o seu trabalho, demonstrando que os factos são mais importantes do que as narrativas, que a vida concreta das pessoas vale mais do que os comentários televisivos.

E que, no final, os votos nas urnas valem mais do que as sondagens. Quanto ao mais, o “diabo” continua sem aparecer.

16 valores
PRR – Plano de Recuperação e Resiliência

A boa execução do PRR tem sido fundamental para reforçar o investimento – mais de 3% do PIB até 2024, disse o comissário Gentiloni – face a um contexto macroeconómico instável.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
18 Maio 2023 — 00:17


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82: Et voilà!

 

🇵🇹 OPINIÃO

O debate público tem sido, infelizmente, contaminado por polémicas e casos.

O resultado tem sido o desgaste da política, dos políticos e das instituições.

E, evidentemente, a frustração das pessoas, terreno fértil para a extrema-direita proliferar.

Às consequências da pandemia, somamos a instabilidade e as decorrências brutais de uma guerra na Europa, em pleno século XXI.

Preços da energia, inflação como não tínhamos há 30 anos, escalada das taxas de juro. Um cenário perfeito para os profetas da desgraça e para os extremistas mais ou menos populistas.

Perante este quadro difícil, muitos não tardaram em anunciar sucessivos desastres da economia portuguesa. Tudo indica que estavam profundamente enganados.

Ontem, ficámos a saber que Portugal foi o segundo país da OCDE (e não apenas da UE) cujo PIB mais cresceu em 2022.

A mesma OCDE que nos disse que foi também o segundo país onde o rendimento das famílias mais cresceu em 2022.

Ao mesmo tempo, o FMI mais do que duplicou a sua previsão de crescimento para 2023, indicando que o PIB português deverá crescer 2.6%, mesmo acima das previsões do governo.

Pergunto e deixo a resposta para o leitor: a quantas horas de televisão assistimos com uma série de comentadores a dizerem que Portugal estava a ser sistematicamente ultrapassado por um monte de países?

O trabalho incessante de captação de investimento, a excepção ibérica conseguida no preço da energia e os apoios adicionais aos custos de produção não serão alheios a estes resultados.

A inflação entrou numa trajectória descendente. Tem recuado consecutivamente há vários meses, em Portugal e na Zona Euro.

Esperemos que sirva de motivo para o Banco Central Europeu repensar a política de aumentos nas taxas de juro, que tanto custa a famílias e pequenas empresas.

E, já agora, para o PSD reconsiderar o seu posicionamento político (há poucos meses o seu grupo político pediu ao BCE para “manter a determinação na subida das taxas de juro”). Os seus desejos foram atendidos. Para mal dos portugueses e dos europeus.

O Governo, pelo contrário, concentrou-se em mitigar os efeitos da inflação e até agir para a sua diminuição, com a eliminação do IVA nos bens essenciais, escolhendo apoiar toda a sociedade.

Há, portanto, notícias positivas.

Pergunto e desta vez respondo pelos leitores: está tudo bem? Não, não está.

Há trabalho para fazer e objectivos claros: uma crise na habitação para continuar a resolver, uma demografia que nos limita, desigualdades que devem baixar ainda mais, confiança nas instituições públicas para repor, contas públicas que é essencial manter.

Mas significa, isso sim, que há resultados concretos da governação que começam a estar à vista. Com reflexo nos índices de confiança quer dos consumidores, quer dos empresários.

Em suma: no meio de uma grande tempestade, há quem esteja a conseguir levar o barco a bom porto.

16 Valores

António Guterres

O Secretário-Geral das Nações Unidas tem-se destacado na defesa de uma paz justa na Ucrânia, e no empenho em mitigar os impactos migratórios e alimentares desta guerra.

Esta semana foi justamente galardoado com o Prémio Europeu Carlos V. Um exemplo de humanismo — e de mérito.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
11 Maio 2023 — 00:17


Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais


published in: 4 meses ago

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Autonomia estratégica… do primeiro-Ministro

 

– Embora continue a afirmar a minha não apreciação governativa de António Costa, não compete ao presidente da República Portuguesa mandar bitaites de quem ou não quer no governo, ameaçar veladamente com eleições antecipadas, fazendo coro com os reaccionários do seu PPD! Ele que continue a viajar pelo Mundo à conta dos contribuintes e a tirar selfies com os coitadinhos que tanto preza. O resto, é pura conversa da treta!

🇵🇹 OPINIÃO

António Costa surpreendeu tudo e todos esta semana. Surpreendeu o Presidente da República, o circuito de comentadores políticos, a oposição populista e a outra, a opinião pública que acompanhava esta “novela”, o próprio PS, e até alguns que com ele já partilharam aquela sala de coordenação do Governo.

Saiu dos salões de S. Bento e falou directamente com alguns milhões de portugueses. E revelou empatia e coragem. Características maiores de um líder, que assim pode justamente ambicionar que o sigam nos momentos de tormenta.

Com isso ganhou os portugueses para mais uma viagem. Os que lhe deram a maioria absoluta estiveram a ouvi-lo directamente outra vez e formam a sua própria opinião (e voto) sem intermediação, aparentemente.

Ouviram-no e viram o mesmo líder em quem confiaram a gestão das suas vidas e dos seus entes queridos durante a pandemia.

A determinação e clareza com que falou num momento tão complexo tocam fundo nos portugueses — naqueles que não estão a escrever artigos de jornais ou a comentar os corredores de S. Bento.

Os que querem apenas a certeza de que estão a ser governados por alguém em quem confiam viram o mesmo António Costa de sempre.

António Costa foi corajoso. Mas também arriscou muito. Sabe que perdeu o apoio do Presidente da República na gestão desta crise (em qualquer caso, já sabia que nesta matéria estava em missão solitária desde Janeiro). Sabe que o ministro e o Governo continuarão a ser desgastados diariamente enquanto durarem as audições parlamentares sobre a gestão da TAP.

Que o ministro demorará a reganhar a aceitação pública, mesmo se tem a confiança do Primeiro-ministro, e que a oposição tudo fará para o arrastar para a lama dos episódios em que este dossier tem sido farto.

O voyeurismo populista continuará, a pretexto de uma suposta fiscalização da actuação política do Governo.

O Presidente da República conhece bem o nosso quadro constitucional e os seus poderes. Estabeleceu bem os limites da sua intervenção na constituição do Governo. E sabe que a estabilidade, neste momento, é um importante remédio contra o populismo.

Os portugueses deram ao PS, e em particular a António Costa, uma maioria absoluta para governar. E este revelou estar bem longe de deitar a toalha ao chão.

Quer estar junto dos portugueses, protegê-los até ao limite do possível das consequências desta crise inflacionista, sem perder de vista a sustentabilidade das contas públicas e da dívida, promover a criação de emprego e melhores salários, agir sobre a crise da habitação, combater a pobreza, em particular entre as crianças e os idosos.

Os resultados do último ano, conseguidos apesar dos casos e casinhos, estão aí para sustentar que cumprir a legislatura vale a pena. António Costa reclama os quatro anos para governar que lhe foram conferidos pelos portugueses.

Não ignora as dificuldades, mesmo as geradas no seu próprio Governo, mas não voa baixinho, com medo das tempestades da opinião pública ou publicada, ou sob a asa protectora de terceiros.

Assume que está aos comandos. Tem agora que navegar evitando a maior parte do mau tempo, e dando aos portugueses um destino melhor.

Crescimento económico – 17 valores

Com excepção de 2020 (ano da pandemia), a economia portuguesa cresce mais do que a UE desde 2016. Agora, o crescimento de 1,6% em cadeia no primeiro trimestre – o mais elevado da UE – revela que o bom comportamento da economia continua antecipando que o ano poderá correr ainda melhor do que previam todas as instituições.

Eurodeputado

D.N.
Pedro Marques
04 Maio 2023 — 00:19


Web-designer e Criador
de Conteúdos Digitais



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