– Discordo da análise deste cronista dado que Portugal e os portugueses já tiveram governanças de esquerda (geringonça), de direita (PPD, CDS) e os resultados foram a merda que todos sabemos e sofremos. Enquanto existirem políticos que apenas se lembram dos portugueses na altura das eleições para lhes caçar o voto e puderem aspirar a poder e a tacho, não existem alternativas viáveis e profícuas na governança de Portugal. Não contribuo para este peditório.
🇵🇹 OPINIÃO
Pouco a pouco, no chamado espaço público, começa a ganhar forma a ideia de que só com uma frente de “Centro-Direita” sem o Chega é possível apear do poder o PS que, se a legislatura for até ao fim, terá governado mais de uma década.
Curiosamente, as duas vozes – admito que já sejam mais – que até agora ouvi a defender esta grande coligação são de dois antigos deputados e dirigentes do CDS, um dos partidos fundadores da democracia que desapareceu do Parlamento nas últimas legislativas.
A teoria é simples e explica-se em poucas palavras. PSD, Iniciativa Liberal e CDS juntos, com uma abertura aqui e ali a “reformistas de Esquerda” que queiram alinhar – deixar claro que o Chega fica de fora -, e está feita a “grande coligação” capaz de gerar uma alternativa ao PS. O PSD seria o líder desta federação e, só talvez desta forma, concentrando votos do espaço “não-socialista e de não-Esquerda”, o “Centro -Direita” poderia sonhar voltar a governar.
Nenhum dos que elaborou sobre esta teoria, no entanto, acredita que ela possa passar à prática antes das Europeias, vistas como um teste eleitoral, um termómetro, uma medição de forças e de votos, uma espécie de “vamos ver quanto vales” para que possa ser estabelecida uma correlação de forças na eventual futura frente de Centro-Direita.
Ao CDS, seria o melhor que lhe poderia acontecer. Voltaria a ter deputados eleitos, mesmo que a solução não resultasse num Governo, estaria de novo no hemiciclo e teria recuperado do trambolhão eleitoral do ano passado.
Dito e visto assim, parece apenas e só uma soma aritmética de votos, uma estratégia para derrotar o PS, uma chance de o “Centro-Direita” voltar ao poder.
Por outro lado, seria um desafio ao eleitorado do Chega. Com um apelo ao “voto útil”, ou seja, “se votas no Chega corres o risco de ter mais quatro anos de Governos do PS ou de uma geringonça 2.0”.
Uma grande frente de “Centro-Direita”, uma federação de partidos, uma aliança, uma coligação precisa de muito mais do que a soma dos votos dos vários partidos.
Mas o mas nesta questão não está nem na ideia, nem na táctica, nem na estratégia. Uma grande frente de “Centro-Direita”, uma federação de partidos, uma aliança, uma coligação precisa de muito mais do que a soma dos votos dos vários partidos. Precisa de um projecto, um programa, uma alternativa.
Precisa de soluções para os problemas reais dos portugueses; precisa de trazer esperança e confiança; precisa de convencer o eleitorado a acreditar que a mudança é possível, é desejável e capaz de fazer reformas que tornem a nossa vida melhor.
Construir uma alternativa a várias mãos implica longos meses de negociações e cedências prévias, convergências no essencial e confiança total entre as partes.
O PSD, como líder histórico e natural do “Centro-Direita”, terá de ser a locomotiva que puxa os demais. Terá o PSD essa vontade, capacidade e disponibilidade? E, se sim, quando? E como? Com que programa?
Nesta altura, o PS está cercado.
E o PSD encurralado.
O que decidirem, nos próximos meses, os líderes partidários, vai definir os anos seguintes de um país que parece não se envergonhar de ter mais de milhão e meio de cidadãos sem médico de família; de ter 4,4 milhões de pessoas que, sem apoios sociais, viveriam abaixo do limiar da pobreza; e que, mesmo com ajudas, ainda tem quase dois milhões de pobres. Muitos deles, trabalham.
Talvez valha a pena pensar nisto.
Jornalista
DN
Pedro Cruz
19 Setembro 2023 — 00:27
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 3 dias ago