294: Rendas altíssimas tiram atractividade a Portugal

 

– “… Este impulso para puxar pelos preços das rendas para além do que é razoável, está assim a afastar muitas pessoas de Portugal e a criar problemas de natureza social, principalmente nas cidades com maior procura, como é o caso de Lisboa ou o Porto, e está a originar críticas severas interna e externamente pela desproporção dos preços relativamente a espaços de habitação que não valeriam nem metade do que é pedido.

Infelizmente é a dura realidade do arrendamento que já não vem de agora mas de há duas décadas atrás.

🇵🇹 OPINIÃO

De 2022 para 2023, Portugal desceu de quarto lugar para décimo na atractividade de estrangeiros para se instalarem no país, segundo a pesquisa de um dos sites de referência nesta matéria, o Expat Insider 2023.

Uma das principais razões para esta perda de atractividade é o preço da habitação, que disparou de uma maneira insana, fazendo até com que os estrangeiros mais abastados desistam.

Além disso, nos sites internacionais da especialidade, é também o problema principal referido, o que é bem o retrato da difícil situação do arrendamento devido aos preços incomportáveis, que tem como uma das consequências empurrar os portugueses e outros cidadãos para as periferias.

Pode dizer-se que é a lei da oferta e da procura que está a funcionar, proporcionando ganhos muito, mesmo muito, confortáveis a agências imobiliárias e a proprietários individuais.

Mas é também este conjunto de circunstâncias, que alimenta a espiral especulativa, que cria dificuldades no acesso à habitação a pessoas com menos posses e ainda mais para os migrantes económicos, que muitas vezes são vítimas de exploração e obrigados a amontoar-se em casas sem condições.

Este impulso para puxar pelos preços das rendas para além do que é razoável, está assim a afastar muitas pessoas de Portugal e a criar problemas de natureza social, principalmente nas cidades com maior procura, como é o caso de Lisboa ou o Porto, e está a originar críticas severas interna e externamente pela desproporção dos preços relativamente a espaços de habitação que não valeriam nem metade do que é pedido.

Estamos a falar, por exemplo, de T0 com menos de 20m2 a mais de 3.300 euros de renda mensal, um absurdo que, só por si, dá uma imagem geral muito negativa de Portugal como destino para estadias mais prolongadas.

Se não houver razoabilidade e bom senso, de nada nos servirá sermos um país atractivo, calmo e pacífico, com uma boa qualidade de vida e com um povo aberto e acolhedor.

Uma forma de acabar com esta espiral especulativa, que é um dos objectivos do programa Mais Habitação, é colocar mais casas no mercado e impor um tecto ao aumento das rendas, por mais que isso desagrade aos proprietários.

O problema é que numa situação de forte escassez no mercado de arrendamento e depois do boom do Alojamento Local, aquelas medidas demoram sempre algum tempo a produzir efeitos.

Portanto, quando muitas vezes se atribui aos estrangeiros a responsabilidade pelo descontrolo dos preços, que representam uma percentagem muito diminuta no total das compras e dos arrendamentos, devia-se era olhar sobretudo para o comportamento das agências imobiliárias e dos proprietários e pensar bem nas situações que se estão a criar.

Muito particularmente, responsabilizar os estrangeiros pelas dificuldades do mercado, representa não apenas um ato gratuito de hostilidade, como ajuda a criar o ambiente para que eles se sintam menos bem acolhidos e até para que possam surgir actos de xenofobia, o que não é inédito.

E assim se começa a destruir a imagem de tudo o que de bom os estrangeiros procuram no nosso país e assim se mata a galinha dos ovos de ouro que tanta gente faz viver.

É bom que gostem de nós e que nos procurem. É importante para a auto-estima e para o desenvolvimento económico.

Os estrangeiros valorizam muito a qualidade de vida, a hospitalidade e simpatia dos portugueses, a história e a cultura, a beleza do país, o mar e os rios e a gastronomia saborosa e variada, pelo que seria importante que não infligíssemos danos colaterais a todas estas características que fazem de Portugal um país magnífico.

Por outro lado, é preciso ainda ter bem presente que Portugal não é o centro do mundo. O mundo é muito grande e tem muitos lugares encantadores com gente fantástica também há procura de estrangeiros para se instalarem no país. A concorrência é grande.

O México tem sido nos últimos anos um dos países mais procurados e, logo a seguir, vem a Espanha, que ocupa o primeiro lugar na categoria “qualidade de vida”.

Portanto, se não houver razoabilidade e bom senso, de nada nos servirá sermos um país atractivo, calmo e pacífico, com uma boa qualidade de vida e com um povo aberto e acolhedor. É melhor, por isso, estarmos atentos ao que fazemos com os nossos recursos e com o que se vai passando pelo mundo.

Deputado do PS

DN
Paulo Pisco
29 Julho 2023 — 00:21


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



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200: Os professores e o porco com lápis nos olhos

 

🇵🇹 OPINIÃO

Uma caricatura do primeiro-ministro com um focinho de porco e dois lápis espetados nos olhos, não é apenas um insulto a António Costa; é também uma agressão violenta e um insulto à democracia e aos valores republicanos de respeito pelos outros e pelas instituições.

É um péssimo exemplo, por quem deveria ser exemplar na transmissão de valores. A escola é isso mesmo, um lugar de valores demasiado importante, que nunca deveria deixar-se capturar por nenhum tipo de interesses.

Se deixa de ter essa função, contamina toda a sociedade, transformando a relação entre as pessoas numa selva. Manifesta, além disso, uma grave insensibilidade e indiferença perante o humano.

Em democracia, todas as lutas sociais são legítimas e fundamentais, mas, como em tudo na vida, é preciso razoabilidade para evitar radicalizações que ultrapassam os limites do bom senso, o que desvirtua os combates.

A luta dos professores, por maior que seja a sua legitimidade, foi transformada em egoísmo de classe, por perder a visão de conjunto em relação a outros sectores e por desprezar tudo o que já foi conquistado em termos de carreiras e de direitos.

O querer tudo, e já, é incompatível com a multiplicidade de muitos outros compromissos que qualquer governo tem, particularmente em termos orçamentais. Não é uma forma de negociar. É mais uma forma de desgastar.

E há muita gente hoje que, perante a força de uma maioria absoluta parlamentar e faltando melhores argumentos, aposta tudo em desgastar o governo e criar instabilidade, indiferentes ao país real.

Tornou-se moda espezinhar os políticos e atribuir-lhes a origem de todos os males, com tantas sentenças quantas as cabeças que as proferem.

Acresce que nem sequer se preocupam em ponderar que está a ser feito um grande esforço para dar resposta a três crises sucessivas, que naturalmente têm os seus efeitos no tempo: a crise financeira e económica de 2008, a pandemia de covid em 2020 e a guerra e as suas consequências económicas de 2022.

Mais do que liberdade de expressão, aquelas infelizes caricaturas representam antes o insulto gratuito, uma degradação ética, com que certamente a grande maioria dos professores não se identifica.

Representam mesmo a destruição de valores, pelo impacto negativo que tem em quem interioriza aquelas imagens que revelam um atropelamento de todas as regras entre pessoas e instituições.

Por isso, não deixa de ser constrangedor ver professores empunhar aqueles cartazes sem que eles próprios se questionem, ao lado de manifestantes que proferem insultos racistas totalmente inaceitáveis e que necessariamente incomodam toda uma classe profissional.

Tornou-se moda espezinhar os políticos e atribuir-lhes a origem de todos os males, com tantas sentenças quantas as cabeças que as proferem.

– Também tornou-se moda os políticos espezinharem os que menos têm, não só financeiramente, como em tudo o resto! O que chamar a um governo que espezinha um viúvo que por morte da esposa, fica a pagar o DOBRO de IRS com menos um rendimento colectável? A falácia é uma ideia errada que é transmitida como verdadeira, enganando outras pessoas.

Mas, na realidade, quando se deixa de ver a floresta para olhar só para a árvore, está-se a utilizar as técnicas dos extremistas. Os extremismos que destroem a coesão e a convivência nas nossas sociedades.

Aliás, o aumento das agressões racistas, verbais e físicas, não é alheio ao sentimento de protecção que algumas pessoas sentem por se acharem legitimadas pela representação da extrema-direita racista e xenófoba no Parlamento, sempre a usar a sua linguagem exaltada, insultuosa, ofensiva para pessoas e instituições, promovendo uma generalização da falta de respeito pela diferença.

É preciso cuidado para não abrir o caminho ao monstro, que já espreita com a sua cabeça de fora. Acima de tudo, qualquer pessoa merece respeito. E a política merece respeito, porque é dela que depende a melhoria da vida de cada pessoa em sociedade. Pensar o contrário é não ter a noção do que é verdadeiramente essencial.

A política, como as lutas de que as democracias vivem e precisam, tem de ser feita com correcção e ética e, acima de tudo, no respeito pela diversidade incontornável das nossas sociedades, que são o seu nervo e a sua alma.

Deputado do PS

D.N.
Paulo Pisco
22 Junho 2023 — 00:43


Web-designer, Investigator, Astronomer
and Digital Content Creator


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54: O Chega é uma vergonha para Portugal

 

🇵🇹 OPINIÃO

Esteve muito bem o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, na cerimónia do 25 de Abril ao lançar um poderoso ralhete à bancada parlamentar do Chega, que se portou de uma maneira indigna perante o presidente Lula da Silva, chefe de Estado de um país irmão, com o qual Portugal deve sempre procurar aprofundar as relações, a bem dos nossos povos e dos espaços geográficos em que nos inserimos, para honrar a nossa história e ligação fraterna, para honrar as nossas comunidades.

Vale a pena citar Augusto Santos Silva: “Chega de insultos, chega de degradar as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal”.

Sim, aquele partido de extrema-direita faz isto tudo, o que é intolerável, com ataques gratuitos e infantis permanentes às regras da convivência democrática.

O Chega insulta e insinua como quem bebe água, degrada a imagem das instituições para poder dizer que elas não funcionam e passa o tempo a envergonhar o nome de Portugal, criando problemas onde eles na realidade não existem.

Houve tempos em que aquele partido extremista parecia ser perigosamente fascista. Há medida que ganham confiança vão-se revelando cada vez mais extremistas. E aqui e ali lá vão mostrando os seus afectos com o salazarismo de má memória.

Mas agora parecem mais um grupo de miúdos indisciplinados, que fazem birras por tudo e por nada, como as crianças desesperadas para chamar a atenção sobre si. É um problema sério de psicanálise.

Muitos dos seus deputados e aderentes têm atitudes e comportamentos grosseiros e vivem da provocação, dos incidentes e da barulheira. São racistas, xenófobos e manipuladores.

Não têm o menor sentido de Estado nem da decência. São um ventilador com lama sempre ligado. São mesmo uma vergonha para Portugal.

Os valores de Abril obrigam-nos, a todos, combater sem tréguas aqueles que querem destruir a democracia e as liberdades, que lançam o descrédito e o desprestígio no nosso país, que destroem o nosso amor-próprio sem o menor pudor

Já se percebeu que não gostam das regras da democracia. Atropelam-nas só para poderem queixar-se que são censurados. O problema é que, quando não existem regras, as sociedades tornam-se caóticas e é cada um por si.

Mas é isso mesmo que este partido de extrema-direita pretende: lançar o caos e a desordem e atropelar todas as regras para impor as suas. Não hesitam em atacar e fragilizar as instituições democráticas, o que coloca a democracia em perigo.

Têm o direito de não gostar do 25 de Abril, o que é coerente com a sua natureza e as suas origens. Mas não têm o direito de destruir a democracia. A democracia e a liberdade que Abril trouxe aos portugueses, que, pelo seu lado, têm o dever de defender.

Um partido que se revê e defende Donald Trump e Jair Bolsonaro, dois dos grandes reaccionários e disseminadores de ódio dos nossos tempos, só pode ser como eles.

E o que fizerem estes dois personagens inenarráveis? Algo que não é coisa pouca: foram ambos os mentores de um assalto à democracia, querendo tomar os seus parlamentos pela força.

A existência da extrema-direita, a portuguesa e as outras, é um veneno que está a dar cabo das nossas sociedades e a provocar uma regressão civilizacional.

Os valores de Abril obrigam-nos, a todos, combater sem tréguas aqueles que querem destruir a democracia e as liberdades, que lançam o descrédito e o desprestígio no nosso país, que destroem o nosso amor-próprio sem o menor pudor.

Deputado do PS

D.N.
Paulo Pisco
02 Maio 2023 — 00:17


Web-designer e Criador
de Conteúdos Digitais



published in: 5 meses ago

 

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