– “… Este impulso para puxar pelos preços das rendas para além do que é razoável, está assim a afastar muitas pessoas de Portugal e a criar problemas de natureza social, principalmente nas cidades com maior procura, como é o caso de Lisboa ou o Porto, e está a originar críticas severas interna e externamente pela desproporção dos preços relativamente a espaços de habitação que não valeriam nem metade do que é pedido.”
Infelizmente é a dura realidade do arrendamento que já não vem de agora mas de há duas décadas atrás.
🇵🇹 OPINIÃO
De 2022 para 2023, Portugal desceu de quarto lugar para décimo na atractividade de estrangeiros para se instalarem no país, segundo a pesquisa de um dos sites de referência nesta matéria, o Expat Insider 2023.
Uma das principais razões para esta perda de atractividade é o preço da habitação, que disparou de uma maneira insana, fazendo até com que os estrangeiros mais abastados desistam.
Além disso, nos sites internacionais da especialidade, é também o problema principal referido, o que é bem o retrato da difícil situação do arrendamento devido aos preços incomportáveis, que tem como uma das consequências empurrar os portugueses e outros cidadãos para as periferias.
Pode dizer-se que é a lei da oferta e da procura que está a funcionar, proporcionando ganhos muito, mesmo muito, confortáveis a agências imobiliárias e a proprietários individuais.
Mas é também este conjunto de circunstâncias, que alimenta a espiral especulativa, que cria dificuldades no acesso à habitação a pessoas com menos posses e ainda mais para os migrantes económicos, que muitas vezes são vítimas de exploração e obrigados a amontoar-se em casas sem condições.
Este impulso para puxar pelos preços das rendas para além do que é razoável, está assim a afastar muitas pessoas de Portugal e a criar problemas de natureza social, principalmente nas cidades com maior procura, como é o caso de Lisboa ou o Porto, e está a originar críticas severas interna e externamente pela desproporção dos preços relativamente a espaços de habitação que não valeriam nem metade do que é pedido.
Estamos a falar, por exemplo, de T0 com menos de 20m2 a mais de 3.300 euros de renda mensal, um absurdo que, só por si, dá uma imagem geral muito negativa de Portugal como destino para estadias mais prolongadas.
Se não houver razoabilidade e bom senso, de nada nos servirá sermos um país atractivo, calmo e pacífico, com uma boa qualidade de vida e com um povo aberto e acolhedor.
Uma forma de acabar com esta espiral especulativa, que é um dos objectivos do programa Mais Habitação, é colocar mais casas no mercado e impor um tecto ao aumento das rendas, por mais que isso desagrade aos proprietários.
O problema é que numa situação de forte escassez no mercado de arrendamento e depois do boom do Alojamento Local, aquelas medidas demoram sempre algum tempo a produzir efeitos.
Portanto, quando muitas vezes se atribui aos estrangeiros a responsabilidade pelo descontrolo dos preços, que representam uma percentagem muito diminuta no total das compras e dos arrendamentos, devia-se era olhar sobretudo para o comportamento das agências imobiliárias e dos proprietários e pensar bem nas situações que se estão a criar.
Muito particularmente, responsabilizar os estrangeiros pelas dificuldades do mercado, representa não apenas um ato gratuito de hostilidade, como ajuda a criar o ambiente para que eles se sintam menos bem acolhidos e até para que possam surgir actos de xenofobia, o que não é inédito.
E assim se começa a destruir a imagem de tudo o que de bom os estrangeiros procuram no nosso país e assim se mata a galinha dos ovos de ouro que tanta gente faz viver.
É bom que gostem de nós e que nos procurem. É importante para a auto-estima e para o desenvolvimento económico.
Os estrangeiros valorizam muito a qualidade de vida, a hospitalidade e simpatia dos portugueses, a história e a cultura, a beleza do país, o mar e os rios e a gastronomia saborosa e variada, pelo que seria importante que não infligíssemos danos colaterais a todas estas características que fazem de Portugal um país magnífico.
Por outro lado, é preciso ainda ter bem presente que Portugal não é o centro do mundo. O mundo é muito grande e tem muitos lugares encantadores com gente fantástica também há procura de estrangeiros para se instalarem no país. A concorrência é grande.
O México tem sido nos últimos anos um dos países mais procurados e, logo a seguir, vem a Espanha, que ocupa o primeiro lugar na categoria “qualidade de vida”.
Portanto, se não houver razoabilidade e bom senso, de nada nos servirá sermos um país atractivo, calmo e pacífico, com uma boa qualidade de vida e com um povo aberto e acolhedor. É melhor, por isso, estarmos atentos ao que fazemos com os nossos recursos e com o que se vai passando pelo mundo.
Deputado do PS
DN
Paulo Pisco
29 Julho 2023 — 00:21
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 2 meses ago