🇺🇸 🇪🇺 OPINIÃO
Há 70 anos, os líderes europeus assinaram a “Declaração Schuman”, dando início a um processo de criação de uma Europa unificada com o objectivo principal de, após duas guerras mundiais devastadoras, tornar “impensável” a guerra entre as nações europeias. A União Europeia reúne hoje 27 países europeus numa união política e económica.
Mas tal como a libertação da Europa durante a Segunda Guerra Mundial das potências conquistadoras nazis dependeu do poder militar e económico dos EUA, os líderes da Europa Ocidental fizeram uma escolha política fundamental para continuar a depender dos EUA para a sua segurança, com a maioria dos países a participar numa organização de defesa, a NATO, dominada pelos EUA.
Durante quase 80 anos, a Europa evitou a guerra. Durante o longo período da Guerra Fria, a rivalidade equilibrada entre os EUA e a União Soviética proporcionou a estabilidade necessária para o crescimento económico e a prosperidade em grande parte da Europa, a que se seguiu o colapso da União Soviética e a expansão da NATO a muitos dos antigos Estados soviéticos da Europa Oriental.
A Rússia considerou o risco de uma maior expansão da NATO como uma ameaça existencial e atacou a Ucrânia, lançando a primeira guerra europeia em grande escala desde a Segunda Guerra Mundial.
Tal como na Segunda Guerra Mundial, o papel dos EUA na guerra na Ucrânia é fundamental, mas é claro que o mundo em 2023 é muito diferente do de 1939 e o papel dos EUA na guerra actual é radicalmente diferente.
Existem algumas semelhanças no papel dos EUA nos dois conflitos: em ambos os casos, os EUA não quiseram enviar tropas para o conflito, existe uma profunda tensão no ADN dos EUA para evitar o envolvimento em conflitos no estrangeiro, uma concentração objectiva apenas no continente norte-americano.
Na Segunda Guerra Mundial, tal como na Ucrânia, o envolvimento dos EUA começou com uma pequena ajuda militar ao Reino Unido em 1940, que cresceu durante 1940-1941 para um esforço nacional de criação de uma enorme indústria de produção de armamento para prestar apoio maciço ao Reino Unido e depois à Rússia e a outros aliados, mas sem planear o envio de soldados americanos.
Apesar de os submarinos alemães terem atacado os navios militares e mercantes americanos, os EUA não entraram na guerra contra a Alemanha.
Só com o ataque japonês a Pearl Harbor, a 7 de Dezembro de 1941, é que os EUA declararam guerra ao Japão e, a 11 de Dezembro, à Alemanha e à Itália.
É evidente que os Estados Unidos mudaram radicalmente desde a Segunda Guerra Mundial. Tornaram-se a única super-potência mundial, o que os levou a exercitar a sua força nas últimas décadas numa série de múltiplos e desastrosos envolvimentos militares no estrangeiro, do Vietname à Somália, ao Afeganistão e ao fiasco de George W. Bush no Iraque, resultando numa relutância legítima em enviar quaisquer “botas para o terreno” noutro conflito estrangeiro.
A outra mudança dominante mais recente nas atitudes dos EUA é o facto de os EUA, e o mundo como um todo, já não serem eurocêntricos.
O principal foco da América hoje em dia já não é a Europa, é a rivalidade pela liderança mundial com a China, e outros países importantes, como a Índia, que vão afirmar cada vez mais o seu papel no mundo (o ministro dos Negócios Estrangeiros indiano falou recentemente de forma dura sobre as atitudes europeias: “As vossas preocupações não são as nossas e as nossas não são as vossas”).
Mas a América não vai querer abdicar da sua posição de potência militar dominante na Europa, pelo contrário, os EUA não vão deixar que a Rússia ganhe a guerra na Ucrânia, coerente com o objectivo de manter a sua posição de líder do mundo e defensor de uma ordem internacional baseada em regras.
Biden conseguiu reunir com sucesso uma coligação de aliados em defesa da Ucrânia, fazendo lembrar a mobilização de George H.W.
Bush de uma coligação apoiada pela ONU para derrotar a invasão do Kuwait por Saddam Hussein em 1990 (foi tão bem sucedida que já ninguém fala dela).
O erro de Putin ao invadir a Ucrânia consolidou o poder dos EUA na Europa e mostrou claramente a dependência da segurança da Europa em relação à América.
Autor de Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Election System, presidente do American Club of Lisbon.
As opiniões aqui expressas são pessoais e não do American Club of Lisbon.
Artigos anteriores e comentários em inglês disponíveis no site: http://rendezvouswithamerica.com.
O endereço de email do autor é PSL64@icloud.com
Political commentary and insight from a European-American businessman
D.N.
Patrick Siegler-Lathrop
09 Maio 2023 — 00:25
Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais
published in: 5 meses ago