🇷🇸 OPINIÃO
A recente reunião entre altas personalidades da Arábia Saudita e dos EUA é decididamente uma das tentativas mais sérias para se dar um novo passo em direcção à normalização das relações entre a Arábia Saudita e Israel.
Os americanos estão a tentar mediar há algum tempo para chegar a um acordo com Riade sobre várias questões e alguns detalhes foram agora publicados no New York Times, novamente por Thomas Friedman.
Claro que nem tudo o que se pode ler no jornal pode ser totalmente confirmado por nenhuma autoridade oficial, mas é muito provável que a maior parte possa ser verdade.
Os representantes sauditas, especialmente o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, estão decididamente a tentar inserir na discussão com os EUA questões muito mais amplas, não apenas a relação com o Estado judaico.
Portanto, há dois conjuntos de questões, que potencialmente foram discutidas durante a última reunião: o que os EUA farão pela Arábia Saudita e o que Israel fará pelos palestinianos. Do lado saudita, há apenas uma questão: acordo de normalização com Israel.
De acordo com isso, os EUA apoiariam o projecto nuclear civil saudita e forneceriam ao país alguns equipamentos de Defesa muito sofisticados.
Além disso, Washington teria de dar aos sauditas as mesmas garantias de segurança que existem entre os membros da NATO, o que significa que qualquer ataque à Arábia Saudita seria um ataque aos EUA.
É óbvio que os EUA, através da Arábia Saudita, estão a enviar uma mensagem muito importante a Netanyahu sobre o que ele teria de fazer e o que obteria se o fizesse.
Pelo seu lado, Israel pararia de construir novos colonatos na Cisjordânia, não ampliaria os já existentes e não legalizaria os colonatos ilegais já existentes.
Além disso, Israel cederia parte do território da Cisjordânia, pertencente à Área C (controlo total de Israel) à Autoridade Palestiniana.
Claro que sem nenhuma anexação de qualquer parte da Cisjordânia. Por último, Israel deveria aceitar a solução dos dois Estados com os palestinianos como a única pré-condição para a paz na região.
A Arábia Saudita doaria uma ajuda financeira substancial aos palestinianos na Cisjordânia e, como foi mencionado, assinaria o acordo de normalização com Israel.
Na prática, algumas das condições podem ser implementadas teoricamente. Por exemplo, o programa nuclear na Arábia Saudita começará de qualquer maneira e os EUA não o impedirão, mas podem facilitá-lo. A venda de alguns equipamentos militares sofisticados a Riade também pode ser acertada.
O nível de garantias de segurança seria decididamente um problema sério, tendo em vista a relutância de Washington em se comprometer militarmente, neste momento, em qualquer lugar do mundo. No entanto, pode sempre haver um compromisso e a solução é relativamente alcançável.
O principal obstáculo está, obviamente, nas condições que Israel teria de implementar. É sabido que o Governo do presidente Biden dos Estados Unidos não concorda com a política do actual Governo israelita.
Os pedidos feitos pelo presidente Biden sobre a “reforma judicial” foram essencialmente ignorados pelo primeiro-ministro Netanyahu, incapaz de encontrar outro caminho com os seus parceiros de coligação ultranacionalistas.
Portanto, é óbvio que os EUA, através da Arábia Saudita, estão a enviar uma mensagem muito importante a Netanyahu sobre o que ele teria de fazer e o que obteria se o fizesse.
A explicação é simples: a condição de normalização das relações com a Arábia Saudita seria, para ele, uma grande vitória, mas a única forma de a obter é formar um novo governo com os partidos centristas da Oposição em Israel.
O actual Governo em Jerusalém nunca concordaria em parar de construir colonatos na Cisjordânia, porque esta é a questão ideológica central da sua política. Sem ela, eles não existiriam.
A questão principal permanece: Netanyahu pode fazer isso ou está disposto a fazê-lo? Temos de ser muito cépticos em relação à sua concordância, pelo menos por agora.
A única opção realista é: se as manifestações em Israel continuarem, as greves gerais começarem a paralisar o país e a situação económica se deteriorar, o primeiro-ministro israelita poderá começar a contemplar mais opções do que está a contemplar agora.
O facto mais importante seria que Benjamin Netanyahu permaneceria no poder, independentemente de quem fossem os seus parceiros no Governo, e esse poderá ser o factor decisivo.
Investigador do ISCTE-IUL e antigo embaixador da Sérvia em Portugal
DN
Mirko Stefanovic
30 Julho 2023 — 00:40
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 2 meses ago