152: Ambiente de Santos

 

– “… Contudo, este ano o enfoque está no mote #CombataAPoluiçãoPorPlástico. Agora que já sabe, vai aderir ou deixar o futuro nas mãos dos outros?

Pergunto ao cronista: que meios são dados à população para combater a poluição por plástico? Referindo a Coca Cola, passa-se a beber este refrigerante – quem o bebe – a partir de qual vasilhame? E de todas as outras bebidas, inclusive águas minerais? E os sacos de plástico (que são pagos) trocam-se por quê? Na minha meninice, há setenta anos atrás, recordo-me de ir à mercearia do ti Américo comprar grão, feijão, açúcar e outros ingredientes, devidamente acondicionados em cartuchos de papel pardo. As postas de bacalhau demolhado, num alguidar à porta da mercearia, ou eram embrulhadas também em papel pardo ou folhas de jornal. Não existiam super’s, nem hiper’s, existiam as mercearias, os “carvoeiros”, os “petrolinos”, os “lugares” das hortaliças e frutas, as drogarias… Quanto ao lixo, que fazer quando os contentores ficam atulhados, sacos pelos passeios, devido aos serviços de higiene urbana estarem de greve e o civismo e cidadania das gentes são do mais baixo nível? Soluções, precisam-se!!!

🇵🇹 OPINIÃO

Lisboa – e grande parte de Portugal – vive entusiasticamente a época festiva dos Santos Populares.

Ano após ano relembram-se os renovados Santo António, São Pedro e São João em centenas de freguesias e municípios espalhados por todo o país, onde o expoente máximo na capital acontece com a grande marcha pela Avenida da Liberdade.

Esta é ainda uma altura de muita festa e arraial. As ruas da cidade enchem-se com o tradicional fumo das sardinhas e das carnes grelhadas, invadindo esses aromas as vielas e praças de cada Bairro.

Com muita música à mistura, prepara-se deste modo uma das melhores noites do ano que é emblemática e permite um salutar convívio, de certa forma improvável e que junta todas e todos, talvez apenas possível com a ajuda de todos os Santos.

Todo este “mar de gente” traz consigo o habitual acréscimo de trabalho para a higiene urbana da cidade. E hoje, que é Dia Mundial do Ambiente, é a altura adequada para abordar este eixo.

50 anos passaram desde que o Dia Mundial do Ambiente começou a ser celebrado. É um momento de consciencialização ambiental muito relevante e que deve ser comemorado em linha com a sua importância.

Este ano, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente pede soluções globais para combater a poluição por plásticos e por isso criou o #CombataAPoluiçãoPorPlástico (#BeatPlasticPollution).

Por cá, o governo português, conjuntamente com os seus parceiros europeus, tem vindo a adoptar várias medidas para fazer face a este desafio, perspectivando a transição para uma economia circular.

O mote para este ano visa criar uma consciencialização entre a acção local e o seu impacto global, na medida em que todos podem fazer a diferença.

Nos dias de festa em curso esta ligação é particularmente significativa, uma vez que, mesmo com muito esforço, uma autarquia ou freguesia não consegue mitigar as toneladas de resíduos produzidas individualmente.

A acção mais eficaz será aquela que cada um poderá ter porque a limpeza das ruas e cidades começa em cada um de nós.

O banco de informação estatística da Fundação Francisco Manuel dos Santos – a Pordata – compilou uma série de dados que permitem uma análise evolutiva nacional em termos ambientais.

Aí pode verificar-se, entre outros elementos, que os portugueses, desde 1995 e em crescendo, produzem cada vez mais lixo.

Ao que os dados indicam, metade desses resíduos acabaram depositados em aterro. Apesar de Portugal ter começado de um ponto de partida diferente dos parceiros europeus, a verdade é que as trajectórias são mais paralelas e do que convergentes, como seria apreciado.

Ainda assim, em Portugal e neste Dia Mundial do Ambiente, há factos positivos que merecem ser relevados.

O carvão quase desapareceu do “cabaz energético”; a redução de 35% da emissão de gases com efeito de estufa face a 2005, quando a União apenas o fez em 24%; o investimento feito na renovação das frotas das empresas de transportes públicos (Lisboa foi um bom exemplo disso, sobretudo desde a sua municipalização) que também contribuíram para reduzir as emissões num sector que é um dos mais poluidores; a melhoria da qualidade da água, onde 99% da água canalizada é de boa qualidade, quando em 1990 essa percentagem era de 50% ou o aumento em 5 vezes da área marinha protegida, passando assim a ser a terceira maior área marinha protegida da União Europeia, são feitos dos quais nos devemos orgulhar.

Contudo, este ano o enfoque está no mote #CombataAPoluiçãoPorPlástico. Agora que já sabe, vai aderir ou deixar o futuro nas mãos dos outros?

D.N.
Manuel Portugal Lage
05 Junho 2023 — 20:44


Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais


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73: Cara ou coroa(ção)?

 

🇵🇹 OPINIÃO

Foram precisos exactamente 70 anos para se assistir novamente à coroação de um monarca britânico. Graças ao Príncipe Filipe, o evento pode ser testemunhado através da televisão o que permitiu inúmeras comparações entre as cerimónias.

O imaginário que retrata uma espécie de mundo de princesas povoa a cabeça de muitos cidadãos. São esses que na sua maioria se deslocam aos milhares para tentar observar de perto a coroação e assim sentir um pouco de realeza.

Carlos III foi preparado desde a nascença para assumir a função de monarca. Por essa razão a sua coroação foi um momento importante a vários níveis.

E entre esse conjunto de factores relevantes, há um que se destaca: o rei é inequivocamente um elemento de estabilidade para a governação.

O monarca tem um papel fundamental a nível político, dos quais a manutenção da Commonwealth é uma tarefa primordial. Carlos III é agora o chefe de Estado dos quatro países do Reino Unido e de outros quinze da Commonwealth.

Aliás, o papel principal das monarquias constitucionais (sobretudo, as mais emblemáticas e próximas) passa pela manutenção da integridade territorial, um tema que foi resolvido há muitos séculos.

As diferenças principais entre os dois regimes, republicano e monárquico, são na verdade bastante simples. Contudo, essa descomplicação patente nas dissemelhanças dos regimes acaba muitas vezes por ser esquecida.

Os ideais republicanos da Liberdade, Igualdade, Dignidade da Pessoa Humana e Justiça são elementares, mas não existem numa monarquia.

É certo que os princípios republicanos podem coexistir com uma monarquia constitucional, mas apenas por imposição do povo. Podendo escolher, a monarquia seria muito provavelmente absoluta e nunca constitucional.

A meritocracia e a livre escolha através do voto popular é algo que pura e simplesmente não tem lugar numa monarquia (“absoluta”).

Assim, outra das principais disparidades entre a republica (e democracia) e a monarquia é o facto de a primeira ser o único sistema político que consegue conviver no seu seio, mesmo com aqueles que atentam contra si. Aí reside o ideal republicano no seu esplendor máximo.

No entanto, e actores à parte, os ideais republicanos e democráticos exigem combate diário e o aperfeiçoamento moral e ético da pessoa humana.

A melhor forma de os pluralizar e promover é através do recurso à educação, do acesso à cultura e aos Direitos e Liberdades fundamentais, sempre fomentando o seu respeito. É por essa ordem que se alcança a melhoria da relação entre o Cidadão e o Estado.

Uma festa de princesas é sempre bonita. A pompa e a circunstância, os vestidos e os chapéus glamorosos, a perfeição no detalhe e tantos outros adornos.

Mas isso foi ontem. Hoje há que continuar a trabalhar para (re)aproximar os cidadãos da vida política, pois só desse modo se conseguirá uma República mais justa e solidária.

D.N.
Manuel Portugal Lage
08 Maio 2023 — 15:35


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19: Uma nova (des)ordem mundial

 

🇵🇹 OPINIÃO

A expressão que titula este artigo é bem conhecida. Essa “nova ordem” afigura uma teoria da conspiração que, baseada numa força de elite obscura, procura implementar um governo mundial totalitário.

Os seguidores, ou crentes, dessa teoria acreditam que a mesma se encontra em marcha através da movimentação de influências junto dos mass media, sociedade civil e democracia em geral. É dessa forma que no presente muitos eventos quotidianos são atribuídos à tal nova ordem mundial.

Portanto, não houve estranheza quando na semana passada se ouviu o ministro russo, Sergey Lavrov, referir-se à resolução da guerra na Ucrânia através da nova ordem mundial.

As palavras foram proferidas em Ankara, na Turquia, à margem da negociação do prolongamento do acordo de exportação de cereais.

Lavrov afirmou que quaisquer negociações para alcançar a paz na Ucrânia terão de se alicerçar na criação de uma nova ordem mundial, que tenha em conta os interesses da Rússia.

Aliás, tem sido reafirmado que a luta liderada pela Rússia contra a hegemonia dos Estados Unidos tem como parte integrante a guerra na Ucrânia.

Essas afirmações ganham ainda mais relevância na semana em que mais dois líderes Europeus se deslocaram a Pequim. Após Pedro Sanchez e Olaf Scholz, agora foi a vez de Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen.

As tentativas da Europa para enfrentar o gigante chinês têm sido várias. E após esta última, o caricato foi a sua reacção. Depois de ouvir mais uma vez as críticas ao plano de paz com 12 pontos e à sua ligação com o Kremlin, que leva à não interferência na anexação de território por parte dos Russos, decidiu levar a cabo um simulacro de ocupação da Formosa.

Ao longo de 3 dias e durante o fim-de-semana, foi feito recurso a fogo real e à movimentação de muitos meios.

Também a relação entre China e Estados Unidos já viu melhores dias. E desde o rebentamento do “balão espião” piorou consideravelmente. É por isso que as visitas dos líderes europeus, aliadas às declarações de Lavrov na Turquia, devem ser correctamente contextualizadas e valorizadas.

Realce-se ainda a visita de Lula, que tendo um significado diferente, foi muito relevante tanto ao nível interno como externo.

Vitali Klitschko, o ex-pugilista campeão mundial de pesos pesados e presidente da câmara de Kiev, visitou Lisboa na semana passada.

Foi aí que pediu para lembrar que a guerra da Ucrânia não está assim tão distante. Afecta-nos e afectar-nos-á directamente porque as ambições expansionistas de Putin não param por ali.

Desta pequena resenha de eventos e sem qualquer recurso à velha teoria da conspiração, não nos demitamos de, no mínimo, pensar. Será mesmo que não se pretende instaurar uma nova (des)ordem mundial?

D.N.
Manuel Portugal Lage
10 Abril 2023 — 15:54


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