385: A recessão que se avizinha

 

– “… Até porque as ajudas sociais em Portugal deixam as pessoas na miséria e na dependência da caridade religiosa.

Terminado o subsídio de desemprego e o subsídio subsequente, os desempregados de longa duração e com idade de “velhice” (50 anos) ou têm familiares que os acolhem e conseguem a sua sobrevivência ou então passam à condição de sem-abrigo, a viverem na rua, a dormirem num vão-de-escada ou debaixo das arcadas de um qualquer edifício, a pedir esmola e a irem à “sopa do Barroso”! É esta a actual dura realidade deste Portugal onde todos os políticos, sem excepção, se banqueteiam com boas mordomias e sem preocupações de sobrevivência.

🇵🇹 OPINIÃO

Apesar dos milhares de milhões de Euros provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e dos outros Fundos Europeus que estão a ser investidos / gastos, Portugal tem uma inflação baixa e está a entrar em recessão.

Percebe-se, assim, que não fora esta chuva colossal de dinheiro canalizado para as empresas, investimento que naturalmente induz inflação e crescimento, Portugal estaria em deflação e em recessão profunda.

É o que vai, muito provavelmente, acontecer quando o prazo de utilização do PRR acabar. É preciso que as empresas e as famílias se preparem para o que aí vem.

Com uma bazuca na mão o Governo conseguiu dar um tiro no pé. Em vez de crescimento e recuperação, mais atraso, recessão e recuo. É obra. Um desastre total. O trio Medina/Costa/Costa conseguiram esta inacreditável proeza. Mas claro, a culpa é da conjuntura internacional.

E com as taxas de juro a subir persistem em vender a ilusão de que vão baixar ao virar da esquina, sem perceber que nenhum agente económico racional, também os há irracionais, vai seguir o curso que lhes querem vender.

O que fazer então? As famílias endividadas e já em apertos deverão vender a sua casa ou tentar transformar contratos de taxa variável em taxa fixa. Na verdade já vão um pouco tarde. Demos esse conselho aqui em Setembro de 2022.

Com a recessão o desemprego vai agravar-se e a necessidade de emigrar volta a sentir-se. Se a empresa onde trabalha pode vir a ter que despedir é melhor mudar de emprego já ou emigrar.

Ficar à espera da desgraça é o pior que se pode fazer. Até porque as ajudas sociais em Portugal deixam as pessoas na miséria e na dependência da caridade religiosa.

As empresas, por seu lado, deverão aferir bem o seu mercado e as suas encomendas antes de investir. O correto preço de venda deve ter em conta a inflação principalmente nos países de origem das suas matérias-primas e produtos intermédios.

Com a ilusão da inflação em queda arriscam-se a não conseguir prosseguir o ciclo produtivo e abrir falência. Qualquer investimento deve ser muito bem ponderado. Se o país entrar em deflação, enquanto nos outros países a inflação for alta, qualquer investimento torna-se perigoso.

Este desastre explica-se pela incapacidade do Governo em duas áreas importantes.

A definição de objectivos e o planeamento estratégico com base na prospectiva, desenhando cenários e caminhos de acção para os cenários que se forem materializando.

O Plano de base do PRR foi desenhado por um único Costa sem envolvimento da sociedade. Obviamente não serve o país como está à vista.

E a boa governança e combate à corrupção. O PRR não está ancorado e protegido por uma rede actuante que permita identificar, julgar e condenar o uso fraudulento dos fundos.

Do dinheiro despendido quanto chega à economia real? O que se percebe é que da bazuca nada chega, nem chegará aos bolsos da imensa maioria dos portugueses.

Mais uma oportunidade perdida. Que tristeza.

DN
Jorge Fonseca de Almeida
11 Setembro 2023 — 16:26


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345: Baixa Inflação e Moeda Única: Portugal a empobrecer

 

🇵🇹 OPINIÃO

Imaginemos que um país podia emitir a quantidade de moeda que quisesse criando a maior inflação no seu país. Para compensar a inflação aumentava os rendimentos dos seus residentes.

Com a moeda adicional comprava bens e serviços no estrangeiro. Podia comprar o que pretendesse já que se podia sempre imprimir cada vez mais moeda.

Esta situação na vida real acaba, como Portugal bem sabe da sua experiência passada, numa desvalorização da moeda que reponha o equilíbrio internacional. Não há almoços grátis. Comprar com papel não serve o vendedor. É que os outros não estão para pagar pela inflação de nenhum país.

O será que certos países, menos capazes de gerir as suas contas, permitem que isso aconteça?

Na verdade é o que está a acontecer hoje. Por causa da moeda única, do euro. Porque a moeda única impede que a moeda dos países com menor inflação se valorize como seria economicamente positivo.

Portugal é um dos três países com menor inflação na União Europeia. Os restantes continuam a aumentar a moeda em circulação.

Ou seja os seus cidadãos e empresas têm agora mais euros para comprar coisas no estrangeiro. Naturalmente, fora da Europa não lhes deixam fazer isso e a taxa de câmbio corrige imediatamente qualquer diferencial de inflação.

Mas no interior da União, em que a moeda é comum, os que têm maior inflação ficam com mais euros para comprar nas zonas de menor inflação.

Ou seja reforçam a sua riqueza à custa dos outros. E estes deixam? Portugal está a deixar. Sem moeda que se pudesse valorizar, Portugal fica desarmado perante países de elevadas taxas de inflação

que podem comprar os nossos produtos e activos a preços baixos com a maior facilidade. É o que vemos acontecer todos os dias.

O diferencial entre salários aumenta já que uns são actualizados à inflação mais baixa (Portugal) e outros proporcionalmente à inflação mais alta (quase todos os outros), e o poder de compra dos que têm inflação mais alta aumenta na medida em que podem comprar muitos bens a preços baixos nos países de menor inflação.

Para Portugal isso significa uma corrente migratória para fora do país, uma saída das pessoas qualificadas mas também de todas as outras.

Significa também um aumento do volume do emprego, porque a procura externa aumenta artificialmente, porque paga em euros vindos de países de alta inflação (cuja moeda devia estar desvalorizada).

O aumento da emigração e um volume de emprego elevado são situações em geral contraditórias só possível porque compensada pela imigração e pela aceitação do empobrecimento pelos trabalhadores.

Em contrapartida tudo o que é importado da zona euro (que é quase tudo) encarece. Para manter o equilíbrio externo só há uma solução: consumir menos.

A baixa inflação, significa menor aumento dos rendimentos. Como o rendimento cresce menos do que os preços importados dos países com alta inflação só resta consumir menos. Consumir menos é outra forma de dizer empobrecer.

Temos assim a verdadeira realidade da baixa inflação. Uma transferência massiva de valor de Portugal para os países de alta inflação, um empobrecimento generalizado do país. Um desastre na verdade.

E é deste desastre que os políticos portugueses tanto se orgulham. Como é possível? Os outros imprimem dinheiro, ficam com ele, e

compram em Portugal. Nós aceitámos. Inacreditável. Na verdade é como se lhe fizéssemos um enorme desconto em tudo o que nos compram.

Só se orgulham tanto desta incrível política porque contam com a ignorância da população. Conseguem fazer passar por positivo a principal causa actual de empobrecimento do país.

Será que a Alemanha ou a França deixariam que isso algum dia lhes acontecesse? Certamente que não. Nós próprios sabemos como estes países nos trataram quando Portugal tinha uma inflação elevada.

DN
Jorge Fonseca de Almeida
21 Agosto 2023 — 19:23


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302: Agnóstico

 

-Qual a diferença entre ateu e agnóstico? A principal diferença entre o ateísmo e o agnosticismo é que o ateu não acredita em deuses e negam sua existência, enquanto o agnóstico afirma que não há certeza se os deuses existem ou não.

🇵🇹 OPINIÃO

Sou agnóstico, mantenho uma relação de igual cepticismo em relação a todas as religiões e em relação ao ateísmo. Não sendo possível provar que algo não existe não sou ateu.

Não tendo até hoje, apesar do esforço das melhores e das piores mentes da humanidade, provar a existência de qualquer deus por menor que seja, também não sou crente. Sou, pois, agnóstico.

Este agnosticismo não me impede de concordar em muitos pontos com o humanismo cristão / muçulmano / budista em muitos pontos, embora prefira, naturalmente, o humanismo laico e materialista.

Também não me impede de concordar com vários escritos do Papa Francisco, nomeadamente os plasmados na encíclica Laudato Si, nomeadamente quando defende a ideia de que a propriedade privada se deve subordinar ao bem comum e que quando não o faz deve ser posta em causa. Aposto que muitos auto proclamados católicos se opõem a esta encíclica do seu Papa.

O meu agnosticismo traduz-se em termos políticos na defesa da liberdade de culto e na separação das igrejas do Estado. Esta posição costuma designar-se laicismo.

É, portanto, com preocupação que vejo o significativo investimento público que o Estado central e muitas Câmaras municipais estão a fazer nas Jornadas da Juventude Católica, subsidiando abertamente uma Igreja. Claramente discordo.

Os meus impostos não devem ir para eventos desta natureza. Os eventos religiosos devem ser pagos pelos crentes da denominação que os organiza e por quem os frequenta.

Podem ter externalidades positivas? Podem. Atraem pessoas ao nosso país? Sim. Gastam como turistas? Muito provavelmente não. Não é esse, contudo, a questão de fundo.

A questão de fundo é o envolvimento do Estado com uma religião, discriminando as restantes e os não religiosos (ateus, agnósticos e os religiosos não organizados em igrejas).

Se, por acaso improvável, o Vaticano nos desse uma fortuna em troca de proclamarmos o catolicismo religião oficial deveríamos aceitar? Obviamente que não.

Não é por algum ganho (provavelmente diminuto, mas mesmo que fosse elevado) que devemos ceder no que toca aos princípios e valores da nossa sociedade.

Para cumulo os movimentos na área da grande Lisboa, onde vive parte significativa da população portuguesa, são restringidos para os residentes a fim de permitir a livre circulação dos designados peregrinos, isto é a livre circulação dos jovens católicos.

A atribuição de direitos especiais aos católicos é, naturalmente, inadmissível. Até o Papa estaria contra.

Em suma: nada contra as Jornadas da Juventude católica, tudo contra o seu financiamento pelo Estado e contra as restrições de circulação dos residentes em favor da livre circulação dos católicos.

DN
Jorge Fonseca de Almeida
31 Julho 2023 — 11:06


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196: Racismo contra o Primeiro-Ministro: um crime sem castigo?

 

🇵🇹 OPINIÃO

No dia 10 de Junho último o Primeiro-Ministro queixou-se sobre o racismo de que foi alvo quando fazia um pequeno percurso a pé com a mulher. O comentário pareceu cair do céu.

Como os principais órgãos de comunicação social nada relataram o queixume de António Costa pareceu ser um exagero. O negacionismo pelo silêncio.

Depois viu-se uma caricatura, claramente racista, mas que foi descrita apenas como de mau gosto, violenta mas dentro dos padrões admissíveis em democracia.

Os comentadores televisivos da direita afadigaram-se a explicar que não havia racismo nenhum nos desenhos quando salta à vista desarmada o seu conteúdo totalmente racista. O negacionismo irracional de negar o que está em frente dos olhos.

Passado alguns dias, quando o assunto já estava moribundo com a conclusão de que se não tratava de um episódio racista, alguns órgãos de comunicação relataram, de forma corajosa, a cena completa.

A opinião pública soube então que um grupo de professores proferiu reiteradamente e aos gritos insultos racistas contra o Primeiro-ministro ao mesmo tempo que empunhavam várias reproduções da caricatura racista. Ruía o negacionismo. Mas os comentadores que lhe deram voz não se retrataram. Passaram pura e simplesmente adiante. Uma vergonha.

Portugal surge nos estudos europeus como um dos mais racistas da Europa, como um país onde grande parte da população tem opiniões racistas e acredita na superioridade de umas raças sobre outras, desconhecendo por completo que não existem raças mas apenas uma única espécie humana. Apesar deste facto o racismo está bem presente na nossa sociedade.

De onde surgem então estas ideias racistas? Quem as espalha na sociedade? Numa população que na sua larga maioria nasceu já depois do 25 de Abril? A resposta é complexa e envolve várias instâncias mas duas delas são de identificação mais fácil.

A primeira é a Escola, quer pública quer privada. Vejamos alguns exemplos: i) os currículos de muitas disciplinas, como Cristina Roldão e tantos outros já o demonstraram, têm conteúdos racistas, ii) os manuais escolares reproduzem esses conteúdos como se fossem verdades inquestionáveis, iii) as políticas de avaliação são autênticos crivos de selecção racial (veja-se que quase não existem portugueses Negros nem portugueses Ciganos nas Universidades), iv) o desrespeito das línguas maternas (por exemplo a língua cabo-verdiana) de muitas crianças portuguesas Negras coarta-lhes o acesso precoce à aprendizagem.

Para veicular estes conteúdos racistas, para inculcar estas ideias racistas de que uns eram mercadorias e outros donos delas e que tal era “natural” aí está um conjunto grande de professores eles próprios racistas como se viu na manifestação contra António Costa.

Todos os professores são racistas? Obviamente que não. Só um pequeno grupo de professores é que é racista? Também não.

A escolha de manuais com conteúdos racistas em tantas escolas, a não oposição aos currículos racistas, a selecção racista no acesso ao ensino superior, as turmas segregadas, as escolas segregadas (algumas escolas estão situadas no interior de bairros eles próprios segregados) aí estão para demonstrar que não se trata de uma pequena minoria mas antes um grupo bem alargado.

O crescimento da simpatia pelo Chega entre os professores é outro sintoma de que se não trata de fenómeno irrelevante. Seria interessante fazer um estudo sério sobre o racismo entre os professores. Teríamos certamente muito para aprender com o resultado de tal estudo.

Impõem-se uma grande reforma do Ensino para que Portugal deixe de, vergonhosamente, liderar os rankings do racismo na Europa e se torne uma sociedade mais livre.

A segunda instituição é a Comunicação Social. Na verdade, muitos órgãos de comunicação, essencialmente as televisões seguem uma prática de esconder os episódios racistas e a justificar-se com o perigo de provocar comportamentos de imitação. É uma política que pode ser bem-intencionada mas perigosa e que deve ser alterada.

Na verdade só podemos mudar o que conhecemos, só podemos agir sobre a realidade visível e é a comunicação que torna os factos socialmente visíveis.

O silêncio acaba por ser um incentivo aos racistas, que não sendo denunciados, expostos, punidos, se sentem livres para prosseguir os seus intentos. Tão à vontade que agora chegam ao ponto de atacar desavergonhadamente o Primeiro-Ministro do nosso país. Aparentemente com êxito.

Que imagem transmitimos ao mundo. O próprio Primeiro-Ministro alvo de insultos racistas e o país não se indigna, não reage, antes cala, preferindo aceitar negando.

Mal esteve também o Presidente, que embarcou na onda do negacionismo, um Presidente que ele próprio não será considerado “branco” quando visto sob o olhar racista de vários extremistas escandinavos, eslavos, germânicos e mesmo anglo-saxónicos e como o sabem muito bem os emigrantes portugueses “brancos”.

O racismo é uma arma particularmente perigosa para o nosso país e pactuar com ela é um ato de suicídio. É urgente uma reforma do Ensino. A comunicação social, por seu lado, tem de ajudar nesta mudança, informando e suscitando discussões sérias.

D.N.
Jorge Fonseca de Almeida
20 Junho 2023 — 13:40


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127: Grau Zero na Política Portuguesa

 

🇵🇹 OPINIÃO

A política parlamentar, ou melhor para lamentar, portuguesa parece ter atingido o grau zero. Em sede de Comissão de inquérito à TAP assisti incrédulo ao mais baixo nível de intervenção política desde que tenho memória, ou seja desde o 25 de Abril de 1974.

O insulto, a insinuação, a mentira, a gritaria, o insulto substituíram completamente a ponderação, a lucidez, a procura da verdade, a dignidade e a rectidão que devem caracterizar os nossos representantes. Vejamos alguns exemplos.

Na inquirição ao ministro João Galamba o deputado do Bloco de Esquerda antes mesmo de formular qualquer pergunta começa por lhe chamar mentiroso e depois não se retrata quando face à explicação dada se verifica que o insulto não era verdadeiro. Isto se alguma vez um insulto pode ser verdadeiro.

Note-se, a talhe de foice, que qualquer insulto mais caracteriza quem o profere do que sobre quem recai. Um estilo, copiado do Chega, e logo seguido pela generalidade dos deputados dessa comissão.

Na audição à Chefe de Gabinete do Ministro, que procurou com ponderação, segurança e firmeza responder a todas as questões formuladas, o espectáculo não poderia ser mais vexatório para a dignidade da instituição parlamentar.

Totalmente a despropósito e em contraste com o tom sério da depoente, os deputados e assessores do PSD riam-se alarvemente, dando de si mesmo uma triste imagem de falta de seriedade, de irresponsabilidade e de ausência de rigor.

É que não estavam interessados na explicação já que tinham previamente decidido o que diriam independentemente do teor da resposta – um discurso inflamado clamando “contradição”, onde ninguém a vislumbra, e gritando insultos na direcção do governo.

Também, frequentemente, durante as audições os deputados distorceram gravemente o que os inquiridos respondiam, alterando o seu sentido, concluindo o contrário do dito, parecendo ou não perceber português ou ter intenção de manipular a audiência.

Para além da forma, trauliteira, malcriada, em tom de gritaria e pejada de insultos e mentiras, o conteúdo é do mais lamentável que se viu. Vejamos.

Quem quando a sua casa está a ser roubada por ladrão que pega lhe pega fogo, perde tempo a cogitar se deve telefonar primeiro à polícia para prender o ladrão ou aos bombeiros para apagar o fogo. Quem pede um parecer jurídico se deve primeiro telefonar à PSP ou aos Bombeiros?

Quem quando é roubado em casa não procura prender o ladrão no elevador ou impedir a sua saída do prédio? E é contra estas atitudes de completo bom senso que estes deputados se insurgem.

Quem se preocupa quando está a ser roubado em determinar com rigor, averiguando detalhadamente as funções de cada uma destas forças policiais, se face ao roubo deve chamar a PSP, a GNR ou a PJ. É o grau zero da inteligência.

A defesa do prevaricador e a tese de que o Estado não deve impedir a saída e divulgação de informação classificada é também do mais demagógico.

O que diriam se ao invés de recuperar rapidamente o computador os responsáveis deixassem cair em mãos erradas segredos de Estado? Aí sim teriam motivos de crítica e de indignação.

No meio desta peixaria, desta vergonha, em que os deputados transformaram uma comissão de inquérito, poucos tentam remar contra a maré, poucos tentam manter a elevação, fazer as perguntas que permitam perceber os erros políticos cometidos na gestão da TAP, nomeadamente no afastamento de Alexandra Reis e no processo de recuperação da empresa, processo que envolveu somas consideráveis de fundos púbicos e sacrifícios consideráveis dos seus trabalhadores.

Temos, então que assinalar o trabalho muito solitário do deputado comunista Bruno Dias que tem evitado a chicana e se tem concentrado nos temas materiais e substanciais, não participando no triste espectáculo que os outros deputados têm dado ao país. Honra lhe seja feita.

Uma oposição que se centra no essencial. É deste tipo de oposição que precisamos.

O país definha e os deputados de quase toda a oposição afadigam-se a discutir se quando se é roubado e a casa arde se deve chamar primeiro os bombeiros e depois a polícia, ou se será o inverso primeiro a polícia e só após este telefonema de deve ligar aos bombeiros.

Diz-se que Constantinopla caiu e com ela o Império Romano do Oriente porque as suas elites em vez de olharem para os problemas discutiam literalmente o sexo dos anjos.

A direita e o Bloco estão assim incapazes de oposição e centrados em dar de si um pesaroso espectáculo ao país e à Europa. É totalmente lamentável.

D.N.
Jorge Fonseca de Almeida
29 Maio 2023 — 14:53


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95: Nakba – 75 Anos

 

🇵🇹 OPINIÃO

Faz hoje, dia 15 de Maio, 75 anos que centenas de milhares de palestinos, simples e pacíficos camponeses, muçulmanos e cristãos, ricos e pobres, proprietários e assalariados, foram arrancados das suas casas, expulsos das suas terras e sob ameaça armada obrigados a fugir.

Formaram-se longas filas de pessoas, a pé, em carroças, nos poucos carros que dispunham a caminho do exílio.

Hoje formam a maior comunidade de refugiados do mundo, contando-se mais de 5 milhões de palestinos em campos de refugiados localizados nos países vizinhos da Palestina.

É a única comunidade refugiada que pelo seu tamanho tem uma agência das Nações Unidas dedicada exclusivamente a tratar dos seus problemas – a UNRWA que apesar dos poucos fundos de que dispõe tem feito um trabalho notável.

Recentemente o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres visitou uma escola da UNRWA no Líbano onde pediu à comunidade palestina para “Não perder a esperança”.

Após a expulsão dos palestinos, os sionistas arrasaram as casas, cortaram as oliveiras e entregaram os terrenos a colonos recentemente chegados aos territórios a que agora chamavam Israel, substituindo a antiga designação de Palestina, a terra onde Jesus Cristo nasceu, cresceu e morreu.

Para os palestinos esta foi uma grande Catástrofe, palavra que em árabe se diz Nakba. Aí começou uma luta pelo retorno às suas terras e casas.

Muitas famílias palestinas guardam as chaves das suas antigas casas como símbolo da sua vontade, da esperança que António Guterres lhes pede que não abandonem, de regressar à sua terra natal e voltar a plantar as oliveiras.

Israel, entretanto, tornou-se no que várias organizações americanas e europeias, como a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia Internacional, designam como um Estado de apartheid, discriminando os árabes, cristãos e muçulmanos, e até alguns judeus que não conseguem provar a sua ascendência por via materna.

A norte-americana Human Rights Watch, porventura a mais conhecida organização de defesa dos direitos humanos do mundo, escreve num extenso e minucioso relatório que as “autoridades israelitas privilegiam sistematicamente os judeus israelitas e discriminam contra os palestinos” e concluem que Israel viola os sistematicamente direitos civis dos palestinos ao ponto de considerarem Israel um regime de “apartheid” semelhante ao odioso regime da África do Sul do tempo da supremacia branca (ver aqui).

Sendo em geral a HRW muito alinhada com a política externa americana, a sua posição desalinhada com as posições oficiais desse país no que toca à Palestina, é sinal evidente de que a situação é tão grave que seria insustentável uma posição de apoio ou de simples condescendência ao apartheid sionista.

No mesmo sentido se pronuncia a Amnistia Internacional que também elaborou um relatório detalhado sobre as práticas de violação sistemática dos direitos humanos, levada a cabo por Israel (ver aqui).

Neste dia triste, em que se assinala o início de uma longa provação, de 75 anos, a que o povo palestino continua sujeito, lembro que não está só.

Pelo contrário, a Assembleia das Nações Unidas tem aprovado sucessivas moções de apoio à sua causa, exigido a Israel que retire dos territórios ocupados, que reconheça os direitos dos palestinos que vivem em Israel, e que permita o regresso dos refugiados e seus descendentes às suas terras e aldeias.

Junto-me a António Guterres quando apela à esperança. E como ele, na modesta escola da UNRWA num campo de refugiados palestinos no Líbano, quero deixar uma palavra de solidariedade e de apoio à solução de dois Estados defendida pelas principais organizações palestinas.

O Estado de Israel já existe. O da Palestina tarda. É tempo de resolver definitivamente esta injusta situação.

D.N.
Jorge Fonseca de Almeida
15 Maio 2023 — 17:50

 


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74: Igualdade nos que penaliza

 

– “… No mesmo dia em que subiu as taxas de juro, para todos os países do Euro, o BCE apelou a que os governos retirassem todos os apoios aos consumidores. A ideia é travar o consumo, diminuir a procura e, consequentemente, forçar a procura a ajustar-se à oferta o que, teoricamente, eliminará a inflação.

Ponham essa fulana a ganhar apenas o salário mínimo português, sem quaisquer outras mordomias, para ela saber – e sentir – como se (sobre)vive em Portugal, com a conivência de toda a classe política!

🇵🇹 OPINIÃO

As regras iguais para todos, muitas vezes, penalizam uns em favor de outros. Na verdade regras iguais traduzem-se por resultados desiguais. A igualdade formal esconde e fomenta a desigualdade real.

Vem esta introdução a propósito das declarações da Presidente do Banco Central Europeu Christine Lagarde ao referir que a subida das taxas de juro penaliza as famílias dos países em que o crédito à habitação é concedido pelos bancos em regime de taxa variável e sendo neutra nos países em que esses empréstimos de fazem a taxa fixa.

Assim ficam, reconhecida e especialmente, prejudicados pela política de subida de taxas de juro, igual para todos, as famílias portuguesas, finlandesas e espanholas. Uma injustiça. Mais uma injustiça.

E pior é que a Presidente do BCE não apresenta nenhum conforto, nenhuma medida de mitigação do problema que ela própria criou, limitando-se a declarar que “Infelizmente, não podemos aliviar as famílias que estão a sofrer em Portugal”.

Nada mais insensível. Nada mais duro e cru. Nada mais revelador do desprezo que estas instituições demonstram por pequenos países como Portugal que tudo aceitam de cabeça baixa e sem protestar, sempre na posição subalterna de mau aluno convencido que é bom estudante.

Atrevo-me a acreditar que nada disso seria assim se as taxas variáveis fossem a regra na Alemanha ou na França ou mesmo na Holanda ou Bélgica. Dois pesos e duas medidas sob a capa de uma medida universal e igual para todos.

O Governo e o Banco de Portugal deviam, logo que se iniciou a subida das taxas de juro que previsivelmente iria continuar, ter alertado os clientes bancários para a necessidade de ponderarem a alteração da taxa de juro variável para a taxa de juro fixa.

Não o fizeram. Continuam a não o fazer quando se prevê que as taxas continuem a subir.

Ao contrário do que fazem nos seus países de origem os Bancos, que na maioria são estrangeiros, não oferecem preferencialmente taxas fixas, e poucos são os que o fazem a 30 anos e ainda menos os que disponibilizam taxas fixas a 40 anos. Esta situação mereceria uma enérgica intervenção do Governo e do regulador em protecção dos clientes, tanto mais justificada quando se sabe por estudos internacionais comparados ser o nosso país um dos que apresenta índices de iliteracia financeira mais elevados da OCDE.

Esta igualdade que penaliza é a igualdade que caracteriza a União Europeia, em que as regras beneficiam alguns países e prejudicam outros. Infelizmente Portugal tem ficado quase sempre do lado dos prejudicados.

No mesmo dia em que subiu as taxas de juro, para todos os países do Euro, o BCE apelou a que os governos retirassem todos os apoios aos consumidores.

A ideia é travar o consumo, diminuir a procura e, consequentemente, forçar a procura a ajustar-se à oferta o que, teoricamente, eliminará a inflação.

Novamente uma política igual para todos que ignora que retirando os apoios muitas famílias portuguesas ficarão na pobreza enfrentando a fome e as carências de toda a ordem.

Por outro lado o BCE faz o apelo à retirada dos apoios à factura do gás/electricidade apenas no momento em que o Inverno já passou e a primavera floresce amena/quente nos países centrais.

Outra medida igual para todos mas que prejudica mais os países como Portugal que não têm dinheiro para se aquecer no Inverno e que portanto não beneficiaram da mesma maneira dessas ajudas.

Quando ouvimos “igual para todos” percebemos que na linguagem de Bruxelas quer dizer “bom para uns péssimo para outros” e que para nós portugueses será, na generalidade dos casos, mau.

D.N.
Jorge Fonseca de Almeida
08 Maio 2023 — 15:21


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50: Falta de nível

 

🇵🇹 OPINIÃO

Os recentes eventos relatados pelo ministro João Galamba mostram a que ponto chegou o recrutamento do Partido Socialista para os postos de nomeação política e o tipo de pessoas com que se rodeiam os ministros deste governo.

Esta situação não é exclusiva do Partido Socialista como os acontecimentos protagonizados pelos deputados do Chega e da Iniciativa Liberal na Assembleia da República durante a recepção do chefe de Estado de um país amigo também atestam.

Em ambos os casos a ausência de elevação, de educação elementar, a absoluta falta de sentido de Estado e de patriotismo leva estes indivíduos a praticar acções que a todos nos prejudicam, sem que ninguém intervenha e estabeleça a decência mínima.

A fuga com um computador com documentos classificados é motivo claro e mais que suficiente para a intervenção rápida e decidida das autoridades, incluindo os serviços de informações – não se sabe a quem podia tal individuo procurar entregar/vender esses documentos, prejudicando o Estado português.

É bom que a intervenção tenha sido rápida e eficaz. Sinal de que ainda existem forças vitais em alguns sectores do nosso Estado.

A defesa desse individuo e o questionamento da intervenção das autoridades, como temos visto por parte de certos quadrantes é um claro sintoma que alguns, com vista a ganhos políticos efémeros, não hesitam em prejudicar o país.

Que queriam? Que os documentos classificados fossem tornados públicos? Que o nosso Estado desse mais uma prova de fragilidade e incompetência e se cobrisse de ridículo perante a comunidade internacional? É revoltante a atitude de defesa do comportamento desse adjunto.

Mas o ter colocado no coração do Estado, em posição de intervenção em temas sensíveis como o dossier da TAP uma tal pessoa é ainda pior. Que confiança podemos ter no Partido Socialista de que sabe seleccionar os governantes, os ministros, os secretários de Estado, os adjuntos? Que tropelias não se passaram noutros ministérios?

Como podemos estar seguros que a falta de nível e de sentido de Estado estão confinados a este adjunto entretanto dispensado?

Como podemos aceitar cenas de agressão entre membros do mesmo governo? Entre membros da mesma equipa política que dirige um ministério muito importante para o nosso país. Agressões a mulheres. Desvio de computadores. Parece uma novela de faca e alguidar.

A que ponto fizeram descer o Estado português. Não merecem de facto governar. Infelizmente parece que a alternativa é ainda pior.

Desde logo porque não condenam o agressor e põe em causa a actuação de reposição da legalidade. E depois, porque que não se limita a essa ignomínia mas faz arruaça na praça pública com governantes estrangeiros que nos visitam a nosso convite.

O apodrecimento do regime político português está próximo do limite tolerável. Sente-se no ar, nas conversas, nos olhares, um grande desinteresse, uma grande resignação, um grande abatimento, mas também a necessidade de uma grande e profunda mudança. Quando virá?

D.N.
Jorge Fonseca de Almeida
01 Maio 2023 — 12:14


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20: Não queremos ser como Portugal

 

🇵🇹 OPINIÃO

As manifestações contra o aumento da idade da reforma em França continuam gigantescas com centenas de milhares de pessoas nas ruas das principais cidades francesas.

O Presidente Macron indiferente ao sentir da população pretende levar avante esta alteração drástica sem o aceitamento das pessoas nem a aprovação do parlamento. A democracia ocidental tem destas coisas …

As nossas televisões têm transmitido as manifestações e entrevistado vários manifestantes. Interessante foi um dia destes a resposta que uma jovem francesa luso-descendente deu para grande surpresa da locutora: “Não queremos ser como Portugal”.

O que está implícito nesta frase? O que é ser como Portugal? E porque não querem estes jovens ser como o nosso país?

No contexto da entrevista parece claro que “ser como Portugal” é aceitar uma idade de reforma muito avançada que obriga as pessoas a manter-se no trabalho até muito tarde na vida.

Mas também é manter idosos no activo em lugares que podiam ser ocupados por jovens, retirando-lhes oportunidades de aprendizagem e carreira.

Mas acima de tudo a frase remete para a passividade com que em Portugal se aceitam todas as medidas governamentais mesmo as mais gravosas para a vida da grande maioria das pessoas.

Ela remete para a passividade com que os pais portugueses, por cobardia, formação ou personalidade aceitam toda a precariedade laboral, os baixos salários, o fim da contratação colectiva, e todas as afrontas laborais que depois levam a que os seus filhos tenham apenas duas alternativas: aceitar viver com pouco ou a emigrar.

Assim a frase pode significar “Não queremos ser uns bananas como vocês”. Os jovens franceses querem vir para a rua lutar pelos seus direitos sociais, pelo seu futuro. Querem tomar em mãos a sua vida, construir uma sociedade justa, formar uma família e ter uma habitação condigna.

Esta passividade portuguesa é óptima para os reformados de classe média franceses que encontram em Portugal um país acolhedor de gente humilde pronta a trabalhar por pouco, de baixo custo e perto da França.

Mas isso é uma coisa, outra é querer ser como Portugal. Isso, obviamente, não querem. Como poderiam viver confortavelmente no estrangeiro com as pensões portuguesas?

Muitos jovens franceses conhecem o nosso país. Os programas Erasmus abriram as portas, as férias oferecem mais uma oportunidade de nos conhecer, e até o trabalhou proporciona uma intensa troca de experiências com os jovens portugueses e com o nosso país.

Os franceses luso-descendentes têm inclusive mais possibilidades de perceber a terra a que de alguma forma estão ligados. Desse conhecimento extraíram uma conclusão que frase lapidar da jovem francesa resume “Não queremos ser como Portugal”.

Uma frase espontânea, uma frase que num primeiro momento nos magoa, mas que, depois de uma reflexão, podemos compreender e até concordar.

Na verdade, eu que sou alfacinha, nado e criado na nossa capital, em tantas questões sou levado a dizer “Não quero ser como Portugal”.

A diferença em relação à jovem francesa é que logo penso com entusiasmo e determinação que devemos mudar o nosso rumo e de deixar de “ser como Portugal”. Não é uma tarefa fácil, mas vale a pena tentar.

Mas não deixa de ser triste ouvir estas verdades da voz de estrangeiros.

D.N.
Jorge Fonseca de Almeida
10 Abril 2023 — 18:11


Web-designer e Criador
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